por RUY MOURA | Editor
do Mundo Botafogo
Confesso que encontro alguma graça
nos títulos noticiosos da mídia sobre o elevado valor da multa rescisória de
Luís Castro, como se constituísse alguma espécie de impedimento para um clube
árabe pagar 1,9 M€ sabendo-se que já foram pagas multas rescisórias de 15M€ no
futebol europeu para contratar um treinador.
No campeonato português, não
obstante ser considerado apenas o 6º melhor campeonato europeu, as multas rescisórias
de Roger Schmidt, Ruben Amorim e Sérgio Conceição, treinadores dos três maiores
clubes, são de 30M€, 20M€ e 18M€, respectivamente, e há quem esteja querendo
levar Sérgio Conceição, como o Al Hilal, disposto a pagar a cláusula e ainda oferecer um (absurdo) salário anual de 20M€… Atualmente a multa rescisória de Carlos Ancelotti (Real
Madrid) é de 12M€, a de Jürgen Klopp é de 35M€, etc.
Esses são valores elevados, e ainda
assim, a título de exemplo, o Chelsea pagou, em 2011, 15M€ ao FC Porto para
contratar o técnico André Villas Boas, e pagou 15M€ a José Mourinho quando o despediu
a meio do contrato, entre outros casos conhecidos.
Face a tais valores pagos por
clubes pertencentes a russos e árabes, eu diria que 1,9M€ são ‘tostões’ para os
magnatas da Ásia. Não será pela multa rescisória que Luís Castro sairá do
Botafogo; ele sairá se simplesmente decidir fazê-lo. Está nas mãos dele, e não
creio que o faça somente por dinheiro, porque ele preza bastante mais a
dignidade e o prestígio do que o dinheiro.
Pelo seu passado arrisco dizer que Castro
não tomaria tal atitude de ‘ânimo leve’, sobretudo por respeito a John Textor,
que o apoiou intransigentemente quando o humilharam e enxovalharam e, dentro do
próprio Clube, se reuniram com o intuito de colocarem um ponto final no seu
reinado, demitindo-o.
E, obviamente, pelo respeito aos
seus jogadores.
Em toda a sua carreira Castro nunca
foi despedido e cumpriu todos os compromissos estabelecidos, mesmo quando se
negou a sair do Al-Duhail com a Copa do Emir em andamento porque o clube tinha
oportunidade de ganhá-la, como ganhou.
E por isso o Botafogo teve que esperar
por ele um tempo, mas, em contrapartida, negociou com o clube para ficar até ao
fim da competição e a SAF não ter que pagar a cláusula rescisória.
Se me enganar, darei a mão à
palmatória, mas confesso já que seria uma grande desilusão pessoal ver Castro
demitir-se unilateralmente antes do fim do seu contrato.
Que os ‘Deuses do Futebol’ protejam
a SAF Botafogo!
4 comentários:
Caro Ruy, concordo contigo, o Castro me parece uma pessoa cujo caráter vale mais do que a tentação de ganhar muito dinheiro, por isso acho que se sair do Botafogo só sairá ao final do contrato. Dependendo do que conquistar esse ano, em termos de carreira com todo respeito ao mundo árabe e sua fortuna, o Castro ganharia muito mais prestígio no futebol brasileiro ou europeu do que no arabe, que me parece mais o fenômeno do futebol venezuelano na década de 60. ABS e SB!
Sim, meu querido amigo, pode ser o fenômeno do futebl venezuelano,mas também se deve considerar que foi a incompetência interna ds dirigentes que destruíu o futebol venezuelano.
Por outro lado, a Arábia Saudita quer limpar-se do seu passado e do seu presente com um dos dois estados teocráticos e totalitários do mundo e sabe que a melhor forma, sem mexer no status quo, é investir no arrasador fenômeno do futebol, que é cada vez mais uma modalidade que toma conta do desporto mundial e cria facilmente fanáticos por todo o mundo. É uma aposta séria deles. Vários craques - embora por enquanto em fim de carreira - estão a rumar à Arábia Saudita, como Cristiano Ronaldo e Benzema (e quase, quase, Messi). E os muitos milhões hão-de atrair mais jogadores e treinadores de qualidade.
Também acredito que o Castro não saia antes do fim do contrato, e serão os resultados obtidos em 2023 (em campo e fora dele) que determinarão provavelmente a renovação, ou não, do contrato. Apesar de não se saber se o Textor conseguirá renovar com ele já. Não sei... O que sei é que se o Castro estabelecer um compromisso de honra com o Textor, cumpri-lo-á mesmo sem ter passado o acordo a escrito. Ele nunca falhou eticamente, não creio que o fizesse agora.
PS: Em termos de personalidade e caráter Castro é incomparável a Jorge Jesus, Paulo Sousa ou Vítor Pereira... e também a muitos treinadores brasileiros cujos comportamentos são bem conhecidos...
Abraços Gloriosos.
Se o Brasil não produzisse tantos grandes jogadores, seria semelhante a Venezuela " incompetência interna" nos destruiria. Em termos de futebol, jogadores nosso país é privilegiado, mas em termos de direção e dirigentes é de uma obscuridade sem igual. ABS e SB!
Absolutamente de acordo! O pior do futebol brasileiro é mesmo o dirigismo.
Abraços Gloriosos.
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