“Antehontem, na praia de Botafogo.
Nunca tão bello, sobre as águas azues da adorada bahía, vi
bater em chapa o alegre sol do nosso tépido inverno. A luz vibrava e cantava,
amorosamente beijando o velludo verde dos morros, chispando nos metaes das
lanchas e dos botes, a chamalotando as vagas crespas, dando clarões de prata
viva à espuma que borbulhava nas quilhas. Em cada janella de palacete, um grupo
feminino tagarellava. Entre ondas de povo, passavam as carruagens, conduzindo
gente alegre. E a vozeria da multidão em terra, e a matinada ensurdecedora das
lanchas no mar, apitando, — enchiam o ar de riso e delírio.
Um tiro de canhão soou de repente. Das archibancadas dos
clubs, das janellas das casas, do parapeito do caes,— todos os olhares se
dirigiram para a curva da bahía, fechada pelo fundo verde-negro de S. João e do
Pão de Assucar. Era a regata do campeonato do remo em 1900 que começava.
Em linha, dos postes plantados na água, dando ao capricho do
vento as flâmulas de cores vivas,— partem as baleeiras, que disputam a glória
do campeonato. Da vasta faixa de mar, theatro da lucta, afastam-se as lanchas e
os botes. Das barcas Ferry, fundeadas longe, cheias de espectadores, partem
acclamações. São seis, os barcos que entram na justa naval. Em cada um d’elles,
quatro rapazes, de braços nus, mostram os nós reforçados dos biceps, — com os
troncos indo e vindo, rythmicamente, no manejo dos remos longos. O patrão,
immovel e calado, dirige a manobra e fita as águas.
E as baleeiras voam, diminuem, somem·se, devoram os primeiros
mil metros do páreo, ganham o costado do morro,— e voltam. E ei-las que se
approximam, apenas visíveis na faiscação do sol, — aves de voo rasteiro,
erguendo e abaixando os remos rebrilhantes, como azas esguias, vergastando o
mar...”
Olavo Bilac, 1900.
PARABÉNS PELOS 129 ANOS
DE GLÓRIAS ADEJANDO SOBRE OS MARES!
8 comentários:
Quando comecei a ler pensei comigo, isso só pode ter sido escrito por um poeta pelas lindas imagens na descrição do texto. Quando li Olavo Bilac, 1.900 fiquei feliz. Que grande história tem o nosso Botafogo, e isso ninguém nunca conseguirá apagar. ABS e SB!
Sergio, arrepio-me quando publico textos sobre o Remo, sobre Luiz Caldas, Olavo Bilac, Antônio Mendes de Oliveira Castro e tantos outros do Club de Regatas Botafogo. É uma história maravilhosa e adoro o remo por causa disso. O futebol e o remo - sem desmerecer as outras modalidades desportivos que tanto aprecio pela simples razão de serem Botafoguenses e darem tradição de mais antigo clube multiesportivo brasileiro - são verdadeiramente a alma do Botafogo de... FUTEBOL e REGATAS!!!
Abraços Gloriosos.
Grande Rui,
É viajar no tempo e sonhar, visualizar, imaginar as imagens da época com o texto.
Salve o Grandiosíssimo e Espetacular Botafogo de Futebol e Regatas!
Abs e Sds Botafoguenses!!!
É um grande Clube, meu querido amigo. Não é o maior, nem em torcida, nem em títulos, mas é o MELHOR CLUBE DO MUNDO com uma história de tragédias e glórias só igualável à própria vida humana que flui na graça Universal da sempre Fénix Alvinegra Renascida!
Abraços Gloriosos.
Morei a 5 minutos da Lagoa Rodrigo de Freitas e ver os treinamentos de remo no cair da tarde naquela paisagem maravilhosa da lagoa era muito bom. Confesso, tenho saudades daquele tempo, onde ali perto em frente a estátua de Quintino Bocaiúva num campinho improvisado de terra disputávamos nossas peladas , posteriormente transferidos para os gramados vizinhos, e como corremos da polícia, as peladas eram proibidas no gramado. Hoje toda aquela região foi transformada em campos de futebol
Bateu o varandão da saudade, n tempo em que a convivência parecia ser mais simples e menos falsa. Provavelmente isto é um grande engano, mas éramos mais felizes ou menos infelizes. ABS e SB!
A paisagem é soberba, Sergio. Foram certamente tempos maravilhosos, jogando á bola e fugindo da polícia! Nesse tempo a convivência era mais simples, sim, embora eu não consiga medir o nível de felicidade dos jovens desse tempo em comparação com os jovens deste tempo. Talvez a felicidade também seja uma coisa relativa que existe diferentemente mas em proporções semelhantes segundo as gerações.
Porém, é certo que o mundo mudou e complexificou-se, tal como tem mudado e se complexificado geração após geração, século após século, milênio após milênio. Da agricultura à indústria, da indústria aos serviços. Do "amor" por interesse social ao "amor burguês". Dos coches aos comboios e destes aos aviões. Da mecânica ao digital, do presencial ao virtual.
À revolução social da década de 1960 seguiu-se a revolução económica da década de 1970 e depois a revolução tecnológica da década de 1980, desaguando na integração das três revoluções na década de 1990 e depois a consolidação de uma nova complexidade neste século, onde nunca se sabe o que pode acontecer no claro-escuro da nossa época. Mas isso é o movimento do mundo. Inexorável. Sempre. Só há uma coisa no mundo (e no Universo) que se mantém permanente e nunca muda de perfil: a mudança!
Sobra-nos a memória das nossas vidas e sobretudo a lembrança de termos sido felizes, coisa que dizemos hoje mas que à época não sabíamos exatamente se eramos felizes. Tal como acontecerá com a juventude de hoje quando envelhecer, olhar para trás e tiver saudades dos tempos de um passado irrepetível.
Por isso sempre digo que a vida está aqui, no hoje, apenas no hoje e no que soubermos usufruir dela em cada momento. E espero que o nosso hoje de amanhã seja uma vitória sobre os nossos amigos vascaínos! (rsrsrs)
Abraços Gloriosos.
Belo texto, uma verdadeira aula de história.
Talvez na adolescência a sensação de felicidade se devesse principalmente a ingenuidade que era consequência da falta de informação numa época que hoje sabemos era terrível para o nosso país, razão pela qual está escrito que quanto maior o conhecimento, maior o sofrimento.
Então esqueçamos os problemas e vamos torcer para mais uma vitória amanhã e para mantermos os (rsrsrsrs). ABS e SB!
É verdade, meu amigo, quanto maior o conhecimento maior a complexidade, quiçá o sofrimento de vermos melhor o que devia ser feito e que não é feito. A ignorância simplifica as coisas.
Problemas para trás, esperanças e vitórias para a frente!
GLORIOSO SEMPRE!
Grande Abraço, Sergio!
Enviar um comentário