por RUY MOURA | Editor
do Mundo Botafogo
A Estônia foi um país sucessivamente dominado durante séculos
pela Dinamarca, Polônia e Suécia, num palco de guerra com estes três países
procurando bloquear o avanço do imperialismo russo através da Estônia. Em 1700
a Suécia foi contestada no território estoniano e uma nova Guerra – a Grande
Guerra do Norte – teve lugar com a participação da Dinamarca, Polônia, Rússia e
Saxônia, contra os suecos. Os russos derrotaram as tropas suecas e conquistaram
Tallin, dominando a Estônia e a Livônia, algo muito desejado desde o reinado do
czar Ivã IV.
Durante a Revolução Russa de 1905 os estonianos
revoltaram-se, mas foram reprimidos, e somente com a Revolução Russa de 1917 se
fundou a República da Estônia. Durante mais de duas décadas as lutas políticas
foram ferozes, mas foi assegurado um período de desenvolvimento cultural e
garantida a autonomia das minorias. Porém, com a Segunda Guerra Mundial, os alemães invadiram a União Soviética em 1942 e pelo caminho tomaram a Estônia,
mas o fracasso da sua missão contra a União Soviética levou a que os
soviéticos, na sua investida contra os alemães, invadissem a Estônia anexando-a
e formando a nova República Soviética da Estônia.
Durante 52 anos os
estonianos promoveram movimentos de revolta e até guerrilha contra os
soviéticos, mas apenas com a queda da União Soviética, em 1991, é que a Estônia
se tornou novamente um estado independente, aderindo, em 2004, à União Europeia
e à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN/NATO), afastando-se
definitivamente da influência soviético-russa.
Nesses séculos, tais acontecimentos trágicos ocorreram num território de apenas 45.339 km2 e que atualmente possui uma população de 1 milhão e 300 mil habitantes.
Um dos monumentos mais importantes da Estônia é a ortodoxa Catedral de Alexandre Nevsky, localizada na cidade velha de Tallin, cujo Centro Histórico foi declarado patrimônio da humanidade pela UNESCO, em 1997. Foi construída entre 1894 e 1900, durante o período de ocupação pelo Império Russo. Possui a maior cúpula de todas as catedrais ortodoxas e foi dedicada ao santo Alexandre Nevsky, que venceu a batalha do lago Peipus, em 1242.
No Centro Histórico de Tallin deve-se destacar a Praça
Raekoja, a mais importante e antiga da cidade de Tallin (1322), com importantes
prédios medievais e onde está instalada a prefeitura da cidade.
Há uma pedra circular na praça de onde se pode observar todas as cinco torres medievais construídas na cidade. Um dos símbolos mais famosos é o cata-vento Old Thomas, no topo da Town Hall Tower, cuja história narra Thomaz como um camponês que virou guardião da cidade.
Anualmente, na Raekoja Plats, ocorrem os mais tradicionais
eventos de Tallin, entre os quais o Tallinn Old Town Days e a clássica Árvore
de Natal e seus mais de 570 anos de memória.
No que respeita à mitologia estoniana, ela é um complexo de mitos pouco conhecidos relativamente à autêntica mitologia pré-cristã estoniana, porque se tratava de uma tradição puramente oral e os registros sistemáticos da herança popular somente se iniciaram a partir do século XIX, quando muitos mitos já haviam sido perdidos.
Todavia, sobreviveram alguns indícios nas canções-runo. Há
uma canção sobre a criação do mundo em que um pássaro coloca três ovos e nascem
filhotes – um torna-se o Sol, o outro a Lua e o outro a Terra.
O mundo dos antepassados estonianos girava em torno de uma coluna ou uma árvore, na qual os céus fixaram-se com a Estrela do Norte. A Via Láctea (Via dos Pássaros, ou 'Linnutee' em estoniano) era um ramo da Árvore do Mundo (Ilmapuu) ou o caminho por onde os pássaros se moviam (e levavam as almas dos doentes para o outro mundo). Esses mitos eram baseados nas crenças animistas.
As personificações de corpos celestiais, deidades climáticas
e deuses da fertilidade ganharam importância no mundo dos agricultores. Havia o
Deus do Céu, o do Trovão (Ukko) e também Vaisa (o avô). Mas ocorreram mudanças
na mitologia proto-estoniana devido ao contato com outras tribos bálticas e
germânicas e à transição de caçadores-coletores para agricultores.
Também se especula na etnologia a passagem de um meteorito há cerca de 3000 a 4000 anos, cujo cataclismo influenciou a mitologia estoniana e dos seus vizinhos, havendo relatos de um ‘sol’ surgido no oriente com consequente tsunami e um devastador incêndio nas florestas.
Há também lendas sobre gigantes como Kalevipoeg, Suur Tõll e
Leiger, reflexo de influências escandinavas. Kalevipoeg fundiu-se ao Diabo do
Cristianismo, fazendo surgir Vanatühi, um gigantesco demônio, mais estúpido do
que malévolo e facilmente enganado.
E, finalmente, as lendas que falam que o Sol, a Lua e a Estrela são os pretendentes de uma jovem virgem, mas ela escolhe a… ESTRELA SOLITÁRIA!
FIM DA FOTO-REPORTAGEM
5 comentários:
Sensacional. Essas estórias são muito interessantes e envolventes.. Há uma cantata de Sergei Prokofiev muito bonita sobre Alexander Nevsky.
Mas a escolha da Estrela Solitário é o ponto alto, " tua estrela solitária te conduz, e não é só aqui. ABS e SB!
Conheço a cantata, Sergio. Ele participou no filme do Einsenstein. Não sendo o meu estilo preferido, ele é o meu músico russo preferido por um certo estilo rude, enigmático e mesmo imperial. E preferido até por razões ideológicas, já que foi perseguido pelo stalinismo, impedido de sair da URSS, obrigado a separar-se da mulher para sempre porque o regime soviético decidiu proibir o casamento de nacionais do país com estrangeiros e acusado de fazer... 'música burguesa'! Curiosamente faleceu no mesmo dia de ditador soviético Stalin.
Fico grato por gostar das estórias e do ponto alto final!
Abraços Gloriosos.
Essa narrativa de música burguesa é de uma estupidez infinita, pois o mais burguês compositor russo foi Tchaikovsky, e no entanto nunca foi proibido na antiga união soviética. E o que dizer da arte mais aristocrática e burguesa que é o balé clássico, entretanto foi bastante incentivado pelo mesmo regime. Nesse sentido, toda música denominada clássica ou erudita ou seja lá que nome se dê, pode ser considerada música burguesa.
Não só Prokofiev, mas vários outros compositores foram perseguidos pelo regime stalinista, provavelmente o que mais sofreu foi o Shostakovich. ABS e SB!
Aliás, o Prokofiev serviu a 'música socialista' nos primórdios da revolução russa, mas acabou por emigrar, foi dos poucos artistas 'fugitivos' que regressou à URSS e acabou em desgraça com Stalin. Foi um compositor de grande gênio, mas creio que a sua obra passou por contradições do próprio compositor quando se quis (julgo eu, mas o Sergio sabe melhor desses aspectos do que eu) libertar da mordaça cultural imposta pelo regime e acabou por desagradar ao estalinismo, que também andou por terrenos contraditórios.
Abraços Gloriosos.
Adenda: sendo burguesa a música erudita, ou pelo menos cooptada pela 'grande burguesia' (na tipologia sociológica), direi que musicalmente sou um grande burguês! (rsrsrs)
Abraços Gloriosos.
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