por RUY MOURA | Editor do
Mundo Botafogo
O «espanto»
é a base da filosofia. Mãe de todas as ciências, a filosofia parte do espanto
para a reflexão e a argumentação de modo a alcançar o conhecimento.
Quando
nos deixamos de espantar, o conhecimento e o progresso baixam o nível; quando
nos espantamos abrem-se portas de ousadia, conhecimento e inovação.
Estou
espantado! Espantado com o desempenho coletivo da equipe.
O
ESPANTO
Estou
espantado por várias razões:
» O
Botafogo vem de um caminho cheio de obstáculos, principalmente desde os curtos
reinados ‘Lagista’, ‘Flavista’ e ‘Nunista’, além dos maus dirigentes da SAF
Botafogo, que ou literalmente não entendem de futebol ou são/foram metodologicamente
deficientes na condução da máquina futebolística.
» Seguiu-se
um período com alguma esperança durante a solução interina de Fábio Matias, mas
apesar de resultados positivos que Matias entregou como legado, os adversários
não eram de grande valia e as exibições mostravam claramente que não havia
verdadeira alavancagem, embora Fábio Matias tenha, em minha opinião, muito
potencial, mas ainda é bastante inexperiente e tem um grande caminho a
percorrer.
»
Após o falhanço exibicional em Barranquilla, a nova comissão técnica comandou
três jogos com uma filosofia excessivamente atacante, em minha opinião, tendo
em consideração que não estávamos habituados ao 4-4-2, mas a outras soluções
mais cautelosas, sobretudo porque o nosso quarteto defensivo tem sido fraco e,
diga-se em abono da verdade, o astral psicológico continuava com muitos
fantasmas pairando sobre as cabeças do plantel.
» A
situação preocupava-me muito tendo em conta que disputamos Brasileirão, Copa do
Brasil e Copa Libertadores sem valores individuais suficientes, sem filosofia de
jogo clara (ou, pelo menos, aparentemente ousada demais), sem dinâmica de
movimentos e com claras deficiências físicas de alguns jogadores.
» O
último jogo vencido sobre o Atlético Goianiense já mostrara alguma evolução, é
certo, mas ninguém apostaria em uma goleada sobre o Juventude com domínio total
da partida de uma ponta a outra do jogo.
» O
jogo contra o Juventude foi um monumento de futebol variado e eficaz!
O JOGO
Logo
aos 1’30” o Botafogo mostrou ao que vinha: jogada pela ponta esquerda,
cruzamento da linha de fundo e Mateo Ponte livre de marcação chutou muito acima
da baliza. E aos 4’, na cobrança de escanteio, Júnior Santos, muito oportuno
como sempre, à boca da baliza chutou a um quarto de volta, tecnicamente muito
bem, e inaugurou o placar. Botafogo 1x0.
Aos
8’, Danilo recuperou bola, entrou na grande área em velocidade por entre dois
defensores e foi derrubado. Tiquinho Sares encarregou-se da cobrança de pênalti
e, em grande estilo, com o goleiro para um lado e a bola para outro, ampliou o
placar. Botafogo 2x0.
O
Botafogo continuou dominando a partida, tendo nova oportunidade logo aos 14’ em
cobrança de escanteio. O Botafogo foi gerindo a partida e aos 36’ beneficiou da
expulsão de Lucas Freitas, do Juventude, por acumulação de cartões amarelos.
Praticamente
a abrir a 2ª parte, Hugo falhou uma grande possibilidade de gol aos 50’, mas
aos 53’ Júnior Santos penetrou pela ala direita, cruzou já dentro da grande
área e Danilo finalizou à boca da baliza. Botafogo 3x0.
O golaço
do jogo aconteceu aos 60’. Falta próxima da grande área a nosso favor, perto da
meia-lua e ligeiramente descaída para o lado esquerdo, Savarino cobrou em
grande estilo e o goleiro nem se conseguiu mexer, limitando-se a observar a
trajetória da bola entrando velozmente no ângulo superior direito da baliza
adversária. Botafogo 4x0.
Danilo
Barbosa ainda teve um gol anulado por impedimento, mas aos 79’, bem à maneira
de Júnior Santos, Diego Hernandéz investiu pela ala direita, cruzou para o miolo
da grande área e Jacob Montes chutou sozinho para ampliar o placar. Botafogo
5x0.
O
Juventude ainda teve tempo de marcar o gol de honra aos 84, numa cabeçada muito
bem colocada e sem hipóteses de defesa para Gatito.
O que
vale a pena destacar nesta descrição dos cinco gols do Glorioso, numa vitória
decidida nos primeiros oito minutos, são vários aspectos cruciais que qualquer
equipe, aspirante a dias de glória, necessita de considerar no âmbito de
um repertório variado de jogadas.
AS
CONSTATAÇÕES
Um:
Nenhum jogador bisou na goleada, distribuindo-se os gols por cinco jogadores,
praticamente metade do coletivo.
Dois:
Nenhum gol necessitou de zagueiros ou laterais ‘salvadores’; foram todos
marcados por gente do meio-campo e do ataque.
Três:
Estava a equipe esquecida de marcar gols de bola parada, tão característicos de
vitórias no futebol moderno, e eis que o Botafogo marca a partir de três bolas
paradas diversas: de pênalti, de falta e a partir de um escanteio.
Quatro:
Foram quatro os chutes vitoriosos dentro da grande área – 1º, 2º, 3º e 5º.
Cinco:
Dois cruzamentos vitoriosos – 3º e 5º gols.
Seis:
A dinâmica de jogo não se baseou em correrias tresloucadas, mas em registros diferentes
em maior e em menor velocidade, consoante as circunstâncias.
Sete:
O sistema tático funcionou muito mais compactado e mais seguro num predominante
4-4-2, que pode variar para 5-3-2 ou 4-3-3, tal como foi sugerido nas nossas
últimas análises, e sempre com visão ofensiva.
Oito:
A arrumação e entendimento da zaga melhorou consideravelmente e praticamente o
Juventude não teve nenhuma oportunidade de gol, além da excelente cabeçada no
gol gaúcho.
Nove:
A qualidade do passe melhorou muito e houve jogadas verdadeiramente tricotadas
por parte do Botafogo, em especial a já mencionada publicamente – a famosa
jogada do 3º gol, que começou em Gatito e terminou dentro da grande área e no fundo da baliza do Juventude.
Dez:
Pela primeira vez me pareceu que a componente mental está realmente a evoluir
positivamente na medida em que todos os jogadores se mostraram conscientes e
seguros.
Onze:
Este é exatamente o futebol que AJ pretende impor na equipe. Tem capacidade
para isso? Tem poderes pessoais para articular corretamente as componentes
tática, técnica, física e mental? Tem jogadores para o fazerem contra os
adversários verdadeiramente fortes? Temos técnico para perceber o futebol
brasileiro e capaz de transmitir aos jogadores o entendimento do jogo em cada
jogo?
É
necessário aguardar. Saberemos algo mais na quarta-feira contra o
Universitario. E talvez ainda mais no domingo contra o maior rival da história
do Glorioso.
O
meu grande lema botafoguense talvez ainda tenha oportunidade de se declarar aos
seus torcedores ainda neste ano de 2024:
OUSAR CRIAR! OUSAR VENCER!
FICHA TÉCNICA
Botafogo 5x1 Juventude
» Gols: Júnior Santos, aos 3’, Tiquinho Soares, aos 8’
(pen.), Danilo Barbosa, aos 53’, Savarino, aos 60’, e Jacob Montes, aos 79’
(Botafogo); Danilo Boza, aos 84’ (Juventude)
» Competição: Campeonato Brasileiro
» Data: 21.04.2024
» Local: Estádio Olímpico Nilton Santos, no Rio de Janeiro (RJ)
» Público: 11.318 pagantes; 13.273 espectadores
» Renda: R$ 496.190,00
» Árbitro: Arthur Gomes Rabelo (ES); Assistentes: Bruno Raphael Pires
(GO) e Eduardo Gonçalves da Cruz (MS); VAR: Daiane
Muniz (SP)
» Disciplina: cartão amarelo
– Jeffinho, Marlon Freitas e
Diego Hernández (Botafogo); Lucas Freitas e Gabriel Inocêncio (Juventude); cartão vermelho – Lucas Freitas
(Juventude)
» Botafogo: Gatito Fernández; Mateo Ponte (Damián Suárez),
Lucas Halter, Bastos (Pablo) e Hugo; Júnior Santos (Jacob Montes), Danilo
Barbosa, Marlon Freitas e Jeffinho (Diego Hernández); Savarino e Tiquinho
Soares (Eduardo). Técnico: Artur Jorge.
» Juventude: Gabriel; João Lucas, Danilo Boza, Lucas Freitas
e Gabriel Inocêncio; Caíque, Mandaca (Abner), Jean Carlos (Marcelinho) e Nenê
(Rodrigo Sam); Lucas Barbosa (Thiaguinho) e Erick Farias (Ruan). Técnico: Roger
Machado.
2 comentários:
Depois de uma análise precisa e brilhante, pouco resta para que possamos fazer algum comentário, a não ser endossar presente texto.
Parece que o Artur Jorge começa a dar um padrão ao time, embora ele admita que ainda falta muita coisa. A verdade é que um treinador experiente consegue potencializar seus atletas, e a exceção do Jefinho que esteve muito aquém do restante do time e foi sabiamente sacado do time no intervalo, o restante da equipe mostrou muito progresso. Claro que nos próximos confrontos com equipes mais fortes (muito embora o Juventude não seja uma equipe muito fraca)mas os em especial os dos próximos jogos poderemos avaliar melhor o progresso da equipe. Entretanto acho que o que vimos ontem nos dá esperança de dias melhores para o Botafogo 2024. Abs e SB!
Aparentemente está dando padrão à equipe, mas confesso que acho isso rápido demais, já que um padrão ofensivo assente numa defesa forte é algo difícil de fazer em tão pouco tempo. Castro levou meses. No entanto, que parece haver um padrão, parece. Bem apreendido? Não sei. Duradouro? Também não sei. Porque AJ não é um treinador experiente de grande equipe. De 2009 a 2022 andou por equipes de divisões inferiores e somente em 2022 assuimiu o Braga durante dois anos. E o Braga não é um grande clube, porque grandes só o Sporting, o Benfica e o Porto. É equipe de porte médio, como o Vitória de Guimarães.
AJ comomeçoi como treinador aos 37 anos e somente aos 50 chegou a treinador principal deuma equipe de porte médio. Com 52 anos treina pela 1ª vez um grande clube e ademais não temdo até aqui nenhuma experiencia internacional.
Portanto, é acreditarmos nele, mas com cautela. Vontade tem muita, sabedoria futebolística ainda não consigo avaliar. Os próximos tempos encarregar-se-ão de desvendar a dimensão do treinador
Certo é que o nível do Abel Ferreira antes de chegar ao Palmeiras e conquistar 10 títulos em tão pouco tempo era exatamente o mesmo de Artur Jorge na chegada ao Botafogo. Quem sabe se não fará evoluir o Botafogo com o Abel fez no Palmeiras?
Porém, que a esperança de uma Fénix renascida parece regressar, não tenho dúvida. E chegar tão rápido ao G4 é muito animador para s atletas e para os torcedores, embora tivessemos defrontado três equipes com valores individuais claramente inferiores ao plantel botafoguense.
OUSAR CRIAR! OUSAR VENCER!
Abraços Gloriosos.
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