sexta-feira, 26 de abril de 2024

O incrível Botafogo dos sortilégios!

Beto, ‘Prêmio Belfort Duarte’ de disciplina, sendo consolado após expulsão em jogada casual.

Crédito: Mundo Ilustrado.

Nota do Mundo Botafogo: O texto que se segue é um excerto de uma matéria publicada no Mundo Ilustrado sob o título Alguém está “secando” o Botafogo, bem ‘explicativa’ da perda do título carioca de 1958. O texto replica a ortografia da época, sem correções e respeitando-se os autores.

Alguém está “secando o Botafogo

por NILO DANTE | fotos da equipe de MI | in Mundo Ilustrado, nº 51, 1958

«O Botafogo tem dessas coisas: seu torcedor sofre muito, mas as alegrias são épicas, muito superiores às amarguras. Sob a orientação segura de João Saldanha e Renato Estelita, quebrando uma espécie de tradição, o clube passou a contratar jogadores de nomeada por quantias fabulosas. Ernani, Zagalo, por exemplo. Ao mesmo tempo impedia a ida de Didi para o futebol espanhol, pagando-lhe um salário astronômico.

Pela primeira vez em muitos anos o alvinegro conseguiu formar uma equipe de grandes “estrelas”, contando, inclusive, com seis campeões mundiais (Paulo Amaral e Hilton Gosling, além de Nilton Santos, Garrincha, Zagalo e Didi), uma equipe invejável, talvez a melhor do país.

Assim, não seria tão difícil a conquista do bicampeonato. Mas aconteceu o imprevisível, ou, melhor, o perfeitamente cabível em se tratando de Botafogo: o técnico Saldanha não conseguia colocar em campo duas vêzes seguidas o mesmo time, e como futebol é conjunto, a campanha de 58 foi o que serviu.

Faltava sempre alguém; primeiro foi Pampolini, operado; quando êle voltou saíram Tomé e Zagalo, depois Paulinho; voltaram Paulinho e Tomé (Zagalo ainda está no “estaleiro”), mas saíram Edson, Ronald e – vejam só – Nilton Santos resolve apanhar cachumba na semana do jôgo com o Fluminense.

Antes disso, João Saldanha havia sido detido, impedido de orientar a equipe às vésperas do choque com o Flamengo.

Na manhã da partida decisiva (contra o América), Paulo Amaral foi vítima de um acidente em sua residência, derrotado por uma panela de pressão que estourou em seu rosto. À tarde, quando o Botafogo jogava um restinho de esperança no bicampeonato, faltaram simplesmente cinco titulares: Ernani, Edson, Nilton Santos, Ronald e Paulinho, êste com uma surpreendente intoxicação alimentar poucas horas antes de entrar em campo.

Na hora de decidir, a sorte virou 180 graus contra o Botafogo: o América jogou uma barbaridade, o time não se entendeu em momento algum e, quando ainda teimavam no marcador os 2x2, foi expulso Beto, um exemplo de disciplina e lealdade, detentor do prêmio “Belfort Duarte”, numa jogada casual contra o ponteiro Canário.

Foi o fim.

Na mesma tarde, a residência do grande botafoguense Carlito Rocha foi assaltada. Um torcedor antigo, muito chagado a Carlito e, como êle, crente no extraordinário, afirma que alguém está “secando” o Botafogo e – com uma certa irreverência – aponta três figuras, como possíveis “pé-frios” da sorte do alvinegro: os seus ilustres torcedores Juscelino Kubitschek, Augusto Frederico Schmidt ou Vargas Neto.

Procuramos ouvir o próprio Carlito (mestre nessas coisas de fôrças ocultas) a respeito, mas o homem não quer falar. Proibido pelo médico de ir a futebol, dar entrevistas e pensar no Botafogo, o velho torcedor preferiu o silêncio: – Se falar, sou capaz de aumentar o “pêso” do Clube.»

Texto completo em Mundo Ilustrado, nº 51, 1958.

2 comentários:

Sergio disse...

Parece que a tragédia persegue o Botafogo desde sua fundação, talvez por esta razão os títulos do Botafogo são sempre muito comemorados.
Sobre o campeonato de 1958, li no livro do grande Nelson Rodrigues, "As Sombras das Chuteiras Imortais", que o Botafogo perdeu para o São Cristóvão de virada por 2X1 no Maracanã, um empate nesse jogo daria o título ao Botafogo. Detalhe, o time do Botafogo estava excursionando e chegou 1 ou 2 dias antes do jogo. Não lembro se foi em 1958, mas o Botafogo empatou com o Canto do Rio por 2X2 com o Garrincha perdendo um pênalti que daria vitória ao Botafogo, o que levou o Garrincha a dizer que nunca mais cobraria pênaltis, pois assim como ele tinha ficado muito triste, entristeceu a torcida do Botafogo.
Há coisas que só acontecem ao Botafogo, que frase maldita essa, mas real. Abs e SB!

Ruy Moura disse...

A nossa vida clubista reparte-se, desde sempre, incluindo o Club de Regatas Botafogo, entre os dramas e as glórias. Na última dédada do século XIX, o CR Botafogo teve o drama e a morte de Luiz Caldas durante a Revolta da Armada e as glórias aquáticas; na 1ª década do século XX tivemos o Botafogo Football Club e logo o equívoco federativo em 1907, a tragédia da Piedade em 1909, a fabulosa conquista de 1910, o drama de Abelardo De Lamare e o abandono do campeonato carioca em 1911. E nunca mais pararam, tanto os dramas como as glórias. A fusão dos dois clubes riginando o Botafogo de Futebol e Regatas deveu-se à morte do basquetebolista Albano na quadra em 1942. Vida cheia de histórias, dramas e glórias a todos os níveis.

Abraços Gloriosos.

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