por SOL DE ANLAREC | Colunista do Mundo
Botafogo
A percepção a respeito das divindades parece ser inata ao
homem. Nossos ancestrais mais remotos, ainda nas cavernas, já a elas recorriam.
Talvez essa ideia tenha sido construída a partir de imagens mentais acerca de uma
realidade transcendente, o que possibilitou àqueles humanos lidar com seu meio ambiente
desafiador.
Na busca de preservação, eles começaram a agrupar-se.
Surgiram povoados, e, mais adiante, as cidades. A sistemática de aglutinação seguiu
ganhando impulso em várias áreas do globo, até desaguar, ao fim, em vastos
impérios.
À medida que esse processo se desenvolvia, o intelecto do
homem se ampliava e, em consequência, seus conceitos sobre os mitos também
sofriam mudanças. As representações primitivas de poder – os astros e os
elementos – foram assimiladas de acordo com as respectivas crenças dos povos de
então e adquiriram novos contornos – com feições humanas ou animalescas ou um
misto de ambas.
A esses seres eram atribuídas características
particulares: havia os que eram belos demais; outros, fortes demais. Havia os que
eram sábios demais e outros, astutos demais. E, como nada é perfeito, havia os sem
caráter demais!
O fator comum a todos era serem dotados de grandes
poderes – ou melhor, superpoderes!
Contudo, o tempo passa e a Lusitana roda...
O pensamento da humanidade sobre as divindades prosseguiu
evoluindo, e, ao longo do tempo, umas acabaram abandonadas, outras, substituídas.
Não raro, muitas terminaram esquecidas. Na atualidade, só as podemos encontrar,
por exemplo, em monumentos antigos, alguns museus ou representadas em obras de
arte.
Desta forma, embora não mais se creia que elas habitem o Olimpo
ou Asgard, as divindades seguem por aí, após terem sido devidamente repaginadas
– tornaram-se heróis!
Eis que podem ter vindo de galáxias desconhecidas ou de
outras dimensões. E há as que são daqui da Terra mesmo, resultantes de alguma mutação
genética.
Uma aspecto, porém, se mantém inalterado: à semelhança das
divindades milenares as atuais também têm poderes extraordinários!
Em suma, verifica-se que a ideia de superpoderes continua
fascinando a humanidade, tal qual o fazia na mente dos nossos mais distantes
antepassados. Quem sabe, eles não representariam desejos mais íntimos e
profundos?
Ora, quem nunca pensou em ter um superpoder?
Você, nunca? Pois eu, sim! Permita-me comentar minhas preferências.
Voar seria a primeira! Ou melhor, aparatar, termo descoberto
nos livros de Harry Potter. Imagine só ter a habilidade que me permitisse – em
uma chuvosa manhã de segunda-feira – dar uma escapulida do tedioso escritório, aparatar e reaparecer, segundos depois,
em uma paradisíaca praia do Taiti!
Após satisfeita do lazer no ensolarado ambiente tropical,
bastaria desaparatar e retornar ao trabalho. Os outros funcionários nem
estranhariam minha ausência, tomando-a por poucos minutos, mas, certamente,
estranhariam meu visual – bem mais moreninho...
Outro superpoder que eu adoraria ter – o da
invisibilidade!
Ah, leitor, não me venha com pudores! Confesse! Você não
tem um ladinho voyeur?!
Lembro-me de uma das vezes em que tive muito essa vontade!
Há tempos atrás, o vizinho do andar de cima decidiu dar
uma de percussionista e passou a espancar um bongô quando bem se lhe dava na
telha, em total desprezo aos horários e às normas de civilidade. Digo “espancar”
porque o som que reverberava sobre minha cabeça não se comparava ao de nenhuma música.
O barulho insuportável mais parecia horríveis gritos de agonia!
Além das diversas reclamações que fiz – sem sucesso –,
pegava-me, em desespero, fantasiando uma vingança: durante a madrugada, eu atravessaria
invisível o teto para alcançar o quarto do vizinho sem noção. Lá, pegaria o
malfadado bongô e iniciaria um batuque infernal no ouvido do desgraçado, com
força equivalente ao tamanho do meu ódio!
Vê-lo acordar apavorado, sem entender o que se passava à
sua frente, me deixaria imensamente satisfeita! O ápice de minha invisível (e vingativa) performance teria um toque
cômico à la Tom e Jerry, quando, após algumas evoluções dançantes do bongô no
ar, eu terminaria por espetá-lo na careca do infeliz!
Finalmente, o superpoder que me daria “maior barato” seria
o da metamorfose. Ah, que coisa mais
excitante seria ter a capacidade de me
transformar no que bem me apetecesse!!
Em um momento, eu tomaria a aparência de uma curvilínea pin-up
(que mulher não gostaria?), desfilando insinuante em um local movimentado, só
para me divertir em saber ser o único objeto de atenção dos olhares
embasbacados.
Em outro, mudaria minha aparência para a de um homem. Assim
desfrutaria das sensações e prazeres do universo masculino. Será que eu
conseguiria entender um pouco como eles pensam?
E aí, leitor, está achando minhas ideias muito loucas?
Pois lhe faço um desafio: acaso não lhe daria enorme satisfação abandonar sua
forma adulta e voltar à de uma despreocupada criança de cinco anos? Reviva a
alegria de se sentir em uma praia, brincando com seus amiguinhos por horas a
fio, construindo mil e um castelos de areia! Não seria o máximo?
Porém, se você for do tipo mais ousado, que tal sair do
reino humano e experimentar outros – o animal, por exemplo?
Pense em usufruir sentidos mais sutis, tais como o
caminhar macio de um felino ou o dançar gracioso das asas de uma colorida borboleta.
E, se quiser conferir que tamanho é documento, arrisque sentir-se gigante
– tal qual uma soberana baleia, que cruza os sete mares em total liberdade.
Nesse particular de “virar bicho”, minha primeira opção,
sem dúvida, seria a metamorfose em uma fragata.
Amaria subir aos céus e lá me deixar levar ao sabor dos
ventos, contemplando curiosa o mundo abaixo.
Pode ser que, num devaneio, eu me pegasse olhando os
pontos que se movimentavam lá embaixo e pensasse que se tratavam de antigos homens
das cavernas, que estariam a contemplar admirados minhas magníficas asas negras.
Vendo-me flutuar imponente por entre as nuvens, deduziriam que se tratava de alguma
divindade à qual eles poderiam apelar.
Calma, leitor, já posso imaginar que a essa altura você
esteja pensando: “Isso já foi longe demais! Ninguém tem superpoder!
Mas eu insisto! Será que não temos mesmo nenhum? Nem
unzinho?
Arrisco que temos um, sim! Um que nos leva para longe no
tempo e no espaço. Com ele, eu posso me transportar para lugares remotos,
atravessar paredes e até voar como um magnífico pássaro marinho!
É o superpoder da imaginação!
3 comentários:
Diria que a autora é superdotada, de criatividade, talento, imaginação, iluminada e única! Aplausos implorando por mais e mais crônicas para nos deliciarmos! Parabéns, Sol!! Bjs Márcia
Crônica deliciosa ! Não há quem não se veja retratada de uma forma ou de outra,pois todos temos desejos inusitados e até mesmo, digamos... impublicaveis ! Eu mesma , já me peguei desejando ser Cleópatra que sedutora como ela só, conquistou o amor de dois grandes generais romanos...kkkkkkk
Que o seu talento continue nos proporcionando viagens sensacionais , que nos façam voar pra muito além do infinito horizonte.
Abraço grandão !
Deliciosa Crônica!
Que o seu “superpoder” da imaginação seja eterno …
Parabéns!!!
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