segunda-feira, 8 de abril de 2024

Superpoderes

por SOL DE ANLAREC | Colunista do Mundo Botafogo

A percepção a respeito das divindades parece ser inata ao homem. Nossos ancestrais mais remotos, ainda nas cavernas, já a elas recorriam. Talvez essa ideia tenha sido construída a partir de imagens mentais acerca de uma realidade transcendente, o que possibilitou àqueles humanos lidar com seu meio ambiente desafiador.

Na busca de preservação, eles começaram a agrupar-se. Surgiram povoados, e, mais adiante, as cidades. A sistemática de aglutinação seguiu ganhando impulso em várias áreas do globo, até desaguar, ao fim, em vastos impérios.

À medida que esse processo se desenvolvia, o intelecto do homem se ampliava e, em consequência, seus conceitos sobre os mitos também sofriam mudanças. As representações primitivas de poder – os astros e os elementos – foram assimiladas de acordo com as respectivas crenças dos povos de então e adquiriram novos contornos – com feições humanas ou animalescas ou um misto de ambas.

A esses seres eram atribuídas características particulares: havia os que eram belos demais; outros, fortes demais. Havia os que eram sábios demais e outros, astutos demais. E, como nada é perfeito, havia os sem caráter demais!

O fator comum a todos era serem dotados de grandes poderes – ou melhor, superpoderes!

Contudo, o tempo passa e a Lusitana roda...

O pensamento da humanidade sobre as divindades prosseguiu evoluindo, e, ao longo do tempo, umas acabaram abandonadas, outras, substituídas. Não raro, muitas terminaram esquecidas. Na atualidade, só as podemos encontrar, por exemplo, em monumentos antigos, alguns museus ou representadas em obras de arte.

Desta forma, embora não mais se creia que elas habitem o Olimpo ou Asgard, as divindades seguem por aí, após terem sido devidamente repaginadas – tornaram-se heróis!

Eis que podem ter vindo de galáxias desconhecidas ou de outras dimensões. E há as que são daqui da Terra mesmo, resultantes de alguma mutação genética.

Uma aspecto, porém, se mantém inalterado: à semelhança das divindades milenares as atuais também têm poderes extraordinários!

Em suma, verifica-se que a ideia de superpoderes continua fascinando a humanidade, tal qual o fazia na mente dos nossos mais distantes antepassados. Quem sabe, eles não representariam desejos mais íntimos e profundos?

Ora, quem nunca pensou em ter um superpoder?

Você, nunca? Pois eu, sim! Permita-me comentar minhas preferências.

Voar seria a primeira! Ou melhor, aparatar, termo descoberto nos livros de Harry Potter. Imagine só ter a habilidade que me permitisse – em uma chuvosa manhã de segunda-feira – dar uma escapulida do tedioso escritório,  aparatar e reaparecer, segundos depois, em uma paradisíaca praia do Taiti!

Após satisfeita do lazer no ensolarado ambiente tropical, bastaria desaparatar e retornar ao trabalho. Os outros funcionários nem estranhariam minha ausência, tomando-a por poucos minutos, mas, certamente, estranhariam meu visual – bem mais moreninho...

Outro superpoder que eu adoraria ter – o da invisibilidade!

Ah, leitor, não me venha com pudores! Confesse! Você não tem um ladinho voyeur?!

Lembro-me de uma das vezes em que tive muito essa vontade!

Há tempos atrás, o vizinho do andar de cima decidiu dar uma de percussionista e passou a espancar um bongô quando bem se lhe dava na telha, em total desprezo aos horários e às normas de civilidade. Digo “espancar” porque o som que reverberava sobre minha cabeça não se comparava ao de nenhuma música. O barulho insuportável mais parecia horríveis gritos de agonia!

Além das diversas reclamações que fiz – sem sucesso –, pegava-me, em desespero, fantasiando uma vingança: durante a madrugada, eu atravessaria invisível o teto para alcançar o quarto do vizinho sem noção. Lá, pegaria o malfadado bongô e iniciaria um batuque infernal no ouvido do desgraçado, com força equivalente ao tamanho do meu ódio!

Vê-lo acordar apavorado, sem entender o que se passava à sua frente, me deixaria imensamente satisfeita! O ápice de minha  invisível (e vingativa) performance teria um toque cômico à la Tom e Jerry, quando, após algumas evoluções dançantes do bongô no ar, eu terminaria por espetá-lo na careca do infeliz!

Finalmente, o superpoder que me daria “maior barato” seria o da metamorfose. Ah, que coisa mais  excitante seria ter a capacidade de me  transformar no que bem me apetecesse!!

Em um momento, eu tomaria a aparência de uma curvilínea pin-up (que mulher não gostaria?), desfilando insinuante em um local movimentado, só para me divertir em saber ser o único objeto de atenção dos olhares embasbacados.

Em outro, mudaria minha aparência para a de um homem. Assim desfrutaria das sensações e prazeres do universo masculino. Será que eu conseguiria entender um pouco como eles pensam?

E aí, leitor, está achando minhas ideias muito loucas? Pois lhe faço um desafio: acaso não lhe daria enorme satisfação abandonar sua forma adulta e voltar à de uma despreocupada criança de cinco anos? Reviva a alegria de se sentir em uma praia, brincando com seus amiguinhos por horas a fio, construindo mil e um castelos de areia! Não seria o máximo?

Porém, se você for do tipo mais ousado, que tal sair do reino humano e experimentar outros –  o  animal, por exemplo?   

Pense em usufruir sentidos mais sutis, tais como o caminhar macio de um felino ou o dançar gracioso das asas de uma colorida borboleta. E, se quiser conferir que tamanho é documento, arrisque sentir-se gigante – tal qual uma soberana baleia, que cruza os sete mares em total liberdade.

Nesse particular de “virar bicho”, minha primeira opção, sem dúvida, seria a metamorfose em uma fragata.

Amaria subir aos céus e lá me deixar levar ao sabor dos ventos, contemplando curiosa o mundo abaixo.

Pode ser que, num devaneio, eu me pegasse olhando os pontos que se movimentavam lá embaixo e pensasse que se tratavam de antigos homens das cavernas, que estariam a contemplar admirados minhas magníficas asas negras. Vendo-me flutuar imponente por entre as nuvens, deduziriam que se tratava de alguma divindade à qual eles poderiam apelar.

Calma, leitor, já posso imaginar que a essa altura você esteja pensando: “Isso já foi longe demais! Ninguém tem superpoder!

Mas eu insisto! Será que não temos mesmo nenhum? Nem unzinho?

Arrisco que temos um, sim! Um que nos leva para longe no tempo e no espaço. Com ele, eu posso me transportar para lugares remotos, atravessar paredes e até voar como um magnífico pássaro marinho!

É o superpoder da imaginação!

3 comentários:

Anónimo disse...

Diria que a autora é superdotada, de criatividade, talento, imaginação, iluminada e única! Aplausos implorando por mais e mais crônicas para nos deliciarmos! Parabéns, Sol!! Bjs Márcia

Lúcia Costa disse...

Crônica deliciosa ! Não há quem não se veja retratada de uma forma ou de outra,pois todos temos desejos inusitados e até mesmo, digamos... impublicaveis ! Eu mesma , já me peguei desejando ser Cleópatra que sedutora como ela só, conquistou o amor de dois grandes generais romanos...kkkkkkk
Que o seu talento continue nos proporcionando viagens sensacionais , que nos façam voar pra muito além do infinito horizonte.
Abraço grandão !

Anónimo disse...

Deliciosa Crônica!
Que o seu “superpoder” da imaginação seja eterno …
Parabéns!!!

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