por
RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo
Por muita
gratidão que todos nós tenhamos pela SAF do Botafogo em virtude de alcançarmos
dois títulos sensacionais, os quais seriam impensáveis três anos antes, o
desnorte que a equipe do Botafogo atravessa, regredindo claramente desde
o último jogo e até mesmo desde a saída de Renato Paiva, se considerarmos o conjunto dos quatro jogos, evidencia as derivas
de John Textor em 2025, quebrando com a corrente de ousadia, ânimo e valentia
da equipe campeã brasileira e sul-americana.
O abandono a que
o Botafogo foi sujeito pela SAF no primeiro semestre do ano retirou a
possibilidade de qualquer planejamento, mas, pior do que isso, esfriou uma
equipe animada, em estado de graça e crente de si mesma para o futuro.
Tardiamente se encontrou
um treinador de recurso, que apesar de não ser um 1ª linha arrumou como pode
uma equipe desequilibrada e com importantes lacunas, e Renato Paiva conseguiu
que o Botafogo sobrevivesse ao ‘grupo da morte’ no Mundial e, apesar disso, foi
demitido logo de seguida em favor não de um treinador, mas de um conhecido nome
italiano, deixando a equipe em condições de disputar a Libertadores, o
Brasileirão e a Copa do Brasil, que certamente melhoraria quanto mais céleres e
melhores fossem os reforços prometidos pela SAF para solucionar os
desequilíbrios.
Textor argumenta
a demissão com um tal de “Botafogo Way”, futebol vertical, agressivo, etc., que
evidentemente julgo que todos nós gostaríamos de ver na nossa equipe, mas que dificilmente
seria possível sem peças adequadas. Os reforços até aqui, exceptuando Álvaro
Montoro, ainda não disseram ao que vieram e a meio do ano estamos com um
treinador que nunca exerceu essa atividade, mas chama-se ‘Ancelotti’, uma
contratação de alto risco, que ainda anda em busca de compreender e interligar
a equipe.
Alguns excertos
do que escrevi em publicação de 09.07.2025:
“A procura de novo técnico seguiu os trâmites
costumeiros, com todo mundo descartando treinar o Botafogo. Textor tirou então
um 'coelho' da cartola: já que não conseguiu contratar um nome de peso,
contrata o filho de um nome de peso – Carlo Ancelotti –, que nunca foi
treinador principal, o que pode constituir um sério problema. […]
Na
verdade, a aura de modernidade e inovação que alguns atribuem a Ancelloti por
ter trabalhado com o pai em grandes clubes europeus assemelha-se à contratação
do “discípulo de Pep Guardiola”, Domènec Torrent, assistente técnico nos
maiores clubes do mundo, que iria “inovar e revolucionar o futebol brasileiro”
e colocar o Flamengo num patamar mundial – demitido poucos meses depois e ainda
hoje sem nenhum título significativo.
Davide
Ancelotti, filho de Carlo Ancelotti, é mais um tiro no escuro, que talvez
acerte no alvo, ou talvez, para nosso desespero, passe novamente ao lado.”
https://mundobotafogo.blogspot.com/2025/07/john-textor-figura-chave-variacoes-em.html
Na análise ao
jogo Botafogo 2x0 Bragantino escrevi:
“O Botafogo ensaiou, quanto
a mim pela primeira vez com claro sucesso na Era Ancelotti, o futebol vertical
de contra-ataque, rápido, atacando pelas pontas e em bloco [no 1º tempo].
[Mas o Botafogo]
precisa de melhorar ainda mais o seu
futebol veloz e vertical, concatenando melhor as ligações durante os
contra-ataques e, claramente, a necessitar de melhorias na definição para o
gol, já que continuamos perdendo gols quase feitos cara a cara com os goleiros
adversários. […]
Precisamos
urgentemente de um 'matador' e mais um centroavante para o ataque, além,
naturalmente, de outros reforços que, esperemos, John Textor tenha identificado
como essenciais.
Fora
isso, o ensaio para um novo futebol pareceu-me bastante bom. Contra o Cruzeiro,
uma 'prova de fogo' aparentemente bem maior do que o Bragantino, veremos como a
aprendizagem está sendo interiorizada.”
https://mundobotafogo.blogspot.com/2025/07/botafogo-2x0-bragantino-o-melhor-ensaio.html
E, em boa
verdade, o meu sentimento é que contra um adversário com o nível e o pragmatismo
do Cruzeiro, a nossa equipe foi engolida na 1ª parte pelo futebol objetivo e
simples que caracteriza o perfil futebolístico de Leonardo Jardim. Só quem não
o conhece ou não estudou o seu modo de colocar uma equipe jogando – e parece ser
o caso de Ancelotti – é que não percebe como é que num 1º tempo equilibrado em
matéria de ações de campo, é o Cruzeiro que tem as únicas oportunidades de gol
e que ‘acha’ dois gols súbitos em cima de uma defesa que, caracterizada por ser
tradicionalmente forte, ontem mostrou-se uma peneira, seja falando do goleiro
ou dos defensores.
Ontem pareceu-me
uma equipe que não só não acredita em si como parece pronta a desmembrar-se dos
seus campeões, cada vez mais em busca de outra solução para a carreira.
Jardim criou, em pouco
tempo, uma equipe homogênea, solidária, objetiva e atuando em esquemas simples,
com duas linhas de 4, marcando alto e pronta para arrancar com um atleta em
contra-ataque veloz acompanhado pela linha de 4 mais próxima que sai em bloco
da defesa para o ataque.
Vitória
justíssima do Cruzeiro na 1ª parte e boa gestão da 2ª parte, não dando grandes
oportunidades ao Botafogo, a não ser numa cabeçada de Barboza defendida por
Cássio e num remate de Savarino ao lado.
A força da
marcação, a eficiência do contra-ataque e a eficácia das finalizações do
Cruzeiro mostraram algo bem mais parecido com o “Botafogo Way” do que aquilo
que vi na equipe alvinegra contra finalmente um adversário de gabarito nesta
Era Ancelotti.
Fora Montoro, e
também Artur – apesar da sua fraca qualidade de conclusão –, o Botafogo não tem
ataque. No meio campo, Marlon Freitas não é tudo isso que se anuncia em matéria
de futebol, e Savarino faz lembrar Tiquinho Soares – desde que Tiquinho se
lesionou nunca mais jogou um futebol capaz, tal como Savarino após a lesão.
Olhando para o
jogo de ontem a equipe piorou claramente: a defesa deixava espaços livres para
os mineiros avançarem; a zaga falhou claramente nos dois gols e em outras
jogadas mais; John não saiu à bola como deveria nos dois gols do Cruzeiro; o
meio campo andou perdido, sem capacidade de criação, e ainda piorou com a saída
de Marlon Freitas; o ataque no miolo da área não existe porque Cabral
posiciona-se sempre erradamente para receber a bola em condições; os pontas,
que ainda são os melhores da equipe, não encontram protagonistas de área para a
concretização.
No que respeita
ao treinador, apesar do pouco tempo ao serviço do Botafogo, e por isso não ser
adequado crucificá-lo, a verdade é que Ancelotti tem 42% de aproveitamento em
quatro jogos de Brasileirão tendo enfrentado apenas um adversário da 1ª metade da tabela
classificativa.
Ancelotti veio
com a marca da ‘inovação’ em virtude de ser discípulo do pai, mas Domènec
Torrent também tinha a mesma marca por ser discípulo de Guardiola. Porém,
pressinto que Ancelotti possa ser um excelente metodólogo, mas ainda não parece
estar preparado para assumir uma equipe profissional de topo.
Pressinto que
Ancelotti é muito ‘educadinho’ nas Coletivas e à beira do gramado; que ainda
não compreendeu a valia e as características de cada jogador; que não ajusta a
equipe ao adversário nem obriga o adversário a desencaixar o seu sistema; não
tem substituído bem, nem parece ter capacidade de alterar o modo de se jogar no
decorrer dos encontros. A sua única vitória ocorreu contra o ‘lanterna
vermelha’ e sob a inspiração de Cuiabano ao minuto 90 da partida.
Em suma, todos
torcemos para que Ancelotti não seja mais um balão sem oxigênio lançado por
Textor, mas um recomeço em pleno mês de julho e tendo em consideração que alguns
reforços necessários ainda não foram conseguidos – até porque parece que em
matéria de investimento há limites financeiros depois dos fracassos acionistas
no Crystal Palace e no Lyon –, então pode-se prever um futuro difícil para
Ancelotti, para o Botafogo e para todos nós torcedores.
Se a performance
mostrada pelo Botafogo contra o Cruzeiro se mantiver ao mesmo nível, nem sequer
poderemos aspirar à conquista de uma das Taças mata-mata em que estamos
envolvidos, menos ainda num campeonato brasileiro altamente competitivo e –
diga-se – sempre pronto a prejudicar-nos em campo.
A não ser que, como
se diz na arquibancada, “a minha língua se queime” (tomara!) com bons reforços
de Textor e grandes inovações de Ancelotti. Todavia, nesta fase, talvez as
‘inovações’ ainda não consigam amadurecer e Ancelotti tenha que jogar de modo
vertical mais ao estilo de Artur Jorge e Leonardo Jardim do que com futebol
sofisticado para o qual a equipe não está preparada.
Que a recuperação
comece já com futebol objetivo e simples porque temos dois jogos fora, sendo um
contra o Bragantino, valendo a classificação para a fase seguinte da Copa do
Brasil, e outro em Fortaleza contra… Renato Paiva.
FICHA TÉCNICA
Botafogo 0x2 Cruzeiro
» Gols: Christian, aos 22’, e Matheus Pereira, aos 40’
» Competição: Campeonato Brasileiro
» Local: Estádio Olímpico Nilton Santos, no Rio de Janeiro (RJ)
» Data: 03.08.2025
» Público: 30.453 pagantes; 35.126 espectadores
» Renda: R$ 2.045.450,00
» Árbitro: Matheus Delgado Candançan (SP); Assistentes: Alex Ang Ribeiro (SP) e Marcia Bezerra Lopes
Caetano (RO); VAR: Gilberto
Rodrigues Castro Junior (PE)
» Disciplina: cartão amarelo – Alexander Barboza, Allan e Joaquín Correa
(Botafogo) e Christian e Kaiki Bruno (Cruzeiro)
» Botafogo: John; Vitinho, Kaio Fernando (David Ricardo), Alexander Barboza e
Alex Telles (Cuiabano); Marlon Freitas (Danilo), Allan (Newton) e Savarino;
Artur (Joaquín Correa), Arthur Cabral e Álvaro Montoro. Técnico: Davide
Ancelotti.
» Cruzeiro: Cássio; William, Fabrício Bruno, Lucas Villalba e
Kaiki Bruno; Lucas Romero, Lucas Silva, Christian (Matheus Henrique) e Matheus
Pereira (Eduardo); Wanderson (Marquinhos) e Kaio Jorge (Lautaro Díaz). Técnico:
Leonardo Jardim.
2 comentários:
Depois do final de ano apoteótico com a conquista dos títulos mais importantes da história do clube - Copa Libertadores e Brasileiro com pontos corridos, ida e volta - somente atitudes inesperadas fora e insucessos dentro de campo. PS: no futebol a genialidade está na simplicidade diretiva
É bem verdade, Vanilson. A genialidade está na simplicidade de todas as coisas. A genialidade de Garrincha não poderia ser mais simples e eficaz do que ter uma única jogada levada à exaustão e tornar-se genial.
Ou parafraseando Cruyff: "Jogar futebol é muito simples, mas jogar futebol simples é a coisa mais difícil que há."
Abraços Gloriosos.
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