quinta-feira, 11 de junho de 2009

Eleições no Sporting e outros casos

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Desde que o sociólogo canadense Marshall MacLuhan criou a expressão ‘aldeia global’ nos anos sessenta do século passado, o nosso Planeta tornou-se mais pequeno e tudo se afigurou mais próximo.

Interrogo-me muitas vezes como é possível, excluindo o modo como ambos nasceram, que haja tanta parecença nos percursos do Botafogo e do Sporting...

Que Benfica e Flamengo sejam parecidos, não admira, porque a arrogância dos clubes que possuem as maiores torcidas em cada país é bem conhecida. Aliás, é a razão fundamental para eu não simpatizar com nenhum clube de maioria. São geralmente arrogantes, prepotentes e acham-se donos do mundo, quando muitas vezes são mais ‘donos’ das simpatias dos sopradores de apito do que donos de outra coisa qualquer. De ética certamente que não são.

Mas passemos ao essencial, especialmente dedicado aos sportinguistas-botafoguenses e aos botafoguenses-sportinguistas.

O Sporting Clube de Portugal elegeu um novo presidente. Trata-se de José Eduardo Bittencourt, que foi torcedor de bancada e que neste século já assumiu por duas vezes cargos de direção, inclusivamente de vice-presidente.

Bittencourt foi o dirigente sportinguista que numa noite de conquista do título de campeão de Portugal em 2001, em vez de se vangloriar e prometer mundos e fundos para o ano seguinte, disse ‘friamente’ que o Sporting tinha que consolidar o seu passivo e o investimento na equipa de futebol seria zero. Jamais me esqueci dessa entrevista pela lucidez e discernimento de Bittencourt.

Com frontalidade e sem falsas promessas, Bittencourt ganhou as eleições com cerca de 90% dos votos expressos. E comemorou saltando alegremente como se estivesse na arquibancada…

Este homem concorreu com uma condição: ser remunerado no cargo para dedicar-se em exclusividade ao Sporting. Este homem disse que: “Creio na gestão de um líder presente”. Este homem, apesar de ir ganhar muito bem, ganhará metade do que usufrui como alto quadro bancário, pelo prazer e pelo amor da missão a que se propõe. Pessoalmente já não creio nos ‘cartolas’ não remunerados cujos interesses são mais do que muitos; creio cada vez mais em cargos remunerados que podem ser cobrados por sócios e torcedores. Creio no líder presente, não no líder ausente.

Enquanto o opositor de Bittencourt assegurou que Eriksson (tecnicamente ultrapassado, em minha opinião – veja-se os fiascos à frente das seleções da Inglaterra e do México) aceitaria assumir a cargo de treinador do Sporting se ele fosse o ganhador (o sueco desmentiu mais tarde), o novo presidente do Sporting disse, à partida, que manteria o treinador Paulo Bento, assumindo um contrato por mais dois anos.

Paulo Bento, após encerrar a carreira de futebolista brilhante, assumiu os juniores do Sporting e foi campeão nacional, e, no ano seguinte, assumiu a equipa principal, obtendo, em quatro anos, quatro segundos lugares no campeonato nacional com acesso à Liga dos Campeões, duas Taças de Portugal e duas Supertaças, além de uma Taça da Liga que a arbitragem ofereceu ao Benfica este ano após um ‘erro’ elementar e clamoroso que o árbitro reconheceu candidamente no… dia seguinte. Exatamente como Djalma Beltrami fez em 2007 após subtrair o título de campeão carioca ao Botafogo.

Bittencourt quer renovar contrato rapidamente com os brasileiros Liedson e Derlei (embora me pareça improvável neste último caso) e quer contratar mais três ou quatro reforços ‘cirúrgicos’. E reestruturar a dívida do Sporting para poder gastar mais no futebol, tal com os outros dois ‘grandes’, que têm gasto muito dinheiro apesar das dívidas que possuem. Visando aumentar a ambição: ser campeão português e ir mais longe na Liga dos Campeões.

A lógica é simples: optar entre um clube financeiramente saneado e desportivamente menorizado ou um clube com dívidas controladas e desportivamente vencedor. É a mesma opção que falta ao Botafogo.

Portanto, parece que o Sporting saiu reforçado, tanto mais que os opositores declararam, no próprio dia das eleições, que J. E. Bittencourt era, desde essa hora, o presidente de todos os sportinguistas. E colocaram-se à sua disposição. Uma lição fenomenal de ética!

Do lado do Benfica aconteceu o quê?... O seu presidente decretou a antecipação de eleições. Para evitar que em Outubro fosse derrotado se a nova época começasse a correr mal como nos últimos quatro anos.

Reações?... Por exemplo, de um ‘notável’ benfiquista, ex-governante do país: “É um golpe de Estado”. Por exemplo, de um ex-dirigente: “É uma batota pura”. – São notícias de ontem, 10 de Junho.

E que disse publicamente o presidente da mesa da Assembleia-Geral do Benfica e ex-presidente do clube, Manuel Vilarinho?.. Isto: “Só há apenas 10 ou 20 benfiquistas.” – desdenhando de uns quantos milhões de benfiquistas tão bons ou tão maus como os demais.

Ou isto sobre o presidente atual: “Ele é que manda, mas eu não tinha feito o que ele fez”. Ou ainda isto sobre as modalidades olímpicas: “Os títulos do basquetebol não me dizem nada”. – desdenhando no trabalho de centenas de milhares de atletas e coordenadores técnicos que semana a semana se esforçam para dar o seu melhor ao clube, e que se declararam ‘chocados’ com as afirmações de Vilarinho.

Manuel Vilarinho parece-se tanto com um senhor dirigente de um clube do Rio de Janeiro que quando abre a boca é sempre para acusar os outros de ‘débil mental’… Sabem de quem falo, não sabem?...

Como Flamengo e Benfica são tão parecidos…

Mas as parecenças entre Sporting e Botafogo (até no jejum de 20 anos foram parecidos) deixam de existir quando se colocam frente a frente o discurso da nova diretoria do Sporting e o discurso da nova diretoria do Botafogo.

Ou muito me engano, ou as coisas vão melhorar substancialmente para os alvi-verdes do bairro de Alvalade e piorar substancialmente para os alvi-negros do bairro de Botafogo.

À nova direção do Sporting desejo os maiores sucessos, acreditando nisso. À já 'envelhecida' direção botafoguense, eleita há seis meses, desejo que tenha um lampejo de discernimento e tome posições urgentes, veementes e corajosas sobre o futuro do Glorioso, clube campeão em três séculos.

2 comentários:

Fernando Lôpo disse...

Rui, poderia um dia fazer um texto explicando como funcionam as eleições no Sporting e nos demais clubes portugueses? Pelo que sei, o número de votantes do Sporting é bem alto.

Aqui, além do número baixo de eleitores, há o problema terrível dos conselheiros vitalícios, que impedem qualquer tentativa de avanço do clube.

Valeu!

Ruy Moura disse...

Votaram nas eleições 11.000 sócios. Todos os sócios podem votar, mas segundo os anos de associado cada um tem direito a um X nº de votos consoante tenha mais ou menso anos de sócio...

Os maiores clubes de Portugal possuem SAD (sociedade anónima desportiva), estão creditados na bolsa e, portanto, os avanços aqui foram muito significativos. A diretoria tem muitos poderes e a SAD é gerida à parte.

Um dia escreverei sobre isso.

Abraços Gloriosos!

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