quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Parabéns, Scolari!


Creio que devo uma explicação aos leitores do blogue pelo razão de ter afirmado, neste espaço (embora apenas em ‘comentários’), que não estava torcendo por Portugal. Na verdade, se o país não se classificasse, era mau; mas, classificando-se, não é bom. Foi esta a minha contraditória expressão. Isto é, em nenhuma circunstância eu ficaria realmente contente, arcando com um indesejado paradoxo.

Além de não gostar da figura do presidente da Federação Portuguesa de Futebol, gosto menos ainda da figura do selecionador nacional, que sempre foi um verdadeiro descalabro no futebol de adultos. Aliás, nunca ganhou nada enquanto treinador principal de equipas principais. Até chegou a treinar o Real Madrid com os famoso galácticos e saiu no final do ano sem ganhar nada, após cinco derrotas sucessivas, três das quais de goleada. E com todos os galácticos!... Beberei uma taça de champagne no dia em que o treinador da seleção portuguesa abandonar o cargo. Até lá nem sequer assisto a jogos da seleção – confesso que não vi os dois jogos contra a Bósnia.

Em minha opinião só havia duas figuras realmente fortes para o cargo de selecionador nacional: (a) José Mourinho, mas esse é muito jovem ainda para largar o prazer de vibrar em campo domingo a domingo e é, nada mais, nada menos, do que o melhor e mais bem pago treinador do mundo (já ganhou o galardão oficial, e todos os clubes que treinou foram bicampeões nacionais logo nos dois primeiros anos e conquistaram taças europeias e mundial, por exemplo); (b) Felipe Scolari, o treinador responsável por colocar a seleção portuguesa na órbita das melhores do mundo e que devido às invejas mesquinhas típicas dos povos ibero-americanos teve que preparar a sua saída.

Não mais torci pela seleção portuguesa desde a saída de Scolari e a entrada de Queiroz. Muitos apontavam o dedo ao treinador brasileiro, ou orquestrados por interesses clubistas ou mesmo pessoas que são “pobres e mal agradecidas”. Embora Portugal se tenha classificado para todas as provas mundiais e europeias nesta década, nunca teve, apenas no espaço de quatro anos, uma final europeia e uma disputa do 3º lugar no campeonato do mundo – o que sucedeu com Scolari. Sei que Scolari é um treinador apenas tecnicamente mediano, mas sei que tem a componente psicológica e de comando necessárias a jogadores com cultura ‘lusófona’ – portugueses ou brasileiros. Tem comando, tem atitude e, por isso, gosto dele e lhe agradeço o desempenho sincero que teve ao longo dos anos em que comandou a seleção portuguesa.

Porém, quando Scolari saiu, quer Queiroz, quer os responsáveis nacionais, apontaram Scolari como o principal condicionante ao rendimento (posteriormente mau) da seleção, isto é, ela não rendia com Queiroz porque tinha a influência de Scolari; ora, se agora rendeu contra a Bósnia, coloca-se o problema de termos que agradecer a Scolari – e não a Queiroz – por condicionar a equipa portuguesa (apesar da influência nefasta de Queiroz).

Eu sou ‘patriota’, mas não sou ‘patrioteiro’. Não tenho nenhum problema que o Sporting ou a seleção portuguesa tenham jogadores e ou dirigentes brasileiros, croatas ou argentinos. Como não tenho problema que o Botafogo tenha jogadores (ou treinador) uruguaios ou argentinos, embora pelo menos os treinadores Cuca e Franco não tenham escalado ostensivamente os nossos jogadores que tinham outras nacionalidades (já no Flamengo, Cuca recebeu Petkovic com um seco “bom dia”, não o escalou e vejam como ele joga, afinal…).
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Além da globalização existir, e de o ‘mundo lusófono’ ser uma mesma ‘pátria linguística’, também não sou racista, não sou xenófobo, não tenho complexos históricos, não discrimino ninguém com base em questões de raça, de nacionalidade, de sexo, de religião ou de direitos humanos – a minha discriminação baseia-se na aversão que tenho à incompetência, à desonestidade e à imbecilidade humanas. Os meus critérios são, sobretudo, os da competência profissional e os de caráter e ética atitudinais e comportamentais. Estes critérios afastam-me COMPLETAMENTE de Carlos Queiroz, da presidência da federação portuguesa de futebol e da comissão nacional de arbitragem, e aproximam-me de ‘Felipão’.
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Felizmente não sou apenas eu que penso assim e, por isso, reproduzo um artigo publicado ontem no jornal desportivo Record, em Lisboa, sob o título “Parabéns, Scolari”. Eu concordo com o conteúdo, e sinto-me intelectualmente menos só.

Parabéns Scolari

por Miguel Góis
jornal Record, 19/11/2009

“Estive a pensar melhor e tenho que admitir que, ao contrário do que venho escrevendo nesta coluna há um ano, Carlos Queiroz e os seus correligionários provavelmente tinham razão quando falavam na “herança de Scolari” como uma das principais condicionantes do rendimento da Seleção Nacional. E é baseado neste pressuposto que gostaria de felicitar publicamente o treinador brasileiro pela qualificação de Portugal para o Mundial 2010. Penso até que, estranhamente, sou o primeiro a fazê-lo, apesar de este ser um raciocínio lógico. A não ser que se defenda que quando se perde a culpa é dos outros, e que quando se ganha o mérito é nosso.

Dito isto, a boa notícia é que nem o prof. Carlos Queiroz conseguiu evitar que uma Seleção composta por inúmeros jogadores de classe mundial se qualificasse para a África do Sul – esta é, sem dúvida, a maior prova de sempre de maturidade do futebol português. Noutros tempos, as substituições duvidosas, as convocatórias excêntricas e as declarações falhadas do atual selecionador nacional custava-nos as qualificações. Agora, não. Atrasam-nos um bocadinho a qualificação, é certo. Mas, no cômputo geral, esta é uma Seleção à prova de Queiroz. E este é um dos maiores elogios que se pode fazer à equipa nacional.

Ultrapassada a qualificação, permanece o problema do relacionamento da Seleção com os portugueses. Ainda no Portugal-Bósnia da semana passada, ficou patente a descrença do público da Luz nas possibilidades da Seleção em se conseguir qualificar: numa conferência de imprensa, Carlos Queirós tinha dito que já cheirava a África do Sul; em resposta a estas declarações, os milhares de espectadores contrapuseram com “cheira a Lisboa”, a cidade a partir da qual o selecionador devia assistir aos jogos do Mundial.”

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Eis a declaração final do editor deste blogue: “Parabéns, Scolari, porque deixaste nestes jogadores a força para conseguirem ganhar na raça os dois jogos da decisão, apesar da influência de Queiroz!”

[Nota: É também o que os jogadores botafoguenses precisam fazer domingo contra o São Paulo, apesar da influência de Estevam Soares… (e da diretoria)]

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