quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Um amor descomunal


por Mauro Axlace
escrito em comentário para Mundo Botafogo

.
Só sendo diferente para explicar esse amor. Em algum ponto na vida do cidadão, quando ainda é exposto aos "inimigos" torcedores de outros times, na infância, entram em contato com Flamengos, Fluminenses e Vascos que aparecem em forma de bonés, camisas, bolas e em alguns casos, já em babadores e sapatinhos quando o ainda incólume torcedor alvinegro, ainda nem abriu os olhos ou nem caiu o cordão umbilical.

O destino vai carregando o torcedor, que ainda não sabe disso, desviando da tormenta, até que um dia acontece: vê-se botafoguense. Sim, pois nascer botafoguense, ele já havia nascido.

Em minha vida, passei por isso: só meu pai botafoguense. Nasci em 1972. Como se vê, não tinha como ter orgulho do time. Mas em 1984 ganho o livro "A história dos Campeonatos Cariocas", de Roberto Mércio, que tratava de 1906 até 1984. Presente do avô tricolor (Mario Derrico - falecido em 91 - presidente da ACERJ - Associação dos Cronistas Esportivos do Rio de Janeiro e da ABRACE - Associação Brasileira de Cronistas Esportivos). O livro serviu para que pudesse ter a noção de que existia história. Glórias que não são mostradas por aí gratuitamente. Descobri um 24x0 e um único, até então, TETRA campeonato. Algumas injustiças e, pronto, o que nasceu comigo estava crescendo.

Em 1986, já sabia que o Botafogo tinha algo de especial para mim. E eu saberia o que é em poucos dias. No campeonato carioca o Botafogo virou um jogo no Maracanã e venceu a mulambada por 2x1. No dia seguinte todos saberiam que eu me descobria botafoguense.

O que me fazia pensar no Botafogo era a imagem de meu pai. Sempre austero, nunca tentou fazer com que eu torcesse pelo alvinegro, nunca tentou ludibriar os presentes que eu ganhava de outros times, talvez por saber que quem nasce assim, morre assim. Sempre seguro de si, nada o abalava. Mas passei a ver um brilho a mais nos olhos, quando ele passava pela porta do quarto e me via escutando pela rádio, os jogos do Botafogo. Garantida a preservação da espécie, ouvi histórias de Manga, Garrincha, Zagallo, Jairzinho, Gerson... E torcia para Nininberg... Alemão... Josimar... Baltazar... Paulinho Criciúma...

Claro que sem sofrimento não há aprendizado. O que vem fácil, vai fácil. Se não doer não é amor! Sabia dos tantos anos sem títulos. Vivi isso nos últimos anos da abstinência. Acompanhei todos os jogos do carioca de 89. Ou por rádio, ou pela extinta TV Manchete.

Com certeza 89-90 foram as maiores alegrias que eu pude viver com o Botafogo. Em 95 aprendi o que é sofrer de verdade com a espera de um apito final. Se em 89 Maurício deu um "empurrão" e em 95 Túlio estava impedido, não importa. Deus compensou o que sofremos anteriormente. Por isso, acho que no futuro seremos recompensados, desses últimos anos, com algo muito grande.

Esse "testamento", Rui (e Amigos), sob o pretexto de comentar o Post "João Moreira Salles: do que ele gosta mais", foi porque soube, atrasado, de seu aniversário no dia 17. Parabéns, pelo dia, distante amigo. Um dia após o seu, é a vez de meu filho, Junior, dia 18, fez 6 anos. Que da mesma forma, já foi apresentado aos “inimigos”. Já ganhou presentes de gregos e passou invicto às intempéries. E ano que vem, já sentenciou: “quero uma festa do Botafogo!”

Mas os tempos são outros. Não posso proibi-lo de assistir à Rede FlaGLobo de televisão. Não há como treiná-lo para ignorar amigos que, certamente, aprenderão sem o sofrimento para fixar no coração, irão preferir o fácil ao trabalhoso, e acharão que amam, porque nunca sentiram dor. Lembro de meu pai... Não interferiu... Deixou a integridade falar por si só. Assim será. Mas porque não dar uma ajudinha? Talvez eu tenha que dizer que a Série B é um lugar longe, mas livre de Cathartiformes, que quem é diferente é melhor, e que Deus guarda a cada um o que merece.

Tudo ao seu tempo. Com certeza, ele vai ver, na flor da idade, aquilo que é infalível: JUSTIÇA. Um dia a proteção acaba, um dia surge algo mais interessante para mostrar, a máscara cai, a carniça acaba e os urubus morrem de fome.

[Nota: Mauro Axle é leitor do blogue e fez um comentário ao artigo sobre o botafoguismo de João Moreira Salles, mas devido ao notável conteúdo puxei o comentário para artigo]

6 comentários:

SenaDrico disse...

Rui, só agora à noite pude ver que um comentário virou post. Sob o título que tu escolhestes as palavras que escrevi, nem de longe demonstram o "descomunal" que realmente há. Se cada um de nós fosse contar o que torna descomunal o amor que temos pelo Alvinegro, certamente que não viraria post. Viraria outro Blog.

Feliz somos nós que pudemos ser quem fomos numa época em que pra "ser", tínhamos que SER. Nada de marketing, nada de televisão para "vampirizar" nossa imagem, nada de "ter" para vender. Simplesmente fomos os melhores na época dos melhores. Costumo dizer para amigos quando falo de futebol: Não há craque hoje em dia. Só há capital de giro, se compararmos com o futebol de antes da década de 80. Basta parar pra pensar, por exemplo que, os gols mais fáceis da história do futebol, foram perdidos por essa nova geração. Na época em que fomos os melhores, os gols mais difíceis foram convertidos.

Rui, qualquer dia te mando a foto do moleque sentado nos alto de seus 3 anos, segurando "a bola". E daqui há um ano, as fotos da festa.

Obs: Se por ventura eu ficar maluco ou doido e esquecer da festa do Botafogo, o menino irá me lembrar meses antes. Esse é especial.

Abraços, Mauro Derrico Axlace

Ruy Moura disse...

Mauro, 'descomunal' significa enorme, desmedido, exagerado, excessivo, extraordinário, formidável, prodigioso, ilimitado, grandioso, gigantesco, colossal. Nada disso chega para classificar esse amor?!?!?!... rsrsrs...

Então fiquemos com a belíssima frase:

"Os gols mais fáceis da história do futebol, foram perdidos por essa nova geração. Na época em que fomos os melhores, os gols mais difíceis foram convertidos."

Essa é uma 'pequena' diferença antes e depois dos anos oitenta...

Abraços Gloriosos!

snoopy em p/b disse...

lindo texto!
aliás, me identifiquei mais com as palavras do autor do que com as palavras do cineasta.

abraços e sds. botafoguenses!!!

Ruy Moura disse...

Snoopy, são os dois completamente 'apanhadinhos' pelo Glorioso. Rsrsrs... Tal como nós os dois!... Rsrsrs...

Abraços Gloriosos!

rafael botafoguense disse...

comigo foi a revista do lance hahaha,me identifiquei com o texto história parecida com a minha.

http://yougol.wordpress.com/2009/11/05/estrela-no-peito-e-controle-na-mao/

Ruy Moura disse...

Rafael, os eleitos pela Estrela Solitária têm sempre uma surpresa reveladora à nossa espera numa das esquinas da vida. E aí viramos logo Botafogo!

Abraços Gloriosos!

Botafogo campeão estadual de futebol sub-17 (com fichas técnicas)

Fonte: X – Botafogo F. R. por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo O Botafogo conquistou brilhantemente o Campeonato Estadual de Futebol...