sábado, 9 de outubro de 2010

Fazendo música, jogando bola

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[Nota preliminar: Na década de 1970 o grupo Novos Baianos fixou-se num sítio de Jacarepaguá, onde gravou o disco Novos Baianos F.C., terceiro álbum de estúdio lançado em 1973 pela gravadora Continental, constituindo a maior aproximação da música ao esporte. Nesse sítio, em pleno regime militar, vivia-se um sistema social de anarquia e o grupo dividia-se entre futebol e música, o que permitia que se considerassem uma banda e uma equipa de futebol.]

por Cristiano Bastos
especial para a revista ESPN


O ano é 1973. Auge da ditadura militar. Irmanados em Jacarepaguá, zona oeste do Rio de Janeiro, os Novos Baianos desfrutam renome e popularidade desembestados pelo sucesso pop-tropical que Acabou Chorare faz pelo Brasil. Gravado um ano antes, o álbum é tido como uma das sublimes obras-primas da MPB. Seu sucessor, Novos Baianos F.C., é o mais próximo que a música chegou do esporte.

No campo, a esquadra baiana era formada por Moraes Moreira, Pepeu Gomes e seu irmão Jorginho, Paulinho Boca de Cantor, Luiz Galvão, Baixinho, Charles Negrita, Gato Félix, Dadi e Bola. Mulheres eram representadas por Baby Consuelo. O plantel ainda contava vez ou outra com a escalação luxuosa de alguns craques do profissional. Entre os quais, lendas do Botafogo como Nei Conceição, Afonsinho e Jairzinho. A sede do clube ficava no sítio Cantinho do Vovô, localizado na Boca da Mata, onde a trupe também ensaiava e vivia em sistema comunitário.

No geral, entre titulares, agregados e reservas, a família Novos Baianos somava uns 20 “jogadores”. As partidas de futebol, chamadas pela gíria baiana de “baba”, eram disputadas religiosamente todos os dias. “Jogávamos como se fosse Copa do Mundo”, conta o percursionista Gato Félix. Eventualmente, uma constelação de artistas como Fagner e Paulinho da Viola também abrilhantava as disputas. “Outros iam lá especialmente por causa da música: caso de Caetano Veloso e de Gilberto Gil”, recorda Luiz Galvão, um dos Baianos.

À disposição da turma havia dois campos de futebol. O pequeno, do tamanho de uma quadra de futsal, ficava na entrada da chácara, e o maior, com as dimensões da Fifa, pertencia ao Guanabara Esporte Clube de Jacarepaguá, mas, com um jeitinho, estava sempre aberto. “Gozávamos das graças da diretoria. Ficamos amigos do Arnaldo, o presidente do Guanabara na época.” Seja no som ou no futebol, era difícil bater os Novos Baianos em seu quintal.

O maior rival do time era um combinado de Ipanema, que contava com um anônimo Evandro Mesquita. Entretanto, pedreira mesmo era enfrentar o escrete do clube vizinho. “Houve uma vez em que a gente estava perdendo de 1 a 0 para o Guanabara. O Jairzinho, que estava em litígio com o Botafogo, atuou pelo nosso time. Quando ele resolveu jogar, viramos o placar para 4 a 1. Foi goleada fácil.”

No auge do sucesso, pintou a ideia (audaciosa para os anos 1970) de conjugar futebol com música numa receita “tipo exportação”. A banda pretendia unir-se a Pelé, que na época vestia a camisa do New York Cosmos, na cruzada de difundir o impopular esporte nos Estados Unidos. Segundo conta Galvão, eles tinham o plano de fazer 15 apresentações em cima de um trio elétrico no intervalo dos jogos do time do Rei. Porém, como naqueles tempos qualquer projeto era difícil de se realizar, os Novos Baianos não levantaram voo. “Era muita conversa e pouca realidade”, pondera o rubro-negro Moraes Moreira, o primeiro cantor de trio elétrico.

[Nota: os realces a negrito são da responsabilidade de Mundo Botafogo]

Fonte: http://espnbrasil.terra.com.br/revistaespn/noticia/150113_FAZENDO+MUSICA+JOGANDO+BOL

2 comentários:

Muga disse...

Mestre Rui,
só você para fazer todo botafoguense
"ir" diáriamente a Portugal para ler
o que há de melhor do nosso glorioso
e maravilhoso Botafogo. Muito boa esta reportagem da Espn...
E parabéns pelo belo trabalho diário
deste blog que se tornou leitura obrigatória de qualquer botafoguense
que se preze:no Brasil, na Europa ou em Marte.
Forte abraço!

Ruy Moura disse...

Eu acho que já há leitores botafoguenses também na Galáxia Sombrero, a maior jamais conhecida. (rs)

Obrigado pela tua deferência, Muga.

Abraços Gloriosos!

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