terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Fragmentos ‘a estrela do amanhã’: prefácio [01]


Adilson Taipan, o ‘Poeta do Povo e do Botafogo’, publicara, entre 2007 e 2011, cinco livros de poesia sobre o Botafogo e outras coisas mais: Malandro é Malandro, Mané é Mané; A Cavadinha Muito Loca; Proibidão: Bota Tudo, Botafogo!; Camisa 7; Poeta do Povo e do Botafogo.

Neste ano de 2013, Adilson Taipan acaba de publicar mais dois livros de poesia (capas ilustradas acima): 'A Estrela do Amanhã' e 'Botafogo na Intimidade'. A Estrela do Amanhã apresenta personagens como Óscar Niemeyer, Luís Carlos Prestes, João Saldanha e outras figuras gradas da música, da cultura e do futebol.

Foi com imenso prazer que aceitei o gentil convite do Poeta do Povo e do Botafogo para escrever o Prefácio do seu sexto livro, A Estrela do Amanhã, que hoje estreia uma nova rubrica no Mundo Botafogo. Em cada publicação será transcrito um excerto dos versos de Adilson Taipan, cujos contatos para aquisição dos seus livros são os seguintes: adilson.taipan@gmail.com e tel. (21)9938-1383. Eis o prefácio que escrevi:

PREFÁCIO

Adilson Taipan, o Poeta do Povo e do Botafogo, surgiu desprevenidamente na minha vida através da sua pena mágica. Displicentemente desfolhei as páginas dos seus dois primeiros livros de poesia: não deparei com nenhum estilo conhecido, com nenhum traço poético vincado. Mas para quem compra todos os livros sobre o Botafogo de Futebol e Regatas, não poderia furtar-me a adquirir as primeiras obras de Adilson Taipan.

Os seus livros fizeram a viagem transatlântica América do Sul – Europa e acabei em Lisboa lendo Adilson Taipan. Poeta do Povo…. E ainda por cima do Botafogo… Quem diria… Quem raio de homem é este que se acha Poeta do Povo e do Botafogo?... Abri o 1º livro. Então iniciei a leitura…

Adilson começou pela gênese, sugerindo que “dizem que o contraste surgiu / Quando o Deus sol fecundou a lua. / Um negro escravo ao se lavar no rio / Nadou nas águas brancas da filha do Senhor.”

“Dizem que uma criança teve uma luz e misturou”, e o Botafogo passou a ser a gênese de tudo e a razão de todas as coisas quando o poeta escutou “que existia futebol” e perguntou “a um moço aleijado / Que estava uniformizado” sobre “as cores mágicas” de um bando “correndo atrás da bola”: - “É o Botafogo, gente boa!”

E desde aí o contraste tomou conta do poeta: “Que coisa é essa? / Só dá Botafogo na minha cabeça. / (…) Só falo e vejo Preto e Branco. / Será que sou daltônico?”

Tudo indica que não seja daltônico, mas talvez seja um poeta alucinado desde o instante em que passou a torcer por “uma zebra louca entre cavalos comportados.”

Começou logo a escrever. Desde criança. Poesia. Poesia para o Botafogo: “Muitos entraram no Botafogo com os pés / Consegui com as mãos / Por favor! / Não me escalem como goleiro / Sou Poeta!”

E lendo dei conta de um poeta flutuante e contraditório, apaixonado por muitas coisas e pelo futebol, que perseguia um rumo, uma linha, talvez um ponto, provavelmente uma estrela, que ligava a emoção do povo ao amor pelo Botafogo.

“Busco uma literatura pouco explorada, / sem cronologia.” “Sou um poeta de esquina, / De fundo de bar, / Um saudosista, / torcedor de geral.”

E foi buscando “uma literatura pouco explorada” que Adilson chegou a uma literatura poética inimitável. O Poeta atravessou o século XX todo nessa busca: “Enquanto os homens viajam de carro, avião, metro… / Peguei meu disco voador, /Apostei corrida com o cometa / E fui namorar com Dalva, / Minha estrela louca.”

Adilson atravessou o século. Recebeu de Flávio Ramos “um bilhetinho”; ouviu “os latidos do Biriba”; comeu “rapadura com mel e gemadas”; subiu com “a elegância do Heleno de Freitas”; passou brilhantina no cabelo e foi “ao cinema conquistar Gilda”; Didi lhe “mandou uma conversa em curva”; então começou “a dar dribles para tudo que é lado. / É o Sete! Estou incorporado!”; e “Quarentinha balançou as traves” do seu coração, inapelavelmente.

De tudo isso “Os terrestres cinematográficos pouco gravaram, / Mas na sala de vídeo do céu está tudo arquivado. / Quando viajar para lá / Levarei muitas balas e pipocas / E vou pedir autógrafos ao Didi, / Garrincha, Flávio Ramos, Mimi Sodré, Nilo, / Paulo Valentim e a tantos outros.”

Depois chegou um tempo que o poeta não perdoa: “Charles Borer não merece poesia / Vendeu a casa da nossa família”. Então o poeta padeceu de longa doença: “O sofá parece área de luta. / Babo, mordo, pulo… / É briga de prazer, gozar no sofrer. / É trauma de um casal / que se amou vinte e anos sem título.”

Porém, a reconciliação chegou finalmente por outra via. O imaginário de Adilson namorou Beth Carvalho quando eram crianças e o ‘Fogo’ incendiava-os na sua pureza infantil. Ensaiavam, mas um dia faltou-lhe a inspiração do título para o que ela cantava, e isso “separou o casal do brilho perfeito”. Então, o nosso poeta diz que caiu na vida, lutou, politicou, passou apertos durante 21 anos. Um dia escutou a voz conhecida na televisão, disfarçou-se de adulto, entrou no aparelho, pediu autógrafo, ela reconheceu-o: “Lágrimas vieram, beijou meu rosto, / Fiz uns rabiscos no chão / E pulamos amarelinha. / Era a mesma paixão / Como nos bons tempos.”

A paixão pelo Botafogo reacendeu-se: “Os Botafoguenses não têm defeitos.” E em cada verso monóstico ou em cada estrofe irregular, o Poeta do Povo e do Botafogo supera-se em generosidade botafoguense: “Cheguei em casa / Dei de cara com um malandro saindo do meu quarto” / (…) Meti-lhe a porrada pensando que fosse ladrão. / Não! Minha mulher gritou, / Ele é surfista da praia de Botafogo. / Hoje sei nadar graças aquele bom rapaz.”

E o sexo sempre presente: “Só paro de fazer sexo na hora do jogo, / Fico noventa minutos na concentração, / Mas assim que apita o final, tiro o uniforme feito louco; /Vamos botar filhote nesse ventre; / A torcida crescerá de nove em nove meses.” Sexo botafoguense, claro…

Adilson é também uma espécie de mágico que transforma tudo o que toca, mesmo que se trate da sua cadela Juju: “Ela cheira o escudo no meu peito, Lambe querendo dar mais brilho / (…) Já a vi no terraço com o olhar perdido no céu”.

No céu ou num certo inferno, porque o mundo preto-e-branco do Poeta do Povo e do Botafogo não aceita rótulos, e tanto pode ser inimigo do equilíbrio como levar o céu e o inferno ao cachimbo da paz por obra de um santo demónio de pernas tortas: “Nós, os inimigos do equilíbrio / Somos estrábicos, anti-tudo, / Quase aniomalináveis / (…) O codinome de demónio das pernas tortas / É magia Negra e Branca / Driblou os terráqueos e os que já subiram / O céu e o inferno fumaram no mesmo cachimbo.”

Não admira, por isso, que aceite que se pode esperar tudo do Botafogo, embora com um desencanto poético magistral: “Do Botafogo se espera tudo, / Mas ser declarado campeão 89 anos depois, / Meu coração Alvinegro reconhece o exagero / (…) Parece quebrar o encanto de 1910.”

Da Estrela D’ Alva até cada momento da sua existência, Adilson Taipan percorre todo o Universo Glorioso: do porteiro ao presidente, do goleiro ao ponta esquerda, reservas, técnicos, roupeiros, médicos, massagistas, “Os que preparam o corpo / E os que alimentaram a mente”.

Prega a liberdade e não perdoa a quem a subtrai: “Arbitragem: Matou a paixão de um povo / Calou nosso grito de liberdade. / (…) Esse não errou, seguiu cartilha, / Orou na carta magna do cavaleiro das trevas.”

É este o poeta de quem me tornei amigo do coração através dos seus primeiros versos publicados. Irreverente, improvável, surpreendente, inesgotável… Um poeta capaz de falar de tudo e de integrar a vida num Mundo Botafogo – toda a vida de toda uma nação.

À boa maneira botafoguense, Adílson parece ser o tipo de torcedor eleito por uma ‘predestinação celestial’, mas cada vez mais penso que ele nasceu predisposto a possuir uma ‘senha para a cidadania’ – uma senha de liberdade e a explosão na pura paixão pelo futebol que o seu coração de povo identifica pelo nome de BOTAFOGO!

Adilson e os primórdios do Botafogo são irmãos gêmeos: ambos foram um ‘menino de rua perdido na poética dramaticidade do futebol’. Hoje são homens feitos, ou talvez não... O nosso poeta continua se apossando de um mundo em que “Qualquer centelha é Botafogo”…

E hoje, mais do que nunca, a brilhante alma de Adilson retoma o que em tempos timidamente rejeitou. Quando foi apresentado a Luiz Carlos Prestes, o político pediu ao poeta para o escrever em verso, mas… “’Seu’ Prestes! Não tenho essa capacidade / A minha formação intelectual é diminuta / Sou poeta popular / Dependo do sentimento e da inspiração.”

Foi com esse sentimento e essa inspiração, que o poeta explorou uma literatura não já de esquina, mas de avenida, não já de fundo de bar, mas do cimo do palco, talvez algo saudosista, ainda muito torcedor da geral, mas… uma poesia com cronologia!

Essa ‘cronologia’ em sentido figurado privilegia, em parte da sua obra, a figura ímpar de Luiz Carlos Prestes. É uma espécie de louvação, que aparentemente não é o estilo de Adilson Taipan. Mas… qual é o estilo de Adilson Taipan se não o sentimento e a inspiração baseados no Povo e no Botafogo? Faltava esta fusão política num clube que teve nas suas fileiras João Saldanha, o ‘João Sem Medo’, ou Osvaldão, pugilista do Botafogo e um dos líderes da Guerrilha do Araguaia do Norte.

“Prestes e o Botafogo / (…) Usam a mesma Estrela / Para libertar a alma e a pátria.” Na verdade, o nosso poeta reconhece que “A vida de Luiz Carlos Prestes vale uma Nação”.

A bola e a política, o Botafogo, a esperança: “A foice, o martelo e a caneta / São parentes próximos da bola / Ganhei a patente de operário versado / A esperança estufará as redes.”

O nosso poeta descobriu o seu rumo, a sua estrada, as cinco pontas de uma estrela que nos fala de Botafogo, de Futebol, de Povo, de Poesia, de Ideologia: “Olha! Eu tenho estrada / Segui os passos de Marx, Prestes, Chê... / O caminho sonhado da alvorada / Um brilhante de cinco pontas / Na testa, no peito e na alma / O futebol como ideologia popular.”

Descobriu, por entre buscas e descobertas, por entre diversidades e conexões, a sua religião: “O Pastor acredita no Botafogo / O poder das chamas / Limpa, purifica e salva a alma.”

“O Povo e o Botafogo / Serão eternamente campeões.”

Rui Moura
Professor Universitário, editor do blog Mundo Botafogo

Lisboa, março de 2012.

[Publicação autorizada pelo autor. In TAIPAN, Adilson (2014). A Estrela do Amanhã. Edição do autor.]

Sem comentários:

Botafogo campeão estadual de futebol sub-17 (com fichas técnicas)

Fonte: X – Botafogo F. R. por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo O Botafogo conquistou brilhantemente o Campeonato Estadual de Futebol...