Neste ano de 2013, Adilson Taipan acaba de
publicar mais dois livros de poesia (capas ilustradas acima): 'A Estrela do Amanhã' e 'Botafogo na
Intimidade'. A Estrela do Amanhã apresenta personagens como Óscar Niemeyer, Luís
Carlos Prestes, João Saldanha e outras figuras gradas da música, da cultura e
do futebol.
Foi com imenso prazer que aceitei o gentil
convite do Poeta do Povo e do Botafogo para escrever o Prefácio do seu sexto
livro, A Estrela do Amanhã, que hoje
estreia uma nova rubrica no Mundo Botafogo. Em cada publicação será transcrito
um excerto dos versos de Adilson Taipan, cujos contatos para aquisição dos seus
livros são os seguintes: adilson.taipan@gmail.com e tel. (21)9938-1383. Eis o prefácio que escrevi:
PREFÁCIO
Adilson Taipan, o
Poeta do Povo e do Botafogo, surgiu desprevenidamente na minha vida através da
sua pena mágica. Displicentemente desfolhei as páginas dos seus dois primeiros
livros de poesia: não deparei com nenhum estilo conhecido, com nenhum traço
poético vincado. Mas para quem compra todos os livros sobre o Botafogo de
Futebol e Regatas, não poderia furtar-me a adquirir as primeiras obras de
Adilson Taipan.
Os seus livros
fizeram a viagem transatlântica América do Sul – Europa e acabei em Lisboa
lendo Adilson Taipan. Poeta do Povo…. E ainda por cima do Botafogo… Quem diria…
Quem raio de homem é este que se acha Poeta do Povo e do Botafogo?... Abri o 1º
livro. Então iniciei a leitura…
Adilson começou pela
gênese, sugerindo que “dizem que o contraste surgiu / Quando o Deus sol
fecundou a lua. / Um negro escravo ao se lavar no rio / Nadou nas águas brancas
da filha do Senhor.”
“Dizem que uma
criança teve uma luz e misturou”, e o Botafogo passou a ser a gênese de tudo e
a razão de todas as coisas quando o poeta escutou “que existia futebol” e
perguntou “a um moço aleijado / Que estava uniformizado” sobre “as cores
mágicas” de um bando “correndo atrás da bola”: - “É o Botafogo, gente boa!”
E desde aí o
contraste tomou conta do poeta: “Que coisa é essa? / Só dá Botafogo na minha
cabeça. / (…) Só falo e vejo Preto e Branco. / Será que sou daltônico?”
Tudo indica que não
seja daltônico, mas talvez seja um poeta alucinado desde o instante em que passou
a torcer por “uma zebra louca entre cavalos comportados.”
Começou logo a
escrever. Desde criança. Poesia. Poesia para o Botafogo: “Muitos entraram no Botafogo
com os pés / Consegui com as mãos / Por favor! / Não me escalem como goleiro /
Sou Poeta!”
E lendo dei conta de
um poeta flutuante e contraditório, apaixonado por muitas coisas e pelo
futebol, que perseguia um rumo, uma linha, talvez um ponto, provavelmente uma
estrela, que ligava a emoção do povo ao amor pelo Botafogo.
“Busco uma literatura
pouco explorada, / sem cronologia.” “Sou um poeta de esquina, / De fundo de
bar, / Um saudosista, / torcedor de geral.”
E foi buscando “uma
literatura pouco explorada” que Adilson chegou a uma literatura poética
inimitável. O Poeta atravessou o século XX todo nessa busca: “Enquanto os
homens viajam de carro, avião, metro… / Peguei meu disco voador, /Apostei
corrida com o cometa / E fui namorar com Dalva, / Minha estrela louca.”
Adilson atravessou o
século. Recebeu de Flávio Ramos “um bilhetinho”; ouviu “os latidos do Biriba”;
comeu “rapadura com mel e gemadas”; subiu com “a elegância do Heleno de
Freitas”; passou brilhantina no cabelo e foi “ao cinema conquistar Gilda”; Didi
lhe “mandou uma conversa em curva”; então começou “a dar dribles para tudo que
é lado. / É o Sete! Estou incorporado!”; e “Quarentinha balançou as traves” do
seu coração, inapelavelmente.
De tudo isso “Os
terrestres cinematográficos pouco gravaram, / Mas na sala de vídeo do céu está
tudo arquivado. / Quando viajar para lá / Levarei muitas balas e pipocas / E
vou pedir autógrafos ao Didi, / Garrincha, Flávio Ramos, Mimi Sodré, Nilo, /
Paulo Valentim e a tantos outros.”
Depois chegou um
tempo que o poeta não perdoa: “Charles Borer não merece poesia / Vendeu a casa
da nossa família”. Então o poeta padeceu de longa doença: “O sofá parece área
de luta. / Babo, mordo, pulo… / É briga de prazer, gozar no sofrer. / É trauma
de um casal / que se amou vinte e anos sem título.”
Porém, a
reconciliação chegou finalmente por outra via. O imaginário de Adilson namorou
Beth Carvalho quando eram crianças e o ‘Fogo’ incendiava-os na sua pureza
infantil. Ensaiavam, mas um dia faltou-lhe a inspiração do título para o que
ela cantava, e isso “separou o casal do brilho perfeito”. Então, o nosso poeta
diz que caiu na vida, lutou, politicou, passou apertos durante 21 anos. Um dia
escutou a voz conhecida na televisão, disfarçou-se de adulto, entrou no
aparelho, pediu autógrafo, ela reconheceu-o: “Lágrimas vieram, beijou meu
rosto, / Fiz uns rabiscos no chão / E pulamos amarelinha. / Era a mesma paixão
/ Como nos bons tempos.”
A paixão pelo
Botafogo reacendeu-se: “Os Botafoguenses não têm defeitos.” E em cada verso
monóstico ou em cada estrofe irregular, o Poeta do Povo e do Botafogo supera-se
em generosidade botafoguense: “Cheguei em casa / Dei de cara com um malandro
saindo do meu quarto” / (…) Meti-lhe a porrada pensando que fosse ladrão. /
Não! Minha mulher gritou, / Ele é surfista da praia de Botafogo. / Hoje sei
nadar graças aquele bom rapaz.”
E o sexo sempre presente:
“Só paro de fazer sexo na hora do jogo, / Fico noventa minutos na concentração,
/ Mas assim que apita o final, tiro o uniforme feito louco; /Vamos botar
filhote nesse ventre; / A torcida crescerá de nove em nove meses.” Sexo
botafoguense, claro…
Adilson é também uma
espécie de mágico que transforma tudo o que toca, mesmo que se trate da sua
cadela Juju: “Ela cheira o escudo no meu peito, Lambe querendo dar mais brilho
/ (…) Já a vi no terraço com o olhar perdido no céu”.
No céu ou num certo
inferno, porque o mundo preto-e-branco do Poeta do Povo e do Botafogo não
aceita rótulos, e tanto pode ser inimigo do equilíbrio como levar o céu e o
inferno ao cachimbo da paz por obra de um santo demónio de pernas tortas: “Nós,
os inimigos do equilíbrio / Somos estrábicos, anti-tudo, / Quase aniomalináveis
/ (…) O codinome de demónio das pernas tortas / É magia Negra e Branca /
Driblou os terráqueos e os que já subiram / O céu e o inferno fumaram no mesmo
cachimbo.”
Não admira, por isso,
que aceite que se pode esperar tudo do Botafogo, embora com um desencanto
poético magistral: “Do Botafogo se espera tudo, / Mas ser declarado campeão 89
anos depois, / Meu coração Alvinegro reconhece o exagero / (…) Parece quebrar o
encanto de 1910.”
Da Estrela D’ Alva
até cada momento da sua existência, Adilson Taipan percorre todo o Universo
Glorioso: do porteiro ao presidente, do goleiro ao ponta esquerda, reservas,
técnicos, roupeiros, médicos, massagistas, “Os que preparam o corpo / E os que
alimentaram a mente”.
Prega a liberdade e
não perdoa a quem a subtrai: “Arbitragem: Matou a paixão de um povo / Calou
nosso grito de liberdade. / (…) Esse não errou, seguiu cartilha, / Orou na
carta magna do cavaleiro das trevas.”
É este o poeta de
quem me tornei amigo do coração através dos seus primeiros versos publicados.
Irreverente, improvável, surpreendente, inesgotável… Um poeta capaz de falar de
tudo e de integrar a vida num Mundo Botafogo – toda a vida de toda uma nação.
À boa maneira
botafoguense, Adílson parece ser o tipo de torcedor eleito por uma ‘predestinação celestial’, mas cada vez mais penso que ele nasceu
predisposto a possuir uma ‘senha para a cidadania’ – uma senha de liberdade e a
explosão na pura paixão pelo futebol que o seu coração de povo identifica pelo
nome de BOTAFOGO!
Adilson e os primórdios do Botafogo são irmãos gêmeos: ambos foram um
‘menino de rua perdido na poética dramaticidade do futebol’. Hoje são homens
feitos, ou talvez não... O nosso poeta continua se apossando de um mundo em que
“Qualquer centelha é Botafogo”…
E hoje, mais do que
nunca, a brilhante alma de Adilson retoma o que em tempos timidamente rejeitou.
Quando foi apresentado a Luiz Carlos Prestes, o político pediu ao poeta para o
escrever em verso, mas… “’Seu’ Prestes! Não tenho essa capacidade / A minha
formação intelectual é diminuta / Sou poeta popular / Dependo do sentimento e
da inspiração.”
Foi com esse
sentimento e essa inspiração, que o poeta explorou uma literatura não já de
esquina, mas de avenida, não já de fundo de bar, mas do cimo do palco, talvez
algo saudosista, ainda muito torcedor da geral, mas… uma poesia com cronologia!
Essa ‘cronologia’ em
sentido figurado privilegia, em parte da sua obra, a figura ímpar de Luiz
Carlos Prestes. É uma espécie de louvação, que aparentemente não é o estilo de
Adilson Taipan. Mas… qual é o estilo de Adilson Taipan se não o sentimento e a
inspiração baseados no Povo e no Botafogo? Faltava esta fusão política num
clube que teve nas suas fileiras João Saldanha, o ‘João Sem Medo’, ou Osvaldão,
pugilista do Botafogo e um dos líderes da Guerrilha do Araguaia do Norte.
“Prestes e o Botafogo / (…)
Usam a mesma Estrela / Para libertar a alma e a pátria.” Na verdade, o nosso
poeta reconhece que “A vida de Luiz Carlos Prestes vale uma Nação”.
A bola e a política,
o Botafogo, a esperança: “A foice, o martelo e a caneta /
São parentes próximos da bola / Ganhei a patente de operário versado / A
esperança estufará as redes.”
O nosso poeta descobriu
o seu rumo, a sua estrada, as cinco pontas de uma estrela que nos fala de
Botafogo, de Futebol, de Povo, de Poesia, de Ideologia: “Olha! Eu tenho estrada / Segui os passos de Marx,
Prestes, Chê... / O caminho sonhado da alvorada / Um brilhante de cinco pontas
/ Na testa, no peito e na alma / O futebol como ideologia popular.”
Descobriu, por entre
buscas e descobertas, por entre diversidades e conexões, a sua religião: “O Pastor acredita no Botafogo / O poder das chamas / Limpa,
purifica e salva a alma.”
“O Povo e o Botafogo / Serão eternamente campeões.”
Rui Moura
Professor
Universitário, editor do blog Mundo
Botafogo
Lisboa, março de
2012.
[Publicação autorizada pelo autor. In TAIPAN, Adilson (2014). A
Estrela do Amanhã. Edição do autor.]
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