por LÚCIA SENNA
Escritora e Cantora
Cronista do Mundo Botafogo
O Rio de Janeiro está cravado de dores. A morte de Marielle Franco provocou, nesse Rio de lama, uma verdadeira comoção nacional. Mesmo para quem acompanha de
perto a violência que se instalou na sociedade brasileira, os tiros assassinos
que mataram Marielle foram de uma
brutalidade e de uma insensatez muito além das piores previsões.
Quinta vereadora mais votada, conquistou, já em seu primeiro
mandato para a Câmara dos Vereadores do Rio, nada menos do que 46 000 votos. Representava
uma renovação na política do país. A execução de uma parlamentar no exercício do
mandato é inadmissível – um doloroso e cruel atentado à democracia.
Negra, favelada, nascida e criada na favela da Maré, bissexual,
mãe, ... afinal, quem essa tal de Marielle
pensava que era?
Marielle queria apenas garantir que todos
nós, sem exceção, fossemos tratados
com igualdade respeito e justiça dentro
das nossas bem vindas diferenças;
Marielle venceu barreiras que parecem
intransponíveis para milhões de jovens, pobres e negros, da periferia das
cidades brasileiras;
Marielle venceu seus próprios limites,
estudou e entrou para a política com o firme propósito de defender os
esquecidos Direitos Humanos. E Direitos
Humanos não pode ser, de forma alguma, uma pauta partidária;
Marielle sempre soube que não existe
maior prisão que o medo. Pagou caro por ser destemida e por estar vencendo.
Pagou caro por defender a democracia e a liberdade de expressão. Pagou caro
pelo seu total comprometimento com os mais pobres.
Essa era a “tal” da Marielle,
que muitos – absurdo dos absurdos
– querem penalizá-la ainda mais, com comentários do tipo: é isso
que dá, defender bandidos. A conclusão seria quase que um bem feito!
Acho que a sua morte é uma derrota imensa para o Brasil. Sofreu
morte física, mas também simbólica.
Marielle carregava consigo muitas Marielles:
numa só mulher, muitos e muitos
significados.
Tenho a nítida impressão que se a sociedade brasileira – aquela
que ainda acredita em democracia, liberdade de expressão e em diretos humanos –
não se levantar agora para continuar a luta de Marielle, não transformar o luto em luta, então, sim, os seus
assassinos terão vencido.
Dizem que a profissão dos brasileiros é a ESPERANÇA. Não fujo à
regra. Assim sendo, acredito que essa trama sórdida que eliminou Marielle não há de ficar impune.
E que as suas ideias de justiça e igualdade social sobrevivam e
invadam o Brasil por inteiro.
10 comentários:
Belo texto, Lúcia! Os deserdados agradecem a solidariedade , principalmente quando ela se apresenta como ação concreta e efetiva contra a elite que domina o Brasil. Li outro dia uma frase do padre Antonio Vieira - os mártires são como velas; precisam queimar para gerar luz.
Beijos, NEY
Marielle deixa um grande legado : quis mostrar que, apesar de todas as nossas diferenças , o certo é que temos os mesmos direitos.
Abraços do Arthur
Caro Ney, com todo o respeito, eu penso que se há coisa que o Brasil perdeu há muito tempo foi a elite. Hoje trata-se de uma 'pobrelite' sem condimento, sem conhecimento, sem sentimento.
Urge uma nova Constelação de Estrelas a sul...
Abraços Gloriosos.
Os mesmos direitos Artur, na luta pela mitigação das diferenças e pelo pluralismo da diversidade.
Abraços Gloriosos.
Pensei que eu não seria mais capaz de me chocar com nada do que acontece nesse " rio de lama", como bem dizes. Mas a morte da vereadora Marielle , veio para nos mostrar que o limite para a selvageria não existe. DESESPERA - DOR!
Gabriel
Padre Antonio Vieira tem citações espetaculares. Essa eu não conhecia. É o que se pode chamar de uma frase brilhante.
Beijos, primo.
E que o grito de Marielle pelos direitos humanos, continue ecoando pelo Brasil inteiro e para sempre. Obrigada, Arthur
Abraços.
Infelizmente, tenho que te dar razão, Ruy.
Nossas estrelas estão morrendo. Um berçario de novas e brilhantes estrelas, é tudo o quanto, com urgência máxima, precisamos.
Beijos estrelados.
Espero, com ansiedade, ver chegar o dia que não mais precisaremos gritar palavras de ordem sobre direitos humanos, justiça social, etc...
Enquanto houver essa necessidade, estaremos mal...
Beijos, meu querido.
Parece mesmo não existir, Gabriel! É necessário que as nossas autoridades policiais encontrem, o mais depressa possível, os facínoras que tiraram a vida de Marielle. Está dificílimo encontrar alguma razão para ser otimista, mas se esses crápulas fossem presos , sem dúvida, daríamos um coletivo e profundo grito de alívio.
Grande abraço.
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