Ele não foi uma paixão exclusiva da torcida
do Botafogo, mas sim de toda uma nação. Mas os botafoguense tiveram o
privilégio de contar com o gênio de pernas tortas e dribles desconcertantes em
seu time. Garrincha morreu três meses depois de PLACAR promover um histórico
encontro entre ele e Pelé.
(Sem
autor declarado)
Revista
Placar, edição nº 1242, Set/2002, retomando reportagem de 1983.
A
notícia da morte de Garrincha dada pelo Times, de Londres, apareceu ao lado do
necrológio de um professor da Universidade de Cambridge, Walter Ullmann, que
contribuiu imensamente para o estudo da História Medieval. O Times referiu-se
aos encantos do futebol de Garrincha. […] Só se esqueceu de mencionar que Garrincha foi também um notável
contribuinte da História, no ramo do futebol, como um capítulo especial e
incomparável. […]
O
financial Times, onde notícias de exporte são raridade, encontrou espaço na sua
primeira página e informou: “Little bird dies”. […]
No
Daily Telegraph, o cronista Donald Saunders recordou que “na tarde de um
domingo em Viña del Mar, Chile, nem Ray Wilson, talvez o melhor
lateral-esquerdo que já vestiu a camisa de Inglaterra, Pôde enfrentar a magia
de Garrincha”. […]
[Ray Wilson:]
Garrincha era tão rápido, tão esperto, que mesmo encurralado num espaço mínimo
transformava esse espaço numa imensidão, sempre com a bola nos seus pés, como
que atraída por gravitação. E você sabe que eu fiquei feliz com minha atuação,
embora isso soasse absurdo?” […]
“Era
impossível marcá-lo, define [o checoeslovaco] Novak. “Era um jogador imprevisível, a
gente nunca sabia o que ele ia fazer com a bola. E ele era limpo, correto. Dava
até orgulho tentar marcá-lo.” […]
Gunnar
Grenn, armador da Seleção que foi vice em 1958, comparou: “Ele, no lado de
vocês, e Skolung, do nosso lado, foram os grandes astros daquela Copa. […]
Garrincha foi o maior mestre do drible de
todos os tempos, um gênio da bola como jamais existirá outro”. […]
O
lendário Uwe Seeler, […] lembra Mané
como “alguém de rara categoria mundial”. […] O espanhol Abelardo […]:
“Não sei quantos de nós tcveram as pernas retorcidas por Garrincha, mas num
Mundial isso foi motivo de orgulho, porque ele fazia, do nosso futebol, algo
para se ter orgulho”. […]
Puskas
lamentou “a perda de um grande amigo”. […] Bobby Moore, campeão do mundo em 1966 e titular também em 62, apenas
suspirou: “Ah, que grande jogador ele era… Dele, todos nós, que jogamos contra
o Brasil em 1962, guardamos uma lembrança reverenciosa, apesar do fato de ter
sido o homem que nos derrotou”. […]
Mané
morreu. […] Que bom seria
se ele pudesse ter visto a multidão que se comprimiu ao longo dos 56 km da
estrada que liga o Rio a Pau Grande. Eram pessoas humildes, roupas simples no
corpo, cohendo flores nos canteiros e lançando sobre o caixão. […]
Finalmente,
às 12h45 de sexta-feira, Mané Garrincha foi sepultado, sob os olhares de
milhares de fãs.
Pelé não apareceu. […]
Garrincha
foi único, mágico, inimitável. Na terra, Alegria do Povo. No céu, passarinho
liberto, há de zelar por nós.