Zé Carlos sempre foi um exemplo de
profissional no Botafogo. Desde que assumiu a camisa titular do time, em
outubro de 1976, jamais esteve ausente, assim como participou das 52 partidas
do Brasileiro. Orgulha-se de dizer que nunca levou três gols em um mesmo jogo.
por RAUL QUADROS
Revista
Placar, edição nº
1242, Set/2002, retomando reportagem de 1977.
O
jogo era cadenciado, pois o empate interessava aos dois times. De repente,
Romeu, do Corinthians, é lançado e penetra velozmente na área. O goleiro Zé
Carlos, do Botafogo, dá um passo adiante, no exato instante do cruzamento, para
o miolo da área. Rui Rei recebe livre e fuzila. A boa passa por Zé Carlos e a
torcida corintiana se levanta para comemora. Só que, como um gato, Zé Carlos dá
um felino salto atrás e segura a bola. Aplausos delirantes.
Semanas
depois no mesmo Maracanã, jogo corrido: o Grêmio vence por 1x0 e o Botafogo
demonstra apatia. De repente, Renato Sá apanha uma bola na lateral da área. O
goleiro Zé Carlos dá um passo adiante, esperando o cruzamento. Só que a bola
entra direto no gol, às suas costas. Era a melancólica despedida de uma
invencibilidade que durou 52 partidas.
–
Nunca levei três gols num jogo, em toda a minha carreira – diz o goleiro. – Nem
nos juvenis. […]
No
caminho, relembra os dois lances: […]
–
Você vê. As jogadas foram muito parecidas. Contra o Corinthians, saí certo e
evitei o gol. Contra o Grêmio, a mesma coisa. Só que o rapaz bateu forte. Com
sorte, claro. A bola passou entre mim e a trave. Quer saber de uma coisa? Eu
falhei no gol – e não estou aqui para arranjar desculpas.
[…]
A
partir, mais ou menos, dos 35 minutos de jogo, o time jogava mais preocupado em
manter uma invencibilidade improdutiva. Vários jogadores ficavam preocupados
com isso. Achavam que o empate era bom, mas não era. Havia jogadores, também,
que achavam que de empate em empate acabaríamos desclassificados.
[…]
Houve
um momento em que Zagalo apelou. […] Mas já era tarde. Com apenas duas vitórias na fase final, o Botafogo se
despedia do título. […]
Zé
Carlos foi o único jogador integralmente invicto. Isto é, participou de todas
as 52 partidas, sem ser substituído em nenhuma delas. Mais: desde que vestiu a
camisa titular, em outubro de 1976, jamais esteve ausente do time.
[…]
– O que lamento,
profundamente, é que o nosso time esteja fora das semifinais. […] Tudo por causa de uma boba invencibilidade.
Agradecimentos a Mauro Axlace, editor
do blogue Aqipossa [https://aqipossa.blogspot.com] que gentilmente cedeu a informação.
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