domingo, 7 de outubro de 2018

Botafogo em ensaio histórico sobre surgimento do futebol carioca

por BRUNO CASTRO
Docente de Educação Física da Universidade Castelo Branco (UCB/RJ), Diretor do Colégio Santa Mônica (RJ), Músico Profissional

por RAFAEL VALLADÃO
Graduando em Educação Física da Universidade Castelo Branco (UCB/RJ), Diretor de Esportes do Diretório Central do Estudantes (DCE) da UCB.

Título original do artigo:

Um ensaio histórico sobre o surgimento do futebol, dos clubes de futebol carioca: Vasco, Flamengo, Fluminense e Botafogo e suas tendências elitizadas e populares

Publicado em: http://www.efdeportes.com/ Revista Digital – Buenos Aires – Año 13 – N° 126 – Noviembre de 2008

Resumo do artigo publicado: A presente pesquisa analisou as circunstâncias históricas do surgimento do futebol, no final do século XIX, no Brasil, pela figura do jovem paulistano Charles Willian Miller; o surgimento dos principais clubes do futebol carioca: Vasco, Flamengo, Fluminense e Botafogo; e a proliferação dos clubes do rio através de duas grandes tendências: a elitizada, de valores do higienismo, do cavalheirismo, do fair play e do amadorismo, e a popular, das camadas populares, que promoveu a inclusão de negros e operários no futebol. Através do universo do futebol, que por si só possui a força de unir as pessoas e expressar as paixões populares do cidadão brasileiro, poderemos construir instrumentos que nos auxiliem na transmissão desses saberes.

O Mundo Botafogo apresenta apenas dois excertos nos quais é referido o Botafogo de Futebol e Regatas:

A mais polêmica fundação, em 1894, foi a do Club de Regatas do Botafogo por ter seu idealizador envolvido com a Revolta Armada, o que ocasionou a perseguição e prisão deste, pelo governo de Floriano Peixoto. No ano de 1904 seria fundado o Botafogo Football Club, que se fundiria com o Club de Regatas, formando o Botafogo de Futebol e Regatas em 1942.

Botafogo

A história do Botafogo pode ser dividida em três partes: Club de Regatas Botafogo, Botafogo Football Club e Botafogo de Futebol e Regatas. Inicialmente surgiu o Club de Regatas Botafogo, que como os grandes clubes do rio, tiveram inicialmente o remo como destaque.

Sua primeira fundação foi conturbada, pois era a época da Revolta Armada, uma rebelião arquitetada pela Marinha do Brasil contra o governo de Floriano Peixoto, além da politização de seus membros e uma forte tendência anti-governo, até porque Luiz Calda, conhecido por seu apelido o “Almirante”, era monárquico. O Botafogo foi impedido de continuar suas atividades, tendo Luiz Caldas preso. Com a morte do “Almirante” em 23 de Junho de 1894, os sócios voltaram a se reunir e como resposta ao governo fundaram o Club de Regatas Botafogo.

Luiz Caldas, o “Almirante”, descontente com o ambiente de jogatina que campeava no Club Guanabarense, transformou o Club de Botafogo, sua fação interna, já disputante em 1886, no grupo de Regatas Botafogo em 1891. Monarquista, foi preso em 1893, em consequência da Revolta Armada, vindo a falecer em 23 de junho de 1894. Não chegou a assistir a transformação do Grupo em Club de Regatas Botafogo, a 1° de julho de 1894. Seus companheiros sempre o consideraram fundador e benemérito, como consta na homenagem, de 1905. Posteriormente o Club criou um troféu de natação com seu nome (Botafogo, o glorioso: uma história em preto e branco, 1996, p. 14).

Seus fundadores foram: Alberto Lisboa da Cunha, Arnaldo Pereira Braga, Arthur Galvão, Augusto Martins, Carlos de Souza Freire, Eduardo Fonseca, Frederico Lorena, Henrique Jacutinga, João Penaforte, José Maria Dias Braga, José Teixeira, Júlio Kreisler, Júlio Ribas Júnior, Luiz Fonseca Quintanilha Jordão, Óscar Lisboa da Cunha e Paulo Ernesto de Azevedo (Botafogo, o glorioso: uma história em preto e branco, 1996, p. 13).

O Club de Regatas Botafogo foi o primeiro campeão brasileiro de remo em 1902.

É do Botafogo o mais antigo título de campeão brasileiro em qualquer esporte. Em 1902, pela primeira vez, organizou-se, no Rio de Janeiro, um campeonato brasileiro, o de remo. Foi vencido por Antônio Mendes de Oliveira Castro, que, assim, deu ao Botafogo o primeiro título brasileiro jamais existente e com um recorde, até hoje, não igualado para canoé a um remador, façanha elogiada pela “Semana Sportiva” de 1° de novembro de 1902 (Botafogo, o glorioso: uma história em preto e branco, 1996, p. 19)

No ano de 1904 surgiria o Botafogo Football Club, da idéia de dois estudantes Flávio Ramos e Emmanuel Sodré. Estasiados da aula de álgebra, no Colégio Alfredo Gomes, ministrada pelo general Júlio Noronha, Flávio passa um bilhete a Emmanuel que dizia: "O Ithamar tem um clube de futebol na rua Martins Ferreira. Vamos fundar outro no Largo dos Leões? Podemos falar aos Werneck, ao Arthur César, ao Vicente e ao Jacques" (NAPOLEÃO, 2000, p. 9-10).

Os meninos, moradores do bairro de Botafogo, logo convenceram outros colegas a aderir a idéia e o clube inicialmente se chamaria Electro Club, fundado em um casarão no Largo dos Leões no dia 12 de Agosto, cedido por Dona Chiquitota, avó materna de Flávio. Porém o nome só durou até o dia 18 de Setembro de 1904, quando na casa da avó de Flávio, ela disse: “Como vocês são sem imaginação! Escolher um nome tão feio! Morando aqui onde moram, o nome tem que ser Botafogo” (NAPOLEÃO, 2000, p. 11).

A idéia foi aceita por todos imediatamente. E o nome Electro Club foi mudado para Botafogo Football Club e, assim, eleita uma nova diretoria: Presidente – Alfredo Guedes Mello, Vice-presidente – Ithamar Tavares, Secretários – Mário Figueiredo, Tesoureiro – Alfredo Chaves. A assembléia foi realizada no mesmo local da primeira (o velho chalé em ruínas), onde segundo Flávio Ramos, Basílio Vianna desenhou em naquim o primeiro escudo do Botafogo (NAPOLEÃO, 2000, p. 11).

O Botafogo Futebol e Regatas fundado no dia 8 de dezembro de 1942 foi o resultado da fusão de dois clubes de mesmo nome: Club de Regatas Botafogo e Botafogo Football Club. A fusão se deu em um acontecimento trágico. Em jogo de basquete pelo campeonato carioca, os dois clubes disputavam no Mourisco Mar, sede do Club de Regatas Botafogo, quando o jogador Armando Albano, do Football Club, foi fulminado por uma síncope, no intervalo. Quando os médicos confirmaram o seu falecimento, a partida foi interrompida faltando dez minutos para o final, o placar marcava 21 pontos para Club de Regatas e 23 para Football Club. No momento em que o corpo passava em frente ao Mourisco Mar, houve uma parada e os presidentes dos dois clubes se pronunciaram:

O presidente, Augusto Frederico Schmidt, pronunciou um elogio que se encerrou com palavras comoventes: “Comunico nesta hora a Albano que a sua última partida resultou numa nítida vitória. O tempo que resta do jogo interrompido os nossos jogadores não disputarão mais. Todos nós queremos que o jovem lutador desaparecido parta para grande noite como um vitorioso. E é assim que o saudamos.” O presidente do Botafogo Football Club, Eduardo Góis Trindade, respondeu: “Nas disputas entre os nossos clubes só pode haver um vencedor: o Botafogo!” A resposta de Schmidt foi definitiva: “O que mais é preciso para que os nossos dois clubes sejam um só?” (NAPOLEÃO, 2000, p. 22-23).

A partir dessa data iniciou-se o processo de fusão entre os dois clubes, que acarretaria em algumas modificações na bandeira, no escudo e o time passaria a jogar com calções pretos, mantendo a camisa listrada.

4 comentários:

Filipe disse...

Excelente registro parabéns caro Rui

Ruy Moura disse...

Obrigado, Filipe.

Grande e Glorioso abraço!

Anónimo disse...

Brilhante registro!
De se ressaltar o fato do Botafogo ter sido um - talvez o ÚNICO - clube fundado por um Monarquista, não só no discurso mas também nos atos: Lutou e morreu em decorrência da Revolta da Armada.

Assim como ele, haviam outros da causa monárquica dentro os fundadores do Club Botafogo / Grupo de Regatas Botafogo / Club de Regatas Botafogo.
A Estrela Solitária, que simboliza o valente Luiz Caldas, simboliza a raíz fundacional do do Brasil contra o Golpe Militar de 1889 - este sim um golpe do qual ninguém fala.

Saudações Alvinegras Luso-Brasileiras

Leonardo Maia

Ruy Moura disse...

Foi um tempo muito curioso: a abolição da escravatura, a revolta dos donos do café, a dolorosa guerra do Paraguai e a implantanção da Repúbica por Deodoro, que reagiu a mentiras/boatos dos republicas e que acabou por ser investido como 1º Presidente da República sendo um defensor da Monarquia até à medula. Um presidente monárquico, que tomou as rédeas da implantação da república meio adoentado, porque Benjamin Constant não sabia nada de guerra e as tropas estavam completamente desorganizadas - eis a confusão na qual começou a República do Brasil com um Presidente Monarquista, bagunça de liderança, de visão e de estratégia que estes últimos anos mostram que continua (!).

Mas... falando do nosso Botafogo: é um Clube tão contraditório, tão original, tão "coisas que só acontecem a nós" (quando o lema foi lançado incluía Botafogo e Vasco da Gama) que até foi fundado sob os auspícios de uma Estrela (geralmente símbolo da esquerda comunista, mas vermelha) e de um impoluto monarquista! Então, o Botafogo nasceu por ter sido vítima da 1ª república 'democrática' por via dos seus remadores defensores da monarquia, e vítima da república da 'ditadura militar' quando se opôs aos militares em 1968, após as tropas tomarem o estádio de General Severiano e torturarem estudantes, ao que Althemar Dutra de Castilho se opôs veementemente. Quer dizer, no passado os botafoguenses sempre se posicionaram contra os golpes.

O que mais me atrai no Botafogo, muito mais do que os resultados desportivos, é a sua intrincada história com dramas inacreditáveis, como o da Piedade ou o da fusão que originou o BFR, passando por decisões inesperadas como a de 1911 em defesa de Abelardo, as superstições de Carlito, até às Glórias de termos os melhores futebolistas de sempre ao serviço da Seleção tricampeã do mundo, cujo futebol foi fundado por garotos de 15 anos que lutaram taco a taco com os homens bigodudos do Fluminense desde 1906 e foram campeões logo em 1907 e 1910. E muito mais que não cabe falar agora, mas que está espelhado em inúmeras publicações do Mundo Botafogo. Grande Clube, não é?...

Abraços Gloriosos, Leonardo!

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