Com
graves problemas financeiros, Zé Carlos enfrentava mais um revés na vida: um
terrível acidente de carro poderia colocar fim à sua carreira. Com os filhos de
coqueluche e encarando a terceira batida de carro em sequência, o goleiro
chegou a delirar no hospital. Suas palavras são emocionantes.
por MARCELO REZENDE
Revista
Placar, edição nº
1242, Set/2002, retomando reportagem de 1979.
[Na] Casa de Saúde de são Miguel […] Zé Carlos acaba de acordar. Está assustado,
grita, quer se levantar de qualquer forma. […] Ao ver um ferro imobilizando sua perna esquerda – onde sofreu quatro
fraturas (o joelho direito tem sérios problemas de articulação) –, Zé Carlos se
agita ainda mais. […]
A manhã do seguinte foi mais calma.
Zé Carlos já sabia do acidente que sofrera. […] Só
não sabia que corre o risco de nunca mais voltar a jogar futebol, a única coisa
que sabe fazer na vida. […]
Zé Carlos parece ainda meio
atordoado. Não lembra nada da batida frontal contra uma Brasília que trafegava
na contramão. […]
– É muito azar. Bati duas vezes
em duas semanas. – Nas duas ao lado de Sônia, amiga de sua família desde os
tempos de menino em Campos.
– Eu preciso jogar o mais rápido
possível. Sei que tenho de operar. Por que não operam logo? […]
De fato precisa jogar. Ele recebe
líquido, de salário, 22 mil cruzeiros por mês e sua dívida mensal chega a 34
mil, divididos entre prestação da casa, o Passat da primeira batida (ainda deve
90mil), mais pequenas prestações de móveis e até mesmo um Chevette 78 que Zé
Carlos também destruiu em outra batida, no ano passado.
– Ele só anda a 90 por hora – diz
Cármen Lúcia [a esposa],
que, ultimamente, de tão nervosa está em
tratamento psiquiátrico. […]
Está revoltada com tudo:
– Essa casa de saúde é um nojo. […] Exigiam um depósito de 50 mil cruzeiros. Se não fosse o vice-presidente
do Botafogo, Rogério Correia, iríamos para a rua.
– E o que ele mais temia – conta Cármen
Lúcia. – Sabe que, se Luís Carlos entrar, ele dificilmente conseguirá recuperar
a posição.
– Em minha carreira, nunca vi um
caso desses com um atleta. Ele fraturou o fêmur em quatro lugares e destruiu a
articulação do joelho. É um caso raro, dificílimo também por causa de sua massa
muscular. […]
Seus companheiros de Botafogo
pediram à diretoria que lhe pague também todos os prêmios, como fizeram
anteriormente com Nílson Dias. Se a proposta nãofor aceita, todos se propõem,
desde já, tirar 10% da gratificação por vitórias e doar à família do goleiro.
[Nota do
Mundo Botafogo: Zé Carlos recuperou do acidente mas nunca mais jogou ao mesmo
nível, encerrando a carreira em 1987, aos 32 anos de idade, no estado do
Paraná. Em 1995 foi trabalhar nos Emirados Árabes Unidos como treinador de
goleiros e não regressou ao Brasil.]
Agradecimentos a Mauro Axlace, editor
do blogue Aqipossa [https://aqipossa.blogspot.com] que gentilmente cedeu a informação.
2 comentários:
Prezado Rui Moura.
O Zé Carlos era o meu goleiro favorito no meu time de botões.
Não sei se você me entende, entende?
kkkkkkk
Tenho boas recordações daquele time de 1979.
Grande abraço,
Humberto
Em 1979 eu já não estava no Rio. Estava em Lisboa desde 1969. Não o vi jogar. Mas... quanto a futebol de botões, que eu adorava, que saudades! Faz 50 anos que não jogo! (snif...)
Abraços Gloriosos.
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