segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Mídia e Carnaval: a construção do mito Isabel Valença, a Chica da Silva do GRES Acadêmicos do Salgueiro

por GUILHERME JOSÉ MOTTA FARIA
Doutorado em História
Revista Mosaico – Ano 4 – Edição 2014 – Excertos das páginas 78 e 86

A força das mulheres do Salgueiro

Os papeis desempenhados pelas mulheres, tanto nos desfiles, quanto no cotidiano do ciclo anual carnavalesco do GRES Salgueiro sempre foram relevantes. Por sua atuação, as mulheres salgueirenses despertaram o interesse da imprensa e a resposta calorosa do público. Isabel Valença, As Irmãs Marinho, Paula, Narcisa e Mercedes Batista foram figuras destacadas na história da agremiação e era grande a expectativa de suas performances quando a escola despontava na avenida.

Entre elas, uma conquistou um espaço maior na memória dos antigos integrantes e, sobretudo, na imprensa, não por sua presença exuberante nos desfiles, mas também por representar um símbolo de quebra de barreiras e preconceitos sociais. Dessa forma, Isabel Valença, aclamada no carnaval carioca como a eterna “Chica da Silva” se perpetuou no seleto grupo de agentes sociais que transcenderam o espaço do noticiário anual sendo içada ao posto de ícone do carnaval carioca.

Mas, quem foi Isabel Valença? Qual a sua história e trajetória? Porque ela se tornou um dos símbolos maiores da escola de samba GRES Salgueiro e o posto eternizado de destaque de carnaval? Por que a lembrança de sua presença é ainda evocada pelos  antigos sambistas da escola? O jornalista Julio César de Barros, narrou assim a trajetória de  Isabel Valença:

20 anos morria Isabel Valença. Um mito entre os destaques carnavalescos e campeã em desfile de fantasia do Teatro Municipal, no Rio, ela ficou marcada como a mais perfeita Chica da Silva que pisou o asfalto durante o Carnaval. Isso em 1963, num tempo em que não se recrutavam destaques entre os famosos da TV. Tempo em que os destaques saiam no chão, desfilando entre passistas e alas de evolução e não sobre carros alegóricos. A mulata era bonita, tinha personalidade e era a mulher do homem forte do Salgueiro, Osmar Valença. (http://veja.abril.com.br)

O jornalista carioca Claudio Vieira foi citado por Barros para apresentar como foi impactante o desfile do Salgueiro e a performance de Isabel Valença como a personagem título do enredo, Chica da Silva.

“O Salgueiro investira 40 milhões e 200 mil cruzeiros naquele desfile. a fantasia de Chica da Silva, usada por Isabel Valença, custara 1 milhão e 300 mil. A peruca, criação de Paulo Carias, media um metro e dez de altura, ornada de pérolas. A roupa tinha uma cauda de sete metros de comprimento e anáguas com armação de aço, quando o normal seria arame.  Chica seria representada pela atriz Zélia Hoffman, famosa vencedora de concursos de fantasias do Teatro Municipal. [...]. (Ibid, id.)

A análise de Barros corroborou com o consenso criado em torno de Isabel Valença e seguiu narrando episódios onde esse efeito tornou-se geral, expandindo das classes sociais de onde Isabel fazia parte até as esferas de nobreza dos países europeus.  Julio exaltou a trajetória de Isabel Valença, que inevitavelmente estabelece paralelos com a história da sua personagem Chica da  Silva.

Assim, a sambista e a personagem se fundiram numa só lenda carnavalesca. Ao ponto de Isabel ser convidada para, vestida de Chica da Silva, participar da recepção a Lord Moutbatten, o bisneto da Rainha Vitória, que visitava o país. (Ibid.id)

Nota: o editor do Mundo Botafogo é adepto do Acadêmicos do Salgueiro desde que Isabel Valença desempenhou o papel de Chica da Silva.

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