por WILTON LIGUORI
Diário da Noite, 03.12.1958
Acervo de ANGELO ANTONIO SERAPHINI
Reproduzido no Boletim Oficial do Botafogo, nº 146, de 1959
ASSIM SOU
Chamo-me Sergio Darcy e sou gaúcho, de Porto Alegre, onde nasci a 1-5-1903. Mas devo frisar que vim para o Rio muito antes de 30. Não preciso dizer qual o meu clube. Quero ao Botafogo não como simples derivativo na minha vida, mas como uma continuação do meu lar. Tanto que, não tendo filhos, sinto-me feliz em ver os meus dois sobrinhos, Paulo e James, que eram flamengos, estarem, hoje, completamente convertidos ao credo botafoguense. Aliás, envaideço-me, ainda, da catequese que realizei junto ao Luiz Otavio, filho do Ministro Luiz Galoti, tornando-o convicto e fervoroso alvi-negro. Não nego que considero esta conquista um motivo de glória.
Fora do esporte, ocupo os cargos de Chefe do Contencioso do Banco do Brasil; vice-presidente das Cias. Ultra Gás e Ultra Lar, além de presidente do Conselho Fiscal da Cruzeiro do Sul. Não obstante encontro sempre meiose modos para, todo dia, ir ao Botafogo e, assim, satisfazer o meu grande hobby: o Botafogo.
MINHA HISTÓRIA COMEÇOU ASSIM
No quadro da vida do Botafogo, Sergio Darcy figura como o Condestável do grande clube preto e branco. Ou seja, o homem forte. De personalidade franca e resoluta e de uma dedicação sem limites posta, inteiramente, a serviço dos interesses da sua agremiação. Uma dedicação que não se detém nem mesmo ante as mais ingratas e desagradáveis atitudes, desde que assim o exijam as circunstâncias e o respeito às coisas do Botafogo. E êsse traço marcante da personalidade de Sergio Darcy está lastreado não apenas por uma linha de conduta que janais sofreu desvio como, principalmente, por uma tradição botafoguense de mais de 40 anos. Uma verdadeira existência.
– Foi, realmente, em 1915 que, pela primeira vez, levado por meu tio, Adalberto Darcy, entrei no Botafogo – recorda Sergio Darcy. Fui fazer parte do seu time infantil, onde tive como companheiros Rivadávia, Petiot, Celso, Scila, Couto, Neguinho, e tantos outros cuja amizade espero conservar por toda a vida. E é sempre um grande sentimento a saudade com que recordo os velhos tempos de puro amadorismo, quando se dava tudo ao clube sem nada dêle exigir.
– E nem mesmo técnicamente, destaca, as exigências eram demasiadamente rígidas, pois, de minha parte, tanto jogava de zagueiro comode ponta esquerda.
Admite Sergio Darcy que nunca houvesse chegado ao estrelato. Mas explica:
– Confesso que o que, na verdade, me seduzia no esporte era, tão somente, a sua prática. Daí ter não apenas jogado futebol, como, também, o basquetebol, o polo-aquático, o voleibol, remo, natação e atletismo sem que , contudo, me aperfeiçoasse em nenhum. E de todos, o que, talvez, mais me tenha dedicado, a ponto de competir, foi o remo, onde cheguei a dar algumas vitórias ao Botafogo, formando a guarnição de “yole” a 4 com Aderbal, Bastos, Armando, Ebraico e Lauro Barreira, hoje, todos, beneméritos do Botafogo
Verifica-se, todavia, pelo relato de Sergio Darcy não ter sido muito longa a sua vida de praticante esportivo.
– Não foi além de 1923, conta. Apesar de contar apenas 20 anos, tive de atender a outras solicitações que não se conciliavam com a prática constante do exporte.
E há mesmo um largo intervalo de 13 anos na vida esportiva do grande Benemérito botafoguense, pois foi somente em 36 que reaparece em função no exporte e já então com as responsabilidades de dirigente. A convite de Paulo Azeredo, presidente do clube, assumia a chefia da delegação do Botafogo em sua primeira excursão ao exterior, a vitoriosa e sobremodo brilhante temporada no México e Estados Unidos.
É
marcada, assim ao seu início, tão auspiciosamente, a vida de Sergio Darcy [que]
como dirigente prosseguiu daí por diante sem interrupção e sempre acorde com o
sucesso inicial, já que esse era o reflexo das suas natas qualidades de líder,
e por isto mesmo teria de continuar seguindo-o. Ao retornar do México, assumiu
a Secretaria Geral do clube. E, nas eleições seguintes, feridas em 37, foi
elevado à presidência. Não chegou a terminar seu mandato, pois um ano antes, em
40, teve de renunciar devido aos seus afazeres. Mas, ainda assim, três grandes
acontecimentos marcaram a sua gestão: a construção do estádio do Botafogo; o
aumento do seu quadro social de 500 para 6.000 componentes; e, por fim, a
pacificação dos esportes, em bases as mais honrosas possíveis para o Botafogo.
2 comentários:
Mais uma prova que o atual presidente desconhece completamente a história do clube ao declarar que o monteibope é o maior botafoguense da história. Tristes tempos esses do Botafogo. Abs e SB!
Exatamente, Sergio! Desconhecer a importância de Paulo Antônio Azeredo, Carlito Rocha, Adhemar Bebiano ou Sergio Darcy, é inadmissível.
Há um provérbio afirmando que "O conflito não é entre o bem e o mal, mas entre o conhecimento e a ignorância". Aplica-se a Durcesio 'Néscio' Melo. Ao mesmo tempo que desejo que faça aprendizados relevantes e acabe fazendo bem ao Botafogo.
Abraços Gloriosos.
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