terça-feira, 20 de abril de 2021

Garrincha e o seu primeiro ‘João’ profissional: Nilton Santos (III)

por Ruy Moura

editor do Mundo Botafogo

Terá sido Nilton Santos o 1º ‘João’ profissional de Garrincha, em 1953? Todos sabem da história da chegada de Garrincha ao Botafogo: Nilton Santos partiu tranquilo para cima do garoto durante o primeiro treino do ‘Anjo das Pernas Tortas’ e… foi imediatamente driblado. Uma e outra vez. Desafortunado nesse embate, o prognóstico de Nilton Santos tornou-se decisivo para a contratação: – “O garoto é um monstro. Acho bem que o contratem. É melhor ele conosco do que contra nós.”

Mais tarde, Nilton Santos relembrou aquele dia: – “Eu vi um cara todo estranho, todo torto e pensei: ‘É mais um que vem treinar’. Não era. Balançou e passou por mim várias vezes. Ele ia levando a bola e de repente escapava sem o marcar nem notar”.

Porém, a história desafortunada de Nilton Santos enfrentando Garrincha durante os treinos haveria de continuar anos depois.

Na Copa do Mundo de 1958 o ‘Enciclopédia do Futebol’ já tinha 33 anos e Mendonça Falcão, presidente da Federação Paulista de Futebol, procurava barrar o craque para colocar o corintiano Oreco a titular, além de problemas pessoais com Nilton Santos.

E Nilton Santos esteve em vias de não ser titular na equipe de Vicente Feola, tendo decidido, para ganhar a vaga, treinar a sério contra… Garrincha!

Ora, não obstante ninguém conseguir travar Garrincha, Nilton Santos convenceu-se que já havia identificado a forma de marcar Garrincha. Decidiu esperar pela iniciativa de Garrincha com o pé de apoio assente no gramado, mas evidentemente que o maior lateral esquerdo da história do futebol brasileiro foi driblado uma, duas, três vezes e acabou por pedir a intervenção de Didi: – “Didi, fala pra ele não fazer mais isso!

Didi acedeu ao pedido do companheiro de Clube e falou para Garrincha: – “Puxa, Mané, não faz isso. O Nilton é do Botafogo e teu compadre.”

Garrincha terá entendido o pedido, mas em campo o seu instinto vencia qualquer outro comportamento mais racional e novamente acabou por driblar Nilton Santos e fazer dele, cinco anos depois da primeira experiência, um seu ‘João’.

Como Nilton Santos tinha uma postura ‘efervescente’ em momentos críticos, não se conteve e marcou Garrincha com violência na base de discretos socos na barriga com o braço retesado

Garrincha reclamou com o companheiro após o treino, inquirindo-o sobre o assunto: “O que deu em você? Olha a minha barriga. Está toda vermelha.” E o lateral esquerdo da Seleção respondeu: – “Ou você sossega ou eu não jogo essa Copa do Mundo. Os homens estão querendo me botar na cerca. Vamos com calma.”

Bem… o que aconteceu é que Nilton Santos acabou por ser aprovado como titular após os dois amistosos realizados com a Bulgária no Maracanã e no Pacaembu, sem nunca ter conseguido compreender como marcar Garrincha.

Fontes principais: https://www.passeidireto.com/arquivo/60290024/estrela-solitaria-um-brasileir-ruy-castro/38; https://jornalggn.com.br/noticia/as-historias-de-garrincha/

8 comentários:

leymir disse...

Olá Ruy!

Tadinho do Mané! fiquei com pena dele e chateado com Nilton Santos, contudo, por não ser Botafogo não tenho intimidade parar chamar o maior lateral da história de João.

Essa é uma briga caseira, aonde me portarei como a visita mal educada e observadora!

Vcs que me digam se Nilton Santos foi ou não foi João...

Revisitando o ditato, "vocês que são Botafogo que se entendam", que espinhaço hein? Hehehhe

Abração!

Ruy Moura disse...

Não vejo a ocorrência desse modo. Vejo-a como mais uma ação puramente emocional de Garrincha. Garrincha era genial, mas usava a razão poucas vezes. Se Garrincha fosse predominantemente racional teria outra carreira. Foi quase exclusivamente emocional: não resistia ao drible pelo drible, não resistia a mulheres, não resistia a bebida, não resistia em desobedecer às escondidas ao que a cantora o fazia prometer na vida privada. Garrincha era alma pura e emoção. Já Nilton Santos, embora tivesse uma faceta virulenta (profissional e privada), era bem mais racional. Demonstrou-o em campo.

Greande abraço.

leymir disse...

Eu claro que concordo com tudo, foi apenas uma brincadeira ao título da matéria, e a indagação que Nilton Santos foi o primeiro João profissional de Garrincha.

Eu brinquei porque só um torcedor do Botafogo tem a justa intimidade de chamar Nilton Santos de João, é aquelas coisas que só a família pode dizer.

Eu tenho que ter uma maior reverencia, a historia em si é uma delícia.

Abração!

Ruy Moura disse...

É curioso que Didi era realmente o líder da equipe, mas nem ele conseguia fazer nada de Garrincha. Nunca ninguém conseguiu que ele fizesse o que não queria. Só a cantora tinha mão nele, mas nem por isso, porque ele fazia o contrário nas costas dela.

Abraços Gloriosos.

leymir disse...

Verdade! Eu as vezes acho que ele sempre fez o que quis conscientemente, e foi colado nele a marca do instinto, do homem que era sempre mais emocional que racional e por isso como você bem disse fez o que sempre quis.

Mas para mim era fruto de se conhecer bem e desejar viver assim, uma decisão excêntrica mas Garrincha era gênio.

As vezes eu acho que não, que era fruto de quase uma infantilidade que se manteve nesse traço quase inato.

Essa dúvida é muito saudável, Garrincha é um gênio e penso não ser tão fácil entende-lo como parece.

Sempre bom falar dele e melhor quando acompanhado de Didi e Nilton Santos.

Abração!

Ruy Moura disse...

Garrincha era simultaneamente ingênuo e matreiro. O paradoxo morava nele. Mas creio que não tinha consciência do que em muitos casos fazia. Ele era natureza pura, por burilar. Conheci algumas pessoas assim. Uma delas bem de perto.

Não sei se sabe, mas a duplicidade e o paradoxo em Garrincha nasceram com ele ao sofrer do Síndrome de Asperger (que nunca foi diagnosticado, mas que me parece claro). Tal como em Messi. Um e outro são autistas ligeiros e que por essa razão se tornaram gênios. Garrincha e Messi, ao contrário de outros grandes craques que não sofreram de nenhuma doença, jogavam segundo escassas variáveis, enquanto um jogador normal, mesmo sendo craque, tem diversas variáveis por onde optar na hora de decidir. Como os autistas ligeiros trabalham com menos variáveis, as suas decisões têm menos possibilidades de erro.

Abraços Gloriosos.

leymir disse...

Nunca imaginei, mas faz todo o sentido.

Sempre um prazer trocar contigo e aprender!

Muito obrigado, professor!

Abração!

Ruy Moura disse...

Leymir, pode ler sobre a assunto em https://mundobotafogo.blogspot.com/2014/01/como-o-autismo-ajudou-messi-se-tornar-o.html?showComment=1619125970447

E se quiser leitura específica sobre as invejas com destino Messi e CR7 leia https://mundobotafogo.blogspot.com/2014/06/rancor-ressentimento-e-preconceito.html?showComment=1619125970447

Grande abraço!

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