por ANGELO ANTONIO SERAPHINI & RUY MOURA
Colaborador & Editor do Mundo Botafogo
Eduardo de Góes Trindade nasceu no dia 25 de setembro de 1900, no Rio de Janeiro, e faleceu a 21 de junho de 1956, na mesma cidade.
Filho de Eduardo Martins Trindade e Isaura de Góes Trindade, casou com Célia Newlands de Figueredo Trindade e com ela teve os filhos Carlos Alberto de Figueredo Trindade e Diva de Figueredo Trindade.
A paixão pelo Botafogo Football Club (BFC) nasceu-lhe ainda na infância e mostrou-se um sócio decisivo no apoio à construção da sede, tendo sido proclamado sócio benemérito a 19 de maio de 1930, 2º Vice-Presidente em 1931 e 3º Vice-Presidente em 1933, em plena luta associativa entre o amadorismo e o profissionalismo.
Em 1934, em circunstâncias difíceis, por existirem duas federações e dois campeonatos cariocas, Eduardo Trindade tornou-se presidente da A.M.E.A., tendo renunciado ao cargo de 1º Vice-Presidente do BFC em 1935, cargo para o qual fora eleito em 1934.
Em 1936 foi novamente eleito 2º Vice-Presidente do BFC, embora exercendo quase todo o tempo a presidência durante o mandato de Darke de Mattos, e em 1937 eleito 1º Vice-Presidente da administração de Sérgio Darcy, tendo organizado o Departamento de Copacabana em1938 e assumido a presidência temporariamente em 1939 por licenciamento de Sérgio Darcy, ocasião em que se tornou Grande Benemérito do Clube.
Eduardo Trindade foi, ainda, membro do Conselho de Revisão em 1940 e presidente interino em 1941, durante a presidência de Benjamin Sodré, e, finalmente, foi eleito presidente do BFC em 26 de dezembro de 1942, sendo o Conselho de Revisão composto por Luiz Menezes, Homero Borges da Fonseca, Miguel Couto Filho, Daniel de Brito, Norman Hime, Paulo Azeredo, Rivadávia Corrêa Meyer e Rolando Delamare.
Após várias démarches, a diretoria de Eduardo Trindade ficou assim constituída: Adhemar Bebiano (Diretor Geral); Fernando Vidal Leite Ribeiro (Diretor de Comunicações) e Joel Presido (Vice-Diretor); Luiz Dias (Diretor Financeiro) e José Feliz da Cunha Menezes e Ildefonso Silveira (Vice-Diretores); Jayme A. Maia (Diretor Jurídico); Herberth Quadros (Diretor Social) e Enio Carvalho de Oliveira (Vice-Diretor); Luiz Maia de Bittencourt Menezes (Diretor Técnico) e Sebastião Motta Ribeiro de Vasconcelos (Vice-Diretor); Alcebíades Tamoyo da Silva (Assistente de Futebol Profissional); Daruiz Rosés Paranhos de Oliveira (Assistente de Futebol Amador); Luiz de Andrade Ramos (Departamento de Copacabana). Entretanto, o Conselho de Revisão eleito anteriormente ficou sob a presidência de Norman Hime, enquanto Luiz Menezes foi substituído por Henrique Carlos Meyer.
Eduardo de Góes Trindade tornou-se o último presidente do BFC, porque no dia 11 de junho de 1942, num jogo de basquetebol entre o BFC e o Club de Regatas Botafogo (CRB), o jogador Albano (BFC) caiu fulminante em plena quadra e a partida foi interrompida para sempre, culminando na fusão entre o BFC e o CRB em dezembro de 1942, da qual resultou o Botafogo de Futebol e Regatas (BFR).
Nessa altura, o poeta modernista Augusto Frederico Schimidt, presidente do CRB e mais tarde responsável pela estratégia da candidatura vencedora de Juscelino Kubitschek à presidência do Brasil, declarou: – Comunico nesta hora a Albano que a sua última partida resultou numa nítida vitória. O tempo que resta do jogo interrompido os nossos jogadores não disputarão mais.
Então, Eduardo Trindade completou Schimidt: – Nas disputas entre os nossos clubes só pode haver um vencedor, o Botafogo!
E Schimidt rematou: – O que é mais preciso para que os nossos dois clubes sejam um só?
E na sequência desta tragédia Eduardo Trindade tornou-se, no dia 8 de dezembro de 1942, o último presidente do Botafogo Football Club e o primeiro presidente do Botafogo de Futebol e Regatas, participando ativamente na fusão do clube de futebol com o clube das regatas.
Nesse dia a Comissão de fusão dos dois clubes ratificou a indicação de Eduardo de Góes Trindade para presidente do BFR e de Augusto Frederico Schimidt para Vice-Presidente, por um mandato de três anos.
Por razões profissionais, Eduardo Trindade renunciou à presidência do Botafogo no final de 1943, sucedendo-lhe Adhemar Bebiano, outro ínclito botafoguense.
A dedicação e a importância de Eduardo Trindade são patentes nas palavras de despedida proferidas pelo grande botafoguense Luiz Aranha:
– Não podemos abraçar-te e nem sentir as nobres palpitações de teu coração, símbolo de tua própria vida, na despreocupada tarefa de fazer o bem, medularmente o bem. Não podemos mais gozar o privilégio de convívio com tua personalidade de marcantes singularidades, sendo a mais dinâmica essa obstinada vocação para acudir, para socorrer, para ajudar, para amparar, desfigurando, às vezes, teus propósitos e sacrificando, quase sempre, teus interesses. […] Permite, entretanto, que um, dentre os teus amigos, se inquiete, se revolte, se desespere: aquele que mais usufruiu as primícias da tua assistência, do teu zelo, da tua amizade, das tuas preocupações, dos teus anseios, dos teus sofrimentos, das tuas angústias, dos teus conselhos, da tua orientação, do teu amparo, e do teu devotamento, – o teu clube, o teu segundo lar, o teu Botafogo de Futebol e Regatas, o teu amigo, o mais leal, o mais firme, o mais vigilante, o mais tolerante e o mais grato, para estender sobre ti, como bênção, o seu glorioso estandarte, que sempre trouxeste contigo, bem dentro do teu coração.
E, finalmente, a evocação do ilustríssimo Sérgio Darcy a Eduardo de Góes Trindade:
– No nosso Botafogo, aliás, êle foi tudo: […] de simples e apaixonado torcedor até às culminâncias de uma presidência em fase de raro esplendor. O Clube foi sempre, para êle, a continuação de sua casa, tão hospitaleira e generosa, onde ninguém entrava sem ficar cativo e encantado pela simplicidade, pela distinção, pela afetuosidade calorosa que a todos cercava. […] Era, a um tempo, um patriarca e um pastor de almas. Distribuía o pão material e o alimento espiritual. […] Foi um homem que tudo deu e nada exigiu. […] Em grandes lances de operosidade, de renúncia, de afetividade desenrolou-se tôda sua vida, tôda sua bela vida – a família, o Botafogo e o Banco foram o palco iluminado dêste ator que hoje vive maior ainda na nossa saudade e na nossa lembrança e a quem, como no verso divino de Anthero de Quental, poderíamos agora dizer: ‘Na mão de Deus, na Sua mão direita, descansou afinal seu coração’.
Fontes: Boletim do Botafogo de Futebol e Regatas; Castro, A. M. O. (1951). O Futebol no Botafogo (1904-1950). Gráfica Milone: Rio de Janeiro; https://mundobotafogo.blogspot.com; https://www.geni.com; https://www.geni.com/people/Eduardo-de-G%C3%B3es-Trindade/6000000008618022406
4 comentários:
Excelente artigo. Se faz mister também o conhecimento dos homens, fora de campo, que contribuíram para o crescimento do clube desde a fundação.
Pessoalmente sempre dei muita importância à personalidade e à ação dos homens/mulheres fora de campo, sejam atletas ou dirigentes. Porque partilho o ideal olímpico de corpo são em mente sã e porque é fora dos campos/quadras/piscinas/etc. que a cultura de um clube se engendra verdadeiramente. Não tanto pelos títulos conquistados, mas pelo seu perfil honroso. Muitos clubes por esse Brasil e esse mundo afora, sem grandes títulos, têm a grandeza estampada na face e indelevelmente pregada à sua alma.
Abraços Gloriosos.
Excelente artigo, ele era meu bisavô e através desse artigo pude contar mais sobre ele e sua história para o meu filho. Só complementando: ele teve dois filhos, a filha chama Diva de Figueiredo Trindade, minha avó.
Que bom, meu amigo! Vou acrescentar a filha Diva ao texto. Obrigado.
Abraços Gloriosos.
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