quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Os cinco sentidos de uma Paixão

por RUY MOURA

Editor do Mundo Botafogo

Publicado originalmente no Portal Arena Alvinegra, 15 de abril de 2009

I

A minha visão enche-se de alegria e os meus olhos brilham quando vejo os botafoguenses em movimento dignificando o desporto, seja ao vivo seja na televisão. É algo indescritível olhar aquela torcida esfuziante, aquela multidão alvinegra, botafoguenses de cepa rija, gritando pelo nome da sua paixão. E olhar com orgulho os nossos atletas, os nossos extraordinários atletas, sempre os melhores entre os melhores, mesmo quando não arrecadam os títulos, as medalhas ou as vitórias.

II

A minha audição ouve mais apuradamente quando se trata da família botafoguense. A música é algo que o meu ouvido costuma receber bem, mas confesso que ouve muito melhor quando se trata do hino glorioso de quem não pode perder, perder p’ra ninguém. Na verdade, a minha audição é meio elitista e só ouve a melodia de quem não cala o seu grande, o seu imenso, o seu descomunal amor pel’O Glorioso. Na verdade, a minha audição é mais apurada quando os meus ouvidos se transformam num par de orelhões em preto-e-branco.

III

O meu tato também é muito discriminatório. Por mais que apalpe seja o que for, por mais que afague seja quem for, por mais que a minha pele ame outra pele, que se funda no suor de outra pele, nada é comparável ao prazer imenso e absoluto de afagar a bandeira botafoguense e acariciar o escudo da estrela solitária.

IV

O meu paladar também é muito sensível a certas coisas. Saborear um excelente prato, um divinal vinho velho ou a boca da minha amada, é algo absolutamente fabuloso. Mas saborear os movimentos dos atletas botafoguenses, os elegantes remos riscando as águas da enseada, as braçadas firmes na piscina olímpica, os gols salpicantes dos jogadores de pólo, as cestas magníficas de três pontos, os saques de efeito dos voleibolistas, as defesas, as armações, os chutes e os gols dos futebolistas botafoguenses, é algo absolutamente inenarrável que somente o paladar conhece, porque trata-se de saborear a melhor ementa do mundo – a ementa ‘Botafogo de Futebol e Regatas’.

V

O meu olfato é, finalmente, a razão última de ser botafoguense, porque é relativamente fácil para um botafoguense ter os olhos no Botafogo e os ouvidos no Botafogo, sentir o Botafogo e saborear o Botafogo, mas… a que é que cheira o Botafogo?...

Bem, o meu primeiro cheiro a Botafogo vem do mar. Vem do cheiro a maresia do tempo em que aportou na enseada ainda sem nome o galeão português São João Batista, o maior navio de guerra do mundo com as suas duzentas bocas de fogo que lhe valeram o apelido de ‘Botafogo’ – que viria a dar o nome ao bairro e ao clube mais Glorioso do planeta. Esse cheiro de mar desbravado deu lugar à praia ‘do Botafogo’ – que era pertença de um fidalgo português que adoptou o sobrenome Botafogo com carta de brasão e armas pelos serviços prestados à coroa e deu nome ao areal da enseada.

A esse cheiro original de maresia juntou-se um outro cheiro, o cheiro da honra desportiva, encabeçada por Luiz Caldas, que combateu as apostas do remo e acabou morto pelas suas convicções, dando corpo ao Clube de Regatas Botafogo.

Um outro cheiro ocorreu anos depois, quando os rapazes que fundaram o Botafogo Football Club se uniram em torno de Abelardo Delamare e abandonaram a liga de futebol mantendo-se ao lado do companheiro – era o cheiro da dignidade.

A miscelânea destes cheiros criou um cheiro muito especial nos botafoguenses – o cheiro da cultura, porque cultura é tudo aquilo que narrei. Cultura é manter a honra quando outros se aproveitam do desporto em benefício próprio; cultura é ser-se digno nas horas difíceis e resistir às decisões fáceis, cultura é dar solidariedade a quem foi abandonado; cultura é manter a honestidade mesmo quando isso nos prejudica materialmente; cultura é ter uma história recheada de valores como os botafoguenses possuem.

Tudo isto é cheiro a Botafogo, é cheiro a uma paixão cidadã que ama indelevelmente sem limites, porque os seus limites são a sua própria condição de existência – a honra, a dignidade, a solidariedade e a honestidade.

É a tudo isto que cheiramos, seja qual for a opção de uso dos outros sentidos. Como eu amo cada minuto da tua centenária existência, Botafogo!

*******

PARABÉNS NESTE 127º ANO DE VIDA, 79º DA FUSÃO, AMADO BOTAFOGO!

8 comentários:

JANJÃO disse...

Texto maravilhoso que expressa muoto bem a paixão pelo glorioso

Ruy Moura disse...

Ninguém ama como nós, Irmão!
Abraços Gloriosos.

Anónimo disse...

So hoje, através do teu magnífico texto, posso entender, com profundidade, o tamanho do teu amor pelo Botafogo.
A mistura da tua racionalidade com a tua emoção , resulta em uma bela poesia alvinegra, que enche de alegria nossos olhos ; que transforma - se em música para nossos ouvidos; que gruda em nós feito tatuagem ; que, ao degusta- la derrete- se no céu da nossa boca e que nos fascina com seu aroma inigualável...

Não, não existe nesse MUNDO poeta maior! Sim, como eu ia dizendo, a mistura da tua racionalidade com a tua emoção, te torna uma pessoa muito, muito especial!

Ruy Moura disse...

Obrigado novamente pelos teus soberbos comentários verdadeiramente apologéticos, sempre tão belos como a tua prosa, a tua voz, a tua alma. Usar a razão sem desvalorizar a emoção; exaltar a emoção sem desapossar a razão - eis uma das grandes bússolas da minha vida.

E que a «Comunidade Botafogo» viva para sempre!

Beijos especiais, querida!

Lúcia Senna disse...

Deste voz aos teus belos sentimentos alvinegros e eu mergulhei na profundidade deles. Inspiraste- me uma vez mais...

Beijos inspirados, querido!

Ruy Moura disse...

Inspiramo-nos, querida!
Beijos criativos!

jornal da grande natal disse...

O texto eh digno de uma antologia literária. Em prosa e verso ou vice e versa.

Ruy Moura disse...

Fui inspirado por uma... Estrela!!! (rsrsrs)
Abraços Gloriosos.

Botafogo Campeão Metropolitano Sub-12 (todos os resultados)

Equipe completa. Crédito: Arthur Barreto / Botafogo. por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo O Botafogo sagrou-se Campeão Metropolitano...