por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo
O futebol apresenta sempre, em qualquer parte do mundo, uma dose significativa de incerteza quanto ao resultado, mas o campeonato brasileiro em particular é mais do que isso, é ‘traiçoeiro’. Veja-se que há uma semana estávamos a 1 empate da degola e muitos torcedores acenavam com a Série B e até a Série C na possibilidade de o treinador continuar para o ano treinando o Clube na divisão secundária; hoje estamos a 1 empate do 10º lugar, o tal lugar de meio da tabela mais ou menos consensualizado pelos dirigentes (com acesso à Copa Sul-americana), e torcedores tornando a expressar que agora é perseguir a zona da Libertadores.
Confesso que é difícil posicionarmo-nos face a resultados tão contraditórios ao longo da época, a subidas e descidas significativas na classificação, não só do Botafogo, mas da maioria dos clubes, a desempenhos que entre uma e outra semana vão do medíocre ao muito bom e a torcedores que tanto preconizam a Série B face a um mau resultado, como a ida à Copa Libertadores face a um bom resultado.
Tenho criticado negativamente a abordagem a certos jogos, nos quais poderíamos ter ganho mais pontos, em especial porque se montava um 4-3-3 quando ainda não tínhamos uma equipe capaz de propor jogo nesse sistema, embora compreenda que o técnico tem uma convicção tão profunda no seu modelo e dinâmica de jogo, bem como no trabalho intenso que tem sido realizado – prejudicado por resultados que alternam vitórias com equipes fortes e derrotas e empates com equipes fracas.
No entanto, em momento algum me passava pela cabeça que com tanto investimento e vontade pudéssemos pensar que no final da competição estaríamos abaixo do 16º lugar e repetíssemos a pior campanha de todos os tempos com o 20º e último lugar no campeonato brasileiro de 2020.
Na verdade, apesar dos maus resultados e da minha/nossa irritação com a equipe, os dois últimos jogos mostraram claramente que a evolução se estava a verificar a diversos níveis, embora lentamente, o que também se deve a não possuirmos na generalidade jogadores de elevada craveira e consequentemente com maior capacidade de evolução rápida – e tendo também em conta que o modelo de jogo que o técnico quer implementar não é fácil de normalizar com bons resultados devido à necessidade de adaptação de jogadores vindos de situações muito diversas, tanto de países com diferente futebol, de clubes com diferente qualidade e de temporadas em diferente andamento cronológico.
E depois temos este Botafogo de sempre: que tanto ganha e empata com o Flamengo e derrota claramente um Fortaleza que vinha de 7 jogos sem tomar gol e até poderia ter tomado mais de 3, como perde e empata com os clubes pior classificados no Brasileirão; que tanto ganha fora jogos difíceis com perto de 60 mil torcedores adversários como perde em casa jogos fáceis com o estádio cheio de botafoguenses.
Da minha parte, reitero o que afirmei no início do campeonato como metas de médio prazo para os resultados desportivos: 2022 – meio da tabela e classificação para a Copa Sul-americana; 2023 – pelo menos semifinais da Copa do Brasil e da Copa Sul-americana; 2024 – vencer a Copa do Brasil, lutar pelo G-4 e, quem sabe, vencer a Copa Sul-americana. E no limiar da rota do longo prazo caminhar, a partir de 2025, em direção ao céu!
Assim, não vou analisar o jogo de ontem para não cair nos extremos de amor/ódio próprios de nós botafoguenses – deixo essa tarefa para os comentários serenos e sábios do meu estimado amigo Sergio di Sabatto. Prefiro ver como evoluímos proximamente. O América Mineiro é um bom teste para o efeito.
Finalmente, não poderia deixar de referir que o sistema tático do Botafogo engoliu o esquema de Vojvoda e que, apesar do bom desempenho de ontem de atletas como Carlos Eduardo, Marçal, Tiquinho, Victor Sá, Adryelson, etecetera, há um claro destaque para um homem que numa ação fenomenal evitou que a chave do jogo virasse a favor do adversário: Gatito Fernández, ao defender brilhantemente uma penalidade máxima que se fosse convertida poderia ter mudado radicalmente a configuração da partida. Parabéns, Craque!
FICHA TÉCNICA
Botafogo
3x1 Fortaleza
» Gols: Eduardo, aos 18' e 35', e Marçal, aos 63' (Botafogo); Moisés,
aos 69’ (Fortaleza)
» Competição: Campeonato Brasileiro
» Local: Arena Castelão, em Fortaleza (CE)
» Data: 04.09.2022
» Árbitro: Ramon Abatti (SC); Assistentes: Fabrício Vilarinho da
Silva (GO) e Thiago Americano Labes (SC): VAR:
Rodrigo Guarizo do Amaral (SP)
» Disciplina: cartão amarelo – Marçal e Eduardo (Botafogo) e Juninho
Capixaba (Fortaleza)
» Botafogo: Gatito Fernández; Rafael (Lucas Mezenga), Adryelson,
Cuesta, Fernando Marçal; Tchê Tchê, Eduardo (Gabriel Pires), Lucas Fernandes;
Victor Sá (Lucas Piazon), Tiquinho Soares (Júnior Santos), Jeffinho (Kanu),
Técnico: Luís Castro.
» Fortaleza: Fernando Miguel; Brítez, Marcelo Benevenuto, Titi
(Otero), Juninho Capixaba; Zé Welison (Hércules), Lucas Sasha (Lucas Lima); Romarinho
(Pedro Rocha), Thiago Galhardo, Moisés; Robson (Romero). Técnico: Juan Pablo
Vojvoda.
5 comentários:
Quanta honra esperar que meu comentário sobre o jogo de ontem possa ter, digamos, um pouco de sabedoria e sobretudo lucidez sobre o que ocorreu ontem. Nei sei se tenho capacidade para tanto.
O que percebo é que o time do Botafogo é um time em construção e que ao longo do campeonato em poucos momentos pode repetir a mesma formação e as oscilações seriam naturais. Fora isso, o time que está jogando agora tem jogadores que vem mostrando uma qualidade que não era demonstrada e, parece que a equipe começa a assimilar o que o Castro está pedindo. É um time pronto? Não, ainda tem problemas, mas eu vejo a zaga começando a demonstrar competência assim como as laterais. Pena a séria contusão do Rafael que começava a demonstrar um futebol mais sólido que o alucinado Saravia que para meu desgosto e de muitos outros vai voltar ao time titular, pois o Rafael será submetido a uma cirurgia na face e fica pelo menos duas semanas em recuperação.
Um fator que me chamou a atenção ontem foi a entrada do Tiquinho Soares, pois mostrou como deve jogar um centro avante: abriu espaços,deu assistências e com isso o meio campo cresceu pois com essa movimentação com citei acima abriram-se espaços, coisa que o Erison não fazia, apesar de ter feitos gols importantes. A qualidade dos 3 jogadores de meio ontem foi fator importantíssimo, inclusive com o Eduardo jogando do mesmo modo que jogava em seus antigos clubes: chegar na área para conclusão de arremates a meta, ontem foram 3 com dois gols.
Apesar de ainda carecer de mais experiência, não há como negar que a verdadeira jóia é o Jefinho, muito bom jogador e que tem sido responsável por assistências decisivas.
A pergunta difícil de responder e a seguinte: será que o time vai manter a qualidade de jogo de ontem e uma regularidade, coisa que poucos times nesse campeonato equilibrado tem conseguido? Difícil responder, mas torço que isso aconteça.
Ainda sobre essas oscilações do time do Botafogo, em vários jogos apesar de derrotas ou empates o time se houve bem, e alguns jogos foram perdidos por falhas individuais, algumas bisonhos como o pênalti desnecessário cometido pelo Mezenga, salvo pelo Gatito, que ontem fez uma partida extraordinária; se saísse bem do gol e jogasse bem com os pés seria um goleiro quase perfeito, muito embora eu o considere um goleiro muito bom.
Ainda sobre a pergunta de que se o Botafogo vai manter a mesma pegada de ontem, vou repetir um comentário que fiz no Cantinho Botafoguense, sobre o Neném Prancha que dizia que o um time tinha que disputar a bola como se fosse um prato de comida, e ontem o time do Botafogo fez isso.
Uma outra preocupação é que o time do Botafogo quando tem que propor o jogo, em especial contra times de menor qualidade e que jogam por uma bola o time se expõe muito a contra ataques, se corrigir esse ponto acho que o Botafogo consegue uns 7 pontos ou mais nos próximos 3 jogos, e também lembrando que precisa melhorar o desempenho quando joga em casa, parece que a pressão por um bom resultado tira a tranquilidade do time.
Sobre a vitória de ontem eu gostei muito do Cuesta e do Adryelson, bem firmes,. Marçal fez um golaço vê tem bom passe, mas acho que precisa melhorar a marcação. Rafael parecia que faria uma grande partida, mas aí o acidente. Tchê Tchê muito bom, idem Eduardo ejogo do LF. Jefinho bom e Tiquinho boa estréia e a tendência é crescer. O ponto fraco foi o Mezenga, cujo pênalti sem necessidade poderia dificultar a vitória do Botafogo, e fica claro que o elenco carece de reservas que possam manter a qualidade dos titulares. Não vemos bons reservas para as laterais e ataque, e talvez isso seja um fator de desequilíbrio quado alguns dos titulares importantes não puderem jogar.
Para terminar, feliz com essa grande vitória né uma semana mais tranquila para nós torcedores,as calma, pés no chão, nem tanto ao maior nem tanto a terra, muita calma, a caminhada é difícil,.mas temos é que ter esperança bn bom final de temporada, ano que vem será bem diferente, disso eu tenho certeza. ABS e SB!
Os seus comentários são sempre certeiros, Sergio. Do que vi ontem (não muito) e do que li depois, só vejo discordância sobre o desempenho do Jefinho, já que uma grande parte de comentários aponta para que ontem Jefinho fez uma assistência decisiva mas errou tudo o resto. Não sei se foi assim. Não vi o jogo todo.
Concordando consigo sobre os seus diversos apontamentos: (1) Saravia, embora muito esforçado a jogar, erra muitas marcações, raramente faz um bom centro e não tem velocidade de recuo, deixando avenidas atrás de si; (2) o Tiquinho promete, e creio que apesar da idade ainda vai ser útil, considerando eu que foi a contratação mais crucial desta janela porque já o vi jogar várias vezes e agrada-me; (3) Jefinho precisa ser muito limado ainda, tal como o Matheus Nascimento; (4) a minha pergunta sobre ‘regularidade’ é a mesma, mas acredito que quando o LC encaixar completamente a equipe, a regularidade vai acontecer; (5) sobre proposta de jogo teremos esse problema por algum tempo, o qual só será sanado quando o Botafogo conseguir potencializar na totalidade um 4-3-3 ofensivo característico das equipes do LC; (6) a escassez de reservas no ataque e na defesa é um grande problema, e penso que erraram em não reforçar esses dois setores optando por montes de volantes e meias, tal como se fazia no Botafogo antigo.
Seguidamente temos 3 jogos que podemos ganhar. Se os ganharmos a coisa começa a tomar jeito.
Abraços Gloriosos, senhor comentador! (rsrs)
Mais uma nota, Sergio: LC é melhor a montar ataques do que a cuidar das defesas, e essa é a crítica maior que lhe faço. Provavelmente no futuro faremos muitos gols e também tomaremos bastantes. Ele precisa tomar mais atenção à defesa. ABS.
Não achei o Jefinho ruim, ajudou na marcação e errou algumas jogadas,.mas no geral contribuiu de forma regular, claro que a inexperiência pesou e também o cansaço pesou.
Você já havia me alertado sobre os problemas defensivos do Castro, realmente há problemas lá atrás,.mas tenho a esperança que vai ser corrigido. ABS e SB!
Certo. Aliás, teve a virtude de romper a defensiva adversária na assistência para o gol e abrir o jogo. Quanto à defesa do Botafogo, pode ser que a conserte, mas seconseguir implementar o perfil de ataque que pretende vai abrir espaços ao contra-ataque adversário. É um aspecto muito importante a considerar no futuro para não sermos envolvidos por contra ataques letais.
Abraços Gloriosos.
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