por
RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo
Duas ocorrências entre fevereiro e abril
mudaram a perspectiva sobre a equipe de futebol do Botafogo e do seu treinador.
Após um ano de 2022 com muitas dificuldades e um início de 2023 complicado, eis
que o Botafogo chega à liderança do campeonato carioca a 12 de fevereiro,
embora tendo o Flamengo um jogo a menos, após 5 vitórias e 1 empate, incluindo
uma derrota imposta ao favoritíssimo Fluminense. Estávamos, então, animados.
Porém, logo em seguida, vieram dois jogos
absolutamente desastrosos, com derrotas para o Vasco da Gama e o Flamengo,
cinco expulsões no conjunto dos dois jogos e uma enorme dificuldade de
recuperação psicológica posteriormente – incluindo um empate in extremis com o Sergipe e uma
surpreendente derrota para a Portuguesa. Tudo indiciava que Luís Castro perdera
o vestiário e o norte técnico da equipe em campo, e quando se perde o vestiário
a porta da rua abre-se aos treinadores.
Os jogos seguintes foram ruins do ponto de
vista da ‘beleza futebolística’ e todos nós ficamos muito preocupados com o
futuro da equipe, primeiro porque parecia que Castro não conseguiria dar a
volta à situação e segundo porque intimamente sabíamos que John Textor não
demitiria Luís Castro – ao contrário das frequentes demissões ‘bárbaras’ que os
clubes brasileiros impõem aos seus treinadores.
Castro assegurara antes que a equipe
atingiria um bom nível competitivo, mas eu próprio desacreditei que conseguisse
reverter o assunto através de resultados favoráveis tendo em vista a campanha
que se montou contra Luís Castro, desde a mídia que tem andado muito preocupada
com a SAF botafoguense, anunciando desgraças que ainda ninguém viu, até aos
torcedores-corneteiros com a emoção à flor da pele que alinharam com a mídia
flamenguista e afins para demitir Castro e abrir fendas na SAF e na equipe.
Pois bem, apesar de jogos mal conseguidos, a
verdade é que Castro é realmente muito resiliente, suportou todo o tipo de
ofensas e calúnias profissionais, manteve o grupo completamente na mão, arrancou
uma super goleada ao Brasiliense (que estava convencido que nos ia ganhar
facilmente) e foi passando jogo a jogo sem perder, chegando ontem a incríveis
10 jogos de invencibilidade e à liderança do campeonato brasileiro a par do
Fluminense.
Não sabemos o que virá a seguir, mas o que chegou
até aqui permite-nos algumas reflexões:
[1] Castro disse – e fez – que, face aos
ataques à sua postura, deixaria de se concentrar no médio prazo do Botafogo,
deixando de parte por ora o ‘futurismo’ do Glorioso para o qual também foi
contratado, e que se concentraria apenas no treino e no jogo. E convenceu os
jogadores a seguir a filosofia de que não há priorização de competições, mas
apenas o foco total no jogo seguinte, e nada mais. E jogo após de jogo, a
invencibilidade cresceu.
[2] Curiosamente, Castro evidencia que
começou entendendo melhor o futebol brasileiro, porque subitamente abandonou o
seu famoso discurso de ‘posse de bola’, típico das equipes que dirigiu, mas que
tinha por contrapartida tomar bastantes gols também, e concentrou-se na
organização da defesa – que melhora claramente jogo a jogo apesar das falhas
individuais no sistema defensivo –, entregando muitas vezes a posse de bola
(vã) ao adversário e esperando pacientemente pela oportunidade de ataque rápido
tirando partido das qualidades demonstradas por alguns jogadores quando o
Botafogo chega ao ataque.
[3] Castro tornou a equipe paciente e resiliente – aproveitando muito bem a Taça Rio para se reorganizar– , fazendo-a entregar-se totalmente ao jogo com o único objetivo de ganhar – seja jogando bonito, feio ou ‘não jogando’ para também não deixar o adversário jogar e surpreendê-lo num momento de eficácia atacante –, algo em que o Botafogo tem sido mestre ultimamente. Afinal, ontem foram três remates enquadrados com a baliza e dois gols. Como tenho dito, posse de bola significa pouco se for feita no meio campo, e Jair Ventura provou-o através de contra-ataques inesperados e mortais que levaram à excelente campanha da Libertadores em 2017.
[4] Outro aspecto significativo é que o
treino de bolas paradas tem tido claramente resultado, estando o Botafogo à
frente do ranking de gols de bola
parada, seguido pelo Fluminense – um fundamento essencial do futebol moderno
para marcar gols. Porém, não se limita a isso: contra o São Paulo também ganhou
o jogo com dois excelentes cruzamentos (um de falta) e duas cabeçadas
certeiras, mas ontem ganhou com dois bons gols de bola corrida sobre o gramado.
Isto é, já não se sabe como o Botafogo pode marcar: de bolas paradas, de
cruzamentos, de futebol corrido. E marca inesperadamente.
[5] Um outro ponto decisivo que tenho
observado é que a equipe – ao contrário da correria antiga – corre muito menos,
e só acelera nos momentos vitais de clara oportunidade de gol – exatamente como
ontem. Isto é, entregou o jogo ao Bahia no início da 1ª parte em virtude da
euforia do adversário em marcar, mas o Bahia não levou perigo que tivesse
exigido, durante essa pressão, o melhor de Perri (que só fez uma defesa mais
difícil na 2º parte), e o Botafogo acabou por inaugurar o placar no 1º remate à
baliza. E depois equilibrou o jogo até que uma falha defensiva individual de
dois jogadores deixou a bola à mercê de Jacaré.
[6] O 2º tempo, muito mais morno, evidenciou
uma outra característica da nossa equipe. Não correndo muito, ao contrário de
São Paulo e Bahia que o fizeram com intensidade na 1ª parte, o Botafogo desgasta
o adversário e chega mais fresco fisicamente à parte final da partida, e como
nunca desiste do gol da vitória superou os dois últimos adversários com gols já
na parte final do jogo: gol da confirmação contra o Ypiranga aos 80’ e gols das
vitórias contra o São Paulo aos 87’ e o Bahia aos 77’.
[7] A gestão física dos jogadores será
essencial para prevenir o absurdo número de jogos que são efetuados à média de
três em três dias, o que significa realizar todas as poupanças possíveis em
cada jogo sem comprometer o resultado e eventuais oscilações de desempenho.
[8] A última surpresa: Castro deixou de ‘dar
aula’ técnica nas Coletivas de avaliação aos jogos em virtude dos ataques que
tem sofrido e simplesmente sublinha novamente a dignidade, o trabalho da
equipe, a sua entrega, blá-blá-blá, sem colocar conteúdo técnico, deixando, com
assertividade e correção social, a mídia pendurada sem assunto. Trata-se de uma
resposta extraordinária ao entender que valorizar quem não nos valoriza não é o
bom caminho.
O texto já vai longo e termino passando a
ideia de que Castro ainda não desistiu – creio que nunca o fará – da posse de
bola assertiva, mas por enquanto não jogaremos bonito em algumas ocasiões,
guardando Castro essa oportunidade para quando chegarem verdadeiros reforços
que permitam efetivamente propor jogos dominantes mesmo contra adversários mais
difíceis – Tiquinho é um jogador de equipe, como se tornou a ver ontem, mas
precisamos de um atacante de área felino e eficaz, além de um exímio criador e de outro
lateral-direito, pelo menos.
Não faço ideia se Castro conseguirá realmente
manter a pegada atual de invencibilidade e vitórias (cinco seguidas), e se terá
realmente sucesso e capacidade de preparar-nos adequadamente para o médio
prazo, mas tudo indica que atualmente será difícil bater o Botafogo, que joga
feio e duro se necessário for para vencer e que o "treinador pavoroso" que “não
é ruim, mas muito ruim”, nomeado por uma pequena franja de corneteiros irracionais
como “o pior treinador da história do Botafogo”, novamente direto à despromoção,
está reerguendo – juntamente com os seus jogadores – o astral da torcida e
montando uma equipe resiliente que, aparentemente, obedece cegamente às suas
diretrizes estratégico-táticas.
Porém, os corneteiros não irão desarmar,
porque em cada jogo o Botafogo só ganha à custa do goleiro, ou então à custa de
jogadas individuais dos seus ‘fabulosos’ craques, ou então à custa de jogo
aéreo ou da cobrança de bolas paradas porque "não sabe jogar no gramado" ou se
goleia era nada mais do que “obrigação” do técnico – e se perde é sempre porque
o técnico é “burro”, não tem estratégia, não sabe montar a equipe, é muito ruim
a treinar, não tem leitura de jogo e a sua “incompetência” tem tido exclusivamente
a sorte do desempenho de outros. Como se o talento individual, a precisão dada
aos chutes de bola parada, os cruzamentos à medida das cabeçadas, não fossem os
principais responsáveis, dentro das quatro linhas, pelas vitórias…
Virem as costas à irracionalidade, Irmãos de
Escudo! Gozemos este momento!
PS: Que grande atuação do árbitro!
Cumprindo à risca as instruções da FIFA e deixando as equipes jogarem futebol.
FICHA TÉCNICA
Botafogo 2x1 Bahia
» Gols: Júnior Santos, aos 28’, e Tchê Tchê aos 77’ (Botafogo); Jacaré, aos 41’ (Bahia)
» Competição: Campeonato Brasileiro
» Data: 24.04.2023
» Local: Arena Fonte Nova, em Salvador (BA)
» Público: 27.427 pagantes; 27.822 espectadores
» Renda: R$ 787.124,00
» Árbitro: Raphael Claus (SP); Assistentes: Danilo Ricardo Simon Manis (SP) e Victor Hugo Imazu dos Santos (PR); VAR: Thiago Duarte Peixoto (SP)
» Disciplina: cartão amarelo – Tiquinho
Soares e Di Placido (Botafogo); Biel (Bahia)
» Botafogo: Lucas Perri; Di Placido,
Adryelson (Philipe Sampaio), Victor Cuesta e Rafael; Danilo Barbosa (Marlon
Freitas), Lucas Fernandes (Tchê Tchê) e Eduardo; Júnior Santos (Matías
Segovia), Tiquinho Soares e Victor Sá (Luís Henrique). Técnico: Luís Castro.
» Bahia: Marcos Felipe; Gabriel Xavier, David
Duarte (Danielzinho) e Rezende; Jacaré, Acevedo (Kayky), Yago Felipe (Diego
Rosa), Cauly e Chávez; Ademir (Biel) e Everaldo (Arthur Sales). Técnico: Renato
Paiva.
10 comentários:
Grande Rui!
Sabes muito bem que sou um desses "corneteiros" e torço bastante para que o LC perceba que o 433 pode ser alterado ou modificado de acordo com os jogos e adversários.
Como sempre, teus comentários são cirúrgicos. Maioria dos gols que sofremos são saídas de bolas erradas. Sempre um jogador quer um drible a mais ou um passe errado. Vide o do Tchê Tchê no primeiro jogo da Sul Americana que nos custou a vitória.
Como bom Botafoguense, ao ver alguns "adeptos" com a "camisola" da conquista de1995, acredito que é um excelente sinal ou presságio.
🤩🤩🤩
Abs e Sds Botafoguenses!
Não acho que sejas corneteiro, meu estimado Gil, Irmão de Escudo, amigo de longa data desde o nosso primeiro almoço à beira do Maracanã. Aliás, tenho a certeza que não és corneteiro! És apenas um dos mais emocionados torcedores típicos da cultura futebolística brasileira que tem a emoção à flor da pele. Considero corneteiro aquele que, ao contrário dos flamenguistas, desaparece das redes sociais quando vencemos e reaparece ufanante, ofendendo tudo e todos com muito má educação, quando perdemos, sem contribuir com uma única ideia válida para mudar o rumo das coisas. Corneteiros são aqueles dois nossos 'amigos' que perseguiram constantemente o Jair Ventura do início ao fim e estão novamente a fazê-lo com o Luís Castro - mostrando o verdadeiro despautério irracional da sua vã cultura futebolística. Beijos nesse coração preto e branco!
Abraços Gloriosos.
A posse de bola não indica correria. Mas compasso. E assim aparecem as jogadas individuais. Nada a acrescentar ao comentário primoroso do editor.
Meu caro Vanilson, se houver reforços, e se os jogadores continuarem a amadurecer como ultimamente, vai grassar por aí uma grande infelicidade daqueles que preferem lidar com o infortúnio do que esgrimirem assertividade e análises construtivas e colaborativas.
Abraços Gloriosos.
Que texto soberbo, nada a acrescentar.
Uma observação: percebe-se claramente o dedo do Castro nos intervalos, pois o time que faz um primeiro tempo com problemas, volta para o segundo sempre melhor, com problemas corrigidos. Acho fundamental a manutenção do treinador, inclusive porque com o tempo vai conhecendo melhor o elenco e muitos atletas estão recuperando a forma. ABS e SB!
Curiosamente, Sergio, foi exatamente isso que respondi a um amigo ontem, a propósito de Castro intervir ou não durante o jogo, mudando-lhe o rumo. Em primeiro lugar, a parte mais importante de intervenção de um treinador DURANTE o jogo é ao intervalo. Todo o plano de jogo foi preparado previamente e todos sabem o que devem fazer (Ancelotti faz isso muito bem no Real e intervém pouco durante o jogo porque em geral não é necessário para além do intervalo), quando não fazem o quer foi prescrito, o treinador corrige ao intervalo. Portanto, parece-me excessivo dizer-se que Castro não muda o rumo dos jogos. Incluindo a entrada de jogadores na segunda parte que mudam o resultado. Isso ocorreu diversas vezes, e contra o Bahia viu-se novamente que o marcador do gol saiu do banco. No caso de Dorival Júnior acha-se que a substituição que fez no São Paulo contra o Ituano foi cirúrgica porque o substituto marcou o gol, no caso do Castro parece que já não foi intervenção do treinador a entrada de Tchê Tchê que fez o gol da vitória. Dois pesos, duas medidas.
Abraços Gloriosos.
Assino embaixo! E, superstições à parte, digo mais: Esta combinação de uniforme deveria ser usada mais vezes, veste muito bem.
Eu devo ser dos poucos botafoguenses não supersticiosos, mas que me deleito com todas as nossas superstições, sem dúvida. São fantásticas e emocionantes. Só há uma dos adversários que eu penso estar à altura das nossas mais finas superstições: o sapo do Arubinha que assombrou o Vasco durante anos! (rsrsrs...)
Temos uniformes lindos! Esse usado contra o Bahia é dos meus preferidos também. E se der sorte... venha ele! (rsrsrsrsrs...)
Abraços Gloriosos.
O Botafogo ganhou um título muito importante em cima do timaço da Juventus de Turim usando uniforme azul, então essa cor de uniforme tem que entrar na relação dos nossos uniformes. Afinal superstição faz parte da cultura botafoguense. ABS e SB!
Listras verticais azuis e brancas. Do Deportivo La Coruña. Soberba conquista!
Abraços gloriosos.
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