terça-feira, 28 de novembro de 2023

A água tem memória

por SOL DE ANLAREC | Colunista do Mundo Botafogo

Ouvi esta frase numa das palestras a que assisti durante os cinzentos dias da pandemia. Ao longo daquele tempo, descobri diversos canais sobre assuntos dos mais variados.  Em um deles, um verdadeiro coquetel de história, filosofia, religiões e assuntos esotéricos – tudo junto e misturado – o palestrante me soltou essa. Achei uma piração.

Adoro História e – graças aos algoritmos – novas opções de canais foram-se revelando. Aprendi muita coisa sobre história do mundo e também história da Terra.

Um dia, vendo um documentário da National Geographic que abordava as hipóteses sobre as teorias do dilúvio, descobri que esse assunto – que é objeto de tantas culturas ancestrais – também tem seus mitos nas Américas. Cientistas estudaram uma região dos Estados Unidos com as mais modernas técnicas digitais. O tal local tem uma formação geológica peculiar, e, segundo eles, denotaria que uma fantástica massa de água passou por lá há tempos imemoriais, deixando na paisagem os rastros de sua ação avassaladora.

Vendo a simulação feita é quase inacreditável pensar que a desértica paisagem atual – com suas rochas em formato circular no meio do nada –– tenha sido há milênios inundada a ponto de formar imensas cachoeiras.

Comecei a pensar sobre o caminho que as águas fizeram até chegar ao oceano e, com isso, meu pensamento foi divagando mais e mais até chegar a uma conclusão sobre a qual nunca dera importância.

A água que existe no mundo hoje é a mesma que existia quando os mares se formaram sobre a Terra há bilhões de anos, numa daquelas eras com nomes esquisitos que os cientistas lhes atribuem.

O espaço “seco”  sobre a Terra é muito pequeno. Os continentes, apesar de extensos, não podem competir em tamanho com a massa líquida que os circunda. Nosso mundo é praticamente “líquido”.

Assim, voltou-me ao pensamento a frase que eu escutara meses antes: “A água tem memória”.

A água pode estar presa em geleiras por muito mais tempo que inúmeras gerações humanas, mas basta que delas se soltem para que a massa de gotículas caia ao mar e tome rumos diversos.

Podem viajar pelos oceanos, formando imensas vagas, até chegar às costas e brincar com as ondas, espalhando-se pela espuma do mar.

Outra parte pode se evaporar e passear pelos céus em grandes massas de nuvens, circundando os altos cumes ou pairando sobre regiões áridas, até que, ao fim de um tempo, voltarão novamente à terra, penetrando no solo e regando raízes; saciando a sede de homens e animais; ou caindo em lagos e rios, conduzindo peixes e humanos para o mar.

Como não pensar que essa vastidão é composta de gotículas que já podiam estar presentes há séculos atrás quando grandes embarcações se aventuraram por mares desconhecidos? Ou mais ainda, há milênios em que por elas nadaram imensos animais, agora extintos?

E o que dizer das frutas que comemos, tão cheias de sumo? Será que algumas de suas gotículas já não teriam passado por cálices de rainhas de reinos que não mais existem?  Quiçá por poções mágicas de feiticeiras condenadas à fogueira?

E nossas lágrimas? Quem pode não acreditar que talvez já não tenham estado em outros olhos, como nos dos que já viram a desolação das guerras e os amores que se acabam?

Enfim, muitas e muitas especulações podem ser feitas. O fato é que esse líquido precioso circunda o nosso ambiente físico desde tempos de que nem imaginamos, e dele precisamos para a sobrevivência, tanto que o possuímos em nossas células e tecidos.

Assim, como não imaginar que esta água já tenha circulado por outros corpos, desta época e de tantas outras, numa espiral sem fim? E, sendo tal coisa possível, como não imaginar que tenha absorvido, em um determinado grau,  as emoções daqueles seres?

Sei que é uma “viagem”, mas talvez a água deva ter realmente uma memória.

7 comentários:

Anónimo disse...

Sim, com certeza a água tem memória. Excelente texto!

Lúcia Costa disse...

Oi,Sol querida!
Que sejas muito bem vinda ao nosso blogue ! O teu texto de estreia e sensacional ! Consegues explorar a teoria que anda circulando por aí sobre o fato da água ter memória, de um jeito super interessante e com boas reflexões sobre o fato. Quem diria que a nossa querida H20 iria nos surpreender tanto...Enquanto lia o texto,me surgiu algumas ideias engraçadas. Quem sabe poderia fazer um contraponto sobre a fantástica teoria,utilizando- me de algumas ideias bem humoradas que brotaram dessa minha cabeça maluca?
Desejo- te sucesso,amiga!
Beijão!

Ruy Moura disse...

Parabéns pelo texto, Sol! Uma verdadeira circulação de emoções... líquidas!
Abraços Gloriosos.

Anónimo disse...

Muito grata à vc, Lúcia, por me permitir o acesso a esse espaço tão especial. Vc foi uma verdadeira fada-madrinha!!
Estou ansiosa para saber de suas ideias bem humoradas!!

Anónimo disse...

Fico muito honrada com sua acolhida neste espaço, Ruy!
Nossas emoções - certamente - estão gerando novas memórias que a água transportará para o futuro!

Márcia disse...

Excelente texto e reflexão, Sol! Parabéns!!

Ruy Moura disse...

Certamente, Sol! Por entre encontros e reencontros a totalidade está neste Cosmos misterioso e maravilhoso onde tudo se movimenta na perfeição da Unicidade.
Abraços Gloriosos.

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