por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo
Na
mesma época em que foi implantado o sistema de capitanias hereditárias criadas
pelo rei de Portugal D. João III, como forma de administração do imenso
território brasileiro, também foi construído, entre 1530 e 1534, o Galeão São
João Batista, apelidado de ‘Botafogo’ devido a ser o maior navio de guerra do
mundo no século XVI, com 366 bocas de fogo e um deslocamento de 1.000
toneladas.
E
será por aí que começa o enredo “Uma Gloriosa História em Preto e Branco” da
Botafogo Samba Clube que subirá à Marquês de Sapucaí para disputar a Série Ouro
do Carnaval Carioca.
Um dos membros da tripulação do ‘Botafogo’, chamado João de Sousa Pereira – um nobre originário da cidade de Elvas –, tornou-se famoso uma vez que era o responsável pela artilharia do navio, ganhando o apelido do navio, que incluiu no seu sobrenome.
Mais
tarde, quando João de Sousa Pereira Botafogo se estabeleceu no Brasil, lutou
contra os franceses e contra os índios Tupi. Como recompensa, a Coroa
Portuguesa doou-lhe terras junto da baía de Guanabara, passando essa área a ser
conhecida por Botafogo, atendendo ao sobrenome do detentor das terras.
E
foi assim que nasceu o também famoso bairro chamado de Botafogo, na Zona Sul da
cidade do Rio de Janeiro, junto às águas guanabarinas de uma enseada onde, em
1891, um grupo de remadores dissidentes do Clube Guanabarense fez nascer o
Grupo de Regatas Botafogo, que se oficializou como Club de Regatas Botafogo em
1894, após a trágica morte do seu líder Luiz Caldas por razões políticas.
De glórias aquáticas inesquecíveis, o novo clube sagrou-se campeão carioca em 1899 e 1º campeão brasileiro de qualquer modalidade desportiva em 1902, com Antônio Mendes de Oliveira Castro ao comando da invencível embarcação Diva – o que lhe dá a inédita honraria de ‘Único Campeão Brasileiro em 3 Séculos’.
O
Pavilhão de Regatas, fundado em 1906 durante a administração de Pereira Passos,
era a maior glória desportiva da época em que o remo ainda superava o futebol e
tornava os ‘domingos de regatas’ o mais grandioso acontecimento desportivo assistido
pelo povo carioca.
E
o enredo continuará no Largo dos Leões onde um grupo de rapazes de 15 anos
jogava à bola e acabou por fundar o Botafogo Football Club em 1904, que se
tornou o Glorioso após ser campeão em 1910 com goleadas sobre os seus adversários,
incluindo o poderoso Fluminense batido por 6x1, na maior goleada em jogos de
decisão da Era Amadora do futebol carioca.
E enquanto os remadores conquistavam páreos épicos nas águas guanabarenses e ‘habitavam’ o belíssimo Palacete do Mourisco, os futebolistas conquistavam o épico tetracampeonato carioca sob a artilharia de Nilo e de Carvalho Leite, jogavam no estádio mais bonito do Brasil desde 1938 e ‘habitavam’ o Palacete Colonial designado por ‘Casarão’.
E
num famoso jogo de basquetebol entre o Botafogo Football Club e o Club de
Regatas Botafogo, em 1942, o nosso atleta Armando Albano caiu fulminado em
quadra por uma parada cardíaca. Meses depois os dois clubes protagonizaram a
sua fusão tornando-se num só – o Botafogo de Futebol e Regatas!
Estávamos
então na década de 1940 quando surgiram diversos mascotes, como o resmungão
americano ‘Pato Donald’ vestido alvinegro pelo chargista argentino Lorenzo
Molla, o belga ‘Manequinho’ que afrontava os costumes cariocas mais puritanos e
finalmente o brasileiríssimo Biriba fruto das mil e uma superstições de Carlito
Rocha e que nos alcunha de ‘Cachorrões’ até aos dias de hoje.
E foi nessa década e seguintes que surgiram o elegante e polêmico Heleno de Freitas, a ‘Enciclopédia’ Nilton Santos, o ‘maior driblador de todos os tempos’ Garrincha, o ‘Príncipe Etíope’ Didi, a ‘Formiguinha’ Zagallo, o ‘Possesso’ Amarildo, o ‘artilheiro que não sorria’ Quarentinha, o ‘Furacão’ Jairzinho, entre outros craques de futebol, assim como o grande presidente dos títulos e da criação das sedes Paulo Azeredo, que depois do tetra na década de 1930 retornou à presidência na década de 1950 até 1963 e nos levou à glória com títulos nacionais e sul-americanos oficiais em diversas modalidades desportivas como atletismo, basquetebol, futebol, natação, polo aquático, voleibol, com atletas olímpicos em representação do Clube e muitas andanças por mais de cem cidades estrangeiras difundindo o estandarte do Glorioso da Estrela Solitária.
Um
enredo de “Uma Gloriosa História em Preto e Branco” da Botafogo Samba Clube que
se estende das origens até aos nossos dias e passa ainda pela redenção do
Clube, retoma do ‘Casarão’, conquista do campeonato de futebol de 1995, cessão
do olímpico estádio Nilton Santos e muitas outras histórias que paulatinamente
foram construindo o nosso esplêndido CLUBE!
Em suma: um Nome [Botafogo] de origem Portuguesa [navio São João
Baptista], uma Estrela [Estrela D’ Alva] originada na estratosfera e adotada
pelos remadores [Club de Regatas Botafogo], uma Camisa [Alvinegra] inspirada
numa equipe italiana de futebol [Juventus], o epíteto Glorioso nascido
diretamente de valentes rapazes do Largo dos Leões [Botafogo Football Club],
uma fusão há muito tempo anunciada [Botafogo de Futebol e Regatas] que foi tão dramática
e quanto virtuosa, uma sede colonial belíssima [Casarão], um estádio olímpico
[Nilton Santos, o ‘Niltão’] – um
verdadeiro caleidoscópio colorido a preto e branco!
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