[Nota do Mundo Botafogo: Curioso texto
proso-poético sobre o campeão do mundo em 1958.]
por PAULO RODRIGUES | foto de ÂNGELO GOMES|
in Manchete Esportiva, nº 142, 1958
GARRINCHA fêz fôrça para trazer ou ajudar a trazer a Copa.
Deu dribles nunca vistos antes pelos europeus. Foi de pernas tortas que o
Brasil abriu o caminho para a conquista da Taça Jules Rimet. Pergunta-se agora:
pode haver alguém mais feliz do que Garrincha em Raiz da Serra?
Pode não ser gente propriamente, mas há. Para Garrincha,
falta alguém em Raiz da Serra. E o que quer Garrincha, não há dinheiro que
compre. Pode vir, mais dia menos dia, porém de graça e como uma graça divina.
Só assim.
De pernas tortas,
dava pena, era
pouco menos que um
aleijadinho.
Jamais seria esperto
e ligeiro
como outros garotos
de Raiz da Serra.
Aguaria as peladas
com olhos tristes, vez nas peladas
ficaria sempre para
outra vez.
Muita gente posou por debaixo da ponte
e o impossível aconteceu,
mostrando que o garôto
de pernas tortas era acrobático com a bola nos pés.
Pau Grande. Raiz da Serra.
Um boi aqui, uma mula ali,
outros bois, outras mulas,
riachos, moitas, arbustos
floresta, sol, sombra,
água fresca
para o senhor Garrincha,
senhor do lugar.
Um mão-aberta que põe em dia
contas de gente amiga
que está com a corda
no pescoço.
Garrincha mais simples
do que a simplicidade
é feliz recordando
sua glória de campeão,
ao passar a perna em russos,
franceses e suecos.
Sorriria ao botar a mão
na Copa que é nossa e é
de ouro.
Entretanto, em Raiz da Serra,
há passarinho mais feliz
do que Garrincha?
Passarinho do mesmo nome
que tem machos
e fêmeas.
Garrincha, xodó de Raiz da Serra,
tem casa velha, casa nova,
é ídolo do Botafogo
do Brasil inteiro.
Mas, Senhor, há passarinho
mais alegre
do que Garrincha?
Dê um filho homem a êle,
Senhor.
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