por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo
O Botafogo tem
um plantel com alguns valores entre razoáveis e bons e outros totalmente dispensáveis,
disputa três frentes competitivas e não se pode dar ao luxo de atuar sempre com
a sua melhor força.
Das três
provas em disputa, duas são decisões em todos os jogos e não permitem recuperar
de maus resultados; no Brasileirão, em sistema de pontos corridos, pode-se
sempre recuperar de maus resultados e, por isso, é necessário efetuar o difícil
exercício de rodar atletas afetando o mínimo possível a qualidade do jogo.
Aliás, da boa
gestão desse exercício dependerá, no final do ano, avaliar os objetivos
alcançados em face dos recursos disponíveis.
Por outro
lado, estando a equipe técnica na 1ª fase de construção de uma nova identidade
competitiva, corre sempre o risco de não conseguir boas exibições escalando
equipes mistas por duas razões principais:
a) Os
jogadores ainda não ganharam os automatismos necessários – e a falta de tempo
de treino também é uma questão importante –, razão pela qual, embora bem
orientados para a estratégia e a tática a adotar em cada partida, jogam com
parceiros diferentes e têm mais dificuldades de se encaixarem mutuamente.
b) A maioria dos
jogadores não têm, por si só, capacidade para interpretar corretamente o planejamento
para a partida durante o seu decorrer, porque os adversários adotam estratégias
e posicionamentos não esperados e os nossos jogadores não possuem a
clarividência – e quiçá a qualidade técnica – para ultrapassar os obstáculos
mediante o entendimento necessário do jogo.
Parece-nos que
essas são razões suficientes para que os primeiros tempos dos jogos do Botafogo
não sejam geralmente bem jogados, ao contrário dos segundos tempos.
Efetivamente, na medida em que os jogadores não entendem logo o contexto de
cada jogo, é necessário o intervalo para que as palestras técnicas possam
ajudar a equipe a compreender melhor o adversário, o seu modo de jogar e
melhorar então o desempenho da equipe.
Dito isto, o
Botafogo entrou mal na partida e logo aos 9’ Pochettino entrou livre pela nossa
defesa e disparou uma bomba para inaugurar o marcador. Aos 18’ o mesmo
Pochettino poderia ter bisado – e talvez resolvido logo ali o desafio –, mas
Danilo Barbosa, em cima da linha de gol, salvou o Botafogo do placar ampliado
para o Fortaleza.
A equipe não
fez um bom primeiro tempo, as linhas não jogaram compactas e abriam enormes
espaços para o Fortaleza dominar o meio campo, e só no final do 1º tempo é que
o Botafogo deu um ar de sua graça empatando a partida em bola parada: Jeffinho
remate de longe e obrigou João Ricardo a uma defesa acrobática para escanteio.
E na sequência do escanteio Danilo Barbosa cabeceou firmemente para deixar tudo
igual no placar, evidenciando a importância das bolas paradas para ganharmos
pontos aos adversários mais difíceis, quer vencendo, quer empatando.
Fora esses
dois momentos, o Botafogo teve em Luiz Henrique, Jeffinho e Romero peças quase
nulas. Luiz Henrique e Jeffinho continuam a atuar bastante mal, não mostrando
ainda ao que vieram, e Óscar Romero – ao contrário do que alguns botafoguenses
sinalizaram como tendo que ser escalado como titular –, mostrou que ainda não
está na sua melhor forma e que deve ser escalado na 2ª parte quando o
adversário já está mais cansado e, teoricamente, enfrentando as mudanças
operadas por AJ após o intervalo.
Após as
instruções do intervalo, AJ ainda ficou 10 minutos a ver o que mudava na
partida, mas o diagnóstico não foi positivo e de uma assentada Óscar Romero,
Luiz Henrique e Jeffinho foram substituídos, aos 56’, por Diego Hernández,
Júnior Santos e Savarino. Vojvoda respondeu imediatamente também com duas
substituições, mas sem resultados para a qualidade de jogo do Fortaleza.
O Botafogo
melhorou, diminuindo o ímpeto adversário, mas AJ ainda fez entrar, poucos
minutos depois, Marlon Freitas no lugar de Danilo Barbosa, que melhorou
consideravelmente a qualidade dos passes.
O Botafogo
passou a impor-se ao Fortaleza, foi superior no restante tempo de jogo em busca
da virada, criou oportunidades, mas nem sempre o último passe foi bem
conseguido e, sobretudo, continuamos com a mira insuficientemente calibrada
para levar a bola mais vezes ao fundo da baliza adversária.
Não fizemos a
virada, mas mostramos que a identidade de jogo vai-se consolidando – embora
lentamente – e que alguns aspetos parecem começar a vir ao de cima, entre os
quais o crescimento de Gregore que fez bons desarmes e a dupla de zaga que – no
âmbito de um plantel sem grandes soluções defensivas – parece ser a melhor em
termos de entendimento mútuo (Barboza e Bastos).
Pior em campo:
Wilton Pereira Sampaio, que a FIFA deveria envergonhar-se de o ter entre os
seus quadros de arbitragem.
Pelo segundo
tempo e pelas chances criadas, o Botafogo poderia e deveria ter virado se a
mira fosse mais afinada, mas o goleiro estava lá, o Fortaleza não é uma equipe
qualquer, está em crescimento e mantém-se invicto no campeonato.
Assim sendo, é
aceitável o empate e, sobretudo, realçar a gestão dos ativos da equipe, que
poderá enfrentar o Universitario sem excesso de cansaço face ao ‘homicida’
calendário do futebol brasileiro.
FICHA TÉCNICA
Botafogo 1x1 Fortaleza
» Gols: Danilo
Barbosa, aos 40’ (Botafogo); Pochettino, aos 9’ (Fortaleza)
» Competição:
Campeonato Brasileiro
» Data:
12.05.2024
» Local: Estádio
Governador Plácido Castelo – Arena Castelão, em Fortaleza (CE)
» Público: 15.914
espectadores
» Renda: R$
267.239,00
» Árbitro: Wilton
Pereira Sampaio (GO); Assistentes: Guilherme Dias Camilo (MG) e Leone
Carvalho Rocha (GO); VAR: Rodrigo D’Alonso Ferreira (SC)
» Disciplina:
cartão amarelo – John, Óscar Romero, Mateo Ponte, Cuiabano, Diego Hernández e
Alexander Barboza (Botafogo) e Titi, Hércules, Brítez e Lucero (Fortaleza)
» Botafogo: John;
Mateo Ponte (Damián Suárez), Bastos, Alexander Barboza e Cuiabano; Danilo
Barbosa (Marlon Freitas), Gregore, Tchê Tchê e Óscar Romero (Diego Hernández);
Luiz Henrique (Júnior Santos) e Jeffinho (Savarino Técnico: Artur Jorge.
» Fortaleza: João
Ricardo; Tinga, Kuscevic, Titi e Felipe Jonatan; Rossetto, Hércules (Zé
Welison) e Pochettino (Machuca); Breno Lopes (Moisés), Renato Kayzer (Lucero) e
Marinho (Yago Pikachu). Técnico: Juan Pablo Vojvoda.
8 comentários:
O time mostrou reação e conseguiu um pontinho importante. Aquele gol do Fortaleza impedido no final, causou um flashback.
Ives da Silva Pires
Excelente, Rui Moura. Torço para que haja alguma possibilidade de você se entender com alguém da área de comunicação digital de modo que seu canal pudesse alcançar mais e mais botafoguenses, e até não botafoguenses, beneficiando a todos com sua competência e qualidade. Grande abraço alvinegro.
Exatamente, Ives! Atualmente o Botafogo tem mostrado capacidade de reação, em especial na 2ª parte, algo que nos faltava há um bom tempo. Isso dá-nos muita esperança e vontade de torcer muito quando começamos a perder. O gol anulado no finalzinho também me causou o mesmo.
Abraços Gloriosos
Caro Ruy, é sempre muito bom ler seus comentários lúcidos e com uma visão ampla do que acontece com o time atual do Botafogo, bem diferente de alguns comentários que parecem não ter um mínimo de discernimento da situação atual do elenco e quando não ganha parece que nada de aproveitável há na atual gestão
O mais interessante é que nunca o adversário tem qualidades, é sempre o Botafogo que joga mal, até nas vitórias há aqueles que procuram ressaltar apenas os defeitos e nunca as virtudes.
Eu considero que para um time que não conseguiu com o atual treinador uma semana inteira de treinamento, além de não ter participado da pré temporada, com elenco com algumas lacunas importantes, enfrentando um calendário terrivelmente desumano, contusões e falta de reposição em algumas posições chaves, o trabalho do Artur Jorge e a resposta do time realmente são surpreendentes.
Ontem mais um vez o treinador precisou poupar jogadores e lançou mão de um time que se treinou junto uma vez, foi muito, talvez por isso o primeiro tempo até os 30 minutos de jogo o Botafogo parecia perdido. Com a parada para se reidratar, defensivamente o time melhorou, mas ofensivamente não, mas acho um gol numa bola parada.
No segundo tempo após as substituições o time melhorou e dominou o hoje e poderia ter vencido o jogo. Ficou bastante evidente que há alguns jogadores que estão muito aquém de uma boa forma física, o que prejudica o desempenho da equipe e, de fato como você bem ressaltou, o grupo apesar de ter começado a entender o treinador, o processo de automatização das jogadas, o entrosamento tem alguns problemas normais, o que só será corrigido com tempo e treinamento.
Mas o mais importante é perceber que as competições de mata mata estão sendo priorizadas, uma vez que o campeonato brasileiro é uma competição de tiro longo, e nesse caso é importante o time se manter na parte alta da tabela, nas competições eliminatórias, perdeu, , acabou.
Eu acho que se a segunda janela for bem feita, com reforços para as posições carentes, o Botafogo tem grandes chances de fazer um boa temporada, mas o jogo contra o Universitário é fundamental um bom resultado, caso contrário virá a tona toda a amargura dessa torcida tão sofrida. Abs e SB!
Sinto-me muito lisonjeado com seu comentário, Alexis. Obrigado!
No dia 8 de dezembro de 2024 o blogue celebrará o seu 17º aniversário com publicações diárias e sempre em busca de novidades do passado e do presente. Às vezes até prospectivando o futuro. Porém, é um trabalho árduo por ser, na maioria das vezes, solitário. Muita gente já colaborou no blogue, mas geralmente de modo ocasional ou por períodos determinados. É difícil manter colaboradores assíduos.
Na ótica da sua observação - área de comunicação digital - tem havido, ao longo destes anos algumas colaborações, acabam sempre por se extinguir. Por exemplo, é raríssimo um blogue (de botafoguenses não profissionais na área do desporto) persistir no tempo. Dezenas deles pararam. E param consoante o Botafogo tem o seu futebol em alta ou em baixa. O mesmo tem acontecido com canais digitais, que ou desaparecem ou interrompem as suas atividades temporariamente.
Claro que gostaria muito de parcerias que expandissem o blogue, porque, afinal, em 18.000 publicações já realizadas sobre todos os esportes do Clube, temos neste espaço quase toda a história do Glorioso desde 1894. Porém, vislumbro difícil tal parceria, mas cá estou para servir os muitos amigos que fui ganhando e, evidentemente, todos os botafoguenses que frequentem o blogue.
Abraços Gloriosos, Alexis!
Concordo com os seus comentários, como habitualmente, Sergio.
A nossa torcida é multifacetada. Já em 1908 os jornais da época chamavam a atenção para a exuberância da nossa torcida, em exaltação nas vitórias e em depressão nas derrotas. É o Cri-Cri do cartunista Henfil, é o rabugento Pato Donald, é a superstição de Carlito, vai do céu ao inferno em menos de nada, da exaltação à depressão dista apenas um passo, é, enfim, uma paixão em estado natural, que não passa pela razão burilada mas sim pela emoção pura, pela paixão mais desconectada da realidade e, simultaneamente, por explosões de enorme generosidade quando a sua alma é conquistada por momentos gloriosos da nossa história.
Não se gosta do Botafogo por causa do seu futebol, do remo ou de outras modalidades, gosta-se porque é um Clube com uma história multifacetada riquíssima de glórias, de dramas, de solidariedades, de superstições, de exóticas paixões. Gostamos disso, e somos isso!
No mais, sobre o AJ, os jogadores e a nossa situação atual, inteiramente de acordo com as suas observações. Porém, receio muito que a janela de julho possa ser semelhante à mesma janela de julho do ano passado, na qual nenhum contratado aqueceu o seu lugar. Foi aí que começamos a perder o Brasileirão e a dar um empurrão para a decisão tomada por L. Castro, já que JT não cumpriu com as promessas que lhe fizera. Portanto, quem começou a perder o Brasileirão foram J. Textor, A. Mazzuco e A. Brito, que assinaram contratações de atletas que no 2º semestre nada acrescentaram à equipe de futebol.
Fala-se muito que J. Textor é bilionário, mas não é. O seu patrimônio é estimado no intervalo de 190 a 250 milhões de dólares. Ora, considera-se que um bilionário tem mil milhões de dólares, e Textor tem apenas 1/4 ou 1/5 desse valor. Isto é, JT não nada em dinheiro. Um exemplo europeu: o Benfica investiu 200 milhões de euros no seu futebol nas duas últimas épocas. Ora, se JT começasse a fazer as extravagâncias que fez o Benfica, e que neste ano não ganhou nenhuma das 3 provas portuguesas, ficava sem patrimônio. Eu creio que não fará ‘loucuras’ pelo Botafogo. E se gastou 20 milhões com Luiz Henrique, o alvo é o Lyon e não o Botafogo, porque o Lyon é que pode ser o clube vitrina de JT na Europa, de modo a conseguir ganhar dinheiro, e não o Botafogo. O Botafogo será primordialmente para alimentar o Lyon, e secundariamente é que poderá ganhar títulos ‘grandes’ se houver um grupo unido e fechado e a torcida jogue com a equipe.
Espero – como se diz – “queimar a minha língua” quanto à previsão menos boa que faço relativamente aos investimentos de JT no Botafogo, porque ele aparenta interessar-se mais pela excelências das estruturas de maneira a revelar novos atletas do que pela excelência do futebol botafoguense. Na verdade, há um traço comum entre L. Castro, B. Lage e A. Jorge: todos têm fortes experiências em equipes de bases e equipes B. Dá para entender porquê, não é?
No entanto, acredito que o ano possa ser positivo, que AJ se possa encaixar bem no Botafogo e, quem sabe?, ter alguma influência junto de JT para que a janela de julho possa trazer alguma melhoria às nossas peças, de maneira a que o plantel possa alcançar um balanço positivo no final do ano de modo a dar-nos alento para 2025.
Abraços Gloriosos.
Perfeito, Rui Moura. Todos agradecem e curtem o teu trabalho.
Obrigado, Alexis.
Abraços Gloriosos.
Enviar um comentário