por ALEXANDRE CARAUTA | Jornalista e
professor da PUC-Rio
Esquinas do Esporte | vejario.abril.com.br
«Nada
de azar, forças ocultas, de sofrência. Nada de surpresa. Até
as vigas do estádio portenho sabiam: qualquer acaso, mesmo
uma expulsão aos 40 segundos, acabaria ofuscado pelo brilho botafoguense.
Desta vez nenhuma travessura dos
deuses sabotaria o destino. A conquista da América é
um nocaute da justiça sobre o imponderável.
Justiça com a História. O futebol não seria o
que é sem o Botafogo, sem poetas como Heleno, Amarildo, Nilton
Santos, Didi, Gérson, PC Caju, Jairzinho. Teria bastado Garrincha.
Justiça com as histórias do campo e da
arquibancada. Dos heróis irreverentes. The Flash, Pantera, Túlio Maravilha,
Loco, e outros que, feitos de brisa, cativam além
dos gols, das vitórias, dos troféus. Justiça com a mística alvinegra,
a incomparável mística alvinegra. Eis que dela brota novamente um Camisa 7 para
decidir a parada. Insinuante, liso, ironicamente canhoto. Tinha de ser um
Camisa 7.
Justiça com as rezas, as superstições,
a perseverança sincrética.
Ninguém agora liga se os anjos tardaram em atendê-las. “Liberta no papo” tem 13
letras, festejaria Zagallo.
Justiça com a torcida e
sua psiquê, orgulhosamente parodiada pelo documentarista Luís Nachbin.
Justiça com o amor banhado de listras à beira da Enseada. Mais
do que homônimos, o bairro, a praia, o clube ali nascido eram uma rima
perfeita, um domingo de carnaval: a
galera e os campeões numa apoteose tão vibrante quanto um samba da Beth.
Justiça com o epíteto fiel às preciosidades esportivas,
socioculturais, simbólicas da agremiação criada em 1894. Fiel às
glórias cuja eternidade precede slogans.
Justiça com o melhor time do
ano, um dos melhores dos últimos tempos. Comunhão entre a grana aportada pela
SAF de John Textor, o elenco virtuoso, equilibrado, e a consistência tática
orquestrada pelo técnico Artur Jorge. Os olheiros também bateram um bolão.
Time da moda, dizem as esquinas. Nem tanto. O
Botafogo de Luiz Henrique, Almada e Savarino, de Marlon, Igor Jesus e Júnior
Santos caminha sobre um chão de estrelas, acima do efêmero. Emana a perenidade celebrada
por Eduardo
Galeano no conto “A festa”:
“Enquanto acontecia, essa
alegria estava já sendo recordada pela memória e sonhada pelo sonho. Ela não
terminaria nunca, e nós tampouco, porque somos todos mortais até o primeiro
beijo e o segundo copo, e qualquer um sabe disso, por menos que saiba”.»
Fonte: https://vejario.abril.com.br/coluna/esquinas-do-esporte/embalos-de-uma-apoteose-em-preto-e-branco
4 comentários:
Ruy e amigos,
Segundo um comentário de um Glorioso, sábado passado, dia 30/11, foi o aniversário de 50 anos do último jogo do Botafogo em General Severiano. Será um marco do fim de uma era e o início de uma nova, Gloriosa?
E amanhã, 08/12, dia da Imaculada Conceição e aniversário do Botafogo de Futebol e Regatas... será uma nova data histórica?
Saudações Gloriosas!
Émerson Rebelo.
Mais um texto daqueles para ser guardado por todos o botafoguenses. Abs e SB!
Sim, Émerson, tudo isso é verdade, dia 30.11 como...amanhã!
Abraços LIBERTADORES!
Belos textos sairão desta fabulosa saga botafoguense. Todos para mais tarde recordar.
Abraços LIBERTADORES!
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