por SOL DE
ANLAREC | Colunista do Mundo Botafogo
Já pensaram o que ocorre nas mentes de cada um dos cinco indicados,
durante os microssegundos que fluem – como grãos de areia por uma ampulheta –,
entre o fim dessa frase e a próxima – que revelará o nome do premiado?
Imagino que durante esse período eles se verão tomados por verdadeiras
tempestades emocionais, em maior ou menor escala, mas mesmo assim portadoras de
enormes níveis de energia!
Caso fosse possível reunir todas as cinco num único pacote, o volume
gerado talvez fosse suficiente para iluminar uma grande cidade!
Exagero? Acho que não!
Vejam só: na cabeça dos muito confiantes, os pensamentos pipocarão
como faíscas, instruindo-os a exibir largos sorrisos e a ajustar continuamente
a postura para que as câmeras os capturem pelos melhores ângulos no momento em
que o nome for revelado.
Antecipam com deleite a triunfante subida ao palco, onde agarrarão
a estatueta dourada pelas pernas, fazendo o tradicional gesto para o alto, com
força tal, como que para impedir que o pobre Oscar fuja.
Para os não tão confiantes, mas com alguma esperança, as tempestades
podem carregar raios, que chispam por seus olhinhos úmidos e brilhantes e se
propagam pelo corpo, chegando às mãos trêmulas, que, discretamente, escorregam
para dentro dos bolsos à cata do pedacinho de papel rabiscado com o discurso de
agradecimento.
Em se tratando dos vaidosos, empertigados em seus modelitos de grife,
as borrascas os farão exibir sedutores sorrisos enigmáticos, enquanto os
pensamentos divagam num turbilhão de conjecturas, fazendo-os crer que, em
breve, produtores e diretores renomados os estarão disputando a tapa.
But há também a turma baixo-astral, os
rancorosos de plantão, com as mentes ocupadas por nuvens escuras carregadas de
trovões, simbolizando a mágoa por terem sido preteridos em premiações anteriores.
Claro que aspiram por vingança! E – como ela é um prato que se come pelas
beiradas – sorriem desafiantes, enquanto estudam em suas mentes qual será o melhor
olhar de triunfo que lançarão lá de cima sobre seus desafetos – atores e
diretores.
Esses são só alguns exemplos do que pode ser encontrado na cerimônia
de premiação.
Well ... Chegamos ao ponto em que toda a
areia já se depositou na parte inferior da ampulheta. O nome do vencedor foi
anunciado. E agora?
Sim, agora temos alguém muito sorridente no palco,
invariavelmente, falando pelos cotovelos, elencando nomes e nomes de pessoas
que não conhecemos, e terminando com o tradicional: I love you para (a) respectivo(a)
cara-metade.
Enquanto isso...
...Na plateia, quatro seres decepcionados encaram o quinto elemento.
O que acontece?
Se fosse possível penetrar em suas mentes, veríamos instalados a frustração
e o desapontamento... Novas tempestades à vista!
Haverá desde tormentas – que duram alguns minutos/horas – a vendavais
– por algumas semanas. Nos piores casos, as negras emoções se estenderão por um
tempo mais longo, à semelhança das noites intermináveis de um inverno boreal.
Os atores passarão a encarnar um novo personagem – O Derrotado.
Cada um, contudo, tentará dar a ele uma interpretação
diferenciada.
Well... Lembrem-se! Falamos de atores!
Não, de vocês e eu...
Esses seres especiais estão habituados a interpretar papéis que requerem
comportamentos muitas vezes diferentes dos que costumam exibir. Quem não se
arrisca a dizer que podem recorrer às técnicas da sua arte para driblar a
situação da melhor maneira?
Lógico que uns não se segurarão! Atuando como o Derrotado Inconformado
farão caretas ao ouvirem o nome do premiado. Outros mais acerbos soltarão
os cachorros sobre a Academia, além de culparem deus e o mundo por não terem
reconhecido o talento que julgam ter.
O personagem Derrotado Educado manipulará a tempestade recorrendo
a um ar blasé. Diante das câmeras falará com uma naturalidade calculada,
tecendo loas ao premiado, enquanto disfarça o despeito que lhe ferve
internamente. O requinte da atuação é quando o faz diante do próprio ganhador,
em uma fleumática manifestação hollywoodiana de savoir-faire.
Para o Derrotado Despeitado, sua tempestade mental o levará
a mascarar o insucesso pelo uso de uma ironia refinada e com um levantar da
sobrancelha. Olhando diretamente para as câmeras com um sorriso do tipo – “tô
nem aí” – em que usa todos os dentes, alfinetará com sutileza o ganhador ou seu
filme.
Em suma, cada ator dará seu jeito para disfarçar a decepção.
Mas como fica essa parada de decepção aqui fora, no nosso nada glamuroso
cotidiano?
Lidar com nossas frustrações não é nada fácil e, repito, não somos
atores. A tendência é mesmo usar o Derrotado Inconformado em grande
parte das situações.
Em muitos momentos, pensamentos desanimadores nos acossam, levando-nos
a concluir que a vida reserva o pódio somente para alguns eleitos, não
necessariamente os melhores ou mais capacitados.
Entramos, assim, no terreno do malfadado quesito “sorte”.
Palavrinha matreira...
...Do mesmo tipo que “virose”...
...Explica o inexplicável e, como um coringa, serve para a cartada
final, encerrando questionamentos espinhosos.
Lembro-me de uma tia querida, que tinha uma frase a qual aplicava quando
era questionada sobre assuntos de sua vida pessoal. Invariavelmente encerrava a
discussão com um curto e cru: “Não tive sorte.”
Pois é ... Fica aqui uma lição tanto para os 4 candidatos derrotados
quanto ao resto da humanidade: No filme chamado Vida nem todos conseguiremos
os desejados “Oscares” que julgamos merecer.
Porém, teimosos, seguimos por ela com nossos personagens – tenham
eles algum ou nenhum talento – aspirando que, num determinado momento, a
expectativa pela realização de algo que nos é caro seja revivida, tal como se
estivéssemos ouvindo a icônica frase: And the Oscar goes to...
6 comentários:
O FILME "VIDA" CONTEMPLARÁ COM O "OSCAR" AOS RESILIENTES. AMEI O TEXTO.
Texto divertido e que faz pensar!
Muito legal!
O texto é enigmático, inteligente e é adaptável a qualquer julgamento e premiação.
Agradeço todos os comentários postados, q muito me alegram e enriquecem minha experiência!😍
Sol de Anlarec
Parabéns Sol ☀️
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