por RICA PERRONE | Blog do Rica
Perrone, 2024.12.09
«Teimoso é aquele que vê algo
acontecer 10 vezes na frente dele e ainda discute como aquilo funciona. O que
assiste por 130 anos já ultrapassa esse limite e se torna burro mesmo.
Futebol é cíclico. Sempre foi.
Sempre será.
Todo ano tem alguém pra dizer que
“daqui pra frente será assim”, e todo ano tem alguém pra ter que explicar que
“veja bem”. Não tem “veja bem”, tem lógica.
Time grande não precisa ser
refeito. Acerte 11 e um treinador e você está no topo. O impossível no futebol
é comprar história, tradição, paixão, gente, poder e grandeza. Quando se tem
isso você está sempre a 11 jogadores da glória. Quando não se tem você está a
tudo que não se compra dela.
Ver o Botafogo campeão de novo é
mais do que um simples investimento. Tivemos dezenas de investimentos enormes
no Brasil e a maioria deles não deu em nada porque foi mal feito. Quando você
investe de baixo pra cima e numa camisa já pesada e de torcida você tende a
vencer.
A vitória do Botafogo é a mesma
vitória de 1968.
Naquele momento o futebol
brasileiro se moldava a um estilo, criava sua identidade e direcionava gerações
até o crime de 1986, onde Telê Santana foi crucificado por preferir jogar
futebol do que ganhar a qualquer custo.
Em 2024 o Botafogo novamente dá
as cartas e mostra pro futebol brasileiro o caminho da nova era: SAF.
“Ah mas o time foi vendido não
existe mais!”, diz o otário que em 5 anos vai ter que torcer por um time que
não existe mais segundo ele mesmo.
Qual a diferença entre ser
vendido e ajudado por movimentos políticos ou corruptos para se manter vivo? Eu
lhe digo: a venda é honesta e clara.
Manter um clube corrupto por
natureza não é um ato de resistência mas sim de burrice. O clube que hoje não
buscar uma SAF é apenas uma estatal onde muita gente gasta o dinheiro dos
outros rindo da sua cara.
O Botafogo não se vendeu.
Vende-se aquele que precisa de 5 deputados pra conseguir o que quer. Vende-se
quem precisa de esqueminha com a emissora pra vender um patrocinador. Vende-se
aquele que pega empréstimos que serão pagos sabe-se lá por quem daqui sabe-se
lá quantos anos.
A dívida do Botafogo tem nome,
sobrenome e endereço de cobrança. E a sua? Quem vai pagar, se pagar, e quando?
Resistir a SAF não é exatamente
saudosismo ou romantismo. É não entender que num país corrupto por natureza
qualquer tentativa de coletivizar uma administração vai virar um cabide de
empregos, esquemas e oba-oba.
O Botafogo não se vendeu. O
Botafogo foi o primeiro, por necessidade é claro, a abrir as portas pro novo
futebol brasileiro. E por necessidade ou não, como em 1968, lá está o Fogão
pegando a caneta e dando direção ao nosso futebol.
Emblemático. Imaginem o quão
triste seria ver o futebol brasileiro mudar de rumo graças a um título do Red
Bull, de vermelho, sem torcida, sem identidade e sem festa segunda-feira. Tinha
que ser pela mistura do dinheiro com a tradição. Tinha que ser via Botafogo.
Me orgulho de ter escrito há 13
anos: “O Botafogo será o primeiro clube a falir e vender. E será o primeiro a
reerguer nosso futebol através disso”. Não era difícil a conta. O primeiro a
ser vendido seria um clube em maior dificuldade financeira. E aconteceu o que
eu imaginava. Inclusive em campo.
Vai haver SAF ruim. Como gestões
ruins acontecem em toda parte. O ponto simples é que quando for SAF dá pra
repassar. E a dívida tem dono, logo, é mais fácil ser paga do que virar um
esquemão em Brasília pra sair do teu bolso.
O próximo passo é termos 8 dos 12
grandes com donos. Nesse dia eles vão se sentar a mesa e discutir como melhorar
o bolo e não mais quem vai ter a maior fatia de um bolo pequeno e ruim.
E tudo isso, daqui 100 anos, será
contado, de novo, via Botafogo.
Sinceramente, o título em si é
menor do que o recado. O Fogão fez história e um dia vocês saberão que o campo
foi só pra confirmar pros resultadistas o óbvio.
Sempre foi tempo de Botafogo.»
4 comentários:
Texto brilhante, analisou com precisão a razão do Botafogo ter se transformado em SAF sem o irritante clubismo. De fato é melhor ter um dono e ter transferência de gestão do que como certos clubes que são beneficiados de forma pouco transparente.
Acho que com as SAF'S o futebol brasileiro poderá ser salvo do projeto de uma emissora de tv que queria a espanholizacão do nosso futebol, por isso a grita de alguns clubes beneficiados por verbas pra lá de irregulares com argumentos pífios. Enfim, espero que o futebol brasileiro se reerga, pois a nossa decadência se deve muito a essa gestão nefasta de muitos dirigentes que não querem o futebol brasileiro forte, mas apenas seus clubes. Abs e SB!
Sergio, a espanholização seria mais um monumental disparate.A ideia era robustecer à força dois clubes para competirem a nível mundial, mas o tiro sairia pela culatra quando defrontassem os europeus no mundial de clubes. A Liga Inglesa fez o contrário: as cotas de tv têm uma amplitude mínima entre todos os clubes e por isso a Liga é a mais competitiva do mundo e é sempre possível o Leicester ter sido campeão e, nesta temporada, o Nottingham Forest estar em 3º lugar quase no final do campeonato, apenas atrás de Liverpool e Arsenal.
Ademais, creio que a espanholização brasileira já soçobrou definitivamente na sua pobre caminhada.
Abraços Gloriosos.
Concordo com os comentários dos amigos e acrescento a lembrança do icônico Newcastle United que venceu brilhantemente o engodo chamado Liverpool no último domingo e conquistou um troféu nacional após 70 anos. Foi berço do craque Paul Gascoigne - meu jogador inglês favorito e provavelmente o mais talentoso da história do futebol inglês - e também o terreno onde por muito tempo jogou o artilheiro Alan Shearer, o último grande atacante inglês até surgir o Harry Kane.
Bem lembrado, caro amigo. Só depois de responder ao Sergio é que me lembrei do Newcastle, clube, aliás, pelo qual nutro simpatia devido às suas cores e... a não ser um clube maioritário nas preferências de torcidas. Foi uma vitória espetacular!
Nota: Recordo-me bem de Shearer!
Abraços Gloriosos.
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