por ARMANDO NOGUEIRA
| Crônica reproduzida na Revista Oficial do Botafogo FR, nº 252/98
Acervo de ANGELO
SERAPHINI gentilmente cedido ao Mundo Botafogo.
«O
público do Maracanã, na última quarta-feira, fez-me lembrar do futebol 30 anos
atrás. A câmera da tevê percorria a arquibancada, mostrando rosto de mulher,
rosto de criança, mocinhas com a camisa do BOTAFOGO, revoada de balões brancos.
Uma cena de tempos distantes, quando assistir a uma partida no Maracanã era um
saudável passatempo.
Hoje, é tormento,
trânsito, violência e desconforto. Hoje, é risco de vida. Infelizmente, nem
sempre será o bom público como foi o de terça-feira.
O Maracanã era o
estádio de uma torcida só, de uma estrela só, imensa. E por sinal, em total
sintonia com sua equipe. Todos sonhando com o título de campeã do Torneio
Rio-São Paulo. O jogo acabou sendo uma epopeia. Um jogo soberbo, de técnica, de
coração.
Do começo ao fim, o
que se viu em campo foram duas equipes empenhadas, de corpo e alma, na busca da
vitória. A equipe do São Paulo, mais jovem, mais sanguínea, criando momentos de
alto risco para o adversário. A equipe do BOTAFOGO, mais calejada, sabendo
variar cadências, dançando conforme a música. Foi serena quando precisou levar
o jogo em banho-maria. Vencia, então, de 1 a 0.
Mais tarde,
transfigurou-se até à vertigem, quando se viu inferiorizada no placar. Foi aí
que se sentiu o quanto vale a mística de uma camisa. O time do BOTAFOGO jogava
em casa, embalado por uma multidão inflamada de paixão. Como frustrá-la se o
simples empate já bastava para a noite acabar em festa? Aconteceu então o
milagre da sublimação. É quando se fundem camisa e coração.
A camisa já não é só
veste do jogador. Reveste-lhe o corpo, luminosa como uma aura. O time do
BOTAFOGO, arrebatado, simplesmente asfixiou o time do São Paulo, confinando-o à
sua própria área. Em três minutos, impôs-lhe quatro escanteios.
Viveu então o
Maracanã o seu momento de aguda emoção: o time do BOTAFOGO encarnava o sonho,
no que o sonho tem de premonitório. Triunfo à vista. O time do São Paulo
encarnava o pesadelo, no que o pesadelo contém de angústias e aflições. Um
fardo.
Havia no ar um quê de
predestinação. E, em poucos minutos, o time do BOTAFOGO chega ao empate,
justamente o resultado que lhe daria o título de campeão. Parafraseando uma
antiga máxima do folclore do futebol carioca, eu concluo dizendo que “há noites
do Maracanã que só acontecem ao BOTAFOGO”.»
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