quinta-feira, 13 de março de 2025

Coisas do Botafogo

por ARMANDO NOGUEIRA | Crônica reproduzida na Revista Oficial do Botafogo FR, nº 252/98

Acervo de ANGELO SERAPHINI gentilmente cedido ao Mundo Botafogo.

«O público do Maracanã, na última quarta-feira, fez-me lembrar do futebol 30 anos atrás. A câmera da tevê percorria a arquibancada, mostrando rosto de mulher, rosto de criança, mocinhas com a camisa do BOTAFOGO, revoada de balões brancos. Uma cena de tempos distantes, quando assistir a uma partida no Maracanã era um saudável passatempo.

Hoje, é tormento, trânsito, violência e desconforto. Hoje, é risco de vida. Infelizmente, nem sempre será o bom público como foi o de terça-feira.

O Maracanã era o estádio de uma torcida só, de uma estrela só, imensa. E por sinal, em total sintonia com sua equipe. Todos sonhando com o título de campeã do Torneio Rio-São Paulo. O jogo acabou sendo uma epopeia. Um jogo soberbo, de técnica, de coração.

Do começo ao fim, o que se viu em campo foram duas equipes empenhadas, de corpo e alma, na busca da vitória. A equipe do São Paulo, mais jovem, mais sanguínea, criando momentos de alto risco para o adversário. A equipe do BOTAFOGO, mais calejada, sabendo variar cadências, dançando conforme a música. Foi serena quando precisou levar o jogo em banho-maria. Vencia, então, de 1 a 0.

Mais tarde, transfigurou-se até à vertigem, quando se viu inferiorizada no placar. Foi aí que se sentiu o quanto vale a mística de uma camisa. O time do BOTAFOGO jogava em casa, embalado por uma multidão inflamada de paixão. Como frustrá-la se o simples empate já bastava para a noite acabar em festa? Aconteceu então o milagre da sublimação. É quando se fundem camisa e coração.

A camisa já não é só veste do jogador. Reveste-lhe o corpo, luminosa como uma aura. O time do BOTAFOGO, arrebatado, simplesmente asfixiou o time do São Paulo, confinando-o à sua própria área. Em três minutos, impôs-lhe quatro escanteios.

Viveu então o Maracanã o seu momento de aguda emoção: o time do BOTAFOGO encarnava o sonho, no que o sonho tem de premonitório. Triunfo à vista. O time do São Paulo encarnava o pesadelo, no que o pesadelo contém de angústias e aflições. Um fardo.

Havia no ar um quê de predestinação. E, em poucos minutos, o time do BOTAFOGO chega ao empate, justamente o resultado que lhe daria o título de campeão. Parafraseando uma antiga máxima do folclore do futebol carioca, eu concluo dizendo que “há noites do Maracanã que só acontecem ao BOTAFOGO”.»

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