sexta-feira, 21 de março de 2025

Uma paixão sem limites

2024, continuação de uma paixão sem limites.

por MARIUCHA MONERO |  Revista Botafogo no Coração | Maio/Junho de 2005, Ano I, Número 1

Gentileza de Angelo Seraphini | Colaborador do Mundo Botafogo

«Há coisas na vida que amamos sem explicação. Há momentos na vida em que tomamos decisões que se tornam eternas. A sentirmos o coração acelerar, a veia saltar no pescoço e uma alegria incontida nos inundar a alma, temos a certeza da escolha correta. E não haveria nenhuma escolha mais perfeita do que a de ser Botafogo. Uma loucura branca e preta que nem de longe parece sem cor, que é pura emoção, que se traduz numa coleção de conquistas. O Botafogo é assim, arrebatador. O Botafogo é mais, é paixão, pura paixão.

A história começou lá atrás, há um século, quando uns poucos se reuniram e criaram o clube. No transcorrer dos 100 anos mudou o nome, mudou o uniforme, aumentaram as modalidades esportivas que vieram se unir ao futebol e ao remo, esportes inspiradores na fundação do Botafogo de Futebol de Regatas, apareceram craques, despontaram ídolos, surgiram gênios – claro, se gênios, poucos, talvez um único, quem sabe dois?

A paixão foi se alastrando, aos fundadores novos torcedores foram se juntando e os alicerces de fortificando. O Botafogo foi se pondo de pé como um forte, um grande, até que escreveu seu nome na história mundial do esporte. As conquistas se repetiram e sem ter como ser diferente, em pleno Brasil, o futebol tomou seu lugar na ponta das ações. E foi ali, dentro do gramado, que o alvinegro virou lenda, fez e desfez e arrastou atrás de si uma legião de fanáticos que não explicam apenas sentem, apenas são: Botafogo!

Sabe lá o que é ser Botafogo? É torcer para o clube que mais jogadores cedeu até hoje à seleção de futebol pentacampeã mundial, é botar um sorrisão no rosto ao citar alguns, apenas alguns, nomes que vestiram a camisa listrada: Garrincha, Didi, Heleno de Freitas, Gérson, Zagallo, Quarentinha Amarildo, Carvalho Leite, Jairzinho, Paulo César, Marinho, Rogério, Roberto Miranda e muitos mais. Não, não foi esquecimento. Nilton Santos, com certeza. Mas quem, quem se pode dar ao luxo de ter tido Nilton jogando por seu clube, e só por seu clube, e vê-lo hoje, sentado à beira do gramado, como consultor da comissão técnica? O Botafogo. Um luxo só. Para lavar a alma de qualquer alvinegro.

É claro que nem sempre tudo foi tão perfeito. As vitórias aconteceram aos borbotões mas houve épocas em que teimaram em desaparecer. Um sofrimento que serviu para acirrar ainda mais a paixão sem limites pelo Botafogo. Aquela paixão que nivela todos os torcedores. Que faz o mais sensato sujeito tornar-se irreconhecível após uma goleada aplicada por seu time em um adversário qualquer, que faz a semana ter o peso de um ano inteirinho entre uma derrota e a próxima rodada, que sempre chega com a esperança de uma nova vitória.

O Botafogo foi e é um clube de apaixonados. O que era senão um louco pelo alvinegro o jogador, técnico, dirigente e tudo o mais João Saldanha, que defendia o Fogão acima de tudo? E Carlito Rocha, o inesquecível presidente que, além de comandar o clube, foi percursor de muitas das crendices que fazem parte do Botafogo? O folclórico Neném Prancha um descobridor de talentos que usava sua filosofia popular em prol do branco e preto, não era ele mais um enlouquecido?

A máxima diz: “Existem coisas que só acontecem ao Botafogo”. Mas longe de serem coisas essencialmente negativas. Foi o alvinegro o time que aplicou a maior goleada já registrada em toda a história do futebol carioca [nota do Mundo Botafogo: e maior goleada do futebol brasileiro], um acachapante 24x0 no Mangueira. É dele, e ninguém tira, o único tetracampeonato estadual. Mas o torcedor alimenta a máxima e sofre. Parece que gosta de sofrer e alardear esse sentimento. Afinal, tudo com sofrimento é ou não mais forte, verdadeiro, maior? Sua paixão torna-se imbatível, incomparável.

A torcida alvinegra, também por atletas inesquecíveis fora do futebol, como o nadador José Silvio Fiollo, as incríveis Aída dos Santos e Silvina das Graças Pereira nas pistas de atletismo, Bebeto de Freitas, Quaresma, Mario Dunlop e Eunice Rondini nas quadras de vôlei, Szabo no pólo aquático e Sergio Macarrão e Neuci no basquete, sempre foi celeiro de craques.

Dá para imaginar o poeta Vinícius de Moraes justificando sua volta da Califórnia, ainda como diplomata, por, entre algumas outras coisas, a saudade do Botafogo? E o mestre Armando Nogueira, escrevendo crônicas que mais parecem poemas sobre seu clube de coração? O que dizer de Sandro Moreyra, o mais carioca dos cariocas, que transformava o seu amor pelo Botafogo nas estórias mais deliciosas do mundo, além do poeta Paulo Mendes Campos, uma grife de torcedor. Entre rostos anônimos, que expressam o fanatismo por arquibancadas da vida, roendo unhas, fazendo caretas, tapando os olhos com as mãos, o conhecido ator Stepan Nercessian parece resumir a consumição: não perde um só jogo, se desespera, grita, torce, deixa o estádio exausto.

O Botafogo é tudo isso. Um time de futebol, um clube centenário, uma página na história do esporte brasileiro e mundial, uma coleção de craques, uma fábrica de torcedores apaixonados. E é essa paixão que o mantém vivo, em movimento, conquistando, a cada dia, a admiração de mais alguém. Alguém disposto a tingir o coração de branco e preto, se entregar à emoção de torcer pelo clube, seguir escrevendo os seus próximos 100 anos, perpetuar esse amor através de gerações e afirmar, sem por um só minuto desconfiar do exagero, que nada na vida é mais importante do que o Botafogo. Simples assim. Um amor incondicional

2 comentários:

Sergio disse...

Muito bom! Esse é um texto que define bem o que ser botafoguense. Abs e SB!

Ruy Moura disse...

Belíssimo!
Abraços Gloriosos.

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