por MARIUCHA MONERO | Revista Botafogo no Coração | Maio/Junho de
2005, Ano I, Número 1
Gentileza de Angelo Seraphini |
Colaborador do Mundo Botafogo
«Há coisas na
vida que amamos sem explicação. Há momentos na vida em que tomamos decisões que
se tornam eternas. A sentirmos o coração acelerar, a veia saltar no pescoço e
uma alegria incontida nos inundar a alma, temos a certeza da escolha correta. E
não haveria nenhuma escolha mais perfeita do que a de ser Botafogo. Uma loucura
branca e preta que nem de longe parece sem cor, que é pura emoção, que se
traduz numa coleção de conquistas. O Botafogo é assim, arrebatador. O Botafogo
é mais, é paixão, pura paixão.
A história começou lá atrás, há um século, quando uns
poucos se reuniram e criaram o clube. No transcorrer dos 100 anos mudou o nome,
mudou o uniforme, aumentaram as modalidades esportivas que vieram se unir ao
futebol e ao remo, esportes inspiradores na fundação do Botafogo de Futebol de
Regatas, apareceram craques, despontaram ídolos, surgiram gênios – claro, se
gênios, poucos, talvez um único, quem sabe dois?
A paixão foi se alastrando, aos fundadores novos
torcedores foram se juntando e os alicerces de fortificando. O Botafogo foi se
pondo de pé como um forte, um grande, até que escreveu seu nome na história
mundial do esporte. As conquistas se repetiram e sem ter como ser diferente, em
pleno Brasil, o futebol tomou seu lugar na ponta das ações. E foi ali, dentro
do gramado, que o alvinegro virou lenda, fez e desfez e arrastou atrás de si
uma legião de fanáticos que não explicam apenas sentem, apenas são: Botafogo!
Sabe lá o que é ser Botafogo? É torcer para o clube
que mais jogadores cedeu até hoje à seleção de futebol pentacampeã mundial, é
botar um sorrisão no rosto ao citar alguns, apenas alguns, nomes que vestiram a
camisa listrada: Garrincha, Didi, Heleno de Freitas, Gérson, Zagallo, Quarentinha
Amarildo, Carvalho Leite, Jairzinho, Paulo César, Marinho, Rogério, Roberto
Miranda e muitos mais. Não, não foi esquecimento. Nilton Santos, com certeza.
Mas quem, quem se pode dar ao luxo de ter tido Nilton jogando por seu clube, e
só por seu clube, e vê-lo hoje, sentado à beira do gramado, como consultor da
comissão técnica? O Botafogo. Um luxo só. Para lavar a alma de qualquer
alvinegro.
É claro que nem sempre tudo foi tão perfeito. As
vitórias aconteceram aos borbotões mas houve épocas em que teimaram em
desaparecer. Um sofrimento que serviu para acirrar ainda mais a paixão sem
limites pelo Botafogo. Aquela paixão que nivela todos os torcedores. Que faz o
mais sensato sujeito tornar-se irreconhecível após uma goleada aplicada por seu
time em um adversário qualquer, que faz a semana ter o peso de um ano
inteirinho entre uma derrota e a próxima rodada, que sempre chega com a
esperança de uma nova vitória.
O Botafogo foi e é um clube de apaixonados. O que era
senão um louco pelo alvinegro o jogador, técnico, dirigente e tudo o mais João
Saldanha, que defendia o Fogão acima de tudo? E Carlito Rocha, o inesquecível
presidente que, além de comandar o clube, foi percursor de muitas das crendices
que fazem parte do Botafogo? O folclórico Neném Prancha um descobridor de
talentos que usava sua filosofia popular em prol do branco e preto, não era ele
mais um enlouquecido?
A máxima diz: “Existem coisas que só acontecem ao
Botafogo”. Mas longe de serem coisas essencialmente negativas. Foi o alvinegro
o time que aplicou a maior goleada já registrada em toda a história do futebol
carioca [nota do Mundo Botafogo: e maior
goleada do futebol brasileiro], um
acachapante 24x0 no Mangueira. É dele, e ninguém tira, o único tetracampeonato
estadual. Mas o torcedor alimenta a máxima e sofre. Parece que gosta de sofrer
e alardear esse sentimento. Afinal, tudo com sofrimento é ou não mais forte,
verdadeiro, maior? Sua paixão torna-se imbatível, incomparável.
A torcida alvinegra, também por atletas inesquecíveis
fora do futebol, como o nadador José Silvio Fiollo, as incríveis Aída dos Santos
e Silvina das Graças Pereira nas pistas de atletismo, Bebeto de Freitas,
Quaresma, Mario Dunlop e Eunice Rondini nas quadras de vôlei, Szabo no pólo
aquático e Sergio Macarrão e Neuci no basquete, sempre foi celeiro de craques.
Dá para imaginar o poeta Vinícius de Moraes justificando
sua volta da Califórnia, ainda como diplomata, por, entre algumas outras
coisas, a saudade do Botafogo? E o mestre Armando Nogueira, escrevendo crônicas
que mais parecem poemas sobre seu clube de coração? O que dizer de Sandro
Moreyra, o mais carioca dos cariocas, que transformava o seu amor pelo Botafogo
nas estórias mais deliciosas do mundo, além do poeta Paulo Mendes Campos, uma
grife de torcedor. Entre rostos anônimos, que expressam o fanatismo por
arquibancadas da vida, roendo unhas, fazendo caretas, tapando os olhos com as
mãos, o conhecido ator Stepan Nercessian parece resumir a consumição: não perde
um só jogo, se desespera, grita, torce, deixa o estádio exausto.
O Botafogo é tudo isso. Um time de futebol, um clube
centenário, uma página na história do esporte brasileiro e mundial, uma coleção
de craques, uma fábrica de torcedores apaixonados. E é essa paixão que o mantém
vivo, em movimento, conquistando, a cada dia, a admiração de mais alguém.
Alguém disposto a tingir o coração de branco e preto, se entregar à emoção de
torcer pelo clube, seguir escrevendo os seus próximos 100 anos, perpetuar esse
amor através de gerações e afirmar, sem por um só minuto desconfiar do exagero,
que nada na vida é mais importante do que o Botafogo. Simples assim. Um amor
incondicional.»
2 comentários:
Muito bom! Esse é um texto que define bem o que ser botafoguense. Abs e SB!
Belíssimo!
Abraços Gloriosos.
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