segunda-feira, 21 de julho de 2008

O jogo da viragem?...


A equipa psicológica e fisicamente arrasada que sobrou da ‘era cuca’ parece ter feito, finalmente, a viragem de rumo. Se Geninho foi desde logo rejeitado pela torcida e não pegou a jeito a equipa, teve a virtude de restabelecer a preparação física perdida.

Ney Franco, em apenas três jogos, mostrou que por detrás daquela equipa triste e pesada há material interessante e suficientemente alegre, fazendo melhorias em cima das virtudes técnicas da ‘era cuca’ e da preparação física da ‘mini-estadia geninho’.

O Botafogo jogou, lutou e podia ter vencido os bi-campeões nacionais no seu próprio reduto. Por isso mesmo pode-se considerar este jogo de ‘viragem’ se o comando técnico souber ‘ler’ o que aconteceu num jogo de superioridade do Botafogo e de vitória do São Paulo.

Começando pelo goleiro diria que as ‘promessas’ de Castillo não se confirmaram. Castillo é um goleiro vulgar, que faz um penalty igualzinho ao do Júlio César contra o Flamengo em 2007, que tem saídas em falso e que, enfim, não faz a diferença. Julgo que Renan deveria jogar por períodos alternados com Castillo para espicaçar o goleiro reserva da equipa nacional uruguaia.

A defesa é o grande ponto fraco. Renato Silva poderia ser já oferecido a qualquer clube adversário, de preferência com quem ainda não jogamos, para quando o fizéssemos poder ganhar pelo nosso lado esquerdo… Mais uma vez os gols do São Paulo começaram, justamente, pelo lado de Renato Silva, tal como contra o Santos, tal como contra a maioria dos adversários.

André Luiz, apesar de um pouco mais confiável também não é zagueiro adequado. Diria que, neste momento, não temos nenhum zagueiro para saída de bola, a não ser o Ferrero. E este é um ponto frágil de ligação entre a equipa e que diminui a nossa capacidade de envolver o adversário.

A meio-campo julgo que chegou a hora de fazer mudanças, dispensando Lúcio Flávio, fazê-lo descansar e mostrar-lhe que tem que suar para ser titular – não apenas por ser o chefe da ‘patota’… Lúcio Flávio nem de longe nem de perto tem reeditado as boas exibições de 2006 e 2007. Estará ‘velho’ para o futebol?...

Diguinho, Túlio e Carlos Alberto parecem-me boas opções para o meio-campo com Thiaguinho vindo de trás e Jorge Henrique colocado entre os meias e os atacantes. Realmente Jorge Henrique mostrou à saciedade que não é centro-avante. JH sempre foi ‘garçon’ e só tomou o lugar que desempenha agora porque Cuca ficou sem Dodô e André Lima e não lhe sobrou outra hipótese se não fazer o Jorge Henrique avançar. Mas o JH, que é um jogador de movimentação notável, de ‘quebra-cabeças’ para as defesas adversários, perde gols escancarados e da maior elementaridade. Ontem perdeu pelo menos dois gols que fariam a virada no resultado. Teve o mesmo comportamento com o Santos, contra o qual não ganhamos, principalmente, pela insuficiência de Renato Silva e a ineficácia de Jorge Henrique.

Se JH recuasse novamente para a sua posição de ‘garçon’, seria um excelente elemento de ligação e de envolvência do adversário. Na área poderiam estar Wellington Paulista e Gil ou Zárate (pressupondo que são opções para titulares).

Ontem o Botafogo jogou de modo alegre e motivado, retomou uma melhor forma física fazendo uma boa segunda parte, evidenciou algum talento de conjunto, apenas prejudicado pelas ligações ainda deficientes entre defesa, meio-campo e ataque.

Ney Franco mudou a equipa e o Botafogo tornou a jogar futebol. Não ganhou, mas deve-se notar que o São Paulo é uma equipa extraordinariamente eficiente: possui uma defesa muito segura que ontem evitou a derrota e um ataque muitíssimo eficaz, com deslocações muito rápidas que originaram os seus dois gols. Em poucos remates o São Paulo ganha porque tem uma estrutura de conjunto bastante forte, além da eficiência da defesa e da eficácia do ataque.

E é precisamente a falta de eficiência da defesa e de eficácia do ataque que ainda prejudicam o Botafogo – o ataque chuta muitas vezes mal e raramente de primeira. O meio-campo é bastante bom, precisando que a defesa lhe faça maior ligação e que alguém carregue o jogo para o ataque – o que quer Carlos Alberto quer Jorge Henrique podem fazer muito bem.

Eu diria que a insistir-se no 3-5-2 (que eu não gosto), seria preferível um 3-4-1-2 com a seguinte equipa referencial (tendo em consideração as minhas notas anteriores):

Renan,
Thiaguinho, Ferrero, André Luís e Triguinho;
Diguinho, Túlio, Carlos Alberto;
Jorge Henrique
Wellington Paulista e Gil.

O mais interessante talvez nem seja esta escalação. O mais interessante é que, finalmente, parece termos uma ‘equipa reserva’ aceitável, com Alessandro e Lúcio Flávio nos papéis de Thiaguinho e Jorge Henrique:

Castillo;
Alessandro, Eduardo, Édson e Luciano Almeida;
Leandro Guerreiro, Túlio Sousa, Lucas Silva e Lúcio Flávio;
Zárate e Alexsandro.

Creio que teremos equipa para chegar tranquilamente a meio da tabela, mas, sem querer sonhar alto – porque a prioridade continuo a pensar que deve ser a própria gestão do clube –, penso que haveria alguma possibilidade de integrar o grupo da frente porque o campeonato é muito equilibrado. Por exemplo, ontem os clubes da zona de rebaixamento ganharam e os clubes da frente perderam pontos.

Diria que Cruzeiro, Flamengo, Grémio, Palmeiras e São Paulo são as equipas que globalmente estão melhores do que o Botafogo (penso que o Vitória cairá e o Fluminense não subirá o suficiente). E quer o Cruzeiro quer o Flamengo não têm feito jogos consistentes. Por outro lado, Grémio e Palmeiras não têm sido regulares.

Em suma, apesar de perdermos – mas perder lutando contra o bi-campeão brasileiro no seu ambiente não é desonra –, julgo que teremos ainda dias bem melhores e que Ney Franco poderá ter sido, afinal, a boa solução.

Finalmente, considero que a figura do jogo foi o árbitro. Foi devido à sua intervenção minimalista (tal como deve ser) que se assistiu a um jogo muito movimentado e agradável, apesar de não ter sido um grande exemplo como partida de futebol.

FICHA TÉCNICA
Botafogo 1x2 São Paulo
Gols: Carlos Alberto, 32' 2ºT (Botafogo); Rogério Ceni, 34' 1ºT e Dagoberto 43 2ºT (São Paulo)
Estádio do Morumbi, São Paulo; 20/07/2008
Arbitragem: Leandro Pedro Vuaden (RS); Carolos Berkenbrock (SC) e Claudemir Maffessoni (SC)
Cartões amarelos: Castillo (Botafogo), André Dias (São Paulo)
Botafogo: Castillo, Thiaguinho, Renato Silva, André Luís e Triguinho; Diguinho, Túlio (Carlos Alberto), Zé Carlos (Lucas Silva) e Lúcio Flávio (Gil); Jorge Henrique e Wellington Paulista. Técnico: Ney Franco
São Paulo: Rogério Ceni, Éder, André Dias, Alex Silva e Cazumba (Juninho); Hernanes, Zé Luís, Hugo e Jorge Wagner; Éder Luís (Aloísio) e Dagoberto (Jean). Técnico: Muricy Ramalho

11 comentários:

Jogo Aberto disse...

o seu blog, esta bastante interesante tem boas noticas.
depois dar um passada no meu blog
um abraço fui

Anónimo disse...

Que beleza de Blog!
Já está nos meus favoritos!
Análises bem-feitíssimas de nossa paixão em comum.

Ganhou um leitor.
Abração,
José Goiana.

Ruy Moura disse...

Amigo, o seu blogue também é muito interessante. Conheço-o recentemente, mas ainda não tive tempo de o analisar melhor. Fá-lo-ei asim que puder. Entretanto, proponho-lhe cooperação através da troca de links.

Abraços.

Ruy Moura disse...

Amigo José Goiana, agradeço o elogio. Fico contente que o blogue lhe agrade e desejo vê-lo por aqui muitas vezes. Além de comentários, informo-o que ao blogue também podem ser acrescentadas notícias pertinentes por parte dos seus leitores.

Saudações Botafoguenses

Anónimo disse...

Rui, perfeito o seu comentário, excelente análise. Acho realmente que o Renato Silva não dá mais. O Jorge Henrique precisa melhorar as finalizações. Ainda vejo defeitos da "era Cuca", mal posicionamente na defesa e uma grande quantidade de gols perdidos. Se o Ney Franco conseguir ao menos minimizar estes dois problema, temos chances de lutar pelas primeiras posições da tabela. Porém, o Botafogo deve pensar resolver seu problemas internos e na medida do possível manter a base do time atual, visando um trabalho a médio prazo. Trabalhar com calma, mesmo que não venham títulos.
Grande abaço

Ruy Moura disse...

É isso mesmo, Sergio. Ainda há falhas vindas da 'era cuca', mas como dizia o Geninho, não se pode mudar o modo de jogar de um dia para o outro. O Ney vai conseguir fazê-lo, creio. E eu também aposto no médio prazo, mas desde que o BFR tenha uma diretoria 'a sério' - competente, ousada, corajosa.

Saudações botafoguenses

Ruy Moura disse...

Sergio, vou voltar ao assunto do Jorge Henrique. Você acredita que o JH consiga afinar o chute, ou será preferível que ele torne a jogar na posição de 2007?... Isto é, como 'garçon' da equipa e não como homem de área. Aí poderemos ter WP e Zárate ou Gil na frente.

Saudações botafoguenses

Anónimo disse...

Grande Rui, sobre a questão da finalização vou contar o que li há muito tempo uma reportagem se não me engano no JB, ainda na época em que o Saldanha escrevia lá. Nesta reportagem falava sobre o um time do SP na década de 50 se não me falha a memória. Esse time tinha um grave defeito nas finalizações, por isso não conseguia ser campeão. Contrataram um técnico estrangeiro, famoso na época, que infelizmente não me recordo o nome. Sabe qual foi a primeira providencia que ele tomou: mandou construir um muro de tijolos do tamanho da baliza, com buracos do tamanho da bola em pontos estratégicos, indicando onde a bola deveria entrar ao se chutar para o gol. Treinou finalizações exaustivamente, e o resultado foi que o SP foi campeão com uma média incrível de gols. Acho que se o JH treinar ele pode melhorar, embora nunca vá ser um goleador, pois concordo quando você diz que ele é melhor garçom. Pena que a memória não está muito boa, pois não lembro os nomes dos personagens dessa história, mas é verdade, pode acreditar.
Grande abraço e saudações botafoguenses.

Ruy Moura disse...

Essa história é fantástica!... Gostava de a conhecer... Vou averiguar.

SAUDAÇÕES BOTAFOGUENSES

snoopy em p/b disse...

oi, rui!
olha, não sou tão radical quanto ao castillo.
ele é bom goleiro e bom profissional.
o único problema é que.... o renan é melhor do que ele.

sobre sua proposta formação, concordo com algumas coisas e discordo de outras.
discordo, por exemplo, que o jorge e o gil possam jogar juntos.
eu preferia um ou outro, e com preferência para o jorge henrique, mesmo com seus tantos erros de finalização, que têm nos irritado.
mas taticamente, prefiro ele na frente com o w. paulista.
isso também porque, e aí vai outra discordância, tenho gostado do zé carlos.
é um jogador experiente e que, com o bom futebol que tem apresentado, acrescenta muito mais ao botafogo do que o gil, por exemplo.

as concordância vão nos quesitos renan, renato silva e lúcio flávio, pois acho que o renan deve ser o titular, que o renato silva é intolerável e que o lúcio flávio já encheu...

forte abraço!

Ruy Moura disse...

Querido amigo, também tenho algumas dúvidas nos pontos em que apresenta discordância.

Isto é, aceito que o Zé Carlos ainda se possa firmar. Gostei dele no início, mas depois ele desandou... É muito bom a marcar faltas, mas também é incerto no jogo. Dou-lhe o benefício da dúvida.

Quanto ao JH não proponho mais do que a posição que ele ocupava no ano passado. O Sergio Sabbato assegura que é possível afinar-lhe o chute, mas eu tenho dúvidas... O vício do 'chute mole' é grande... E nós perdemos alguns jogos por causa desses desperdícios infantis do JH. Você viu bem que tipo de gols o JH perdeu contra o Santos?...

De resto, nem sei se será o Gil a provar no ataque ou o Zárate. Já vimos tantas coisas esquisitas acontecerem no Botafogo: não darem chance a Escalada, queimarem o Ferrero por causa de um jogo, contratarem 'craques' do nível de Fábio e Vanderley... Enfim...

O Castillo é bom profissional, sem dúvida. Porém, já o vi fazer muitas coisas de goleiro apenas 'vulgar'. Isto é, não salva jogo. Defende medianamente o essencial, mas não faz grandes defesas. Mas é melhor que as 'aventesmas' que tivemos antes. Porém, o Renan parece-me realmente muito melhor e acho que para um dia defender a baliza terá que ir fazendo alguns jogos para se familiarizar. Aliás, o que eu mais gosto no Castillo é o seu estilo 'catimbeiro'. Faz falta numa equipa.

Grande abraço com saudações botafoguenses

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