quinta-feira, 4 de junho de 2009

Ferrari em preto-e-branco


O Barcelona de hoje é produto de muitos anos de trabalho coerente e consistente de Johan Cruyff, o ex-atacante holandês que encantou o mundo com o seu ‘futebol total’, obtendo 23 títulos oficiais e três Taças dos Campeões Europeus – ao que acrescem os títulos de treinador do Ajax e do Barcelona.

Como treinador tornou a obter enorme sucesso, treinando o Ajax e elevando o Barcelona ao topo da Europa. Quando Guardiola se tornou treinador do Barcelona, avisou que Cruyff fizera a ‘Capela Sistina’ e que Miguel Ângelo só havia um…

Após Guardiola ter obtido a tríplice coroa na semana passada – Campeonato de Espanha, Taça do Rei e Liga dos Campeões – parecia que se tinha enganado sobre só haver apenas um Miguel Ângelo. Mas talvez não, porque afinal foi Cruyff que, ao desenhar uma equipa de sonho para os catalães, também se tornou o patrono da promoção de um jovem cheio de talento – Pep Guardiola, que somou imensos sucessos e acabou por treinar o Barcelona para a glória de outra equipa de sonho.

Inúmeras coisas se podem falar acerca de Cruyff, desde ter sido um jogador revolucionário até um treinador de sonho. Mas Cruyff não foi apenas um grande jogador e um grande treinador, foi um homem ousado, inovador e detentor de valores profundamente marcantes para a sua inexorável caminhada.

Efetivamente, Cruyff recusou participar na Copa do Mundo de 1978, na Argentina, porque protestava contra a ditadura militar vigente naquele país. Quando foi contratado pelo Barcelona disse que optara pelo clube catalão e não pelo Real Madrid – que pretendia contratá-lo – porque seria impossível para ele jogar futebol por um clube cujo escudo estivera associado à ditadura franquista.

Quando Cruyff perdeu a final do mundial de clubes para o São Paulo, em 1992, proferiu uma célebre frase: “Se é para ser atropelado, que seja por um Ferrari.

Foi ainda Cruyff que afirmou ser a “velocidade frequentemente confundida com o discernimento”. Realmente, antes da velocidade é preciso saber para onde se vai e que caminho se trilha, isto é, correr sabendo o que se está a fazer, e não correr pelo simples ato de correr.

Na verdade, a minha alma aspira, há décadas, a ter dirigentes (presidente, treinador e outros) à frente do Botafogo, capazes de assumir com frontalidade um caminho, sem pactuar com Deus e o Diabo ou disparar tiros ao acaso – alguém estruturalmente próximo daquilo que representa a personalidade de Johan Cruyff e daquilo que foi o nosso último grande presidente, Paulo Antônio Azeredo.

Interrogo-me muitas vezes porque razão há décadas não aparecem botafoguenses com verdadeiro discernimento e coragem para conduzir o Botafogo de Futebol e Regatas. Pessoas capazes de falar claro, de se fundamentar em valores coesos, de pensar bem e de discernir melhor, de estabelecer uma visão para o futuro, metas credíveis a atingir e prossegui-las sem vacilação. Com muita exigência.

Há muitos mil anos Confúcio afirmou que “o homem de bem exige tudo de si próprio; o homem medíocre espera tudo dos outros”. Eu diria que “o clube de bem exige tudo de si próprio; o clube medíocre espera tudo dos outros”.

O Botafogo nunca foi o clube medíocre do Rio de Janeiro que fica esperando tudo dos outros e não exige a si ganhar por mérito próprio, isto é, nunca ficou à espera de títulos fundados nos erros elementares e grosseiros das arbitragens ou nos pesos e medidas diferentes nos tribunais – isso é ser um vencedor medíocre. O Botafogo só pode exigir tudo de si próprio porque é um clube de bem e não um clube medíocre.

Mas para isso precisa de pessoas capazes de rejeitar determinados tipos de compromissos e de conluios que coloquem em causa o discernimento necessário aos grandes atos. Pessoas ousadas com pensamento de vencedor sem perder de vista as cautelas de um discernimento próximo daquilo que Cruyff disse um dia: “Os italianos não podem vencer-nos, mas nós certamente podemos perder para eles."

Muitos homens comportam-se como mendigos, mas os botafoguenses são filhos do Infinito. Por isso precisamos de pessoas que nos devolvam um Botafogo restituído da sua alma gloriosa. Pessoas com espírito ganhador que saibam vencer com galhardia e que, no momento de perder, o saibam fazer com fidalguia.

Ou por outras palavras: pessoas de bem dispostas a ser 'atropeladas' se a vida a isso conduzir, mas que somente aceitem sê-lo por um Ferrari.

QUEREMOS O NOSSO BOTAFOGO DE VOLTA!

13 comentários:

Gil disse...

Rui,
Sábias palavras! Com sempre PERFEITO!

“Na verdade, a minha alma aspira, há décadas, a ter dirigentes (presidente, treinador e outros) à frente do Botafogo, capazes de assumir com frontalidade um caminho, sem pactuar com Deus e o Diabo ou disparar tiros ao acaso”.

Abs e Sds, BOTAFOGUENSES!!!

Paisano disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Paisano disse...

Texto perfeito!!!

Ruy Moura disse...

Abraços Gloriosos, Gil!

Ruy Moura disse...

Abraços Gloriosos, Paisano!

andré rj disse...

Sensacional, Ruy!!
Vi muito pouco do Cruyff como jogador, mas vi a carreira dele como treinador e também o admiro, apesar de ele nunca ter escondido não gostar do futebol brasileiro.
Mas as posições dele se,pre foram muito firmes, justamente o que falta ao nosso amado clube.

Saudações

André Lira

Sergio Di Sabbato disse...

O Cruyff foi realmente um grande jogador e um sujeito bastante esclarecido. Até hoje fico triste quando me lembro daquela final de 74 e um melhores times que vi não foi campeão: a Holanda. Mas os "deuses" do futebol não devem gostar muito de craques e grandes times, pois times e jogadores medíocres muitas vezes tem mais títulos que grandes times e grandes jogadores. Sobre o seu brilhante texto, estou aplaudindo de pé. Parabéns Rui. Abs e SB!

snoopy em p/b disse...

perfeito!
você falou de ferrari e eu me lembrei que o presidente se disse satisfeito com a "trajetória do 1º semestre"...


abraços

Ruy Moura disse...

Precisamente, André!...

Para ser franco, André, apesar do brasileiro ser o futebol que acompanho com muito amor botafoguense, também não gosto do atual futebol praticado no Brasil e, sobretudo, do futebol praticado no Rio de Janeiro. Duas razões essenciais: (1) os virtuosos da bola não jogam no Brasil mas na Europa, descaracterizando o espetáculo futebolístico no Brasil; (2) as federações de futebol, entre as quais a CBF e FERJ são duas verdadeiras nódoas, para não falar dos tribunais desportivos. Tudo isso vai destruindo a beleza do futebol brasileiro.

Abraços Gloriosos!

Ruy Moura disse...

Sergio, também achei lamentável que a Holanda não ganhasse o campeonato de 1974. Assim como também foi um crime a Hungria não ganhar o campeonato de 1954. Duas falhas enormes na galeria da história de campeões do mundo.

Obrigado pela apreciação ao texto.

Abraços Gloriosos!

Ruy Moura disse...

A trajetória do 1º semestre até foi boa, o problema é que me parece, hoje, que foi feita sobretudo à custa do futebol do Maicosuel. Quando este acabou, a equipa acabou. E, então, a trajetória chegou ao fim de uma estrada sem continuidade...

Começar do zero... O problema é que para começarmos do zero teremos que esperar por novos desastres até o treinador cair em 'desgraça'. Vai ser um ano duro para nós...

O homem agora é que descobriu, OUTRA VEZ, que o 3-5-2 não é esquema adaptado ao Botafogo. Se, para mim, já não era no tempo do Cuca, com melhores jogadores, muito menos é agora com gente tão medíocre. Mas não sei se o treinador perceberá isso já...

Abraços Gloriosos!

Luis Eduardo Carmo disse...

Rui,

Você, com o seu Mundo Botafogo, dá uma organizada nas minhas ideias e deixa mais clara a distante que me afasta desses pulhas, que se apoderaram do Botafogo.

Torço pra que algum grupo de oposição se articule e faça frente a esse grupo de incompetentes. E que não tenha o mesmo código de conduta.

Saudações alvinegras!

Ruy Moura disse...

Biriba, estamos numa situação mais complicada do que pode parecer relativamente a alternativas.

Não sei o que você sabe sobre a política no Botafogo, mas o grupo do Carlos Augusto Montenegro domina a política do Botafogo e durante os seis anos de Bebeto as guerras foram constantes e surdas entre Montenegro e Bebeto.

No final do mandato de Bebeto viu-se que Montenegro o quis encurralar, mas Bebeto ainda tinha grupo, reagiu, e o CAM voltou atrás com o seu candidato, que era suspeito de corrupção, e propôs-se ele próprio a candidato. E logo a seguir, baralhando outra vez as cartas, lançou Maurício Assumpção.

O Movimento Carlito Rocha (próximo de Bebeto), que fazia chapa na candidatura de Assumpção, teve prometidos lugares que à última hora foram oferecidos pelo presidente-candidato aos da sua prórpia lista inicial. E o MCV tentou um último forcing, mas teve que abandonar para salvar a honra. Quanto a mim foi um erro político abandonarem, porque em política é sempre preferível ersistir contra ventos e marés do que abandonar a arena onde se jogam as decisões.

Resta tirar as suas ilações quanto a política botafoguense, Biriba.

Abraços Gloriosos!

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