.


por Raul Miller
“João, que, quando convidado para ser técnico da Estrela Solitária, não aceitou receber salário do time do seu coração, ‘pois só assim posso fazer o que quiser sem me encherem a paciência’.”
“João, que não rejeitava uma parada em nome de seus princípios: ‘minhas ideias valem mais do que minha conta bancária’.”
“João, que, como técnico da seleção brasileira, nunca deixou de denunciar aos quatro cantos as torturas e assassinatos no Brasil em tempos de ditadura militar.”
“João, que dizia que ‘a vida é o que a gente pode tirar da vida’. João, que saiu da seleção bem a seu estilo, estranhando e ironizando João Havelange, que, um dia antes de demiti-lo, o abraçara efusivamente. ‘Se eu não gostasse tanto da minha mulher, casava com ele’.”
“João, que por não ter papas na língua, muitas vezes metia os pés pelas mãos e que podia ser acusado de tudo, menos de não ser verdadeiro nas esquinas de sua vida.”
“João, que teve em uma declaração de Garrincha talvez o maior elogio que recebeu: ‘Seu João deixa (…) a gente jogar o que sabe. Nasci na roça e aprendi a jogar futebol espontaneamente. Não sei receber instruções. Sinto que eles sempre envenenam o meu jogo. Quando eu vim para o Botafogo era um pouco tarde para corrigir esse erro. Como eu não gostava de parecer indisciplinado, tentava cumprir as determinações do técnico. Misturava isto com o que eu tenho de natural, mas nunca deu certo. (…) Seu João mostra os erros mas sempre adverte: se vocês acharem que meu conselho não está certo, podem mudar o jogo. Quem está lá dentro sabe mais das dificuldades. O fato concreto: com seu João eu jogo o que está dentro de mim’.” (Roberto Assaf, Banho de bola, citando entrevista de Mané Garrincha a Ney Bianchi)
“Campeonato carioca de 1971. Botafogo x Fluminense. (…) 43 minutos do segundo tempo. (…) Gol ilegal do Fluminense, com o goleiro Ubirajara do Botafogo sendo empurrado a meio metro do juiz José Marçal. Flu campeão. Em seu comentário final, possesso, João Saldanha disse: ‘Este campeonato foi decidido ali, entre o bebedouro e o mictório. Haja naftalina para tanto fedor.’
“Quando lhe passaram a palavra [durante uma mesa redonda na televisão após o Botafogo conquistar o campeonato de 1967 contra o Bangu e com Manga sob suspeição de estar na “gaveta” do presidente do Bangu, Castor de Andrade], Saldanha voltou à carga. ‘Este senhor Castor de Andrade, bicheiro, contraventor em várias frentes de suas atividades, tenta estender o seu poder para o futebol. Mas o futebol derrotou o senhor Castor, que por incrível que pareça já foi, inclusive, chefe de uma delegação da seleção brasileira em viagem ao exterior, a convite da CBD. O senhor Castor, além de responsável por esta atuação suspeita do goleiro Manga, cometeu a covardia de contratar espancadores contra torcedores do Botafogo. Muita gente me aconselhou a não dizer isto. Mas saiba este senhor que não tenho medo. É só escolher. Terreno baldio no mano a mano, sou mais eu. Se preferir topo revólver ou o que ele quiser…’ Pouco depois Castor invadiu os estúdios da TV Globo com seguranças armados. O programa saiu do ar e o tempo fechou. Em 1980, Castor de Andrade, em entrevista a Marcelo Rezende e Milton Costa Carvalho da revista Placar, abriu o jogo: ‘Eu com duas máquinas na mão. Foi um corre-corre danado.” Castor vai contando e rindo, se diverte muito. ‘Pois bem: o homem é macho, me enfrentou’.”
“Quando foi editado o Ato Institucional número 5 (AI 5), Castor e vários banqueiros de bicho foram presos. Chamaram, João para fornecer provas contra o patrono do Bangu. Recusou-se terminantemente. ‘Não sou dedo-duro e nem vou colaborar com essa ditadura’, disse à época. Assim era João”.
“Vida que segue”.
***
O presidente do Brasil, Lula da Silva, e o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho, com a participação de familiares de João Saldanha, inauguraram ontem, dia 21 de Dezembro, junto à Calçada da Fama no Estádio do Maracanã, uma estátua de homenagem ao jornalista e famoso botafoguense João Saldanha (foto acima de Cezar Loureiro / Agência O Globo).
PARABÉNS, JOÃO SALDANHA, MEU ÍDOLO!
“João, que, quando convidado para ser técnico da Estrela Solitária, não aceitou receber salário do time do seu coração, ‘pois só assim posso fazer o que quiser sem me encherem a paciência’.”
“João, que não rejeitava uma parada em nome de seus princípios: ‘minhas ideias valem mais do que minha conta bancária’.”
“João, que, como técnico da seleção brasileira, nunca deixou de denunciar aos quatro cantos as torturas e assassinatos no Brasil em tempos de ditadura militar.”
“João, que dizia que ‘a vida é o que a gente pode tirar da vida’. João, que saiu da seleção bem a seu estilo, estranhando e ironizando João Havelange, que, um dia antes de demiti-lo, o abraçara efusivamente. ‘Se eu não gostasse tanto da minha mulher, casava com ele’.”
“João, que por não ter papas na língua, muitas vezes metia os pés pelas mãos e que podia ser acusado de tudo, menos de não ser verdadeiro nas esquinas de sua vida.”
“João, que teve em uma declaração de Garrincha talvez o maior elogio que recebeu: ‘Seu João deixa (…) a gente jogar o que sabe. Nasci na roça e aprendi a jogar futebol espontaneamente. Não sei receber instruções. Sinto que eles sempre envenenam o meu jogo. Quando eu vim para o Botafogo era um pouco tarde para corrigir esse erro. Como eu não gostava de parecer indisciplinado, tentava cumprir as determinações do técnico. Misturava isto com o que eu tenho de natural, mas nunca deu certo. (…) Seu João mostra os erros mas sempre adverte: se vocês acharem que meu conselho não está certo, podem mudar o jogo. Quem está lá dentro sabe mais das dificuldades. O fato concreto: com seu João eu jogo o que está dentro de mim’.” (Roberto Assaf, Banho de bola, citando entrevista de Mané Garrincha a Ney Bianchi)
“Campeonato carioca de 1971. Botafogo x Fluminense. (…) 43 minutos do segundo tempo. (…) Gol ilegal do Fluminense, com o goleiro Ubirajara do Botafogo sendo empurrado a meio metro do juiz José Marçal. Flu campeão. Em seu comentário final, possesso, João Saldanha disse: ‘Este campeonato foi decidido ali, entre o bebedouro e o mictório. Haja naftalina para tanto fedor.’
“Quando lhe passaram a palavra [durante uma mesa redonda na televisão após o Botafogo conquistar o campeonato de 1967 contra o Bangu e com Manga sob suspeição de estar na “gaveta” do presidente do Bangu, Castor de Andrade], Saldanha voltou à carga. ‘Este senhor Castor de Andrade, bicheiro, contraventor em várias frentes de suas atividades, tenta estender o seu poder para o futebol. Mas o futebol derrotou o senhor Castor, que por incrível que pareça já foi, inclusive, chefe de uma delegação da seleção brasileira em viagem ao exterior, a convite da CBD. O senhor Castor, além de responsável por esta atuação suspeita do goleiro Manga, cometeu a covardia de contratar espancadores contra torcedores do Botafogo. Muita gente me aconselhou a não dizer isto. Mas saiba este senhor que não tenho medo. É só escolher. Terreno baldio no mano a mano, sou mais eu. Se preferir topo revólver ou o que ele quiser…’ Pouco depois Castor invadiu os estúdios da TV Globo com seguranças armados. O programa saiu do ar e o tempo fechou. Em 1980, Castor de Andrade, em entrevista a Marcelo Rezende e Milton Costa Carvalho da revista Placar, abriu o jogo: ‘Eu com duas máquinas na mão. Foi um corre-corre danado.” Castor vai contando e rindo, se diverte muito. ‘Pois bem: o homem é macho, me enfrentou’.”
“Quando foi editado o Ato Institucional número 5 (AI 5), Castor e vários banqueiros de bicho foram presos. Chamaram, João para fornecer provas contra o patrono do Bangu. Recusou-se terminantemente. ‘Não sou dedo-duro e nem vou colaborar com essa ditadura’, disse à época. Assim era João”.
“Vida que segue”.
***
O presidente do Brasil, Lula da Silva, e o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho, com a participação de familiares de João Saldanha, inauguraram ontem, dia 21 de Dezembro, junto à Calçada da Fama no Estádio do Maracanã, uma estátua de homenagem ao jornalista e famoso botafoguense João Saldanha (foto acima de Cezar Loureiro / Agência O Globo).
PARABÉNS, JOÃO SALDANHA, MEU ÍDOLO!
.
Imagem: Sítio Oficial do Botafogo
8 comentários:
Rui,
Escrevo essas parcas linhas com os olhos marejados e digo-lhe com todo o meu ser e vontade;
EU GOSTARIA QUE O JOÃO SALDANHA FOSSE VIVO!
O IDIOTA do atual presidente do nosso amado BOTAFOGO estaria exterminado de GS!
Rui e Amigos do Mundo Botafogo,
Desejo-lhes um Natal de muita PAZ e um NOVO ANO repleto de saúde e realizações, e todos os seus entes queridos.
Abs e Sds, BOTAFOGUENSES!!!
Confesso-te, meu bom amigo Gil, que ainda não cheguei às lágrimas, mas perpassou por mim um sentimento que raramente tenho: raiva!... Esse senhor dá raiva. Nos cachorros a raiva pode ser mortal, nos humanos é uma sensação profunda de vontade de supressão do outro. É horrível, mas é o que sinto em relação ao presidente. Se eu pudesse, suprimia-o para sempre do BFR e enfiava-o até à pereniade da sua vida a dar aulas aos infelizes alunos da universidade de Friburgo e aos pobres cidadãos a quem supostamente indireita a dentição.
Em alternativa gostava de o ver presidente dos cathartiformes ou dos fluminenses...
Eu sou fã do João Saldanha. Para mim é o maior botafoguense de todos os tempos, com todo o respeito a Paulo Antônio Azeredo, a Carlito Rocha e... a Flávio Ramos!
Boas Festas e Feliz 2010!
Abraços Gloriosos!
"Meus amigos". Assim ele começava os comentários no intervalo e ao final dos jogos. Bem, sinto muita saudade de todas as pessoas que podiam intervir por nós botafoguenses e que já não podem mais. O máximo que posso fazer é dizer a todos do mundo botafogo um ano de 2010 melhor do que 2009. Não será muito difícil ser melhor, mas há quem consegue tornar tudo muito pior na vida. Abraços aos amigos. Loris
Loris, infelizmente há quem ponha a mão em ouro e o transforme em... Bem, sabes o quero dizer, certo?... É apenas para reforçar a afirmação de que "há quem consegue tornar tudo muito pior na vida" sempre que mexe em alguma coisa...
Abraços Gloriosos!
Rui, o João é meu ídolo também.
Por causa dele, de uma forma meio enviesada, diga-se, nunca mais me permiti perder a oportunidade de demonstrar minha admiração por alguém. Pois quando tive uma chance de fazê-lo ao João, no meio da rua por acaso, fiquei acanhado. Vida que segue, mas desviada pra melhor, acho eu.
Saudações alvinegras!
Luiz, mais uma lição do João... Quando se perde a oportunidade... É bom que tenhas mudado e aproveites bem o que passa ao teu lado, agarrando com unhas e dentes o que da vida se nos pode oferecer. À boa moda do João!...
Abraços Gloriosos!
...é emocionante ver e ouvir nosso Saldanha novamente .Ele faz parte de nossa História mais bela e forte .João é um daqueles homens imprescindiveis que marcam a vida com bravura e dignidade . Se estivesse vivo , esta corja de marqueteiros que se apossaram do BOTAFOGO com interesses pessoais de alavancarem suas carreiras apagadas,jamais teria sido empossada. O futebol do BRASIL vai muito mal pela falta de homens como o Saldanha . Que saudade velho ! Ve se tua alma volta pra mais uma vez nos ajudar que estamos precisando de vc ...meu idolo .. nosso ídolo .A Vida que seguiu sem voce é muito pobre . Por incrível que pareça ainda temos que ler o nome do traíra Havelange "abraço de urso" em NOSSO ESTÁDIO . e ver o clube sendo pintado de avul e vermelho . e ver como entregaram este Campeonato de 2011 por interesses de Empresários . Volta JOÃO que estamos precisando de um trabuco pra botar esta corja de lixo na rua !!! Volta querido e amado João !!
Tudo verdade o que disse, amigo Ramos. Se Saldanha cá estivesse... esta bagunça botafoguense não existia, não. É o meu torcedor nº 1, apesar de tantos outros excecionais como Carlito Rocha, Paulo Antônio Azeredo, Tarzã, Tolito, etc.
Abraços Gloriosos!
Enviar um comentário