segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Pra quê dinheiro?


por Gerson Soares

Mané me perguntou se eu queria ganhar um radinho de pilhas. Respondi que sim, claro. Mané, então, convidou-me para ir ao treino do Olaria, time pelo qual exibiu seus últimos dribles profissionalmente.

No carro, a caminho de Olaria, fiquei pensando no motivo da oferta, seguida de um convite. Mané não era chegado a presentear ninguém. Por que eu ganharia um rádio de pilhas? Provavelmente, efeito de alguma aposta que ganhara e o prêmio seria o pequeno aparelho.

Mané primeiro passou naquele barbeiro amigo em frente ao estádio da Gávea. Pediu ao oficial que lhe deixasse com cara de Clark Gable. O barbeiro desconsiderou a pequena fila de espera e autorizou Mané a se sentar na cadeira de sempre: a da ponta direita.

Enquanto era barbeado, um homem entrou. Pediu dinheiro emprestado a um freguês que aguardava a vez. Sem êxito. Pediu ao segundo, que lia uma revista, e recebeu um não de cabeça; do que estava sentado na cadeira central, outro não com a mão. O pedinte foi chamado a atenção pelo barbeiro e convidado a se retirar.

Antes de atender, foi até Mané. Não precisou fazer o apelo: Mané enfiou a mão no bolso e, sem ver o rosto do sujeito, deu-lhe uma boa quantia. O homem, agrdecido, saiu dizendo que em breve pagaria. O barbeiro, surpreso, perguntou a Mané se ele pelo menos sabia a quem dera a grana. Mané, despreocupado, respondeu:

"A alguém que estava precisando. É gente boa, disse que me pagaria em breve."

Na verdade, ele nem vira a fisionomia do homem a quem dera o dinheiro.

Barba e cabelos feitos, seguimos para o campo da Rua Bariri. Ao chegarmos, fiquei ansioso para ganhar o tal radinho de pilhas. Esperei pelo perde-dor da possível aposta, enquanto ele foi para o vestiário pôr a roupa de treino.

Mané entrou em campo com o uniforme completo do Olaria. Alguns companheiros dele já estavam também uniformizados. Eu pensei que haveria um jogo-treino. Mas foi uma equipe de produção de filmes que entrou em campo. O diretor começou a gritar para que preparassem o set, pois queria aproveitar o belo sol da manhã.

Soube então que Garrincha fora convidado para estrelar um comercial de uma famosa marca de rádios de pilhas. Ao fim, ganharia alguns aparelhos e eu seria um dos contemplados.

No roteiro, os companheiros de Mané, coadjuvantes, seriam driblados por ele, que, após ultrapassar o último marcador, não faria o gol: receberia um rádio de pilhas e teria de sair vibrando com ele ao ouvido.

Passado e repassado o texto, o diretor deu ordem para gravar a cena. Mané driblou Mineiro, Gessé, Fernando Pirulito, Mário Tito, Salvador... Ao chegar diante de Beto, o goleiro, recebeu o rádio e saiu vibrando, mas não conseguia convencer o diretor. Ao fim da décima tentativa, o diretor, possesso, ordenou: 30 minutos de pausa.

Mané chamou o diretor a um canto. Após tensa conversa, tirou a camisa e saiu aborrecido do campo, dizendo que não gravaria mais nada, que era uma sacanagem. Realmente, abandonou tudo. Fomos embora sem o esperado radinho de pilhas. Mané se irritou ao saber que seus companheiros, servindo de figurantes para ele no comercial, não receberiam nada. Ele exigiu do diretor que fossem pagos pelo trabalho.

Como o diretor disse que não poderia atender, então ele desistiu do comercial. Abriu mão de uma boa grana e do meu radinho.

Domingo passado, eu estava no Tijuca Tênis Clube, que tem o maior campeonato de dentes-de-leite do Brasil. Lá estava também o ex-craque Salvador, um dos primeiros campeões brasileiros de futebol, título conquistado quando jogava pelo Atlético Mineiro. Hoje ele dá aulas nas escolinhas do Touca. Salvador lembrou-se do episódio. E esclareceu: disse que Mané solicitara que todos os jogadores que estavam em cena recebessem a mesma quantia prometida a ele. Como ouviu um não como resposta, abriu mão de sua parte para que fosse dividida por todos. Voltou para o vestiário, tomou banho e me chamou para irmos embora. Mané não ligava para dinheiro. Preferia ter amigos.

Fonte: www.sosserve.com.br 

4 comentários:

Gil disse...

Rui,

Permites uma proposta?
Antes da resposta, que tal um livro com os fatos ou a realidade da verdadeira personalidade do nosso ídolo Garrincha.
O ministério dos cathartiformes só mostram o lado da dependência e o alcoolismo.

Abs e Sds, BOTAFOGUENSES!!!

Ruy Moura disse...

Sem dúvida que seria interessante. Mostra-se o alcoolismo, a dependência e a garotice, mas nunca a verdadeira alma de Garrincha enquanto ser humano.

Abraços Gloriosos!

Anónimo disse...

Caro Rui, já que estamos a falar do maravilhoso Garrincha qie infelizmente eu não tive o prazer e a honra de ver jogar, gostaria de tecer comentários a respeito da estátua de zico no maracanã. Que zico merece uma estátua, isso eu não discuto. Mas, posta lá na gavea, pelo flamengo. Por que só foi lá que ele fez alguma coisa. Para mim, não passa de um mero jogador de clube, foi um fiasco nas tres copas que participou. Então, porque uma estátua no maracana? Tem gente que foi tri campeão do mundo é o unico jogador da historia que fez gols em todos os jogos de uma copa do mundo e nem é lembrado.

Ruy Moura disse...

Sem dúvida, amigo. Creio que no Maracanã deviam estar apenas os protagonistas relevantes do Brasil a nível continental e mundial. Os outros deveriam ter consagrações nos estádios dos seus clubes. Mas Flamango é Flamengo, isto é, como nunca teve nenhuma projeção internacional, inventa-se. Que seria feito deste clube se não o levassem a colo para a sglórias 'inventadas' durante o jogo e fora dele?...

Abraços Gloriosos!

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