quarta-feira, 23 de junho de 2010

Otávio de Moraes, uma saudade – IV


[Nota de Mundo Botafogo: a maioria de nós não vivenciou os anos 40 do século passado, os tempos de Geninho, Paraguaio, Oswaldo, Heleno de Freitas e… Otávio Moraes; este último craque foi entrevistado por José Rezende antes de falecer e conta a sua e a nossa história da década de 1940]

Otávio na seleção brasileira

Otávio também vestiu a camisa da seleção brasileira:

“O Flávio Costa adorava meu futebol. Ele achava que eu fazia uma armação muito boa e finalizava. Quando ele me convocou pela primeira vez, eu era titular do aspirante do Botafogo. Fiquei como reserva do Heleno e do Leônidas. Perguntei ao Flávio o que iria fazer na seleção, tendo aqueles dois caras. Ele me disse que se os dois começassem com frescura seriam mandados embora, porque estavam sempre com probleminhas e eu entraria. Essa convocação foi para o sul-americano de1945. Heleno e Leônidas se comportaram bem e eu fui cortado.

Veio mais tarde à convocação para o sul-americano de 1949 e rendi muito pouco. A camisa pesou muito. Eu nunca pensei que um dia estaria perfilado ouvindo o hino nacional, no campo do Vasco, ao lado do Zizinho. Os meus ídolos estavam ao meu lado.”

Além de mostrar o seu talento nos campos de futebol, Otávio exerceu com brilhantismo a carreira de arquiteto.

O craque arquiteto

O arquiteto Otávio, cuja escolaridade e a formação cultural estavam acima da média do jogador de futebol, diz como era a convivência com seus companheiros de profissão: “Sempre tive por eles uma profunda relação de amizade. Tenho grande facilidade de adaptação com a maioria das pessoas. Eu me dou bem com todo mundo. Eu amo o ser humano. Nunca posei de intelectual pra eles. O respeito deles por mim era grande, por terem um amigo de quarto, de farra, de bebedeira, de jogo, que tinha feito algo que eles não conseguiram fazer. Todos tinham a vontade de ter feito isso, mas não puderam por várias razões. Minha família não era pobre, nem rica. Meu pai era gerente de banco, só isso. Eles tiveram uma vida difícil. Eu estudava, fazia trabalhos, desenhava nas concentrações e eles olhavam, perguntavam. Sempre os respeitem e nunca fui à última palavra. Quando apresentavam alguma solução, eu sempre seguia porque eram muito criteriosas. No Botafogo tinham setores: o Gerson era o xerife da defesa; o Geninho comandava o meio-campo, o ataque e era o capitão. O Nilton Santos era igual ao Ademir, não queria saber da estratégia do jogo. Já o Zizinho, o Tim, o Geninho eram muito interessados. Tanto que foram bons treinadores. Tanto que houve um caso muito engraçado. Antes dos coletivos o Zezé reunia todo mundo e dizia as mesmas coisas. É uma época maravilhosa na vida da gente. Todos moços, cheios de energia, muita gozação. Aí, o Geninho inventou a sacanagem depois da preleção do Zezé: “Posso dar uma sugestão?”Não tinha sugestão nenhuma. E o Zezé respondia: “Não quero sugestão”. Ele ia embora e a gente ficava rindo. Combinamos de fazer a pergunta sempre que fosse possível. O próximo fui eu e seguimos por muito tempo com a brincadeira. O Zezé nunca percebeu que era sacanagem. Todos fizeram isso. Quando chegou a vez do Nilton Santos, ele disse que tinha vergonha. Agora, depois de velho, está falante. Está igual ao Didi.”

Os maiores craques do Brasil e o melhor marcador

Otávio aponta as figuras que mais o impressionaram no futebol brasileiro:

“É muito difícil dizer, porque as condições do futebol não são as mesmas. Nós veteranos da velha guarda nas nossas conversas costumamos comparar o futebol com um avião. Somos um DC-3 que levava daqui a Belém cinco horas. O Pelé é um Constelation, já entra na era do jato, com todo o conforto e enorme segurança de vôo. O Ronaldinho e todos esses meninos são o Concorde. Eles têm uma medicina esportiva melhor, um preparo físico melhor.

O melhor goleiro ainda foi o Manga. Na zaga, destaco Domingos da Guia e Nilton Santos. Dependendo do esquema de jogo, no meio-campo, Jorginho que jogou na Alemanha. Meu melhor marcador foi o Mauro Ramos. Injustiçado ficou no banco da seleção desde 49. Em 50, ficou na reserva do Juvenal. Chegou a ser banco do Wilson. Em 62, foi titular e falou com o Aimoré: “Biscoito, vou para ser titular”.

Joguei contra o Mauro várias vezes na seleção e no Botafogo. Ele sabia o que nós atacantes íamos fazer, porque ele estudava todas as nossas características.”

FIM.

Pesquisa: Rui Moura, blogue Mundo Botafogo
Origem: ABI (Associação Brasileira de Imprensa), entrevista de José Rezende, 11/11/2009

1 comentário:

Anónimo disse...

Excelente a série sobre Otávio, muito esclarecedora, principalmente por parte dele, sobre o futebol e as amizades de antigamente. Deixo uma sugestão> ouça os contemporâneos deles, mesmo que os que nao foram jogadores (dirigentes, amigos, famliaress...)

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