sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Botafogo, sim senhor!

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por Iran Schleder
escrito para Mundo Botafogo

Caro Rui, antes de tudo quero lhe parabenizar pelo ótimo blog, sou leitor assíduo. Depois de ler alguns textos sobre a primeira camisa resolvi mandar meu próprio sobre o assunto. Sou desses botafoguenses que sofrem mesmo, que choram com as ‘roubalheiras’ dos homens do apito, que odeiam a ‘flapress’, enfim, que tem no Botafogo a mais funda paixão e a convicção de que somos diferenciados da ‘massa bovina’. Como já avisou o alvinegro Armando Nogueira: “Amar um clube é muito mais que amar uma mulher”. E eu sigo à risca o conselho do mestre. Ao longo da vida, já me casei, troquei de namoradas, sei lá, dezenas de vezes. Outras tantas fui trocado por elas, mas a recíproca não está em jogo, agora. Jamais trocaria o Botafogo, nem por outro clube, nem por nada, neste mundo.

Guardo até hoje, íntegro, o sentimento do primeiro encontro. Foi na cozinha da casa da minha mãe, enquanto a própria passava roupa, na noite de 21 de junho de 1989. Tinha eu apenas dez anos, e não estava muito interessado com aquele time, do goleiro Ricardo Cruz ao atacante Maurício, todos eles jogadores medianos, mas todos traziam no peito uma estrela de cinco pontas, radiosa como a luz daquela noite iluminada que fez em Curitiba naquela data.

O jogo era, pra se esperar, Botafogo e Flamengo. Decisão do carioca daquele ano.

Naquela época, até então, o Botafogo ainda não tinha me enfeitiçado, apesar de eu já ter desfilado anteriormente com o manto alvinegro por “ordem” do meu pai. Eu tinha tudo pra não ser botafoguense: meu pai tinha recém separado da minha mãe, o Botafogo vinha de mais de duas décadas em sua história sem a conquista de um único título, e os times do momento Corinthians, São Paulo, e o próprio Flamengo, encantavam o país.

A partida teve início e eu da cozinha sentia que aquela noite entraria definitivamente em minha história. O Maracanã estava lotado com mais da metade do público presente trajando rubronegro. Comecei a ver o jogo como mero espectador, mas o destino resolveu dar a cartada final em meu coração, pois aos 21 minutos do segundo tempo me veio a revelação com o gol de Maurício. Meu coração transbordou, meus olhos encheram-se de lágrimas, e eu, enfim, me apaixonei. Aquilo me marcou profundamente e sempre que revejo o velho VHS daquele campeonato as lágrimas me cobrem o rosto, pois rememoram uma época de minha vida.

Hoje, mais de vinte anos depois, eu me pergunto, por mera curiosidade, por que será que não escolhi torcer pro Flamengo? Afinal, o Flamengo era o time mais querido do Brasil. Dava ibope torcer pro Flamengo. Tinha uma constelação de craques, de Zico a Junior o time era um assombro. Era certeza de alegria pela frente. Eu, no entanto, resolvi trocar o certo pelo duvidoso. Afinidades eletivas, meus amigos. Premonição, talvez. Enfim, coisas do coração, pois no final do jogo era o Botafogo que dava a volta olímpica no Maraca, campeão invicto.

Ali nascia minha grande paixão, sentimento que me destroça por inteiro numa derrota, mas me leva ao êxtase numa vitória. O título de 95 me fez transbordar, transcendeu meu amor, mas o gol de Maurício é especial até hoje, é como o primeiro beijo, nunca esquecerei o sorriso cúmplice de minha mãe quando viu minhas lágrimas naquela noite. Meu amor pelo Botafogo tem de tudo um pouco, porém, é mais que tudo. Meu amor pelo Botafogo é de plena entrega, mas também sei rir na desgraça quando sofremos com times medíocres e piadas alheias.

O Botafogo tem tudo a ver comigo, é supersticioso, eu também sou. O Botafogo é bem mais que um clube – é uma predestinação celestial como já disse o sábio. Seu símbolo é uma entidade divina. “Feliz da criatura que tem por guia e emblema uma estrela. Por isso é que o Botafogo está sempre no caminho certo. O caminho da luz. Feliz do clube que tem por escudo uma invenção de Deus”.

O torcedor do Botafogo tem um coração repleto de memoráveis alegrias: convivem, na mesma estrela, craques que não só nos orgulharam, botafoguenses, mas toda a nação brasileira, de Heleno de Freitas à Túlio Maravilha, passando por outros tantos, como Garrincha, Didi, Quarentinha, Maurício, etc, etc… Não sou da geração privilegiada que viu Garrincha, Didi e o Nilton jogar (meu pai só de lembrar de uns jogos já começa a chorar), nem do timaço de 77/78 com PC Caju e Jairzinho que bateu o recorde de invencibilidade, mas sou da geração de Maurício e de Túlio Maravilha, jogadores que me trazem um sorriso no rosto pela simples lembrança.

Da cozinha de casa naquela noite de 1989 até os dias de hoje foram muitas as lágrimas, tanto de desespero quanto de fulgor. O Botafogo tem o dom de me levar do inferno ao paraíso, e vice-versa. Ele é como eu: é preto no branco, é 8 ou 80. Somos assim, ou é agonia ou é êxtase.

Nota: Iran Schleder, 31 anos, jornalista e, acima de tudo, oriundo de uma família de alvinegros dos pés à cabeça. Do meu falecido avô que viu Heleno, do meu pai que viu Garrincha, e de mim e meu irmão que vimos Túlio Maravilha e esperamos que Jobson e Maicosuel sejam os próximos a entrar nessa seleta lista.

2 comentários:

Lorismario disse...

Iran. Você é realmente Botafogo. Forte abraço e em nome do Rui, se ele permitir, te peço para comparecer mais vezes. Loris

Ruy Moura disse...

Loris, apoiado o apelo à comparência do Iran.

Abraços Gloriosos para ambos!

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