
por João Saldanha
excerto de Os subterrâneos do futebol, Livraria José Olympo Editora
O campeonato estava começando. Faltavam dois dias e nos reunimos com Renato Estelita e o presidente Paulo Azeredo para traçar planos. O time estava engrenado. Com a entrada do Didi, Paulo Valentim e Servílio (que já estava vindo do Norte onde fora fazer uma "ponte" para tapear o Flamengo que não venderia direto ao Botafogo), quem sabe, com um pouco de sorte daria para se chegar bem colocado e até ganhar. A excursão a Caracas tinha sido ótimo treinamento. Jogos de seis em seis dias e ninguém machucado. Faltava somente esclarecer a questão dos bichos.
Renato apresentou uma sugestão:
– Oito mil contra os grandes e três contra os pequenos. Se ganharmos todos os jogos, dá dois milhões e cem mil. Parece muito, mas ganhando tudo seremos campeões.
O Dr. pulou:
– Pronto. Lá vêm os "irmãos Rockefeller" com as idéias astronômicas. Ganhamos o campeonato e vamos à falência. Isso não seria de todo mal. Mas, se a gente ganha só no começo, "eles" botam o dinheiro no bolso e depois desandam a perder. Não, não dou. É muito – disse o presidente do Botagogo.
Discute dali, discute daqui, e Renato engrenou a segunda:
– Então cinco mil para os jogos grandes e dois para os pequenos. São cinco grandes e seis pequenos. Claro que o Botafogo não conta.
– Aonde é que tem seis clubes grandes?, perguntou Paulo Azeredo.– Tirando o Botafogo só restam três: Flamengo, Vasco e Fluminense.
Então ponderei:
– Mas hoje mesmo eu li uma entrevista do senhor a um jornal, falando em seis clubes grandes que tinham chance no campeonato carioca.
– O, João (João Saldanha)! Você parece criança. Para mim vocês são mesmo uns meninos. Todos os anos eu dou esta entrevista no começo do campeonato. E eu não vou dizer que o América e o Bangu não são grandes, não é? Para quê? Para eles ficarem com raiva de mim? América e Bangu são duas panquecas. Deixa eles pensarem que são grandes. Mas para efeito de bicho, pra mim, são pequenos. Vou fazer uma proposta: cinco mil para os três grandes, três para América e Bangu e dois para o resto. Mais, nem um tostão. Em caso de empate, a metade. Que tal?
Na saída, Renato comentou:
– Eu comecei propondo oito porque ele baixaria na certa. Acho que cinco mil está bom. Depois, se a coisa engrenar, a gente aumenta. Ganhando, tudo irá bem. Mas ... escuta uma coisa: que tal se nós contratássemos o seu Valdemar? Aquele macumbeiro de Catumbi, um que já trabalhou para o Vasco. Ele é bom...
– Ora, Renato, não enche. Se macumba resolvesse em futebol, o campeonato baiano terminaria empatado!...
excerto de Os subterrâneos do futebol, Livraria José Olympo Editora
O campeonato estava começando. Faltavam dois dias e nos reunimos com Renato Estelita e o presidente Paulo Azeredo para traçar planos. O time estava engrenado. Com a entrada do Didi, Paulo Valentim e Servílio (que já estava vindo do Norte onde fora fazer uma "ponte" para tapear o Flamengo que não venderia direto ao Botafogo), quem sabe, com um pouco de sorte daria para se chegar bem colocado e até ganhar. A excursão a Caracas tinha sido ótimo treinamento. Jogos de seis em seis dias e ninguém machucado. Faltava somente esclarecer a questão dos bichos.
Renato apresentou uma sugestão:
– Oito mil contra os grandes e três contra os pequenos. Se ganharmos todos os jogos, dá dois milhões e cem mil. Parece muito, mas ganhando tudo seremos campeões.
O Dr. pulou:
– Pronto. Lá vêm os "irmãos Rockefeller" com as idéias astronômicas. Ganhamos o campeonato e vamos à falência. Isso não seria de todo mal. Mas, se a gente ganha só no começo, "eles" botam o dinheiro no bolso e depois desandam a perder. Não, não dou. É muito – disse o presidente do Botagogo.
Discute dali, discute daqui, e Renato engrenou a segunda:
– Então cinco mil para os jogos grandes e dois para os pequenos. São cinco grandes e seis pequenos. Claro que o Botafogo não conta.
– Aonde é que tem seis clubes grandes?, perguntou Paulo Azeredo.– Tirando o Botafogo só restam três: Flamengo, Vasco e Fluminense.
Então ponderei:
– Mas hoje mesmo eu li uma entrevista do senhor a um jornal, falando em seis clubes grandes que tinham chance no campeonato carioca.
– O, João (João Saldanha)! Você parece criança. Para mim vocês são mesmo uns meninos. Todos os anos eu dou esta entrevista no começo do campeonato. E eu não vou dizer que o América e o Bangu não são grandes, não é? Para quê? Para eles ficarem com raiva de mim? América e Bangu são duas panquecas. Deixa eles pensarem que são grandes. Mas para efeito de bicho, pra mim, são pequenos. Vou fazer uma proposta: cinco mil para os três grandes, três para América e Bangu e dois para o resto. Mais, nem um tostão. Em caso de empate, a metade. Que tal?
Na saída, Renato comentou:
– Eu comecei propondo oito porque ele baixaria na certa. Acho que cinco mil está bom. Depois, se a coisa engrenar, a gente aumenta. Ganhando, tudo irá bem. Mas ... escuta uma coisa: que tal se nós contratássemos o seu Valdemar? Aquele macumbeiro de Catumbi, um que já trabalhou para o Vasco. Ele é bom...
– Ora, Renato, não enche. Se macumba resolvesse em futebol, o campeonato baiano terminaria empatado!...
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