
Patinhas ao centro, ladeado por César Oliveira à esquerda da imagem e Rui Moura à direita – final do campeonato carioca de 2009.
por Hélio Andrade Borges, o ´Patinhas’
Rio de Janeiro, 18 de outubro de 2010
Amigo Rui, lendo o seu texto [“Até quando?...” – publicado no portal Arena Alvinegra], me recordei desse fatídico dia em que fui preso no ‘maior do mundo’. Eu era soldado à época, e naquele tempo as coisas eram diferentes, tínhamos o cabelo cortado em uma moda estranha, em que deixava somente uma tampa cabeluda, e o resto do coco pelado.
Eu prestava serviço em Realengo, na EsIE, e no dia do jogo [final do campeonato carioca de 1971], parti para Madureira a casa de um amigo e, lá chegando, tirei meu uniforme verde-oliva e enfiei-me dentro de uma camisa gloriosa, saindo rumo à festa.
Maracanã lotado, a torcida jovem, da qual fazia parte, completamente louca, sacos e mais sacos de papel picados, centenas de rolos de papel higiênicos, centenas de rolinhos de serpentinas e, apesar da pouca idade, meu coração super acelerado. Você sabe, não é? Coração botafoguense é diferente, ele não bate, pulsa desordenadamente.
Ainda tem a tal superstição, e olhe que eu nunca me ative a esses detalhes, mas isso faz parte da nossa história e comportamento. As duas últimas semanas não haviam sido muito fáceis porque perdemos pontos que não deveríamos, talvez por altivez ou acomodação ou, quem sabe, pela perseguição feita em campo pelas arbitragens que nos desfalcaram em vários jogos. A três rodadas do final tínhamos cinco pontos de diferença para o segundo colocado.
O time era conhecido por Selefogo e fizemos uma paródia em cima do samba enredo “Lapa em três tempos” da Escola de Samba da Portela, em que enaltecíamos o passado e o presente do nosso esquadrão. A letra dizia assim:
"Vem do seu Zagalo
e dos tempos do famoso seu Mané
e em todo campeonato o Botafogo sempre dá olé
os grandes craques do passado
dedicaram a suas camisas grande amor
Garrincha, Nilton Santos, são craques de ouro
que valem mais que um tesouro
Amarildo, quantas saudades nos trás
dos seus golaços de placa iniciados pela turma lá de trás
seu Mané Garrincha dando show e fazendo carnaval
olha lá o seu Mané, quero ver quem vai cair
Nilton Santos desarmando para o ataque vai subir
agora tem gente nova
Zequinha, Jair, Careca e Paulo Cezar
a moderna meninada é da turma da pesada
nós temos uma defesa, que é uma beleza
Carlos Alberto e o Brito
vôvô Leônidas e o famoso Paulo Henrique."
Não passava pela cabeça de nenhum botafoguense, vivo ou morto, que aquela final teria um desfecho desfavorável.
Mas como tem coisas que só acontecem ao Botafogo e aos botafoguenses, ao apagar das luzes do segundo tempo, quando ecoava em torno do anel o grito da torcida ensandecida, eis que aparece aquela eminência parda que atendia pelo nome de José Marçal Filho da Outra, e… o resto da história, você já descreveu bem.
Na saída do ‘Maraca’, já cabisbaixo e sem entender o porquê daquilo tudo, eis que sou surpreendido pelo batalhão da PE, que tomou o Maracanã de assalto, saí em disparada e me refugiei no banheiro mais próximo, mas aqueles catarinenses, que mais pareciam alemães, foram implacáveis. A minha sorte foi selada: triste estava e mais triste fiquei, pois após ser levado para o batalhão da PE na Vila Militar, onde fiquei a noite e parte do dia, até ser transferido direto para a cadeia do meu quartel, porque infringi a lei vestindo-me à paisana em local público [ou melhor, envergando a Camisa Gloriosa que levou o Patinhas ao ‘xadrez’!].
Mas, curiosamente, após esse sofrimento duplo, me tornei ainda mais Botafoguense do que antes e, se tivesse que voltar no tempo, faria tudo novamente – trinta dias de cadeia não apagaram essa chama alvinegra, mas o roubo ficou e está gravado na memória.
O orgulho de ser botafoguense não tem PE ou Marçal que apague, contra tudo e contra todos, EU SOU BOTAFOGO!
por Hélio Andrade Borges, o ´Patinhas’
Rio de Janeiro, 18 de outubro de 2010
Amigo Rui, lendo o seu texto [“Até quando?...” – publicado no portal Arena Alvinegra], me recordei desse fatídico dia em que fui preso no ‘maior do mundo’. Eu era soldado à época, e naquele tempo as coisas eram diferentes, tínhamos o cabelo cortado em uma moda estranha, em que deixava somente uma tampa cabeluda, e o resto do coco pelado.
Eu prestava serviço em Realengo, na EsIE, e no dia do jogo [final do campeonato carioca de 1971], parti para Madureira a casa de um amigo e, lá chegando, tirei meu uniforme verde-oliva e enfiei-me dentro de uma camisa gloriosa, saindo rumo à festa.
Maracanã lotado, a torcida jovem, da qual fazia parte, completamente louca, sacos e mais sacos de papel picados, centenas de rolos de papel higiênicos, centenas de rolinhos de serpentinas e, apesar da pouca idade, meu coração super acelerado. Você sabe, não é? Coração botafoguense é diferente, ele não bate, pulsa desordenadamente.
Ainda tem a tal superstição, e olhe que eu nunca me ative a esses detalhes, mas isso faz parte da nossa história e comportamento. As duas últimas semanas não haviam sido muito fáceis porque perdemos pontos que não deveríamos, talvez por altivez ou acomodação ou, quem sabe, pela perseguição feita em campo pelas arbitragens que nos desfalcaram em vários jogos. A três rodadas do final tínhamos cinco pontos de diferença para o segundo colocado.
O time era conhecido por Selefogo e fizemos uma paródia em cima do samba enredo “Lapa em três tempos” da Escola de Samba da Portela, em que enaltecíamos o passado e o presente do nosso esquadrão. A letra dizia assim:
"Vem do seu Zagalo
e dos tempos do famoso seu Mané
e em todo campeonato o Botafogo sempre dá olé
os grandes craques do passado
dedicaram a suas camisas grande amor
Garrincha, Nilton Santos, são craques de ouro
que valem mais que um tesouro
Amarildo, quantas saudades nos trás
dos seus golaços de placa iniciados pela turma lá de trás
seu Mané Garrincha dando show e fazendo carnaval
olha lá o seu Mané, quero ver quem vai cair
Nilton Santos desarmando para o ataque vai subir
agora tem gente nova
Zequinha, Jair, Careca e Paulo Cezar
a moderna meninada é da turma da pesada
nós temos uma defesa, que é uma beleza
Carlos Alberto e o Brito
vôvô Leônidas e o famoso Paulo Henrique."
Não passava pela cabeça de nenhum botafoguense, vivo ou morto, que aquela final teria um desfecho desfavorável.
Mas como tem coisas que só acontecem ao Botafogo e aos botafoguenses, ao apagar das luzes do segundo tempo, quando ecoava em torno do anel o grito da torcida ensandecida, eis que aparece aquela eminência parda que atendia pelo nome de José Marçal Filho da Outra, e… o resto da história, você já descreveu bem.
Na saída do ‘Maraca’, já cabisbaixo e sem entender o porquê daquilo tudo, eis que sou surpreendido pelo batalhão da PE, que tomou o Maracanã de assalto, saí em disparada e me refugiei no banheiro mais próximo, mas aqueles catarinenses, que mais pareciam alemães, foram implacáveis. A minha sorte foi selada: triste estava e mais triste fiquei, pois após ser levado para o batalhão da PE na Vila Militar, onde fiquei a noite e parte do dia, até ser transferido direto para a cadeia do meu quartel, porque infringi a lei vestindo-me à paisana em local público [ou melhor, envergando a Camisa Gloriosa que levou o Patinhas ao ‘xadrez’!].
Mas, curiosamente, após esse sofrimento duplo, me tornei ainda mais Botafoguense do que antes e, se tivesse que voltar no tempo, faria tudo novamente – trinta dias de cadeia não apagaram essa chama alvinegra, mas o roubo ficou e está gravado na memória.
O orgulho de ser botafoguense não tem PE ou Marçal que apague, contra tudo e contra todos, EU SOU BOTAFOGO!
7 comentários:
Amigo Rui.
Pode ter certeza de uma coisa, estar rodeado por duas celebridades botafofguense, e ainda por cima ser agraciado com o meu texto publicado na coluna Mundo Botafogo, foi sem dúvida alguma um presente antecipado de fim de ano.
Grande Abraço.
Patinhas.
Meu querido amigo, celebridade mesmo é o Patinhas. Acaso os serviços militares se preocuparam alguma vez em me ir buscar a um estádio de futebol ou ao Cesar? Nada... Só você é que teve direito a tratamento especial PE e uma noite de luxo nos leitos debruados da Ditadura! (rs)
Você é um grande amigo, Patinhas. O seu texto é fascinante. Obrigado pela sua amizade.
Abraços Gloriosos!
Helio. Isto sim é ser um grande botafoguense. Ladeado pelo Cesar e pelo Rui você se torna imbatível. Abraço fraterno do Loris.
Só para lembrar aos mais novos que não é de hoje que o Botafogo perde campeonatos na "garfada".
Só mudam os nomes das figurinhas...
Mas, naquela época,mesmo com as garfadas, ficava difícil para eles...
Abraços!
Patinha, o 'Imbatível'!!! (rs)
Abraços Gloriosos, Loris!
Sabe, Leonel, eu acho que a única hipótese de ganharmos algo realmente imnportante é montarmos uma equipa muito superior às outras, de tal modo que nem as arbitragens lhes valham. Caso contrário...
Mas não vejo gabarito entre os dirigentes para criar tal equipa de futebol. Creio que os próximos anos vão continuar sendo de muitas esperanças alvinegras e poucas concretizações. Isto é, torcedores dizendo 'eu acredito', mas sem que isso passe da crença para a realidade.
Abraços Gloriosos!
Dá-lhe Patinhas!
Grande botafoguense!
Abraços!
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