No
âmbito da parceria Mundo Botafogo e BrahmaFogo foi assumida uma entrevista
exclusiva de Jairzinho para o Mundo Botafogo, que só agora foi possível
publicar. Fecho de ano com chave de ouro.
A
entrevista foi construída exclusivamente com base em perguntas enviadas pelos
leitores do Mundo Botafogo. Eis a entrevista integral:
1. Em 1958, aos 14 anos o Jairzinho era gandula do Botafogo
quando a equipa tinha craques como Garrincha, Didi, Nilton Santos, Amarildo,
Quarentinha e Zagallo.
P: Como foi a sua chegada
ao clube?
R: Em 1961 cheguei ao Botafogo indicado pelo lateral
esquerda reserva do Nilton Santos, Lucas.
P: Como era ser gandula e conviver
com tais craques?
R: Nunca fui gandula, apenas fui morar na Rua General
Severiano. Em minhas horas vagas eu e meus colegas pulávamos o muro para jogar
peladas atrás dos gols.
P: Pode contar-nos uma
história vivida por si nesse tempo?
R: No meu primeiro dia de teste na categoria juvenil o
porteiro que ficava na Rua General Severiano com o nome Doroteo, não permitiu a
minha entrada. Eu tinha que começar entrando pela entrada principal do Botafogo.
2. Três anos depois tornou-se campeão carioca juvenil ao
lado de grandes promessas como Arlindo e Othon. Ambos tiveram que abandonar
precocemente o futebol.
P: Lembra-se bem deles?
Quais eram as principais características deles?
R: Arlindo foi para mim um dos melhores meio-campo que
eu conheci, Othon foi um grande ponta esquerda nato.
P: Como era a vossa
triangulação de ataque nesse tempo?
R: Eu comecei como ponta direita inspirado no meu ídolo
Garrincha.
3. Em 1963, aos 19 anos, já tricampeão carioca juvenil foi
convocado para o campeonato Pan-Americano.
P: Que emoções sentiu ao
tornar-se campeão continental tão jovem?
R: Todo jogador de futebol pretende ser titular dos
seus clubes, e ser titular de uma seleção é motivo de muita alegria, tive muita
emoção em ser campeão Panamericano também.
P: Qual foi a importância
dos craques do Botafogo nessa Seleção?
R: Todos nós levamos prestígio do Botafogo.
4. A sua posição inicial era ponta direita e depois migrou
para ponta de lança.
P: Como foi que aconteceu
essa mudança?
R: Eu comecei como ponta direita inspirado no Garrincha,
mas desde criança procurei jogar em todas as posições de ataque. Mudei de
posição com o objetivo de jogar ao lado do meu ídolo e consegui ser ponta de
lança.
P: Como viveu essa
mudança?
R: Eu vivi esta mudança com muito sucesso.
5. Que sensações e sentimentos
ocorreram ao ser expulso de campo numa decisão quando se sabia que o Jairzinho
era peça importante do time, como na final da Taça Guanabara em 1968 contra o
América?
R: Fiquei triste na decisão em 1968 contra o América,
perseguido com maldade pelo árbitro naquele dia.
6. Nesse mesmo ano o Brasil, representado por oito titulares
do Botafogo, goleou a Argentina no Maracanã por 4x1, no jogo do olé.
P: Fale-nos desse jogo.
Conte-nos pormenores desse olé.
R: Neste jogo Brasil e Argentina, o Botafogo
representou o Brasil com a maior parte dos seus titulares. O olé foi a maior exibição
que vivi em minha vida. O olé foi dado com 52 passes sem que os jogadores
Argentinos tocassem na bola. O olé foi consagrado com o quarto gol da seleção
brasileira feito por mim.
7. Em 1972 o Botafogo goleou o Flamengo por 6x0, com três
gols da sua autoria.
P: O seu 3º gol foi feito
de letra porque estava fácil ou pressentiu que a torcida botafoguenses merecia
uma cereja assim no topo do bolo?
R: Em 1972 eu estava vivendo o momento de muita
qualidade técnica quando nós jogamos contra o Flamengo, eu fiz três gols e um
de letra que aconteceu numa jogada que eu só podia jogar de letra.
P: Como foi vivido esse
momento pelos torcedores?
R: Este momento foi vivido pela torcida Botafoguense
como uma das maiores goleadas do Botafogo no Flamengo.
8. Em 1969, 1970, 1971 e 1972 o
Botafogo era notoriamente o melhor
elenco do Rio de Janeiro e do Brasil e um dos maiores do mundo.
P: Como é que se explica o Botafogo não tenha ganho nenhum título
estadual e nacional nesses anos? Que reais motivos existiram para essa ausência
de títulos?
R: Acidente de percurso.
P: Para si como foi viver esse período sem títulos sabendo-se
que em 1970 se sagrou campeão mundial com gols da sua autoria em todos os jogos
da Copa do Mundo?
R: Em 1971 fui covardemente atingido pelo Moisés
(jogador do Vasco na época ele me deixou sem jogar na metade do ano 1971 até
1972) com uma entrada violenta no meu joelho esquerdo.
9. Apesar dos fabulosos times do
Botafogo nas décadas de 1950-60-70, a nossa presença na Taça Libertadores da
América foi sempre insignificante.
P: Qual era a relação do Botafogo com a Taça Libertadores da
América?
R: O Botafogo e a maioria dos clubes populares do
Brasil não se interessava com a taça Libertadores da Américas.
P: Existia muita violência, à semelhança do que ocorreu na Taça
de 1973, em especial no jogo contra o Cerro no Paraguai, com a sua expulsão
após o tumulto causado pelo árbitro e pelas agressões policiais?
R: Existia sim muita violência, eu fui um dos alvos em
um jogo em 1973 entre Botafogo e Cerro no Paraguai.
10. Últimas curiosidades, grande
campeão botafoguense e brasileiro:
P: Durante a sua carreira admite que a imprensa como
um todo agia de maneira discriminatória em relação ao Botafogo? E hoje, ainda
age?
R: Sim, existia e existe até hoje.
P: Qual foi a maior decepção na sua história
futebolística?
R: A minha maior decepção e tristeza foi 1966 na copa
do mundo na Inglaterra.
P: Qual foi a maior alegria da sua história
futebolística?
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R: A maior alegria foi ter sido Tri campeão do mundo
em 1970 e considerado por muito países como o melhor jogador da copa. Inclusive
recebi um convite pelo Governo de Portugal para desfrutar de 10 dias de
comemorações com o governo. Recebi também a chave de Portugal com sendo o
melhor jogador da copa de 70. Até hoje recebo carinhosamente o título de ‘furacão
da copa’, e também o único jogador a ter feito gols em todos os jogos em uma
copa do mundo, sendo 6 jogos e 7 gols.
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Imagem: Autoria do nosso amigo MAM.
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Imagem: Autoria do nosso amigo MAM.