sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

O STJD e o Fluminense humilham o futebol brasileiro


por Rui Moura (blogue Mundo Botafogo)

Vem chegando o Natal, época mágica que une as pessoas mais diversas: ricos e pobres. Jovens e velhos. Cristãos, judeus, muçulmanos, budistas e ateus. Black blocs e policiais. Sambistas, roqueiros e axezeiros. Todos unidos em torno de algo comum: achar que o fluminense deve jogar a série b em 2014…” – Danilo Paiva, botafoguense no facebook.

Grandes e históricos times do futebol europeu já foram rebaixados, não houve tapetões, regressaram nos anos seguintes, não têm que pagar tributo a favores de cartolas e de juízes de tribunais desportivos e depois disso conquistaram importantíssimos títulos para as suas galerias repletas de taças e conquistas.

O Liverpool foi rebaixado à 2ª divisão na década de 1960 e depois disso conquistou cinco vezes o título de Campeão da Europa e vários títulos da Premier Ligue; o Manchester United de Bobby Charlton e George Best foi rebaixado à 2ª divisão na década de 1970 e depois disso já conquistou dois títulos de Campeão Europeu e diversos títulos da Premier Ligue; o Chelsea foi rebaixado à 2ª divisão na década de 1980 e depois disso conquistou um título de Campeão da Europa e três títulos da Premier Ligue; o Olympique Marseille, o mais bem sucedido clube francês, único Campeão da Europa no país, foi punido com o rebaixamento à 2ª divisão na década de 1990 e depois disso já ganhou todos os títulos de topo das competições francesas (Campeonato, Taça, Supertaça); neste século, o Manchester City foi rebaixado e na segunda década deste século já foi campeão inglês, vencedor da Taça de Inglaterra e da Supertaça inglesa; o Juventus, recordista de títulos nacionais italianos, foi rebaixado já neste século devido a punição, mas é o atual bicampeão italiano e líder do campeonato transalpino desta temporada com cinco pontos de avanço em 16 rodadas.

Vale a pena também referir que o River Plate foi rebaixado em 2010/2011 e em 2012 subiu, com a particularidade de o seu time sub-20 se ter tornado campeão Sul-americano nesse mesmo ano. E certamente voltará a ser campeão Sul-americano com o seu time principal. Mas o exemplo mais extraordinário, e que evidencia a qualidade de um povo e dos verdadeiros amantes do futebol, é o caso do Rangers Football Club, que venceu 54 campeonatos escoceses, 33 Taças da Escócia, 27 Taças da Liga Escocesa, foi tricampeão escocês em 2009-2010-2011 e faliu em 2012. O clube foi comprado e está a reerguer-se, e os seus torcedores fazem questão de partir da 4ª divisão, na qual são atualmente líderes destacados, para que não devam favores a ninguém e possam erguer a cabeça honradamente, coisa que hoje os torcedores do Fluminense não conseguem fazê-lo. Os escoceses sabem que a subida à 1ª divisão é uma questão de tempo e não jogam no imediato, mas num médio prazo que dê consistência ao clube e o faça ser respeitado mesmo após o seu descalabro financeiro.

No Brasil já tivemos o rebaixamento de alguns grandes clubes por duas vezes e, pelo menos uma vez, foram rebaixados o Atlético Mineiro, o Botafogo, o Corinthians, o Grêmio, o Fluminense, o Palmeiras e o Vasco da Gama – o que não é completamente anormal, nem verdadeiramente humilhante, porque há 12 grandes clubes em apenas 20 na 1ª divisão e mesmo os clubes grandes não são suficientemente consistentes para se manterem regulares ano após ano. Ademais, no ano seguinte sobem novamente. A exceção verificou-se com o Fluminense, que foi mesmo rebaixado à 3ª divisão, mas voltou diretamente à 1ª divisão sem passar pela 2ª e virou comédia nacional desde aí, arriscando-se a ficar marcado para sempre com o ‘tapetão’ de 2013, porque o povo brasileiro já é menos néscio mais de uma década após a subida do Fluminense à 1ª divisão por favor e beneplácito dos cartolas e da CBF.


Porém, nem por descerem de divisão esses clubes deixaram de ser grandes, nem deixam de retomar os grandes títulos, porque são os grandes clubes que conquistam os grandes títulos. E são os grandes clubes que, fazendo-se honrar, são reconhecidos pelos seus grandes títulos sem favores e com prevalência do futebol jogado.

O Fluminense escapa novamente a uma descida de divisão – que em campo é a 4ª descida – devido a decisões de secretaria, e o Flamengo escapou pelo menos a dois rebaixamentos por favor das arbitragens com o beneplácito dos cartolas manobradores de bastidores.

A diferença entre a proteção dada ao Flamengo e ao Fluminense (as duas maiores proteções dadas a clubes brasileiros) e a proteção não dada aos clubes europeus é abismal e tem consequências decisivas para o prestígio do futebol brasileiro e o prestígio do futebol europeu.

Enquanto um não é respeitado e quase ninguém fora do Brasil assiste aos seus jogos, exceto brasileiros imigrantes e tolos como eu que sou apaixonadao pelo grande clube de Garrincha, Nilton Santos, Didi e Jairzinho, os campeonatos nacionais europeus e as competições continentais europeias são semanalmente vistas por dezenas, quiçá centenas de milhões de espectadores dentro e fora da Europa.

A diferença entre Manchester United, Liverpool, Manchester City, Olympique Marseille, Juventus e Chelsea, por um lado, e Flamengo e Fluminense, por outro, é que os seis primeiros são altamente prestigiados no mundo do futebol e conquistam grandes títulos, enquanto os outros dois não conquistam nada fora do seu próprio país (exceção feita à vergonhosa conquista da Taça Libertadores pelo Flamengo num ano em que os argentinos e os uruguaios não disputaram a competição e em que José Roberto Wright ficou famoso por expulsar cinco jogadores do Atlético Mineiro e acabar por ser crucial na oferta do título ao Flamengo).

Quer dizer, Flamengo e Fluminense, clubes com enormes tradições no futebol carioca e no futebol brasileiro, não têm nenhum prestígio internacional e são as duas maiores fontes de gozações do futebol brasileiro. Na verdade, o Fluminense é totalmente desconhecido e mesmo o Flamengo não goza de fama.

A verdade, pura e crua, é que os senhores da CBF, das comissões de arbitragens e do STJD fazem o favor de poluir o futebol brasileiro e desprestigiá-lo a nível internacional, e os senhores do Flamengo e do Fluminense não percebem que jamais serão considerados ganhadores legítimos porque constantemente são favorecidos pela trilogia CBF-STJD-Arbitragens.

Os dirigentes brasileiros não percebem que não estão apenas a prejudicar o futebol brasileiro e os clubes que trabalham duramente semana após semana para ganharem limpo no campo, mas estão atirando para a cloaca da história do futebol brasileiro o próprio Flamengo e o próprio Fluminense, porque nenhum torcedor de outro clube respeita as conquistas geralmente favorecidas do Flamengo e do Fluminense. Ao contrário dos torcedores ingleses que respeitam a história dos clubes do país, ou dos torcedores italianos que respeitam a história dos adversários.

Na verdade, nem Flamengo nem Fluminense se dão ao respeito conquistando muitos e muitos títulos por favor e comprometem para sempre o reconhecimento das suas glórias. O caso do Fluminense torna-se, aliás, o mais mediático, porque o clube acabou de ocupar, por muitos e muitos anos, o lugar do Flamengo como o clube mais odiado do Brasil e, quiçá, o clube mais estigmatizado pelos torcedores brasileiros daqui para o futuro.

Pela minha parte reconheço muito menos títulos ao Flamengo e ao Fluminense do que aqueles que conquistaram. Aliás, a fama do Fluminense vem de longa data, desde 1907, agravada por tradicionalmente, nas décadas de 20, 30, 40, as tabelas de jogos do campeonato carioca saírem diretamente das Laranjeiras para a Federação de Futebol do Rio de Janeiro. Fama essa que continuou no campeonato carioca de 1971 quando a arbitragem espoliou o Botafogo, ou no de 1985 quando a arbitragem espoliou o Bangu. Por se saber protegida, a dupla Fla x Flu não dá o melhor de si nas suas conquistas, justamente por se saber que ambos os clubes serão beneficiados nos momentos decisivos.


Isto é, o mérito é dado ao ‘encosto’ e não à competência, e por isso o futebol brasileiro vale muito pouco a nível internacional fora do quadro das suas seleções, geralmente compostas por grandes craques que, cada vez mais, fazem as suas carreiras ascendentes no futebol europeu – o que é uma tristeza quando falamos do país que reinventou o futebol e se tornou o seu expoente máximo entre o 2º e o 3º quartel do século XX. E nenhum grande craque brasileiro pós-1974 deixou de fazer carreira na Europa e consagrar-se para o mundo em algum grande clube europeu. Da lista apresentada esta semana pela Pluri Consultores sobre os 100 jogadores brasileiros mais valiosos, aparece Leandro Damião em 24º e Alexandre Pato, em 39º lugar, como destaques. Na lista dos 100, somente 20 jogadores atuam no Brasil, e a maioria esmagadora ocupa lugares na segunda metade da tabela, isto é, após o 50º lugar. Em termos de times valiosos, os melhores clubes brasileiros quedam-se em modestíssimas posições: 82ª do Cruzeiro, 86º Corinthians, 99ª do Internacional e 100ª do São Paulo, atrás de dezenas de clubes da Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Grécia, Holanda, Inglaterra, Itália, Portugal, Rússia, Turquia e Ucrânia. Quanto aos 30 treinadores mais bem pagos do mundo existe apenas um brasileiro (Felipão) em 26º lugar, atrás de treinadores da Alemanha, Argentina, Chile, Escócia, Espanha, França, Inglaterra, Irlanda do Norte, Itália e Portugal. E, por outro lado, veja-se que, embora os europeus não atribuam importância ao tal Mundial de Clubes, e por isso geralmente não o disputam a sério, os grandes desaires do futebol brasileiro não deixam de fazer mossa ao seu prestígio internacional, tais como a fácil goleada do Barcelona ao Santos e agora a eliminação surpreendente do Atlético Mineiro por um time modesto de Marrocos, com um plantel quatro vezes menos valioso do que o do Galo – assunto que foi capa de jornais estrangeiros, que até atribuem a Cuca a medalha de latão da semana...

Efetivamente, enquanto o futebol europeu se esforçou por superar o futebol brasileiro ao nível de seleções e ao nível dos seus clubes famosos como o Botafogo, o Flamengo e o Santos (que fizeram parte da lista da FIFA dos 12 mais importantes clubes do mundo no século XX), o futebol brasileiro não só não aprendeu nada, como desaprendeu o que sabia. O Botafogo e o Flamengo desapareceram completamente do cenário mundial ao nível de jogos oficiais ou torneios oficiosos importantes e o Santos ficou muito mal na fotografia ao ser goleado por 8x0 pelo Barcelona em ritmo de passo em agosto passado. Em geral, é justo que se diga, não foi apenas o futebol brasileiro, mas todo o futebol sul-americano dos grandes clubes como o Independiente, o Boca Juniors, o River Plate ou o Peñarol, outrora grandes potências futebolísticas mundiais respeitadas, que se tornou presa fácil dos europeus para alimentarem os seus clubes com o melhor que os celeiros sul-americanos produzem.

Ao favorecerem descaradamente o Flamengo e o Fluminense, quiçá o Corinthians em outras ocasiões, como em 2005, os senhores do futebol brasileiro não percebem que a bagunça do futebol pentacampeão do mundo presta um enorme contributo à decadência do futebol ‘dentro de portas’ e é chacota ‘fora de portas’. Os portais internacionais (os que se dão a esse trabalho) estão novamente cheios de notícias do futebol brasileiro, mas agora não é sobre o Botafogo com o seu craque Seedorf, como ocorreu com a conquista do campeonato carioca, mas sobre o Fluminense e mais um tapetão do qual o clube se tornou rei e senhor.

O assunto é tanto mais triste quanto todos nós sabemos que foi o futebol que abriu as portas do Brasil ao mundo em 1958 e ainda é hoje a imagem de marca quando se fala do Brasil em qualquer parte do planeta. Mas agora não tanto com o respeito de outrora, porque as cinco estrelas do escudo da CBF são hoje meras estrelas cadentes.

A mediocridade da CBF, do STJD, dos árbitros e dos dirigentes de clubes, finge que não vê, satisfaz-se com vitoriazinhas internas dos seus clubes preferidos e perde oportunidades históricas de fazer do futebol brasileiro de clubes algo que valha realmente a pena – coisa que hoje vale pouquíssimo porque apesar de muitos brasileiros estarem acostumados e acomodados ao vale tudo, como, por exemplo, é o caso dos torcedores do Fluminense, muitos outros milhões de brasileiros estão absolutamente cansados de tanta farta vilanagem no seu futebol, e não só.

4 comentários:

Gil disse...

Rui,

Em primeiro lugar gostaria dizer que o eterno time da terceirona, o Unimed, é o criador e o esgoto da Gávea a criatura. Ou seja, farinha do mesmo saco!

Em segundo lugar, que os leitores cathartiformes e outros com o mesmo espírito, tenham capacidade e constatem que você fala com a visão da Europa.

Em terceiro lugar, apesar de ser brasileiro e para o bem do futebol e do país, que a seleção canarinho perca o título da copa do mundo no Brasil.

Abs e Sds, Botafoguenses!!!

Sergio Di Sabbato disse...

Rui, o grande problema é que pela cultura do vale tudo no país, para a grande maioria dos torcedores vale mais ficar na 1ª divisão e ganhar campeonatos sem méritos ou honra do que jogar a 2ª divisão com honra, pois do ponto de vista esportivo não há porque se sentir diminuído por disputar um 2ª divisão. O pior é que aqueles que poderiam mudar isso ao invés de atitudes dignas são os primeiros a querer burlar a lei. Esse é o nosso país, que vai afundando no lamaçal, propositalmente emburrecido e incentivado com a cultura do "jeitinho". É óbvio que o futebol não ficaria imune desse vale tudo da cultura tupiniquim. Porém, é um vale tudo apenas para os que têm poder aquisitivo, porque para os pobres não vale nada, apenas a aplicação fria da (in)justiça. Abs e SB!

Ruy Moura disse...

Quanto a mim, Gil, eu não conseguiria torcer por nenhum outro clube do Rio de Janeiro - nem mesmo pelo simpático Vasco -, e a fazê-lo escolheria simbolicamente um time como o Bangu, oriundo do operariado, por solidariedade com operários e camponeses que tanto lutaram por uma sociedade melhor, e muitos morreram por isso.

Mas tenho para mim que o Fluminense é o maior clube cafajeste do Brasil. O Flamengo, como dizes, ou melhor, o futebol do Flamengo (antes já havia o remo), foi criado por 9 tricolores. É certo que as criaturas são sempre mais ignorantes que o criador e cara delas é que prevalece quando toca a ajustar contas, mas quem fez é que é o maior responsável. Por outras palavras: nas revoluções de esquerda o ódio do povo concentrou-se sobre as polícias políticas, porque eram quem o povo via e que ao povo prendiam, mas as ordens, a ideologia ditatorial, era feita de cima. Assim é o Fluminense - o criador - e a criatura - o Flamengo. Nenhum é bom, mas o criador é pior.

Por isso é que somos do Botafogo: não foi criado nem por homens de bigodes nem por dissidentes dos homens de bigodes - NASCEU ESPONTANEAMENTE NA ALMA PURA DE ADOLESCENTES DE UMA ESCOLA!!!

Abraços Gloriosos!

Ruy Moura disse...

Sergio, como me considero estruturalmente luso-brasileiro por direito próprio de quem cresceu no Rio de Janeiro e tem uma irmã brasileira, tomo a liberdade de dizer que um país que procura o caminho do mais fácil, jamais será harmoniosamente desenvolvido no seu todo. O Brasil é assim: se eu estiver bem, o outro que se vire.

Um bom país constrói-se no coletivo e na solidariedade. Não existe nenhum país realmente desenvolvido sem que tenha sentido coletivo (Canadá, Noruega, Islândia, Suécia, Holanda, Alemanha, Inglaterra, França...) ou, pelo menos, sentido nacional (Estados Unidos da América, Austrália...).

Não adianta ser grande e ter riquezas - aRússia, China, Índia, Mongólia, Brasil – se não se usar a massa cinzenta. O que importa é criar um país socialmente robusto e economicamente forte, com ou sem riquezas (Holanda, Bélgica, Luxemburgo...).

Em suma, no futebol é o mesmo: seguindo-se o caminho do mais fácil, do imediatismo, jamais se constrói seja o que for. Por exemplo, os patrocínios da UNIMED não melhoram o Fluminense, porque visam apenas a compra de jogadores - a criação da estrutura não foi patrocinada e o Fluminense não a tem, e por isso o Muricy fugiu a sete pés. A estrutura constrói o futuro. Ir para a 2ª divisão e regressar logo no ano seguinte reforça o sentido coletivo e a capacidade de união de esforços para que não se repita o acontecimento. Fugir à 2ª divisão quando isso é justo, é empenhar o futuro. O Fluminense nunca mais se salvará de ser chacota nacional do tipo tetracampeão do Brasil e Tetracampeão do tapetão - ou coisa parecida.

Por mim, depois disto, tratá-los-ei - enquanto dirigentes, atletas e torcida (não enquanto pessoas) - com o maior desprezo.

O Botafogo tem uma única pecha na vida: foi ter sido incluído, em 1996, num grupo que o salvou de um rebaixamento justo. Pagou isso em 2002, mas é uma nódoa na nossa vida, embora única. O Fluminense não tem uma nódoa - o Fluminense É A NÓDOA! Desde 1907, desde 1911, desde as tabelas do campeonato feitas nas Laranjeiras, desde 1971 com o Botafogo, desde 1985 com o Fluminense, desde agora e provavelmente para sempre! Mas os torcedores do Fluminense não têm capacidade para ver mais do que está à frente do nariz. Torcida nódoa.

Abraços Gloriosos

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