sábado, 21 de dezembro de 2013

Quanto vale um treinador?

por Rui Moura (blogue Mundo Botafogo)

Seguimos à risca o que o treinador nos pediu na parte tática.” – Mabide, futebolista do Raja Casablanca, após eliminar o Atlético Mineiro e chegar surpreendentemente (ou não…) à final do Mundial de Clubes.
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Quem acompanha regularmente o Mundo Botafogo sabe que atribuo enorme importância aos dirigentes e às comissões técnicas, e que sobretudo devido à falta de 'Didis' e 'Gersons' em campo o grande 'maestro' terá de ser o treinador. Ao contrário, muitos torcedores brasileiros e botafoguenses consideram que treinador é uma personagem menor e que tudo se decide pela qualidade técnica dos atletas.

Se assim fosse, o plantel do Benfica, que é o 15º mais valioso do mundo e o mais valioso em Portugal, não teria ficado sem ganhar coisa alguma em 2010/2011, 2011/2012 e 2012/2013 – na verdade, com um plantel fantástico, o Benfica não conquistou nada porque o seu presidente insiste em manter o mesmo treinador, que apesar de ser o 11º mais bem pago do mundo obriga os times a darem o máximo em cada jogo e acaba por rebentar os atletas um a um nos derradeiros jogos da temporada que são tempos de decisão. Foi assim que o Benfica conseguiu a proeza inédita de perder três finais no espaço de quatro semanas – vencido e ultrapassado pelo Porto no jogo decisivo do campeonato português, vencido na final da Taça da Liga da UEFA e vencido na final da Taça de Portugal, tendo os gols dos adversários sido marcados nos últimos minutos quando os jogadores já estavam completamente de bofes fora da boca. Parece que este ano quer finalmente tomar mais juízo…

Naturalmente que considero haver, no futebol moderno, poucas coisas mais falsas do que essa de o treinador ser uma personagem menor, porque em provas altamente competitivas como as de hoje, as comissões técnicas são primordiais para monitorizar a evolução de cada atleta, retirar do plantel tudo aquilo que em cada momento pode render e organizar uma estratégia, assente numa tática a cumprir rigorosamente e numa dinâmica de jogo pensada previamente.


Foi com essa orientação que Johan Cruijff, treinador do Barcelona, montou um grande time e lhe deu as asas que hoje tem; foi sob a orientação de José Maria Pedroto, o maior treinador português à época, que o FC Porto galgou para a Europa e para o Mundo – gerido por um novo presidente que se mantém no mesmo posto de comando já lá vão mais de 30 anos e que conquistou mais de 50 títulos oficiais nacionais e internacionais no futebol durante esse tempo.

Foi com obediência estratégica e tática ao treinador que a modesta Grécia foi campeã da Europa em cima de Portugal em… Lisboa, e foi assim que o Chelsea abateu o Barcelona na semifinal da Liga dos Campeões, acabando por ser campeão europeu vencendo o poderoso Bayern München em… Munique!

O tempo dos títulos conquistados exclusivamente por craques fabulosos – como na época do tricampeonato mundial 1958/1970 –, terminou. Obviamente que os jogadores são cruciais, porque são eles que marcam e evitam gols, mas sem planos prévios de enquadramento no coletivo nenhum seria grande coisa nos dias de hoje.

Também a nova direção e a nova comissão técnica do Sporting provam que se pode ser vencedor sem se possuir a melhor equipa. Os Leões são, por enquanto, os líderes do campeonato português em fim de 1º turno, contra os orçamentos enormíssimos do Benfica e do Porto, que, na pesquisa da Pluri Consultores, se situam em 15º e 20º lugar dos plantéis mais valiosos do mundo.

O Sporting poderá ser ultrapassado quando as peças de reposição faltarem, mas para quem vem de um 7º lugar, inicia o ano com um plantel teoricamente inferior ao do ano passado e faz uma brilhante carreira até aqui, tendo mudado basicamente o presidente e o treinador, reforça a ideia da importância de uma diretoria capaz de fazer as melhores escolhas dentro dos limites possíveis e da figura decisiva do treinador.

Efetivamente, dos fantásticos 44 gols já assinalados pelo Sporting, mais do que em toda a época passada, metade deles foram obtidos após a 1ª substituição, que normalmente ocorre já com bom andamento de jogo na 2ª parte.


Pergunto-me se nós, praticamente sem treinador durante a época devido às omissões do monge japonês, teríamos chegado em 4º lugar e à Libertadores se não fosse o contributo fundamental de orientação estratégica dada por Seedorf em campo. Creio que não, apesar de ser um campeonato muito mais fácil do que outros anteriores.

É, pois, com grande apreensão que vejo a diretoria arriscar num treinador sem currículo, que se der fiasco vai ter a torcida em cima dela – e sem nenhuma hipótese de justificação. Ademais, evidencia a absoluta falta de inteligência enquanto dirigentes: contratando um treinador experiente e trazendo 2 ou 3 reforços, qualquer fiasco na Libertadores seria assacado ao treinador e ao time; com a contratação de Duda e vacilações como essa de – parece que assim será – dispensar os nossos goleiros da casa e contratar um do Criciúma, qualquer fiasco será exclusivamente assacado à diretoria – será isso um reforço tendo nós Jefferson, ou é já contando com a venda próxima do nosso ‘paredão’?

Não tendo um grande 'maestro' a treinar e orientar o time estratégica e taticamente, pelo menos esperar-se-ia bons reforços para a compita, mas parece que nem isso vai ocorrer. Não pensem os leitores que sou chato, não. A minha intenção é antecipar os eventuais erros. Antecipei que o Botafogo deve ir treinar o mais rapidamente possível para Quito visando uma melhor aclimatação à altitude; antecipei que Duda não seria o treinador ideal para a Libertadores; agora antecipo que se não houver contratações ‘decentes’ o risco de fiasco é duplo. Mas, claro, a diretoria não ouve a torcida e, em minha opinião, leva sobretudo em consideração os seus interesses – que desconheço quais são, mas que são, são –, caso contrário não teria feito o desmanche descomunal que fez após o campeonato carioca, que nos impediu de sermos candidatos ao título de campeões brasileiros, mesmo contra ‘ventos e marés’.

8 comentários:

Sergio Di Sabbato disse...

Não há dúvida de que, principalmente no futebol atual, o treinador tem um papel importante e as vezes decisivo. Claro que sem atletas qualificados não há treinador que dê jeito. Quando eu critico os treinadores, eu critico em especial os brasileiros, que em sua grande maioria são uns imitadores e pouco estudiosos. Ganhamos 5 copas, principalmente as três primeiras, muito mais em função da qualidade excepcional de nossos jogadores do que por qualidade na estratégia de jogo. Sobre o Botafogo especificamente, acho uma temeridade entregar o comando técnico para um treinador sem experiência numa competição como a Libertadores. Tomara que dê certo, mas acho que o atual presidente repete os erros do seu mentor, quando jogou pela janela uma possível conquista da Libertadores. Li alguns comentários comparando oa situação do Hungaro com a do Zagallo em 1967. Não poderia existir equívoco maior que esse, pois o Zagallo quando assumiu o time profissional do Botafogo era um ex-jogador com uma experiência de duas copas do mundo conquistadas e diversos títulos nacionais e internacionais defendendo o Botafogo, sem contar que como bem frisou o João Saldanha, Zagallo foi um dos jogadores de melhor visão do que acontecia dentro de campo. Ainda há de se ressaltar que aquela geração de 67/68 contava com jogadores fantásticos e no meio-campo um verdadeiro maestro, o Gérson que tinha uma extraordinária visão de jogo e comandava o time em campo. Hoje não temos nada disso e para piorar as contratações são duvidosas- essa do goleiro foi de matar- o planejamento é ruim, muito ruim. Não dá nem prá saída comparar aquele Botafogo de 67 com o de hoje. Rui, não me iludo. Salvo um milagre, como o da comenbol em 93, ou uma mudança de comportamento da diretoria no sentido de melhorar as contratações eu tenho a impressão que não passaremos da fase de classificação, isso se passarmos pelo Desportivo Quito. Tomara que todos os que pensam desta maneira, e aí me incluo, estejam errados, mas até agora não senti firmeza no planejamento de 2014, e parece que vai ser um ano de fortes emoções. Tomara que eu queime a língua. Abs e SB!

Ruy Moura disse...

Assino em baixo, palavra por palavra, os seus comentários, exceto que o ano "vai ser um ano de fortes emoções". Não haverá fortes emoções porque não acredito, pelo andar das coisas, que ganhemos seja o que for.

A comparação com o Zagallo está muitíssimo bem ilustarada por si, Sergio. Compara o Duda com o Zagallo só pode ser mesmo de quem não viveu e não viu aquele time fabuloso de 1967/68. ÉR imaginar que temos, porventura, um Gérson, um Jairzinho, um paulo Cézar Lima, um Roberto Miranda. Não tenmos nada disso. E não creio que a visão do Duda seja equivalente à do Zagallo. Como bem dizia João Saldanha, Zagallo compreendia tudo de imediato.

Abraços Gloriosos!

hangman disse...

É como diz a velha frase paradoxal:

"Técnico não ganha jogo, mas perde..."

Gil disse...

Rui,

Perfeito a tua mensagem e os comentários, teu e do Sergio!
2014 ainda não chegou e já estou preocupado com as eleições para 2015.
Conheço um dos candidatos, Vinícius Assumpção, foi presidente do sindicato dos bancários por duas gestões. Acho que não ganha,se conseguir será mais um para acordos como o atual mandatário.
É do seu perfil.

Abs e Sds, Botafoguenses!!!

Ruy Moura disse...

É exato, Hangman. Eu acho que quem perdeu para o Raja foi o Cuca. O técnico tunisino engoliu-o simplesmente.

Abraços Gloriosos!

Ruy Moura disse...

Cá pra mim, Gil, não teremos presidente. Quem chegar não será o melhor, porque hoje em dia a antiga paixão do cartola é muito rara e as melhores figuras da sociedade não se querem sujeitar à porcaria que é o futebol. Emil Pinheiros há muito poucos, Carlitos Rocha não há nenhum. Paulos Azeredos não se sujeitariam hoje à miséria que é o futebol brasileiro, cheio de mutretas e desmandos.

Abraços Gloriosos!

marlon disse...

Prezado Rui,
Você está coberto de razão e não temo em concordar contigo. Torço para que estejamos errados - mas aí é o coração falando.
Agora, eu gostaria realmente de saber quais são os interesses de nossa diretoria.
Se Jeferson sair, antevejo um profundo descrédito caindo sobre as cabeças de GS.
Precisamos de um novo Carlito Rocha, mas eles não existem mais (parafraseando nosso Drummond) - já ia escrevendo que a história só repete como farsa, ao pensar em nossos mandatários contemporâneos.
Grande abraço e boas festas, Marlon

Ruy Moura disse...

É verdade, Marlon. O Carlito que jogava pelo BFR com febre a 40 graus, o Paulo Azeredo cuja inteligência era rara e o Emil Pinheiro com a sua paixão, parece que já não existem no Botafogo. Nem dirigentes bicheiros nem dirigentes intelectuais nem dirigentes de coisa nenhuma.

O Bebeto de Freitas fartou-se e o Manoel Renha, que o podia suceder, fugiu às dificuldades. A verdade é que estamos entregues a Assumpção, Montenegro, Rolim e Palmeiro. Que belo quarteto, não acha? O que se pode esperar deles?

E a oposição não me convence. Não vejo ninguém com capacidade. Não vejo o Botafogo Mais ou o Movimento Carlito Rocha com frescura suficiente para uma gestão radicalmente diversa da de Assumpção. Mal por mal acho que ainda entregava a presidência ao ex-diretor de marketing. Pelo menos o homem era criativo.

Abraços Gloriosos!

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