por Bruno Porto
Se atualmente o futebol brasileiro está ou
não com esta bola toda (com trocadilho), não importa. No exterior, a principal
associação que se tem com o nosso país se dá pelo futebol.
Música e carnaval têm seu valor
reconhecido em muitas rodas, é claro, mas nada supera em amplitude e
identificação o futebol. Aqui na China, por exemplo, as cadeias de restaurantes
Wagas e Pizza Hut (e boa parte das lojas de vinhos) só tocam Bossa Nova, mas
não pensem que as pessoas acham estar ouvindo “um ritmo brasileiro”. Segundo
elas, estão ouvindo jazz, ou lounge. Carnaval então, aqui ninguém sabe o que
é... Essa coisa de mulher pelada e batucada parece não exercer atração cultural
entre os chineses.
Por outro lado, meus diálogos com os
motoristas de táxi chineses infalivelmente culminam com o sujeito falando
“Lonalo, cacá, lonalino”: Ronaldo, Kaká e Ronaldinho, que são figuras
frequentes em campanhas publicitárias China afora – uma inclusive famosa, por
ser pirata, não tendo sido autorizada pelo jogador! Às vezes escuto um
lobeltocalos, um livado, mesmo um pelé, e uma vez topei com um motorista que
sabia a escalação da equipe do Mundial de 1982!
Nem a música nem o carnaval – ou quaisquer
outras das opções menos cotadas, como a arquitetura do Oscar Niemeyer, o Cinema
Novo, a publicidade, a caipirinha, a Gisele Bündchen, o graffiti, qualquer
piloto de Fórmula 1 – gozam de tamanho prestígio internacional e associação
imediata com “Brasil” como o nosso futebol.
“Mas… o que isto tem exatamente a ver com
design gráfico?”, começa-se a inquietar o leitor. Assim como nos exemplos
acima, e apesar da nossa inquestionável criatividade etc., o carimbo de
“brasileiro” ainda não conduz nosso design gráfico a uma percepção
internacional de qualidade.
Mas, agradável surpresa, recentemente o
design gráfico verde-amarelo aproximou-se na arena internacional justamente do
prestígio exercido pelo nobre esporte bretão: o Brasil tem o escudo de futebol
mais bonito do mundo! E, como diria Vinícius de Moraes, ele é carioca, ele é
carioca: o Botafogo de Futebol e Regatas.
A revista japonesa T Sports Magazine
publicou na sua edição de dezembro de 2008 a lista dos 100 escudos de futebol
mais bonitos do mundo. O símbolo do Botafogo foi escolhido como o primeiro
colocado pelo júri composto por integrantes de 15 países – Brasil, Inglaterra,
Itália, França, Alemanha, Argentina, EUA, Rússia, Sérvia, Chile, Irã, México,
Marrocos, Espanha e, com cinco integrantes, Japão. Em www.youtube.com/watch?v=SsaIXmNSKz8 podemos ver a lista completa.
Apesar da multinacionalidade do júri, não
há referência alguma à atividade dos participantes – se seriam designers,
jornalistas ou atletas. Normalmente, isto levaria a uma discussão quanto a
relevância do julgamento, em relação ao peso do voto: equipara-se a expertise
de quem “vive” o tema (o jornalista esportivo ou o atleta, com sua
experiência profissional) com o conhecimento de quem entende do riscado, –
afinal, o que está sendo julgado é um símbolo visual – o designer gráfico?
Mas, neste caso em especial, essa
discussão é dispensável: a excelência em design do escudo do Botafogo já foi
apontada em pelo menos outras duas ocasiões distintas por grupos compostos, um
por jornalistas, outro por designers.
A mais recente foi a escolha, em 6 de
fevereiro deste ano, do escudo alvinegro como primeiro colocado de uma lista de
128 times de 45 países. A escolha foi feita por nove jornalistas – de rádio,
televisão, jornal e revista – e pode se conferida em www.esportefino.net/os-escudos-de-times-de-futebol-mais-bonitos-do-mundo/.
O curioso é que nas eleições japonesa e
brasileira apenas o primeiro colocado é o mesmo. Enquanto o júri nacional
escalou Celtic Glasgow (Escócia), Juventus (Itália), América do Rio de Janeiro,
Napoli (Itália), Paris Saint-Germain (França), Eintracht Frankfurt (Alemanha),
Royal Zulu (Africa do Sul), Ajax (Holanda) e Internazionale (Itália) do 2º ao
10º lugares, o júri internacional escolheu Liverpool (Inglaterra), Sampdoria
(Itália), Olympique Marseille (França), Oulu (Finlândia), Boca Juniors
(Argentina), Falkirk (Escócia), Ghuangzhou GPC (China), Air India (Îndia) e
Galatasaray (Turquia) para as mesmas posições.
Já os designers haviam dado seu veredito
“técnico” há mais de uma década, durante a IV Bienal Brasileira de Design
Gráfico, realizada em São Paulo em 1998.
Paralela à Bienal, que ocupou o SESC
Pompéia, a ADG Brasil Associação dos Designers Gráficos realizou a mostra “50
Projetos Brasileiros”, que reuniu o que de mais relevante havia sido produzido
no País entre 1945 e 1995. Dentre os cinqüenta projetos - logotipos, cartazes,
capas de livros, revistas, discos, jornais, embalagens etc. - três eram
relativos ao futebol brasileiro: o cartaz da Copa do Mundo de 1950; a silhueta,
estilizada por Aloísio Magalhães, de Pelé dando sua famosa bicicleta; e o
símbolo do Botafogo de Futebol e Regatas, de 1942.
O símbolo do “Glorioso de General
Severiano” é um alento na infinidade de poluídos e dispersos monogramas que
habitam os estádios e camisas brasileiros e estrangeiros. Desenhado em 1942,
une a estrela usada no uniforme do Clube de Regatas Botafogo, fundado em 1894,
à moldura em forma de escudo do Botafogo F.C., fundado em 1904, quando da fusão
dos dois clubes.
Tecnicamente, o escudo possui altíssimos
níveis de legibilidade, redução, reprodução (inclusive dentro do mais baixo
custo de reprodução gráfica, em preto e branco, em qualquer técnica),
reversibilidade, pregnância, simplicidade, o máximo da concisão sem perder o
impacto. Como tão bem apregoa o jornalista Sérgio Augusto, no livro
"Botafogo: entre o céu e o inferno" (Ediouro, 2004), "outra
sublime distinção alvinegra é ter uma insígnia que é puro signo: uma estrela
sem adereços, imaculada, solitária. Altivamente solitária.”
O amplo reconhecimento da simplicidade e
força deste símbolo – cujo Manual de Uso vem sendo recentemente redesenhado
pelo jovem designer e museólogo Auriel de Almeida – é inegavelmente uma vitória
do Design Gráfico Brasileiro que, desta vez, empresta seu brilho ao nosso
futebol.
PS: Belo começo de ano para o Design
Brasileiro – e, por que não?, para o Botafogo F.R., que conquistou o
pentacampeonato da Taça Guanabara no dia do 444º aniversário do Rio de Janeiro,
em um Maracanã com 75 mil espectadores.
Bruno Porto é designer gráfico com
pós-graduação em Gestão Empresarial/Marketing. Lecionou de 1996 a 2006 no
Centro Universitário da Cidade (RJ), onde coordenou o Núcleo de Ilustração do
Instituto de Artes Visuais. Associado a ADG Brasil (tendo sido seu diretor
entre 2004/2006 e coordenador entre 2002/2004) e a SIB – Sociedade dos
Ilustradores do Brasil, é autor dos livros Memórias Tipográficas das
Laranjeiras, Flamengo, Largo do Machado, Catete e adjacências (2003, 2AB
Editora) e Porto+Martinez 1996-2004 (com Marcelo Martinez, 2005, J. J.
Carol). Atualmente vive em Xangai, China, onde leciona no Raffles Design
Institute. www.brunoporto.com
3 comentários:
Rui,
E os incompetentes de General Severiano não trabalham, divulgam, promovem, esse maravilhosa conquista!
Abs e Sds, Botafoguenses!!!
O diretor de marketing, autor das últimas inovações no Botafogo, foi demitido do cargo...
Abraços Gloriosos!
Legal, já sabia deste título.
Agora me incomoda o fato do Brasil ser lembrado só pelo futebol (que já foi bom hoje é ruim e corrupto).
Quando pensamos em outros países lembramos de muitas coisas
Japão: tecnologia, games, animes, mangás, karatê, judô, sushi, bom sistema educacional,cultura milenar, samurais, etc.
França: museu do Louvre, bons vinhos, boa culinária, monumentos, grandes mestre da literatura, figuras históricas, Napoleão, queijos, Alexandre Dumas, etc.
Itália: Roma antiga, massas e pizzas, vinhos, máfia, monumentos, Giuseppe Garibaldi, Óperas, grandes mestre das artes (Da Vince, Michelangelo, Donatelo), das ciências (Galileu Galilei), papas, etc.
Inglaterra: Shakespeare, Beatles, Big Bang, ônibus de dois andares, mão inglesa, maior império colonial, maior potência naval, Iron Maiden, Pink Floyd, Led Zeppellin etc.
Agora o Brasil: futebol, Amazônia, mulher pelada, samba e só.
Estamos quase igual a Tanzânia: Monte Kilimanjaro, ilha de Zanzibar e Parque Nacional do Seringueti.
Abraços !!!
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