quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Estrela cadente...

Várias razões me têm mantido num certo silêncio no que respeita à evolução da equipe de futebol do Botafogo. Antes de mais (a) por razões profissionais devido a assoberbamento de trabalho; (b) também por ‘cansaço’ quanto às soluções ‘mais do mesmo’ das quais não nos conseguimos descolar ao nível da gestão; (c) finalmente, porque não queria ser uma voz contra a corrente – coisa que geralmente assumo devido à mediocridade das soluções botafoguenses –, desmotivando eventualmente os leitores/usuários do Mundo Botafogo nesta fase crucial do campeonato.

Mas hoje vai sair a minha posição. E para prevenir desde já os leitores – especialmente para os que não queiram ler a crueza da realidade – aviso que a crítica é negativa, não no que respeita propriamente à gestão administrativa do Clube mas sim no que se relaciona com a gestão do departamento de futebol e, consequentemente, da equipe de futebol.

Sei dos problemas que enfrentamos, mas a submissão e a omissão não conduzem ao cimo nem à exigência de qualidade que um Clube como o Botafogo merece. Carlos Eduardo Pereira (CEP) afirmou recentemente que “após nove meses a corda continua no pescoço, mas o laço já não está tão apertado. […] É bem provável que em 2016 o Botafogo já consiga respirar sem a ajuda de aparelhos.” Porém, isso não implica a nulidade da ambição, e CEP assegura que “já estamos nos planejando para a série A”, o que não tendo sido feito pelo menos em nenhum mês de agosto dos últimos dez anos, muito me espanta. Mas é isso que necessitamos: perscrutar o futuro, ousar a criação, procurar a inovação, não ceder em coisa nenhuma e exigir tudo o que for possível a cada momento.

Quero salvaguardar a ‘pessoa’ de CEP, que está fora de questão na minha análise: parece-me um homem honrado e pelo que sei da sua vida privada e da sua personalidade, agrada-me como pessoa. Aliás, o seu sorriso branco comparado com o sorriso negro do arranca dentes seu antecessor é por si só uma imagem bem óbvia.

Todavia, os erros no futebol sucedem-se em catadupa, e é disso que darei conta neste artigo.

Em primeiro lugar deve-se realçar as escolhas de Antônio Mantuano, Antônio Lopes e René Simões, sem falar em Carlos Alberto Torres que indicou os últimos dois e rapidamente saiu porta fora por querer colocar no Clube as suas amizades – bem à moda do NÓDOA-Vampiro com a sua turma da praia.

Os quatro nomes citados são simplesmente fósseis do futebol brasileiro. Percebo que talvez Mantuano não fosse possível descartar, porque a sua influência terá assegurado a eleição do atual presidente, mas os acontecimentos ocorridos são claríssimos: briga com todo o mundo desde sempre, seja dirigentes, amigos, treinadores, jogadores e até mesmo treinadores adversários. E a propósito de uma comissão de 10% que supostamente teria que ser paga a alguém, evidencia não apenas ser brigão mas também põe a nu o que se continua a passar nos bastidores do Clube. CEP aproveitou e fê-lo assinar, na mesma hora em que anunciou a sua demissão, a renúncia por escrito. Isto é, CEP sabe tratar ‘administrativamente’ das coisas, aproveitando bem os impulsos de Mantuano.

Efetivamente, CEP chegou e resolveu dossiês muito difíceis que a escumalha da praia e o seu líder pantanoso legou como herança maldita, deixando um Clube destruído, sem Engenhão, sem Marechal Hermes, sem Caio Martins, sem coisa nenhuma e bem à vista de todo o mundo que nada fez – em especial o Conselho Deliberativo que deve ter muitos rabos presos para se ter omitido como fez, apesar de o Clube estar a ser destruído.

CEP recuperou o agora Nilton Santos, retomou o Ato Trabalhista, começou a pagar dívidas, deslindou dossiês complicados, anulou um certo desrespeito do qual éramos alvo e não foi na conversa de CA Torres nem de AC Mantuano, de quem se livrou logo que pôde, mas não conseguiu fazer o golpe de asa para além da sua competência administrativa, isto é, CEP não percebe de desporto e, aparentemente, menos ainda de futebol – se percebesse, seria bom, mas nem sequer teria que perceber, porque um presidente precisa mesmo é de ter visão, estratégia, capacidade de liderança e sabedoria a gerir. O que é estritamente necessário é contratar quem perceba de futebol, e isso CEP não fez.

Porém, a não indiciação do NÓDOA-Vampiro como suspeito de crimes mediante a instalação de uma Auditoria, não deixa de ser um erro administrativo grave porque envolve quem praticamente destruiu o Botafogo – e cujas sequelas provavelmente durarão bastante mais tempo do que nós próprios julgamos. Além de não constituir respeito aos torcedores e ao Clube segundo as promessas eleitorais de imputar responsabilidades ao ex-presidente. E obviamente ninguém acredita no argumento ‘falta de verba’ para efetuar uma Auditoria. Isso seria prioridade de prioridades após a resolução dos dossiês financeiros principais, tal como já ocorreu.

Mas vamos aos erros no futebol.

Nomear Antônio Lopes e René Simões foi um erro crasso, porque nem um nem outro estão atualizados e as suas soluções são as de sempre de um futebol brasileiro em queda ano após ano. As opções de contratações de Lopes vêem-se hoje como foram maioritariamente equívocas. Simões, por sua vez, mostrou não saber fazer leituras de jogo nem dar padrão tático à equipe, muito menos dinâmica de jogo, insistindo em soluções falidas.

Mas uns quantos resultados mascararam a realidade e o próprio CEP caiu na cilada de que estaria perante uma equipe suficiente para a série B e iniciou o desmanche prescindindo erroneamente de Marcelo Mattos sob o pretexto de ser caro. A seguir a Mattos foram outros, repetindo anos anteriores. O meu amigo Luiz Carmo escreveu no WhatsApp a 8 de agosto que “o pior de tudo são os fenómenos inexplicáveis, como as degringoladas de 2007, 2010 e 2013… e agora.” Isto é, em vez do reforço da equipe ano após ano até se alcançar um patamar competitivo, eis que se faz o contrário e CEP continua a senda da ‘degringolada’.

Até que René Simões caiu, como não podia deixar de ser.

E eis que entra em cena o treinador auxiliar Jair, que leva para a equipe principal, sem mais nem menos, sem treino nem preparação, a equipe de base entre os 17 e os 19 anos, sem nenhuma noção que uma equipe tão jovem não pode acontecer de repente, mas sim com plano e com tempo. E confirma a revelação Luís Henrique na equipe, sem nenhum planejamento para o efeito, sem nenhum acompanhamento especial ao atleta, sem nenhum apoio efetivo. O resultado mais lógico será o eclipse de LH, que deveria estar treinando na base os fundamentos do futebol, que se verifica claramente não dominar e com o risco de ser um fiasco por falta de profissionalismo do Clube no lançamento de jovens promessas. Na emergência de se querer ganhar parece que ninguém avalia o risco de ‘queimar’ LH. Gomes fez o que devia: inclui-lo paulatinamente nos últimos 25 minutos de jogo, mas a simples falta de um atacante lesionado recoloca-o na frente de ataque com outra ‘promessa’ – entregando-se o ataque a dois jovens como LH e Neilton. Dificilmente dará certo, evidentemente.

Parece que ninguém entende que LH ainda é um ‘protótipo’ de jogador e necessita de um plano profissional de inserção, mas isso não me espanta, porque de dirigentes a torcedores que foram capazes de levar o brilhantismo do futebol brasileiro de 1950-70 ao abismo dos 7x1 em solo pátrio, tudo se pode esperar – desde a inexistência de futebol ‘real’ ao nível de clubes até ao imaginário de todos os jogadores cujo sonho é jogar em… campeonatos europeus!

Enfim… Rapidamente se viu o resultado das opções de Jair, mas o pior veio depois: sem nenhuma necessidade de se assumir tal risco, CEP foi buscar Ricardo Gomes para treinador, sujeitando-se não apenas a eventuais sequelas que terão atrasado o desenvolvimento futebolístico-mental de Gomes, mas também a que possa – desejo muito que não! – ocorrer um novo acidente à beira do campo, o que para um Clube rotulado de ‘trágico’ seria a cereja em cima do bolo para nos fixarem o rótulo para o resto da nossa vida. Sem dúvida que eu gostaria que RG tivesse sucesso – seria o nosso sucesso – mas tal risco nenhum dirigente deve assumir em alta competição, nem Gomes deveria sequer ter regressado na qualidade de treinador, a bem da sua saúde.

Estamos como estamos: a torcida comparece, mas a equipe parece não entrar em campo. E os erros sucedem-se…

CEP nomeia para o lugar de Mantuano o vice de… remo! Disse que já em 2011 era a sua opção para vice de futebol, e portanto a opção de agora é natural… Ah… não seria natural há oito meses atrás?... Das duas uma: ou ele entende mais de remo do que de futebol ou não entende de nenhum desses desportos e trata-se de uma pessoa da mera confiança política de CEP. Todavia...

Todavia, na medida em que se trata de Antônio Carlos Azeredo, puro ADN Botafoguense, já que é neto do presidente mais inovador e vitorioso de todos os tempos - Paulo Antônio Azeredo - vamos torcer para que este descendente de uma das melhores estirpes de apaixonados Botafoguenses, seja não apenas de confiança política mas também competente - porque bem precisamos.

Por mim, que também já formei equipes de trabalho, os critérios de escolha são naturalmente políticos, mas segundo um pressuposto inultrapassável: que a escolha política recaia sobre uma pessoa simultaneamente competente e conhecedora da matéria da qual trata o seu cargo.

Mas como tantas trapalhadas parece não serem suficientes neste nosso caos futebolístico, eis que agora se anuncia que o Botafogo está novamente disposto a contratar… JOBSON?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!

Fiquem bem, meus amigos, e não percam a análise do sempre ótimo Thiago Pinheiro: http://globoesporte.globo.com/rj/blogs/especial-blog/torcedor-do-botafogo/1.html

9 comentários:

Gil disse...

Grande Rui,

Mais uma vez P E R F E I T O !!!

Abs e Sds, Botafoguenses!!!

Ruy Moura disse...

Obrigado pela achega ao artigo, Gil.

Abraços Gloriosos.

Gil disse...

Como costuma dizer Amigo Rui: Abraços Fraternos!

Abs e Sds, Botafoguenses!!!

Anónimo disse...

O Brasil já está muito atrasado no futebol e o Botafogo mais ainda.
Os poucos técnicos brasileiros que trabalham com conceitos modernos são caros demais para o Botafogo. Vamos ter que aguentar chutões, chuveirinho e leituras preguiçosas das partidas ("soma da erros isolados") por mais meia década pelo menos, enquanto os outros se modernizam (e.g. Corinthians, Palmeiras, Atlético-MG).

Ruy Moura disse...

Completamente de acordo. Já João Saldanha falava da falta de organização do futebol brasileiro e da falta de qualidade dos seus dirigentes na década de 1960. Porém, o extraordinário celeiro de craques mascarou todas as deficiências. O Brasil teve os maiores craques do mundo desde a 2ª metade da década de 1950 até à 1ª metade da década de 1970. Como o futebol não era muito profissionalizado, os craques conseguiam colocar o Brasil no topo do mundo - mesmo com péssimos dirigentes - vivendo à base da 'emoção'. Quando a Europa começou a desenvolver o profissionalismo à base da 'razão', a emoção (o jogo espontâneo e artístico dos seus atletas e o amadorismo dirigente) sumiu de cena e a 'razão' tomou a ponta. Aliás, na generalidade, o país não age com a razão, mas com a mais pura emoção de origem latina [vê-se hoje que o combate político do país é absolutamente descontrolado de parte a parte]. Hoje, a pura emoção não somente não chega para o futebol como é prejudicial ao seu desenvolvimento. Abraços Gloriosos.

Sergio Di Sabbato disse...

Perfeita sua análise, parabéns pelo texto brilhante.Não tem nada a ver com seu texto, mas discordo do anônimo quanto a alguns clubes brasileiros se modernizarem. Não conheço nenhum. Talvez um pouco o Internacional de Porto Alegre, Grêmio e Atlético Paranaense, mas muito pouco. Os outros ou são ajudados pelo estado ou por algum outro tipo de mecenato, o que no final das contas acaba levando o clube a insolvência. O Coríntians por exemplo ganhou um estádio do governo federal, sem contar com patrocínio de um nbanco esttal, o que aliás é um absurdo. O AM foi ajudado pelo seu presidente, o Kalil, mas a situação não é nem um pouco confortável, e por ai vai. Não vejo modernidade no futebol brasileiro, e para falar a verdade, não vejo modernidade no país. Naturalmente que o Botafogo além de muito atrasado ainda sofre a desgraça de ser atacado pór todos os lados, dentro e fora do clube. Frequentemente eu me pergunto se há solução para o Botafogo, assim como para o país. As respostas são desanimadoras. Abs e SB!

Anónimo disse...

Até hoje o amadorismo na administração do futebol consegue ser compensado pela qualidade técnica de jogadores. Basta ver o caso da Argentina, com uma federação absolutamente corrupta, um campeonato mais desorganizado que o brasileiro (e que só sobrevive devido a subsídio estatal), mas ainda assim conseguem chegar até a final da Copa do Mundo.

Todos os atrasos devem ser enderaçados, é fundamental que sejam, mas o pior deles é certamente o atraso nos conceitos de futebol, esse prejudica demais. Felipão alegou que "futebol não muda muito" quando assumiu a seleção. Futebol muda, desde pelo menos 2010 estamos vendo padrões de jogo demasiado diferentes dos jogados aqui, e demasiado superiores. A Argentina tem uma linhagem de bons técnicos, por isso chegaram na final apesar dos dirigentes falcatruas. Os treinadores brasileiros, salvo algumas exceções, têm essa mesma mentalidade do Felipão e estão ultrapassados. O Botafogo deveria ficar ligado nisso, porque alguns outros clubes já têm essa visão; não estou criticando o Ricardo Gomes ou René Simões especificamente, só acho se faltam técnicos modernos no mercado brasileiro, e não temos condições financeiras de pagar pelas exceções, deveríamos desde já mandar o filho da Jairzinho e quadros da comissão técnica das divisões de base estudarem em Portugal ou Espanha, só para dar um exemplo de ação.

É bom lembrar que se o Brasil foi tricampeão mundial após 4 copas consecutivas, muito se deve ao fato de Vicent Feola ter aplicado importantes inovações táticas trazidas pelo húngaro Béla Guttmann. Não foi apenas na base do talento.

Abraços.

Ruy Moura disse...

Sergio, também penso que a modernização tem sido muito incipiente. Vi algumas medidas modernizadoras no Internacional, Atlético Paranaense, São Paulo e Cruzeiro, mas nada de sistemático nem crescente. E concordo quanto ao pessimismo sobre o Botafogo e o País. Os atrasos acumulam-se em todos os domínios da vida brasileira... eu próprio estou surpreendido com esses caminhos.

Abraços Gloriosos.

Ruy Moura disse...

Caro Anônimo, concordo inteiramente. Os treinadores brasileiros são todos meio 'felipões'. São sargentos; não há oficiais. O futebol mudou imenso, as escolas de treinadores cresceram, os sistemas táticos desenvolveram-se, as dinâmicas de jogo ganharam novos fôlegos e os 7x1 são bem a evidência do atraso do ex-melhor futebol do mundo. Os atuais dirigentes precisam ser expulsos do futebol, os treinadores reformados dando lugar a novos treinadores formados no estrangeiro, os jogadores disciplinados e profissionalizados, coisa que só ocorre quando chegam à Europa.

E há mais uma coisa urgente: tecnologias no futebol para diminuir a enorme margem de manobra que a falta de tecnologias permite à corrupção, aos corruptores e aos corrompidos.

Só quando começarmos a discutir seriamente estas coisas, como V. faz aqui no Mundo Botafogo, e deixarmos de lado as estúpidas conversas que presenciamos nos blogues, nos portais e em todo o tipo de comentários reles sobre futebol nas redes sociais, é que começaremos a trilhar novo caminho. Enquanto a mentalidade dos torcedores for a que é, a FIFA, a UEFA, a CONMEBOL, a CONCACAF e outras entidades nacionais e internacionais vão reinar acima das suas mediocridades - as deles e as dos torcedores.

Abraços Gloriosos.

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