Palavra
de João Saldanha em 1963. Tudo exatamente – e um pouco pior – em 2015. O
futebol brasileiro, que viveu em exclusividade do seu extraordinário celeiro de
excelentes atletas, que hoje escasseiam em virtude dos erros crassos de décadas
sem juízo, precisa de dirigentes sérios e treinadores competentes: uns não são
sérios, outros não são competentes. E os melhores atletas correm atrás do sonho
do futebol europeu, que reúne todos os craques do mundo.
Ouçamos
o mais esclarecido, crítico e polêmico jornalista brasileiro desportivo de
sempre:
“Dois ou três dias depois da chegada de 3
meses pela América Latina tínhamos que jogar em São Paulo. Se a outra viagem
durara mais de 30 horas (fora as escalas) esta seria de uma hora apenas. O
torneio [Rio-São Paulo] seria disputado a toque de caixa, em um mês e meio. Em
seguida começariam os preparativos para a Copa do Mundo [de 1958].
Nosso time iria ficar desfalcado. Havia, portanto, um
problema sério a ser enfrentado. O calendário estava feito e as datas indicavam
que não teríamos nem um treino nos próximos meses. Os jogos seriam de 2 em 2
dias ou no máximo 3 em 3, numa ou noutra cidade.
Nossa equipe seria dividida em 2 partes: a dos convocados
para a seleção e a outra que logo
depois do torneio sairia pelo Brasil catando caraminguás que garantissem a
folha de pagamento. Pelo menos parte dela.
E o pior é que os convocados para a seleção voltariam na
semana em que começava o campeonato carioca. Nenhum treino poderia ser dado nos
4 meses que antecederiam o campeonato. Só no Brasil existe isso. Mais, em parte
alguma do mundo.
Somos, sem dúvida alguma, o país mais atrasado em matéria de
organização esportiva que existe na face da Terra. A primeira conclusão séria a
que um treinador pode chegar em relação ao futebol brasileiro é de que uma
coisa que não existe no Brasil é treinamento em futebol. E como não existe, nós
não iríamos treinar até que começasse o campeonato. Nem nós nem os outros
times.
Quanto charlatanismo existe no futebol brasileiro. Excluindo
os jogadores, de talento excepcional, o resto é de chorar. O núcleo dirigente
do futebol brasileiro formado na época do amadorismo, época empírica do
futebol, não abandonou seus métodos e ideias. É sobre tais métodos que a mais
popular das artes é dirigida no Brasil.”
Texto
de João Saldanha, publicado em 1963 no livro ‘Os Subterrâneos do Futebol’,
organizado por João Máximo.
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