quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Os subterrâneos do futebol

Palavra de João Saldanha em 1963. Tudo exatamente – e um pouco pior – em 2015. O futebol brasileiro, que viveu em exclusividade do seu extraordinário celeiro de excelentes atletas, que hoje escasseiam em virtude dos erros crassos de décadas sem juízo, precisa de dirigentes sérios e treinadores competentes: uns não são sérios, outros não são competentes. E os melhores atletas correm atrás do sonho do futebol europeu, que reúne todos os craques do mundo.

Ouçamos o mais esclarecido, crítico e polêmico jornalista brasileiro desportivo de sempre:

Dois ou três dias depois da chegada de 3 meses pela América Latina tínhamos que jogar em São Paulo. Se a outra viagem durara mais de 30 horas (fora as escalas) esta seria de uma hora apenas. O torneio [Rio-São Paulo] seria disputado a toque de caixa, em um mês e meio. Em seguida começariam os preparativos para a Copa do Mundo [de 1958].

Nosso time iria ficar desfalcado. Havia, portanto, um problema sério a ser enfrentado. O calendário estava feito e as datas indicavam que não teríamos nem um treino nos próximos meses. Os jogos seriam de 2 em 2 dias ou no máximo 3 em 3, numa ou noutra cidade.

Nossa equipe seria dividida em 2 partes: a dos convocados para a seleção e a outra que logo depois do torneio sairia pelo Brasil catando caraminguás que garantissem a folha de pagamento. Pelo menos parte dela.

E o pior é que os convocados para a seleção voltariam na semana em que começava o campeonato carioca. Nenhum treino poderia ser dado nos 4 meses que antecederiam o campeonato. Só no Brasil existe isso. Mais, em parte alguma do mundo.

Somos, sem dúvida alguma, o país mais atrasado em matéria de organização esportiva que existe na face da Terra. A primeira conclusão séria a que um treinador pode chegar em relação ao futebol brasileiro é de que uma coisa que não existe no Brasil é treinamento em futebol. E como não existe, nós não iríamos treinar até que começasse o campeonato. Nem nós nem os outros times.

Quanto charlatanismo existe no futebol brasileiro. Excluindo os jogadores, de talento excepcional, o resto é de chorar. O núcleo dirigente do futebol brasileiro formado na época do amadorismo, época empírica do futebol, não abandonou seus métodos e ideias. É sobre tais métodos que a mais popular das artes é dirigida no Brasil.”

Texto de João Saldanha, publicado em 1963 no livro ‘Os Subterrâneos do Futebol’, organizado por João Máximo.

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