A dupla Leonina revolucionária - BdC e JJ
No dia em
que o Botafogo de Futebol e Regatas comemorou 121 anos de história Jorge Jesus
iniciou a sua atividade no Sporting Clube de Portugal como treinador principal
da equipe de futebol.
A ‘bomba
futebolística’ da transferência do mais titulado treinador do benfas, que
conquistou 10 títulos em 6 anos e mudou o paradigma de um clube então
futebolisticamente decrépito (ficara quatro anos seguidos atrás do Sporting e
do Porto e chegou a ocupar o 6º lugar no final de um campeonato nacional),
prometia um início de temporada emocionalmente agitado.
JJ, que
cuida de exigir diariamente o máximo aos seus jogadores, que não tem preferidos
no elenco e escala sempre quem está em melhores condições e que respira futebol
24 horas por dia, iniciou a preparação da equipe a uma velocidade
impressionante.
Entretanto,
o benfiquismo, que atacava frequentemente Bruno de Carvalho seja porque razões
fossem, mostrando o receio da ressurreição do Sportinguismo iniciou a rotação
das suas baterias contra o até ali ‘mais titulado treinador’ do benfas e
considerado por eles um dos melhores treinadores do mundo. Que BdC aproveitou
para conduzir a Alvalade porque a vaidade do presidente do benfas queria chamar
a si todos os títulos conquistados pelo seu treinador e equipe.
O murro no
estômago dos adeptos do benfas foi de tal ordem que os benfas queriam que, em
retaliação, o presidente contratasse o ex-treinador do Sporting para levar o
benfas à glória contra os Leões e o seu novo treinador JJ usando o ex-treinador
rival – liquidando, com requintes de malvadez, as aspirações Leoninas. Mas a
escolha recaiu sobre Rui Vitória, que treinava o Guimarães com sucesso há
quatro anos, já fora treinador das bases do benfas e é seu indefetível
torcedor.
Com novos
treinadores, ambos os clubes foram para as suas excursões de preparação. O
benfas, com a mania das grandezas, efetuou uma excursão extenuante e
impreparada contra os melhores clubes do mundo num torneio na América: PSG,
Barcelona, Manchester United, Chelsea, Fiorentina… Fê-lo por 3,5 milhões de
euros e… porque – dizem – um ‘clube grande’ iguala-se aos grandes… como se o
benfas, eliminado precocemente em todos os últimos anos da Liga dos Campeões,
pudesse estar ao nível do Real Madrid, Barcelona, Juventus, Bayern, PSG,
Chelsea, Arsenal, Manchester United, Manchester City…
Mas… sabe-se
que as megalomanias sem efetivo suporte de apoio acabam sempre por se
transformar em castelos de areia… O benfas fez péssimas exibições, dois empates
e três derrotas…
O Sporting,
que apostou na vertente desportiva e não na vertente financeira, ganhou quatro
jogos e empatou um, arrecadando a Cape Town Cup e a Taça Cinco Violinos com
exibições em crescendo e adversários sempre melhores que os anteriores, terminando
com a concretização de bons jogos contra o Cristal Palace e a Roma, vice-campeã
italiana.
Fechada a
temporada de preparação, Sporting e benfas iriam defrontar-se na Supertaça, na
qualidade de vencedores da Taça de Portugal e do campeonato nacional, colocando
frente a frente JJ e… a ‘estrutura’ do benfas.
A tensão
sentia-se por todo o lado, sobretudo porque há muitos anos que o maior derby
futebolístico português desde a 1ª década do século XX – do tipo Botafogo x Flamengo
na década de 1960 e Real Madrid x Barcelona na atualidade – não apresentava
tantos ingredientes explosivos.
Se para os
adeptos do benfas havia o irreprimível desejo de baixar as cristas de galo de
Jorge Jesus e de Bruno de Carvalho, ambos claramente em ascensão, nos adeptos
do Leão havia o desejo irreprimível de mostrar ao nível do grande Sporting do
passado e abater impiedosamente o benfas – sem apelo nem agravo. E fê-lo, só
não se refletindo tanta superioridade no placar final em virtude, principalmente
e uma vez mais, da arbitragem: um gol limpíssimo dos Leões aos 25’ de jogo, que
certamente abalaria ainda mais o assustado benfas e o encurralaria, e uma
expulsão perdoada ao benfas numa entrada violentíssima que nem cartão amarelo
teve…
Entretanto,
os comentadores começaram a encontrar todos os defeitos que para eles JJ não
tivera antes e, na véspera do confronto, o pasquim jornalístico mais vendido em
Portugal titulou em letras garrafais na 1ª página: “Jorge Jesus apanhado a
conduzir em excesso de velocidade”. O pasquim esqueceu-se de indicar no título
que a infração ocorrera em Dezembro de 2014, quando JJ ainda era treinador do
benfas e quando ninguém se ‘lembrou’ de noticiar o assunto… Flapress e
benfapress no seu melhor tubo de esgoto…
Mas também
se ouvia dizer que a superioridade do Sporting na pré-época lhe dava
favoritismo, porque apesar do domínio dos benfas na comunicação social, o
Sporting tem um canal oficial, muitos milhões de adeptos com voz aqui e ali e
os principais canais apresentam, nas suas mesas redondas, sempre três
comentadores oficiosos (adeptos publicamente conhecidos) do Sporting, das
águias de galinheiro e dos dragões do norte.
JJ veio
dizer – sacudindo a pressão dos seus jogadores – que favorito era o bicampeão
que ganhara tudo. E que o treinador do benfas tinha mudado zero no benfas
durante as cinco semanas de pré-época, que ainda jogava com as próprias ideias
de JJ. E acrescentou que mudara tudo no Sporting, enquanto o seu homólogo não
mudara nada. Provocador e começando a jogar antes de entrar em campo, JJ lançou
gasolina em cima de um barril de pólvora. Rebelde e corajoso como sempre (ou
não teria aceite o difícil desafio de levar o Sporting a campeão nacional em
vez de optar por um dos três convites estrangeiros, entre os quais o Milan).
Quando foi apresentado ao Sporting, lia-se em pano de fundo: “JORGE JESUS – o
bom rebelde”.
E após este tipo de observações estúpidas o Sporting ganhou os dois títulos oficiais seguintes – Taça de Portugal e Supertaça – e contratou o treinador dos benfas, deixando-os estraçalhados de raiva.
JJ fez o
benfas tremer – o seu presidente, os seus jogadores, os seus adeptos. Em cinco
semanas JJ mudou o paradigma do futebol Leonino e, quiçá, fez desmoronar a
muralha que impedia o Sporting de se igualar ao poderio futebolístico das
águias de capoeira e dos dragões do norte.
Dizia-se,
após o jogo, que Jorge Jesus havia jogado com duas equipas – a sua e aquela que
jogava com as suas ideias… Aliás, Jorge Jesus tratou de ‘ganhar’ a final quando
disse que o seu homólogo não mudara nada: se ganhasse, vencia a estrutura do
benfas; se perdesse, argumentaria que o benfas joga de olhos fechados ao fim de
6 anos de ser treinado por ele e ganhar tudo. Quer dizer… a inteligência mudou
de sítio… e quem ocupou o seu lugar ainda não conseguiu definir o que fazer da
equipe bicampeã.
E foi uma
semana inenarrável. Foi uma final inenarrável do vitorioso Sporting. Foram /
estão sendo dias pós-jogo absolutamente fantásticos de gozo pelas reações recalcadas
dos benfas.
Tudo mudou.
Em cinco semanas, um treinador mudou o paradigma de uma equipe, colocou-a a
jogar o melhor futebol em Portugal, conquistou três taças, fez alguns jogadores
que queriam ir para os maiores clubes da Europa quererem ficar, levou ao rubro
a torcida Sportinguista, espalhou o otimismo e a ambição em todas as hostes
Leoninas, atacou e venceu o poderoso presidente do benfas, encostou às cordas o
treinador adversário, colocou o administrador Rui Costa (grande ex-jogador do
futebol mundial) discursando de modo triste e acabrunhado, lançou o desespero
estampado nos rostos dos adeptos do benfas.
O benfas
pode recuperar, e tem equipe para isso s eo seu treinador estiver à altura, mas
agora está ocupado em mobilizar caminhões para remover a avalancha de neve que
lhe caiu em cima e os soterrou. Quem não soubesse nada do passado deles e
observasse os rostos dos adeptos do benfas, dos dirigentes e dos jogadores, a
desilusão dos muitos comentaristas do benfas que inundam a comunicação social
portuguesa, jamais diriam que eles ganharam sete dos oito títulos nacionais das
duas épocas passadas. O orgulho arrogante ficou feito em cacos em 90 minutos apenas…
Sentiram-se humilhados por JJ e o próprio treinador do benfas, pouco calejado e
muito trapalhão, declarou após o jogo que “a equipa entrou com receio do
Sporting”…
Fiz questão
de desenvolver este texto para mostrar, mediante uma realidade concreta, que um
bom treinador, se for realmente bom, é capaz de mudar uma equipe em apenas
cinco semanas, dando-lhe nova visão, novo modelo de jogo, novo sistema tático,
nova ambição e nova crença em si mesma. Se nada de novo se vislumbrar em cinco
semanas, dificilmente acontecerá em cinco meses, ou mesmo em cinco anos.
Em Portugal,
está tudo em aberto no futebol, quer no jogo jogado quer nas lutas políticas
extra campo, com três grandes equipes perseguindo o título nacional. Em novo e
último artigo sobre o assunto realçarei o que mudou no Sporting desde a entrada
de Jorge Jesus. Será interessante observar, por exemplo, como reagiu a imparcial
Bolsa de Valores durante as pré-temporadas de Sporting e benfas…
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