O Sporting
conquistou a Taça de Portugal e a Supertaça num espaço de dois meses apenas.
Porém, nada disso era assim há dois anos…
2012/2013:
Porto tricampeão nacional; Benfica perde, em duas semanas, o campeonato
nacional, a final da Taça de Portugal e a final da Liga Europa; Sporting
termina o campeonato em 7º lugar, falido financeiramente, aniquilado
tecnicamente, desrespeitado por todos e alvo de chacota nacional.
Tudo ocorreu
num quadro de diretorias incapazes – eu diria, quase anti-Sportinguistas à boa
moda anti-Botafoguense do NÓDOA-Vampiro – e de favorecimentos preferenciais ao
Porto e ao Benfica mediante arbitragens que retiraram ao Sporting dois títulos
nacionais e uma Taça da Liga neste século.
Bruno de
Carvalho (BdC) – de quem os Sportinguistas muito desconfiavam – acabou por, no
desespero Leonino, ganhar as eleições antecipadas para a presidência à segunda
tentativa, após demissão do presidente anterior que deixou o Clube à beira da
bancarrota com uma dívida astronómica. O Sporting arriscava-se a fechar portas
como teve que fazer o super-titulado Glasgow Rangers.
BdC vendeu
os jogadores com salários mais caros, comprou jogadores desconhecidos em
África, na América e na Ásia, contratou um treinador em ascensão, promoveu
jogadores revelação como Adrien, Cédric, Tobias Figueiredo, William Carvalho,
Mário João, Carlos Mané, entre outros – quase todos hoje integrantes da Seleção
Nacional. Reestruturou a dívida com a banca, reduziu a estrutura
administrativa, demitiu os que viviam dos ‘amiguismos’ dentro do Clube, colocou
ex-dirigentes Sportinguistas em tribunal e expulsou outros, acabou por ser
vice-campeão nacional de futebol destronando o Porto, relegado para 3º lugar.
Mas o
treinador não assumia ser candidato ao título e o discurso não colava com o
discurso de BdC. No final da temporada, ante o assédio do Mônaco, BdC deixou
sair o treinador e ainda faturou com isso devido à cláusula de rescisão.
Contratou a jovem promessa Marco Silva.
Foi uma 2ª
boa escolha de treinador, mas o discurso de MS não colava com o de BdC, e as
apostas do presidente eram omitidas nas escolhas do treinador. A distância foi
aumentando entre ambos até à inevitável rutura no final da temporada. Com o benfas
levado ao colo pela arbitragem para ser bicampeão nacional 2013/2014 e
2014/2015 e vencer sete títulos nacionais em oito possíveis nas duas
temporadas, eis que o Sporting vai à final da Taça de Portugal e perde por 2x0
quase até ao fim com o Braga, após erros crassos do treinador. Porém, os
jogadores buscaram forças sabe-se lá onde e acabaram por empatar no fim e
vencer o Braga nos pênaltis. Mas Marco Silva estava condenado à rescisão de um
contrato que era válido para quatro anos. BdC não falava sobre o assunto, e uma
surpresa nasceu do lado dos benfas.
Jorge Jesus
treinava o Benfica há seis anos. Vencera 10 títulos e tornou-se o treinador
mais titulado do Benfica. Egocêntrico e provocador, JJ tornou-se o símbolo do
futebol do benfas e o presidente declarava publicamente que a ‘estrutura’ (?) é
que era responsável pelos títulos, afirmando que qualquer treinador dos benfas
se arriscava a ser campeão. JJ, autêntico e genuíno, defendia publicamente que
era a comissão técnica que ganhava títulos. Nesta disputa de vaidades, o
presidente do benfas optou por não renovar com o badalado e amado treinador. Um
tiraço no pé que lhe custará certamente muito no futuro.
Em reunião
supostamente de renovação, o presidente do benfas propõe a JJ que aceite o
convite para treinar o Milan ou que vá treinar um Clube árabe e um ano depois o
Jorge Mendes – empresário muleta do Benfica com grande influência internacional
– garantir-lhe-ia ser treinador do PSG. O presidente entregou-lhe um bilhete de
avião para JJ embarcar para Paris e reunir-se com Jorge Mendes para acertar o
seu destino.
Entretanto,
BdC, que ‘namorava’ JJ há algum tempo, entra na corrida pelo treinador. O
presidente do benfas receava que JJ pudesse ser contratado pelo Porto e jamais
lhe passou pela cabeça que JJ mudasse de lado na 2ª circular [os estádios do
Sporting e do benfas situam-se ao longo da mesma via rápida, à esquerda e à
direita numa distância de apenas um quilômetro]. E que fosse treinar o seu
maior rival de sempre – do qual, aliás, JJ sempre foi torcedor.
Porém,
quando o presidente do Benfica telefonou a JJ sabendo se chegara bem a Paris,
JJ disse que não tomara o avião e nunca mais atendeu o telefone, nem do
presidente nem do empresário. Não aceitou o convite do Milan, ignorou o
presidente do benfas que o desprezara e o empresário e 48 horas depois a bomba
atômica: assinara pelo Sporting Clube de Portugal por três temporadas.
Entretanto,
havia o problema do outro treinador, e BdC teria que indenizá-lo em dois
milhões de euros. Como evitá-lo? Para BdC há sempre capacidade de inovação
quando se trata de defender o Sporting: em vez de o demitir levantou-lhe,
surpreendentemente, um processo disciplinar. A ética torcida Sportinguista
gostava de Marco Silva (na minha opinião com uma personalidade sonsa e que não
inspira confiança), que era todo ‘falinhas mansas’ e fazia o delírio da
imprensa, que adoraria vê-lo à frente do Sporting continuando a perder pontos
em casa e colocar em causa a disputa do título, que na verdade nunca assumiu
com convicção. E a torcida não gostou do tratamento de BdC a MS. Achavam,
muitos deles, que dar os dois milhões a MS era o mínimo que a ética Leonina
deveria fazer. Mas BdC achava que MS não o merecia – e eu concordo.
Porque BdC
levantou o processo disciplinar? Porque com processo disciplinar o treinador continuaria
a ser funcionário do Clube, e enquanto isso não fosse resolvido em tribunal, o
que demoraria provavelmente dois anos após esgotarem-se os recursos possíveis,
MS não poderia ser treinador de mais nenhum Clube. E o Olimpiakos já estava
à sua espera. MS foi obrigado a ir à mesa de negociações, que era exatamente o
que BdC queria. E levou apenas (e já foi muito!) meio milhão de euros em vez de
dois milhões dos que muita falta fariam aos cofres do Clube. E foi treinar o
clube grego. Jogada impecável em defesa do cofre dos Leões. Digo impecável
porque MS não foi leal com BdC, a quem nunca se referiu em toda a temporada.
Congratulou tudo e todos pela conquista da Taça de Portugal e ‘esqueceu-se’ de
BdC – o homem que ressuscitou o Clube de Alvalade. Bem descartado.
BdC, ao
descartar-se de MS teria que fazer uma escolha indiscutível, sob pena de ser
contestado. Ora, o único treinador português indiscutível a atuar em território
nacional – considerado o 2º melhor após José Mourinho e vangloriado pela benfapress
e pelos adeptos –, era JJ. Ao fazer tal contratação, BdC eliminou qualquer
contestação possível.
Foi buscar
dinheiro a investidores angolanos, segundo se sabe, para pagar a JJ e investir
em atletas para a conquista do título nacional na nova temporada.
JJ mudara o
paradigma do futebol do benfas. Homem que pensa, dorme, sonha e come futebol 24
horas por dia, JJ levou o benfas aos títulos após muitos anos de seca. As
arbitragens ajudaram muitíssimo, mas sabemos que as arbitragens não são
suficientes, caso contrário os cathartiformes da Gávea seriam campeões todos os
anos. As arbitragens decidem quando os clubes têm futebol com alguma qualidade.
E JJ levou muita qualidade ao futebol do benfas.
Mudou o
paradigma, conquistou títulos, colocou o benfas a jogar futebol vistoso e
tornou-se o ídolo dos adeptos do benfas. Simultaneamente, BdC era o homem mais
atacado pela comunicação social desde há dois anos. Nunca ninguém se preocupou
com a destruição que as diretorias Sportinguistas estavam fazendo, mas desde há
dois anos BdC é, segundo os adeptos do benfas, o homem que vai levar o Sporting
à bancarrota (!!!). A inveja e o medo dão nisso…
E todo o
mundo foi de férias. BdC dera o grande murro da mesa do futebol português, e
comentaristas da benfapress chegaram a assumir que fora um “violento soco no
estômago” dos benfas. Jorge Jesus, genuíno, egocêntrico e vingando-se do
desprezo com que fora tratado pelo presidente do benfas, estabeleceu o pânico
nas hostes do seu antigo clube e o medo passou a morar do outro lado da 2ª
circular – o bicampeão nacional estava assustado, ferido e desejoso de
vingança.
A nova
temporada iniciou-se em julho com a preparação dos clubes e no domingo passado
foi inaugurada a temporada daquele que era a peleja mais esperada do século XXI
– o embate entre os oponentes do maior derby português de todos os tempo em que
o presidente do benfas queria comprovar a tese da ‘estrutura’ e JJ a tese da
‘comissão técnica’. O Sporting ganhou indiscutivelmente a um bicampeão que
entrou em campo cheio de medo. Reconhecido pelo próprio treinador do benfas.
Sobre as
boas práticas de gestão futebolística de nível mundial desenvolvidas por BdC
continuo a narração em próximo artigo.
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