terça-feira, 11 de agosto de 2015

Sporting: a ressurreição de um gigante (II)

O Sporting conquistou a Taça de Portugal e a Supertaça num espaço de dois meses apenas. Porém, nada disso era assim há dois anos…

2012/2013: Porto tricampeão nacional; Benfica perde, em duas semanas, o campeonato nacional, a final da Taça de Portugal e a final da Liga Europa; Sporting termina o campeonato em 7º lugar, falido financeiramente, aniquilado tecnicamente, desrespeitado por todos e alvo de chacota nacional.

Tudo ocorreu num quadro de diretorias incapazes – eu diria, quase anti-Sportinguistas à boa moda anti-Botafoguense do NÓDOA-Vampiro – e de favorecimentos preferenciais ao Porto e ao Benfica mediante arbitragens que retiraram ao Sporting dois títulos nacionais e uma Taça da Liga neste século.

Bruno de Carvalho (BdC) – de quem os Sportinguistas muito desconfiavam – acabou por, no desespero Leonino, ganhar as eleições antecipadas para a presidência à segunda tentativa, após demissão do presidente anterior que deixou o Clube à beira da bancarrota com uma dívida astronómica. O Sporting arriscava-se a fechar portas como teve que fazer o super-titulado Glasgow Rangers.

BdC vendeu os jogadores com salários mais caros, comprou jogadores desconhecidos em África, na América e na Ásia, contratou um treinador em ascensão, promoveu jogadores revelação como Adrien, Cédric, Tobias Figueiredo, William Carvalho, Mário João, Carlos Mané, entre outros – quase todos hoje integrantes da Seleção Nacional. Reestruturou a dívida com a banca, reduziu a estrutura administrativa, demitiu os que viviam dos ‘amiguismos’ dentro do Clube, colocou ex-dirigentes Sportinguistas em tribunal e expulsou outros, acabou por ser vice-campeão nacional de futebol destronando o Porto, relegado para 3º lugar.

Mas o treinador não assumia ser candidato ao título e o discurso não colava com o discurso de BdC. No final da temporada, ante o assédio do Mônaco, BdC deixou sair o treinador e ainda faturou com isso devido à cláusula de rescisão. Contratou a jovem promessa Marco Silva.

Foi uma 2ª boa escolha de treinador, mas o discurso de MS não colava com o de BdC, e as apostas do presidente eram omitidas nas escolhas do treinador. A distância foi aumentando entre ambos até à inevitável rutura no final da temporada. Com o benfas levado ao colo pela arbitragem para ser bicampeão nacional 2013/2014 e 2014/2015 e vencer sete títulos nacionais em oito possíveis nas duas temporadas, eis que o Sporting vai à final da Taça de Portugal e perde por 2x0 quase até ao fim com o Braga, após erros crassos do treinador. Porém, os jogadores buscaram forças sabe-se lá onde e acabaram por empatar no fim e vencer o Braga nos pênaltis. Mas Marco Silva estava condenado à rescisão de um contrato que era válido para quatro anos. BdC não falava sobre o assunto, e uma surpresa nasceu do lado dos benfas.

Jorge Jesus treinava o Benfica há seis anos. Vencera 10 títulos e tornou-se o treinador mais titulado do Benfica. Egocêntrico e provocador, JJ tornou-se o símbolo do futebol do benfas e o presidente declarava publicamente que a ‘estrutura’ (?) é que era responsável pelos títulos, afirmando que qualquer treinador dos benfas se arriscava a ser campeão. JJ, autêntico e genuíno, defendia publicamente que era a comissão técnica que ganhava títulos. Nesta disputa de vaidades, o presidente do benfas optou por não renovar com o badalado e amado treinador. Um tiraço no pé que lhe custará certamente muito no futuro.

Em reunião supostamente de renovação, o presidente do benfas propõe a JJ que aceite o convite para treinar o Milan ou que vá treinar um Clube árabe e um ano depois o Jorge Mendes – empresário muleta do Benfica com grande influência internacional – garantir-lhe-ia ser treinador do PSG. O presidente entregou-lhe um bilhete de avião para JJ embarcar para Paris e reunir-se com Jorge Mendes para acertar o seu destino.

Entretanto, BdC, que ‘namorava’ JJ há algum tempo, entra na corrida pelo treinador. O presidente do benfas receava que JJ pudesse ser contratado pelo Porto e jamais lhe passou pela cabeça que JJ mudasse de lado na 2ª circular [os estádios do Sporting e do benfas situam-se ao longo da mesma via rápida, à esquerda e à direita numa distância de apenas um quilômetro]. E que fosse treinar o seu maior rival de sempre – do qual, aliás, JJ sempre foi torcedor.

Porém, quando o presidente do Benfica telefonou a JJ sabendo se chegara bem a Paris, JJ disse que não tomara o avião e nunca mais atendeu o telefone, nem do presidente nem do empresário. Não aceitou o convite do Milan, ignorou o presidente do benfas que o desprezara e o empresário e 48 horas depois a bomba atômica: assinara pelo Sporting Clube de Portugal por três temporadas.

Entretanto, havia o problema do outro treinador, e BdC teria que indenizá-lo em dois milhões de euros. Como evitá-lo? Para BdC há sempre capacidade de inovação quando se trata de defender o Sporting: em vez de o demitir levantou-lhe, surpreendentemente, um processo disciplinar. A ética torcida Sportinguista gostava de Marco Silva (na minha opinião com uma personalidade sonsa e que não inspira confiança), que era todo ‘falinhas mansas’ e fazia o delírio da imprensa, que adoraria vê-lo à frente do Sporting continuando a perder pontos em casa e colocar em causa a disputa do título, que na verdade nunca assumiu com convicção. E a torcida não gostou do tratamento de BdC a MS. Achavam, muitos deles, que dar os dois milhões a MS era o mínimo que a ética Leonina deveria fazer. Mas BdC achava que MS não o merecia – e eu concordo.

Porque BdC levantou o processo disciplinar? Porque com processo disciplinar o treinador continuaria a ser funcionário do Clube, e enquanto isso não fosse resolvido em tribunal, o que demoraria provavelmente dois anos após esgotarem-se os recursos possíveis, MS não poderia ser treinador de mais nenhum Clube. E o Olimpiakos já estava à sua espera. MS foi obrigado a ir à mesa de negociações, que era exatamente o que BdC queria. E levou apenas (e já foi muito!) meio milhão de euros em vez de dois milhões dos que muita falta fariam aos cofres do Clube. E foi treinar o clube grego. Jogada impecável em defesa do cofre dos Leões. Digo impecável porque MS não foi leal com BdC, a quem nunca se referiu em toda a temporada. Congratulou tudo e todos pela conquista da Taça de Portugal e ‘esqueceu-se’ de BdC – o homem que ressuscitou o Clube de Alvalade. Bem descartado.

BdC, ao descartar-se de MS teria que fazer uma escolha indiscutível, sob pena de ser contestado. Ora, o único treinador português indiscutível a atuar em território nacional – considerado o 2º melhor após José Mourinho e vangloriado pela benfapress e pelos adeptos –, era JJ. Ao fazer tal contratação, BdC eliminou qualquer contestação possível.

Foi buscar dinheiro a investidores angolanos, segundo se sabe, para pagar a JJ e investir em atletas para a conquista do título nacional na nova temporada.

JJ mudara o paradigma do futebol do benfas. Homem que pensa, dorme, sonha e come futebol 24 horas por dia, JJ levou o benfas aos títulos após muitos anos de seca. As arbitragens ajudaram muitíssimo, mas sabemos que as arbitragens não são suficientes, caso contrário os cathartiformes da Gávea seriam campeões todos os anos. As arbitragens decidem quando os clubes têm futebol com alguma qualidade. E JJ levou muita qualidade ao futebol do benfas.

Mudou o paradigma, conquistou títulos, colocou o benfas a jogar futebol vistoso e tornou-se o ídolo dos adeptos do benfas. Simultaneamente, BdC era o homem mais atacado pela comunicação social desde há dois anos. Nunca ninguém se preocupou com a destruição que as diretorias Sportinguistas estavam fazendo, mas desde há dois anos BdC é, segundo os adeptos do benfas, o homem que vai levar o Sporting à bancarrota (!!!). A inveja e o medo dão nisso…

E todo o mundo foi de férias. BdC dera o grande murro da mesa do futebol português, e comentaristas da benfapress chegaram a assumir que fora um “violento soco no estômago” dos benfas. Jorge Jesus, genuíno, egocêntrico e vingando-se do desprezo com que fora tratado pelo presidente do benfas, estabeleceu o pânico nas hostes do seu antigo clube e o medo passou a morar do outro lado da 2ª circular – o bicampeão nacional estava assustado, ferido e desejoso de vingança.

A nova temporada iniciou-se em julho com a preparação dos clubes e no domingo passado foi inaugurada a temporada daquele que era a peleja mais esperada do século XXI – o embate entre os oponentes do maior derby português de todos os tempo em que o presidente do benfas queria comprovar a tese da ‘estrutura’ e JJ a tese da ‘comissão técnica’. O Sporting ganhou indiscutivelmente a um bicampeão que entrou em campo cheio de medo. Reconhecido pelo próprio treinador do benfas.

Sobre as boas práticas de gestão futebolística de nível mundial desenvolvidas por BdC continuo a narração em próximo artigo.

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