Plínio
Fraga, jornalista de o Globo, publica uma extensa reportagem intitulada ‘À moda antiga’ sobre ao atual presidente
brasileiro na Revista do semanário ‘Expresso’, o veículo de comunicação social
escrita mais prestigiado em Portugal e inúmeras vezes premiado mundialmente nos
mais importantes certames de jornalismo. A chamada de capa refere o presidente
como “o poeta falhado que tramou Dilma”.
Em oito
extensas páginas Plínio Fraga escalpeliza o presidente, traça um retrato pouco
favorável e considera-o “mau poeta”, embora faça referência aos seus discursos,
ao uso das mesóclises (por exemplo, «…sê-lo-ia…») e de algumas ênclises
inusuais, porque “tem apreço por falar o português distante da informalidade
geral com que o brasileiro trata a língua”.
Uma das
particularidades da reportagem é que Plínio Fraga refere que o atual presidente
é o único dos presidentes brasileiros a declarar-se… poeta!
Mas… o
fundamental é a referência de Plínio Fraga a Augusto Frederico Schmidt,
ex-presidente do Clube de Regatas Botafogo e ex-vice-presidente do Botafogo de
Futebol e Regatas, estratega da fusão entre o Botafogo das regatas e o Botafogo
do futebol, poeta notável, empresário criativo, assessor político de Juscelino
Kubitschek e, quiçá, o mais brilhante Botafoguense de todos os tempos.
Plínio Fraga
escreve:
“Bons poetas e políticos ruins
têm semelhanças entre si
[…]. A referência política não necessita
de explicação, mas a literária sim. […] T.
S. Elliot […] dizia que poetas
imaturos imitam, e poetas maduros se aproximam das coisas para si.
No extremo oposto, estão os maus
poetas que são bons políticos. Há exemplos vários. O Presidente norte-americano
Barack Obama escreveu poesia. O ex-presidente Jimmy Carter é poeta publicado,
assim como o francês Dominique de Villepin, o turco Saparmurat Niyazov, e o
sul-africano Mongane Serote.
Haverá bons poetas que são bons
políticos. O primeiro-ministro inglês Winston Churchill recebeu o prémio Nobel
de Literatura. Mario Vargas Llosa também, mas foi derrotado na disputa
presidencial da qual participou.
Talvez o maior símbolo de bom
poeta e bom político, espécime rara, seja Vaclav Havel […], poeta, ensaísta e político checo. Tornou-se o último presidente da Checoslováquia
e o primeiro Presidente da República Checa. Foi dissidente do movimento
comunista e autor de peso contra o totalitarismo. Reuniu raras qualidades de
pensador e estratego.
Antes [do atual presidente] o Brasil teve grandes poetas que puderam
escrever graças a empregos que mantinham no estado. Carlos Drummond de Andrade
e Manuel Bandeira trabalharam no Ministério da Educação. Vinícius de Moraes e
João Cabral de Melo Neto, no Ministério das Relações Exteriores. Talvez sejam
os quatro maiores poetas brasileiros, mas nenhum deles quis ser Presidente da
República.
Quem mais se aproximou dos
palácios foi Augusto Frederico Schmidt (1906-1965),
ghost-writer do Presidente Juscelino Kubitschek. Graças a Scmidt, frases
soberbas são ainda hoje atribuídas a JK, sendo a mais famosa: “Deus poupou-me
do sentimento do medo”, disse ao enfrentar a ruidosa crise política.
Schmidt era poeta fino. Capaz de
obras-primas como “Vazio”:
“A poesia fugiu do mundo. / O
amor fugiu do mundo – / Restam somente as casas, / os bondes, os automóveis, as
pessoas, / Os fios telegráficos estendidos, / No céu os anúncios luminosos.
A poesia fugiu do mundo. / O amor
fugiu do mundo – / Restam somente os homens, / Pequeninos, apressados, egoístas
e inúteis.
Resta a vida que é preciso viver.
/ Resta a volúpia que é preciso matar. / Resta a necessidade de poesia, que é
preciso contentar.”
Fonte:
Revista do semanário «Expresso», edição 2289, 10/setembro/2016.
Leia
mais sobre o notável Augusto
Frederico Schmidt no Mundo Botafogo:
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